Eu não poderia deixar de comentar a escolha de Tropa de Elite para representar o Brasil. Depois de anos de mediocridade, de escolhas (muito) políticas (toda escolha é política por princípio), eis que Capitão Nascimento pode entrar para a história do Oscar e o Wagner Moura cair de vez nas graças do público internacional. Olha, eu acho que o filme tem todos as qualidades, é a escolha justa, mas a indicação de uma continuação não deve ter o efeito que o Tropa original poderia ter em 2007. Eu vi O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, não é um filme fraco, mas é muito inferior à Tropa, pinta uma São Paulo cor de rosa e sem racismos ou preconceitos religiosos, enfim, uma grande ficção... Foi uma injustiça e uma burrice indicar esse filme com Tropa de Elite concorrendo junto, a vingança veio em Berlim, mas o gosto amargo ficou. Bem, chega de lenga-lenga, a escolha foi importante, mas acho que é tarde. Espero estar enganada. Segue o texto da Folha de São Paulo sobre a questão, minha crítica do filme está aqui.
Indicação de 'Tropa 2' mostra que ficha caiu para o establishment
Filme que tenta vaga no Oscar pelo Brasil foi recorde de bilheteria e uniu direita e esquerda, público e crítica
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Quando a comissão reunida em 2007 pelo Ministério da Cultura escolheu "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" como representante do Brasil no Oscar daquele ano, preterindo "Tropa de Elite", havia lógica nessa opção. Era um filme de molde clássico e mensagem humanista, com mais potencial para agradar aos velhinhos da Academia que votam na categoria de filme estrangeiro. Mas também havia, e isso parece mais claro hoje, uma dificuldade de identificar o óvni que era "Tropa", de reconhecê-lo como um caso de exceção, que merecia que a lógica fosse deixada de lado.
Como diria depois o crítico Gustavo Dahl, "Tropa" "salva o cinema brasileiro da irrelevância" – não estética, mas social: um filme pautando o debate sobre segurança pública no país. Os camelôs da rua 25 de Março, a torcida do Flamengo, os fabricantes de brinquedos e o júri do Festival de Berlim entenderam isso. O establishment cinematográfico brasileiro -da comissão do ministério até nós, da crítica, passando por distribuidores e exibidores- não. Narciso acha feio o que não é espelho. Preferimos rotular o filme - fascista, "Rambo" à brasileira - a olhar para ele. Ignoramos o elefante na sala de estar, em vez de despachá-lo para o Oscar.
Quatro anos se passaram, "Tropa 2" foi lançado, virou recordista de bilheteria, e a ficha caiu de vez para o establishment. O "mea culpa" do capitão Nascimento ajudou: ele continuou sendo truculento e incorruptível, mas reconheceu que o sujeito dos direitos humanos tinha lá sua razão. "Tropa de Elite 2" se tornou, então, um filme de coalizão nacional, unindo direita e esquerda, público e crítica, o fã de MMA e o praticante de ioga. Nada mais justo que ele se torne também nosso produto de exportação. O elefante está no rumo certo.
Filme que tenta vaga no Oscar pelo Brasil foi recorde de bilheteria e uniu direita e esquerda, público e crítica
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Quando a comissão reunida em 2007 pelo Ministério da Cultura escolheu "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" como representante do Brasil no Oscar daquele ano, preterindo "Tropa de Elite", havia lógica nessa opção. Era um filme de molde clássico e mensagem humanista, com mais potencial para agradar aos velhinhos da Academia que votam na categoria de filme estrangeiro. Mas também havia, e isso parece mais claro hoje, uma dificuldade de identificar o óvni que era "Tropa", de reconhecê-lo como um caso de exceção, que merecia que a lógica fosse deixada de lado.
Como diria depois o crítico Gustavo Dahl, "Tropa" "salva o cinema brasileiro da irrelevância" – não estética, mas social: um filme pautando o debate sobre segurança pública no país. Os camelôs da rua 25 de Março, a torcida do Flamengo, os fabricantes de brinquedos e o júri do Festival de Berlim entenderam isso. O establishment cinematográfico brasileiro -da comissão do ministério até nós, da crítica, passando por distribuidores e exibidores- não. Narciso acha feio o que não é espelho. Preferimos rotular o filme - fascista, "Rambo" à brasileira - a olhar para ele. Ignoramos o elefante na sala de estar, em vez de despachá-lo para o Oscar.
Quatro anos se passaram, "Tropa 2" foi lançado, virou recordista de bilheteria, e a ficha caiu de vez para o establishment. O "mea culpa" do capitão Nascimento ajudou: ele continuou sendo truculento e incorruptível, mas reconheceu que o sujeito dos direitos humanos tinha lá sua razão. "Tropa de Elite 2" se tornou, então, um filme de coalizão nacional, unindo direita e esquerda, público e crítica, o fã de MMA e o praticante de ioga. Nada mais justo que ele se torne também nosso produto de exportação. O elefante está no rumo certo.
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário