quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Maurício de Sousa fala do "mangá caboclo" para a Isto É



Esta semana, a revista Isto É trouxe uma entrevista com Maurício se Sousa, afinal, fora a sua importância inegável, ele estava fazendo 75 anos de vida. Eu não vou postar a entrevista inteira, ela é aberta, está aqui. Só tirei algumas partes, a que fala da Turma da Mônica Jovem, que ele chama com propriedade de "semimangá" e "mangá caboclo" e, com certo constrangimento, da personagem homossexual. Sinceramente? Não vejo nada de adulto em Turma da Mônica Jovem, tudo me parece muito simplista e artificial, mas funciona, atinge seu público e, bem, não vai questionar, criticar ou ameaçar os pais. É um material "adolescente" para os pais conservadores, aquilo que eles gostariam que seus filhos lessem, há um compromisso, como um "Comics Code" silencioso. Não estou desmerecendo o pai da Turma da Mônica, que fique claro isso, mas discutindo os limites da sua produção, a partir do que ele próprio respondeu ao repórter. Enfim, normalmente, só vejo pré-adolescentes comprando Turma da Mônica Jovem. Agora, que me permitiram (*na verdade, estou substituindo*) voltar a dar aula para 6ª série, talvez eu pergunte para os meninos e meninas o que eles andam lendo. Segue o trecho da entrevista com o Maurício de Sousa:

Isto É: De quem foi a ideia de levar a turma à adolescência?
Mauricio de Sousa - Foi minha. Briguei com o pessoal do meu estúdio anos e anos. Ninguém acreditava, e não havia quem quisesse fazer. Eu dizia: “Não sou louco, vi o que aconteceu e o que deixou de acontecer no mercado.” O número zero da “Turma da Mônica Jovem” ficou rodando no estúdio por quatro ou cinco anos. Lançamos um “semimangá”, o mangá caboclo, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Agora estamos nos preparando para lançar o Chico (Bento) moço. Vai mexer muito com ecologia.

Isto É:
Como foi introduzir temas adultos nas histórias da turma?
Mauricio de Sousa -
Às vezes eu vou buscar meu lado adulto, muito raramente. E esse jovem já é adulto, conhece tudo. Eles estão cada vez mais descolados. Não gosto de fazer material para adulto – ele é preconceituoso, teimoso e turrão. O adulto não é normalmente honesto nas observações ou na análise que faz de um material em quadrinhos. Já a criança tem os olhos desse tamanho (arregala os próprios).

Isto É: Houve uma tentativa de incluir um personagem homossexual na turma da Tina. Por que ele sumiu?
Mauricio de Sousa -
A reação foi tão violenta que eu deixei para depois. Na nossa produção ainda não dá para abordar esse tema.

Istoé - É uma questão cultural?
Mauricio de Sousa -
Sim, mas ao mesmo tempo, é uma questão ligada ao produto. Ele sempre foi visto pela família como uma coisa para o jovem em formação. E como é que você vai falar de homossexualidade para uma família normal? Não é preconceito. A Turma da Mônica não deve levantar bandeiras, ela deve pegar aquelas que estão passando.

Istoé - E a política, tem espaço?
Mauricio de Sousa - Não, prefiro não mexer com política, religião e sexualidade. E dá para você contar milhões de histórias dessa maneira.

6 pessoas comentaram:

Minhas impressões estavam certas... Não é nem questão de que possa haver alguma pressão ou "resposta violenta", é porque o próprio Mauricio tem uma mente infantil (não falo em tom de ofensa, mas no sentido "inocente", "puro") e não vai largar isso de modo algum. É visível com a Turma da Mônica Jovem, que eu só vejo crianças e pré-adolescentes comprando.

Eu discordo um pouco Diego.

Acho que ele tem muita ciência pra qual mercado e que tipo de público ele trabalha. E sua reputação foi construída com base em não transgredir certos valores também.

Não vejo nada inocente em sua postura.

Apenas profissionalmente, não quer se comprometer. É o que me transparece ao ler suas respostas.

Entre levantar bandeira e retratar temas sociais tem muita coisa. Não é uma escolha tão 8 ou 80 assim.

Ao meu ver, crianças não são tão "puras" assim. E porque homossexualidade deveria está associada há algo "impuro"???

O próprio turma da mônica antigo é a batalha sem fim da Mônica contra o "bullyng" do cebolinha e do cascão.

Enfim, essas são minhas visões. ;)

E mais, Tina não é para crianças. Aliás, não é isso que está na capa? Que é para jovens adultos ou algo assim?

Mas é por isso que utilizei parenteses, Ludmila... É meu modo de falar ironicamente. Eu quis dizer que o Mauricio tem medo de arriscar, ele trabalha tanto num mundo infantil que se sente desconfortável (no mínimo) quando precisa progredir. Tipo, a maior "ousadia" da Turma da Mônica Jovem foi... fazer Mônica e Cebolin... Ops, Cebola, se beijarem!... Quando chegar "na mão naquilo, aquilo na mão" será um escândalo. Enfim, em português claro, quis dizer que o Mauricio acovardou.
E pois é, a Tina supostamente seria para jovens e adultos, maaaaaaas... Só sei que lamento muito por essa história.

Bah! Maurício escreve/cria/vende histórias conservadoras para público conservador. Nunca que ele vai bater o pé e insistir em manter temas polêmicos em sua HQs, se isso ameaçar sua imagem de "autor de quadrinhos educativos para todos os públicos".
Mas já se falou tanto disso: a Mônica sofre bullying constante e responde na porrada. Mais "educativo" que isso, impossível.
Por outro lado, os ditos "adolescentes" da Turma da Mônica Jovem são tudo menos adolescentes: sexualidade ali passa longe. Será que eles fazem parte desses novos movimentos pró-virgindade? Já, já aparecem com um Anel da Pureza no dedo. O primeiro número da TMJ teve até umas piadinhas leves envolvendo sexualidade, mas já no número seguinte, tudo ficou casto e sem nenhum hormônio. Acho que "papai Maurício" ficou com ciúmes de suas "filhinhas 2D".
Só vejo alguma mudança possível na Turma da Mônica quando o Maurício morrer e o império dele se dividir entre os filhos.

quando estava perto do lançamento da turma da monica jovem, o maurício encheu a boca pra falar o quanto seriam abordadas questões importantes da atualidade, como drogas e sexo. me decepcionei de mais quando vi a prévia (um capítulo que foi disponibilizado na net de graça), pois achei muuuiiito infantil.
Só sabe vir com liçõezinhas de moral, igual a Magali ("ela continua comendo muito, mas só come coisas saudáveis").
Além disso, eu esperava um traço muito mais mangá; pra mim, ele mudou algumas coisinhas, como os olhos, mas o traço continuou igual!

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