Quarta-feira assisti O Homem do Futuro, novo filme de Cláudio Torres, estrelado por Wagner Moura e com um excelente elenco de apoio. Se eu tivesse que enquadrar o filme chamaria de comédia romântica de ficção científica, algo, acredito, bem raro no cinema em geral. Mérito de Torres, que é roteirista e diretor do filme. Eu gostei do trailer, não tinha visto o filme anterior do Cláudio Torres, A Mulher Invisível, nem conhecia seu trabalho, mas a premissa da viagem do tempo e o Wagner Moura no elenco foram iscas suficientes para mim. Confesso que esperava mais, muito mais de O Homem do Futuro, mas vamos por partes... Segue a sinopse:
Zero (Wagner Moura) é um brilhante cientista que, ao tentar descobrir uma nova forma de energia, inventou a máquina do tempo. No entanto, este mesmo cientista é amargo, destrutivo e recalcado, porque vinte anos antes, em 1991, ele foi publicamente humilhado por uma colega de faculdade, Helena (Alinne Moraes), que foi o amor de sua vida. Zero decide voltar no tempo, correndo o risco de inclusive deixar de existir, para dar a si mesmo uma nova chance. Só que, claro, as coisas não saem assim da forma como ele esperava...
O Homem do Futuro tem méritos e deméritos. Primeiro grande mérito é o elenco. Wagner Moura está excelente fazendo três personagens ao mesmo tempo, ele é Zero jovem, tímido e ingênuo; Zero de meia idade, misógino e amargo; e o Zero quase uma versão tupiniquim do Tony Stark, depois de mexer no seu passado. Enfim, vê-lo atuar é sempre ótimo. Alinne Moraes consegue encantar, seduzir e mostra ser uma das grandes estrelas jovens do Brasil. Espero que lhe permitam dar vôos cada vez mais altos, porque ela tem muito potencial mesmo. Ah, sim! E uma das melhores cenas do filme é a de Alinne Moraes e Wagner Moura cantando! ^__^ Ele canta em VIPs, mas aqui é algo bem mais legal.
Maria Luísa Mendonça está ótima como a amiga de infância de Zero, sua performance em três papéis, especialmente como apresentadora da festa da faculdade é uma das melhores coisas do filme. Outro que está excelente é Fernando Ceylão, o companheiro de pesquisas e melhor amigo de Zero. Ele também precisa fazer três papéis no filme. Só não conseguiu me convencer a versão jovem de Gabriel Braga Nunes. Enquanto a maquiagem ajudou muito Moura, Ceylão e Mendonça a pareceram jovens de vinte poucos anos, Nunes estavam com cara de um (belo) homem de meia idade o tempo todo. Ele ficou melhor no presente, com a idade que tem de verdade, do que no passado. Fora que sua personagem é aquela coisa bem forçadinha como estudante playboy.
Os cenários de O Homem do Futuro, especialmente o laboratório de Zero, foram muito convincentes. Tudo foi bem feito e a ambientação é uma das cartas fortes do filme, já que tudo poderia ter ficado muito tosco. Os efeitos especiais, que não são usados com tanta freqüência assim ao longo da película, foram bem executados. E, claro, Moura tonto depois de viajar no tempo, reforçou a credibilidade da coisa toda. Uma das melhores seqüências é, sem dúvida, a chegada da personagem em 1991: os enormes celulares, Collor de Mello presidente e a piada do táxi. Não vou comentar, porque foi, para mim, a melhor do filme inteiro. E um dos problemas está aí, O Homem do Futuro deveria ter explorado mais o choque de um homem (*e uma audiência*) de 2011, encontrando o Brasil da Era Collor. Hiperinflação, tecnologia obsoleta, modismos... Foi aí que O Homem do Futuro ficou realmente muito aquém das minhas expectativas. Boa parte do humor depende muito mais das caras e bocas que Wagner Moura faz ao confrontar o seus outros “eus”. O Homem do Futuro seria melhor se fosse mais comédia e menos comédia romântica. Ah, e o Wagner “Stark” Moura presenteando a personagem de Alinne Moraes com uma casinha, o MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói – foi engraçado, também. Só que isso foi em uma das realidades alternativas de 2011.
E entramos na parte da suspensão de descrença. Sim, isso é fundamental muitas vezes para que possamos gostar e nos envolver com uma história de ficção. Por questões de roteiro, eu até me convenço de que Wagner Moura poderia estar fazendo pesquisa em Física de ponta no Brasil e (*choque*) em uma universidade particular. A história explica como isso é possível e falar mais desse aspecto é spoiler. Agora, não tem suspensão de descrença que dê jeito em explicar aquele clima high school americana em uma faculdade brasileira de 1991, e, pior, que um aluno pobre, suburbano e brilhante vá fazer curso de física em uma instituição particular daquelas. Só se fosse à noite, porque ele precisava trabalhar durante o dia e ajudar nas despesas da casa... E este não é o caso no filme. Que Zero, adulto, frustrado, lecione em uma instituição como a do filme, OK, que ele fosse estudar lá, NÃO é!
Alunos brilhantes passam para as universidades públicas. É assim até hoje, especialmente na área das engenharias e das exatas onde se precisa de recursos para a pesquisa. A UFRJ, a UERJ, ou, melhor ainda, a USP, seriam escolhas mais aceitáveis. Mas como a personagem de Moura é um gênio, ele não faria menos que o ITA, uma das melhores do mundo em sua área e onde ele receberia, caso militar aluno, um salário. Minha mãe teve um aluno, negro, pobre, que estudou a vida inteira em escola pública em São João de Meriti. Depois, passou na UERJ, fez graduação, mestrado. Tornou-se professor e virou notícia de jornal ao ir trabalhar na NASA, porque chamou a atenção dos americanos com seu projeto de doutorado. Parte das aventuras dele está descrita aqui. Zero, com seu perfil, poderia ser um caso assim. Só que existe a política – que a Rede Globo enfatiza volta e meia em suas novelas – de convencer meninos e meninas pobres de que “toda faculdade é igual”, de que “universidade pública é para filhinho de papai” e que “pobre tem orgulho em pagar sua faculdade com o suor de seu rosto”. Ora, Zero nem isso... Ele é bolsista!!!!! Desculpem, é demais para mim. Não estraga o filme, mas é tão absurdo que me faz mal.
Outro momento em que o roteiro patina é no seu final. É suspensão de descrença demais, os vinte anos de espera da personagem de Alinne Moraes pelo seu verdadeiro amor... Precisava disso? Se a situação tivesse sido bem desenvolvida, como no caso de Em Algum Lugar do Passado ou mesmo de A Esposa do Viajante do Tempo, até seria aceitável. Mas o romance entre Zero e Helena fica muito naquele nível tati-bi-tati, sem grandes aprofundamentos dramáticos. Percebem que O Homem do Futuro peca exatamente no aspecto comédia romântica, quando deveria e poderia ser uma excelente comédia de ficção científica com algum romance? Eu preferi VIPs e De Pernas para o Ar me convenceu muito mais como comédia. O Homem do Futuro ficou ali no meio, grandes interpretações, Wagner Moura e Maria Luísa Mendonça arrasando, mas falta alguma coisa... E não é pouca coisa, não! Mas, confira você mesmo. É muito bom ver o cinema nacional explorando outros gêneros, saindo do lugar comum, e, claro, O Homem do Futuro não é ruim, só poderia ser muito, muito melhor.
Zero (Wagner Moura) é um brilhante cientista que, ao tentar descobrir uma nova forma de energia, inventou a máquina do tempo. No entanto, este mesmo cientista é amargo, destrutivo e recalcado, porque vinte anos antes, em 1991, ele foi publicamente humilhado por uma colega de faculdade, Helena (Alinne Moraes), que foi o amor de sua vida. Zero decide voltar no tempo, correndo o risco de inclusive deixar de existir, para dar a si mesmo uma nova chance. Só que, claro, as coisas não saem assim da forma como ele esperava...
O Homem do Futuro tem méritos e deméritos. Primeiro grande mérito é o elenco. Wagner Moura está excelente fazendo três personagens ao mesmo tempo, ele é Zero jovem, tímido e ingênuo; Zero de meia idade, misógino e amargo; e o Zero quase uma versão tupiniquim do Tony Stark, depois de mexer no seu passado. Enfim, vê-lo atuar é sempre ótimo. Alinne Moraes consegue encantar, seduzir e mostra ser uma das grandes estrelas jovens do Brasil. Espero que lhe permitam dar vôos cada vez mais altos, porque ela tem muito potencial mesmo. Ah, sim! E uma das melhores cenas do filme é a de Alinne Moraes e Wagner Moura cantando! ^__^ Ele canta em VIPs, mas aqui é algo bem mais legal.
Maria Luísa Mendonça está ótima como a amiga de infância de Zero, sua performance em três papéis, especialmente como apresentadora da festa da faculdade é uma das melhores coisas do filme. Outro que está excelente é Fernando Ceylão, o companheiro de pesquisas e melhor amigo de Zero. Ele também precisa fazer três papéis no filme. Só não conseguiu me convencer a versão jovem de Gabriel Braga Nunes. Enquanto a maquiagem ajudou muito Moura, Ceylão e Mendonça a pareceram jovens de vinte poucos anos, Nunes estavam com cara de um (belo) homem de meia idade o tempo todo. Ele ficou melhor no presente, com a idade que tem de verdade, do que no passado. Fora que sua personagem é aquela coisa bem forçadinha como estudante playboy.
Os cenários de O Homem do Futuro, especialmente o laboratório de Zero, foram muito convincentes. Tudo foi bem feito e a ambientação é uma das cartas fortes do filme, já que tudo poderia ter ficado muito tosco. Os efeitos especiais, que não são usados com tanta freqüência assim ao longo da película, foram bem executados. E, claro, Moura tonto depois de viajar no tempo, reforçou a credibilidade da coisa toda. Uma das melhores seqüências é, sem dúvida, a chegada da personagem em 1991: os enormes celulares, Collor de Mello presidente e a piada do táxi. Não vou comentar, porque foi, para mim, a melhor do filme inteiro. E um dos problemas está aí, O Homem do Futuro deveria ter explorado mais o choque de um homem (*e uma audiência*) de 2011, encontrando o Brasil da Era Collor. Hiperinflação, tecnologia obsoleta, modismos... Foi aí que O Homem do Futuro ficou realmente muito aquém das minhas expectativas. Boa parte do humor depende muito mais das caras e bocas que Wagner Moura faz ao confrontar o seus outros “eus”. O Homem do Futuro seria melhor se fosse mais comédia e menos comédia romântica. Ah, e o Wagner “Stark” Moura presenteando a personagem de Alinne Moraes com uma casinha, o MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói – foi engraçado, também. Só que isso foi em uma das realidades alternativas de 2011.
E entramos na parte da suspensão de descrença. Sim, isso é fundamental muitas vezes para que possamos gostar e nos envolver com uma história de ficção. Por questões de roteiro, eu até me convenço de que Wagner Moura poderia estar fazendo pesquisa em Física de ponta no Brasil e (*choque*) em uma universidade particular. A história explica como isso é possível e falar mais desse aspecto é spoiler. Agora, não tem suspensão de descrença que dê jeito em explicar aquele clima high school americana em uma faculdade brasileira de 1991, e, pior, que um aluno pobre, suburbano e brilhante vá fazer curso de física em uma instituição particular daquelas. Só se fosse à noite, porque ele precisava trabalhar durante o dia e ajudar nas despesas da casa... E este não é o caso no filme. Que Zero, adulto, frustrado, lecione em uma instituição como a do filme, OK, que ele fosse estudar lá, NÃO é!
Alunos brilhantes passam para as universidades públicas. É assim até hoje, especialmente na área das engenharias e das exatas onde se precisa de recursos para a pesquisa. A UFRJ, a UERJ, ou, melhor ainda, a USP, seriam escolhas mais aceitáveis. Mas como a personagem de Moura é um gênio, ele não faria menos que o ITA, uma das melhores do mundo em sua área e onde ele receberia, caso militar aluno, um salário. Minha mãe teve um aluno, negro, pobre, que estudou a vida inteira em escola pública em São João de Meriti. Depois, passou na UERJ, fez graduação, mestrado. Tornou-se professor e virou notícia de jornal ao ir trabalhar na NASA, porque chamou a atenção dos americanos com seu projeto de doutorado. Parte das aventuras dele está descrita aqui. Zero, com seu perfil, poderia ser um caso assim. Só que existe a política – que a Rede Globo enfatiza volta e meia em suas novelas – de convencer meninos e meninas pobres de que “toda faculdade é igual”, de que “universidade pública é para filhinho de papai” e que “pobre tem orgulho em pagar sua faculdade com o suor de seu rosto”. Ora, Zero nem isso... Ele é bolsista!!!!! Desculpem, é demais para mim. Não estraga o filme, mas é tão absurdo que me faz mal.
Outro momento em que o roteiro patina é no seu final. É suspensão de descrença demais, os vinte anos de espera da personagem de Alinne Moraes pelo seu verdadeiro amor... Precisava disso? Se a situação tivesse sido bem desenvolvida, como no caso de Em Algum Lugar do Passado ou mesmo de A Esposa do Viajante do Tempo, até seria aceitável. Mas o romance entre Zero e Helena fica muito naquele nível tati-bi-tati, sem grandes aprofundamentos dramáticos. Percebem que O Homem do Futuro peca exatamente no aspecto comédia romântica, quando deveria e poderia ser uma excelente comédia de ficção científica com algum romance? Eu preferi VIPs e De Pernas para o Ar me convenceu muito mais como comédia. O Homem do Futuro ficou ali no meio, grandes interpretações, Wagner Moura e Maria Luísa Mendonça arrasando, mas falta alguma coisa... E não é pouca coisa, não! Mas, confira você mesmo. É muito bom ver o cinema nacional explorando outros gêneros, saindo do lugar comum, e, claro, O Homem do Futuro não é ruim, só poderia ser muito, muito melhor.
1 pessoas comentaram:
Assisti esse filme em um futuro distante e gostei. Concordo com a sua resenha. =)
Foi engraçado pra mim ver o prédio da Reitoria da UFRJ e o corredor entre a gravura e o Pamplonão aparecendo o tempo todo. Identifiquei até o meu antigo armário ali. E a sala do júri tb é na Reitoria, kkkk.
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