quarta-feira, 2 de novembro de 2011

História em Quadrinhos vira arma de fundamentalistas cristãos contra o Halloween



Há uma grande campanha, especialmente entre os cristãos fundamentalistas contra o Halloween. Se isso aqui no Brasil é visível, imagina no país de origem da coisa. Mas por qual motivo estou postando sobre isso aqui no Shoujo Café? Bem, vi uma matéria no site da ADIBERJ comentando sobre a maldade – sim, não qualificaria como outra coisa – que foi um folheto em forma de história em quadrinhos distribuído para as crianças quando elas fossem "Treat or Trick" (*Aqui normalmente traduzem como "Travessuras ou Gostosuras"*) na porta de membros de uma igreja batista local (*eu sou batista, está escrito no meu profile*). O singelo quadrinho contava a história de uma mãe que se converte depois que seus três filhos morrem, um deles se enforca no porão, porque ouve a mãe dizer que "perdeu seu filho favorito". A perda dos filhos, claro, era um sinal para essa mãe de que Deus não estava satisfeito com ela.

Olha, fora a mensagem enviesada, que nada tem de Evangelho, penso na maldade que é dar um negócio desses para uma criança que te pede um doce. Eu senti um profundo mal estar ao ler a notícia e desde ontem queria comentar aqui. Assusta-me muito o avanço do fundamentalismo religioso, do ódio que é despejado todos os dias e que alimentam, por exemplo, as agressões homofóbicas que se repetem nesse país. Esse é um problema de todos nós. Agora, usar quadrinhos para atingir crianças dessa forma é descer muito, muito, muito baixo. O pastor diz que "se descuidou", que "não tinha a intenção de ferir" (*Matéria em inglês*). Claro! Sabe por qual motivo? Vai ser processado. Aí, passo em sites nacionais e vejo chamadas do tipo "Pastor pode ser preso por ser contra o Halloween". Não é nada disso! O que ele fez foi agressão, eu chamaria até de terrorismo mesmo. Por lá, deve render indenização e, talvez, até possibilidade de uma cadeia leve. Daí, o medo bate forte! Mas ainda tem gente que, provavelmente por concordar ou rabo preso, vai defender o sujeito. Para quem quiser ler o caso em inglês, pode clicar aqui e aqui.

Eu até tinha comentado que não ligava para o Halloween, que ele nada tinha a ver com a realidade brasileira, as nós temos um similar, o Dia de Cosme & Damião. Nunca peguei doce, na minha infância era muito comum darem doces no Rio, porque minha mãe via aquela festa como um ritual pagão (*e eu não discordo*). O elo com as religiões afro era evidente. Mas sabe o que ela fazia? Ela comprava doces para a gente, para que nós não ficássemos com vontade de comê-los. E fim de papo, nada de conversas sobre crianças que morreriam por comer doces, ou coisa do gênero. Para mim bastava saber que não devia comer e eu nem era muito fã de doces mesmo. Às vezes, quando me davam algum doce de Cosme & Damião, até pegava o doce de abóbora ou batata doce (*na maioria das vezes, nem isso*) e dava o resto para alguém. Se minha consciência me condenava, poderia não condenar a de outra pessoa e jogar qualquer comida fora era pecado indiscutível lá em casa.

Já o Dia das Bruxas, eu conhecia de desenhos animado, especialmente Peanuts (*Linus à espera da Grande Abóbora*), e filmes americanos. Cheguei a participar de uma festa de Halloween no curso de inglês e minha mãe me ajudou a fazer o Jack O'Lantern (*nossa falta de experiência não produziu algo muito legal, não*). E nem ligou. Motivo? Na época não havia o link entre uma festa estrangeira (*curso de inglês*) e qualquer conotação religiosa. Tampouco bruxas eram vistas como seres reais, eram coisa de conto de fadas. E havia até as bruxinhas boas (*texto legal aqui*). Lembram de Maria Clara Machado? Todo livro de 2ª ou 3ª série tinha um texto da "Bruxinha que era Boa". Hoje, infelizmente, deu-se uma radicalização. Perdem as crianças, perdemos todos nós. E eu sinto vergonha... Muita mesmo!

5 pessoas comentaram:

Por acaso, acabei de assistir o anime do estudio Ghibli, Serviços de Entregas da Kiki. A protagonista é uma bruxinha, num mundo onde, aparentemente, alguns temem essa "menina estranha que voa em vassouras". Ainda assim, a maioria apenas é curioso, e aceita a garota sem problemas.
Me deu uma inveja danada. Uma vontade imensa de viver num mundo assim, onde ser diferente pode até chamar a atenção, talvez gerar uma ou outra cara feia, e nada mais. Nada de agressão, nada de violência ou repressão. Viva e deixe viver.
Ok, um pouco de invejinha por não poder voar numa vassoura também. ;)

Oi Valéria. Acho que não me expliquei direito no comentário sobre o dia das bruxas. O que eu quis dizer é que aqui entre a população mais pobre nas cidades satélites de Brasília (Gama 80's e Samambaia 90's)na minha infância não era comum se falar nesta festa, ninguém conhecia, era coisa no máximo de classe média que fazia curso de inglês.
Sobre Cosme e Damião também nunca peguei nenhum doce pois quando tinham dinheiro meus pais compravam pra mim e eu aprendi a não aceitar doces de estranhos. Tive sim uma infância 'religiosa' mas nunca intolerante pois sempre pertenci a minoria( fui a unica 'crente' da sala até o 2º ano do 2º grau) mas isso nunca me impediu de conviver bem com todas as outras pessoas que tinham uma fé diferente da minha (todo mundo) pois meus pais me ensinaram a respeitar a fé alheia.

Faço minha, sua vergonha.

Esse discurso de odio e de terror vai contra tudo oq entendo por Cristianismo.

Tenho muito medo desse conservadorismo reinante.

O futuro me preocupa.

Muita maldade mesmo, o meu medo é de que este ato inpensado chegue ao Brasil e vire moda, como outras coisas vindas dos 'states'.

Creio que a professora já viu a campanha contra o Natal promovida por algumas denominações cristãs brasileiras, um absurdo! Para pastores "bem intecionados" repetirem essa sandice aqui, não falta muita coisa, triste.

É aí que vem a pergunta para ALGUNS cristãos:Tem certeza que o deus que você acredita não é o demônio? Porque pelo amor! Esse deus é ruindade pura. Parece uma criança mimada que se você não o atende ele acaba contigo. Nojo. Tenho muita pena de todo ser que cai na lábia desses particantes do terror.

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