Antes que seja tarde demais, afinal, a novela termina da sexta-feira, decidi fazer meu primeiro post sobre Cordel Encantado, a novela das seis da Rede Globo. Confesso que não assisti muitos dos capítulos da primeira parte da novela. Até poderia ir atrás deles, se a Globo não estivesse perseguindo os vídeos de suas novelas no Youtube e eu tivesse paciência para assistir cena a cena no site da emissora. De qualquer forma, quando Cordel Encantado estreou, não conseguiu me encantar. Achei o primeiro capítulo forçado, a parte de Seráfia muito fake, ensaiadinha. O único ponto alto do capítulo foi o tiro que um soldado deu no rei Theobaldo (Tiago Lacerda). Pelo que se desenhava, tratava-se de um tirano que sacrificaria todos pelos seus interesses. E, bem, é assim que se resolve este tipo de problema... Daí, por que não resolveram o caso do Timóteo ainda?
Uma das coisas que eu estranhei logo no início foi não usarem o recurso do livro de histórias, já que tudo tem um pé no conto de fadas, ou da narrativa ser intercalada por repentistas. Seria interessante e colocaria a narrativa no espaço da fantasia, dialogando ainda mais com a cultura popular nordestina. Esse recurso foi bem utilizado no filme indiano Mangal Pandey, onde a ação era entrecortada pelos músicos sobre o elefante “cantando” a epopéia do herói. Aliás, falando em fantasia, as autoras dizem que não queriam balizar historicamente a trama, mas ao citarem repetidamente pessoas reais – o Rei George da Inglaterra, provavelmente o avô da Rainha Elizabeth II, ou Cecil B. De Mille – acabaram sugerindo uma temporalidade. E, bem, ela não ajuda em nada a história que mistura épocas, estilos, tecnologias... Enfim, é uma grande salada que na maioria do tempo é bem divertida.
Não sei por qual motivo comecei a assistir Cordel Encantado... Nem lembro bem em qual momento comecei a seguir fielmente a trama. Acho que algumas cenas começaram a me chamar a atenção. Depois de achar a Doralice muito forçada no início da trama, comecei a ver que a personagem interessante, uma encarnação da Donzela Guerreira (*a homenagem à Diadorim de Bruna Lombardi foi perfeita*). E a personagem é bem feminista e isso fica marcado nas suas atitudes e falas, apesar de algumas escorregadas de roteiro aqui e ali. E, conforme fui observando, saquei de cara que o Príncipe Felipe e ela ficariam juntos. Aliás, por que aquele menino usa sempre preto? Até o pijama do sujeito é preto! Outra personagem que me agradou muito e, para mim, é a verdadeira mocinha da história, é a Antonia. A atriz, fez um excelente trabalho, e a personagem cresceu ao longo da trama, e conseguiu me comover em alguns momentos (*como a cena do livro, quando ela confessa que não sabe ler*). E como eu senti raiva do tal Inácio, quando ele surtou... Aliás, em muitos aspectos, a Antonia também é uma personagem feminista, porque ela se empodera ao longo da trama, toma as rédeas de sua vida, e isso transforma a sua trajetória. Enfim, como podem colocar uma mala sem alça como a Açucena como protagonista quando temos duas mocinhas tão mais interessantes?
Outra coisa que me chamou a atenção foi o humor TV Pirata que aflorava de repente, assim do nada... Luiz Fernando Guimarães teve tiradas ótimas e sua interação com a Débora Bloch foi perfeita. Algumas cenas dele com o Batoré, de Osmar Prado, foram engraçadíssimas. Aliás, a personagem de Osmar Prado também passou por grande transformação, de capacho genérico, a uma personagem bem digna. Tudo graças a interação com a Antonia. Enfim, esse tipo de humor quebrava algumas situações que, se levadas a sério, poderiam parecer ridículas. Algo o que realmente me surpreendeu em Cordel Encantado foi a simpatia das crianças. O núcleo infantil, especialmente o menino Eronildes, não era chato, nem forçado como o da maioria das novelas. E Eronildes é um nome raro, era o nome do meu avô. E, bem, eu gosto dos cangaceiros. Adoro o Bel, o cangaceiro dos mil disfarces, torci muito para que ele ficasse com a Penélope... Ah, sim! E é muito bom ver a Ilva Nino (Cândida) atuando com tanta desenvoltura. Ela convence como a matriarca dos cangaceiro e acho que é o melhor papel dela em telenovelas... Sim, não é a empregada da Viúva Porcina, a subalterna, mas a mulher forte e cheia de atitude respeitada por todos o que vai ficar na minha memória. Ela lembra algumas mulheres idosas da minah família.
Com o passar do tempo, comecei a simpatizar com outras personagens. O Petrus (*Eu adoro o Felipe Camargo*) e a Florinda eram dois dos meus favoritos, antes que estragassem tudo ao colocarem aquele adultério permitido pelo marido. Ver dois galãs da década de 1980 em um triângulo maduro foi inusitado, mas depois a coisa se esvaziou... O Zenóbio (Guilherme Fontes) não merecia ser traído, sua reação foi inverossímil e o final do Petrus com a Filó vai ser forçado. Se era para ele não terminar com a Florinda, que ficasse sozinho. Por que, não? A personagem já tinha algo de trágico mesmo... Eu imaginei que o Zenóbio fosse morrer, mas não queria que houvesse a traição, ainda mais de forma tão leviana. Eu sei, é conservador de minha parte, mas preferia uma saída mais radical, com Florinda ficando com os dois àquela lenga-lenga estranha para justificar a falta de sensibilidade da personagem em relação ao marido e aos filhos, e a ingratidão do Petrus... Enfim, não gostei mesmo...
Falando nisso, outra coisa que me incomodou foi a não valorização da “donzelice” de ninguém. Fora um meio escândalo do pai-sertanejo da Açucena, ninguém parece se importar com a castidade das moças. Mas deixa eu explicar: eu imaginei que Cordel Encantado seria uma novela curta (*e nem foi tanto assim*), quando o Jesuíno e a Açucena tiveram sua primeira noite de amor. Desde o início, sabíamos que ficariam juntos, mas, quando esse tipo de coisa acontece, a separação se torna absolutamente impossível. Foi cedo demais. Esse tipo de "acontecimento" deveria ser guardada para o final (*ou quase*) da novela, até para criar uma tensão maior em relação ao vilão que, afinal de contas, quer “deflorar” a mocinha. Mas as autoras não ligam para isso e, talvez, eu esteja romantizando demais... Duca Rachid e Thelma Guedes também não se importaram de colocar a primeira vez de Dora e Felipe/Antonia e Inácio no mesmo capítulo e ao mesmo tempo. Os casais deveriam ter tido um momento só deles e não aqueles cortes de cena. Fora que a Antonia merecia algo muito mais especial do que aquele “acidente” com a carroça. Eu realmente não gostei. De novo, posso estar sendo conservadora, mas dentro desse tipo de história seria muito mais interessante que a primeira vez dela fosse na noite de núpcias.
Já a noite de amor do Dora e o Filipe foi OK (*e bem hot para uma novela das seis atual*), afinal, Doralice não é uma mocinha “tradicional” e nunca iria se pautar pelas normas mesmo. E depois a cena ainda rendeu a piada de que ela não eram mais a “donzela” guerreira... Naughty boy! Aliás, que interação a da Nathalia Dill (Doralice) com o Jayme Matarazzo (Felipe)? E as cenas dos dois são ótimas. Duvido que não sejam o casal mais popular dessa novela. Ambos são bons atores e podem melhorar mais ainda. Dill amadureceu bastante como atriz, assim como o Cauã Raymond que já foi um homem samambaia e, hoje, mostra que além de bonito, pode também ser um bom ator. E a Luiza Valderato me surpreendeu, não a conhecia e ela é encantadora. Fora isso, há vários outros destaques como a Claudia Ohana, o Domingos Montagner (Herculano) com sua beleza rústica, a Lucy Ramos (Maria Cesária)... aliás, será que esta menina ainda vai conseguir ser protagonista de novela? É outra que cresceu muito como atriz. Enfim, são muitos os destaques, não vou citar todos. E, claro, o Bruno Gagliasso é sempre brilhante... Só que a sua personagem não é!
Uma das coisas que me afastou da novela de Duca Rachid (*que eu pensava até pouco tempo que era um homem*) e Thelma Guedes foi o vilão. Timóteo é aquele tipo de vilão fraco, mimado, que logo nos primeiros capítulos já dava sinais de loucura. Uma surra bem dada e, nas últimas semanas, uns bons tiros, resolveriam o problema dele. Algo que me pareceu absurdo foi a comparação, ainda na primeira fase da novela, com o a Leôncio de Rubens de Falco. Não! As duas personagens são bem diferentes e Timóteo era ridículo perto de Leôncio Mau-Mau. Ele nunca teve chance alguma com a (*chata*) da Açucena, afinal, tentou abusar dela várias vezes, e isso anulou suas possibiidades, tirando um pouco do impacto da história. Nunca houve dúvida entre Jesuíno e Timóteo (*ou mesmo entre Jesuíno e Felipe*), porque este último sempre foi um enlouquecido. Enfim, são poucas as grandes maldades que Timóteo cometeu, como colocar Carlota grávida no tronco, ou entregar a irmã para Batoré... No mais, é difícil acreditar que alguém fosse continuar seguindo um louco como ele depois das coisas que fez. Em alguns momentos, a relação de Timóteo com os habitantes da cidade, com seus jagunços, com Batoré, parecia coisa do anime Now and Then, Here and There, no qual o vilão era um louco de pedra ridículo e ninguém tinha a capacidade de resolver o problema...
Pois bem, Cordel encantado seria melhor se tivesse um vilão de verdade. Seria melhor se fosse mais curta. Seria melhor se a mocinha não fosse a Açucena. Porque esta criatura é uma das piores protagonistas de novela dos últimos tempos... Ciumenta, infantil, inconstante, e, claro, burra. Não sei se alguém acha isso sexy, atraente, mas minha vontade é desligar a TV quando ela aparece. E vejam bem, o Cauã Raimond está muito bem. O roteiro patinou aqui e ali – pois o herói precisa sempre fazer as suas bobagens para facilitar a vida do vilão ou enrolar o romance com a mocinha – mas ele não é um mala sem alça. Já Açucena é impossível... E, bem, no início da novela ela não era uma chata, foi ficando depois. Também acho chato essa coisa de princesas “maiores de idade” (*vide Rapunzel*). Ela precisava ter vinte anos? E onde o Carmo Dalla Vechia tem cara de pai da Bianca Bin?
Mas vamos terminar, porque está tarde. Gosto do figurino de Cordel Encantado, a maioria das roupas são bem interessantes, criativas e até bonitas. Estranhamente, Doralice é quem se veste pior em ocasiões festivas. A fotografia é excelente, a interação dos atores e atrizes, também. Não gosto dessa história de todas as mulheres de cabelo solto, mas ninguém parece entender que prender o cabelo pode marcar a idade adulta ou refinamento, e soltar o cabelo tem algo de muito sensual. E a composição de época pedia isso. Deveriam ler Kaoru Mori. Se a Florinda, mulher adulta, mãe de três filhos crescidos, só soltasse seu cabelo em momentos especiais sua personagem teria muito mais sensualidade. Também não gostei de ver a Dora se acidentando e sendo salva pelo Felipe de novo... Acidente, aliás, que fez com que ela ficasse para trás. Ontem (*e não vi o capítulo*), eles casaram... Espero que ela não seja domesticada em mais um deslize de roteiro... Ah, sim! Ia esquecendo! Paula Burlamaqui está excelente. É outra personagem feminina ativa, inteligente, feminista e como ela está bonita nessa novela. Adoro a Penélope.
Enfim, eu farei outro post sobre a novela quando ela terminar. Tentarei ser mais organizada e sucinta. De resto, Cordel Encantado me surpreendeu. Não pretendia assistir e acabei fisgada. Se encontrar os arquivos, ou quando ela for repetida, pretendo assistir na íntegra.
ATUALIZAÇÃO (13/01/2019): Acho que nunca fiz o segundo post. Se conseguir reassistir a novela, faço outros comentários.
ATUALIZAÇÃO (13/01/2019): Acho que nunca fiz o segundo post. Se conseguir reassistir a novela, faço outros comentários.
5 pessoas comentaram:
Olha, eu fico sempre com o pé atrás com essa representação do Nordeste, com cangaceiros e superstição, gente falando com sotaque carregado, etc. Mas a novela foi/é muito simpática. Só acho o Cauã Reymond e o Bruno Gagliasso atores fraquíssimos. Não consigo ver as atuações deles fluírem de modo natural, como faz o ator que interpreta o Herculano e a mãe dele, por exemplo. Parecem deslocados, artificiais demais. E o mesmo vale pra Açucena, fraquíssima essa menina.
Mas a novela abusou de referências literárias, fez - acredito - desse imaginário construído do Nordeste um ponto a seu favor e teve bom figurinos e fotografia. Mas concordo que o vilão foi mal desenvolvido e a novela deveria ser menor, ajudaria bastante.
Ah, e espero que a Doralice também não "enfraqueça" no fim, seria uma pena.
A novela é simpática e divertida. Acho que desde Sinhá Moça eu não dava bola para uma novela das seis. Mas também tenho alguns "poréns", que, no geral, resumem-se a um só: a trama foi muito simplificada. Não sei se pelo horário ou se pelo tempo de exibição, mas senti falta de muitos conflitos que poderiam ter sido melhor aproveitados, como o dos dois reinos de Seráfia (como assim toda a casa real da Seráfia do Norte - ou do Sul, sei lá - fica em outro país), a resolução da união entre os dois países, o fato do rei se casar com uma empregada (e negra) é aceito com a maior naturalidade por todos, a trama do cangaço e de Jesuíno deixada meio de lado... Enfim, tudo muito simplificado. Fora que também não gostei do tamanho da ingenuidade de alguns desdobramentos da história, principalmente em relação ao Timóteo. A solução tava na cara demais para ser ignorada. E me dava nervoso ver o rei sempre vestido como a farda de gala, fizesse chuva ou sol. Tipo, ele não tinha outra roupa?
Só discordo de você quanto à Açucena. Tá certo que ela nem de longe é a melhor personagem da novela, mas vamos dar um desconto, afinal a garota perdeu o sossego, o noivo, e, de certa forma, a família. Ela tinha que dar uma despirocada, coitada.
Eu tento escrever algo adulto e coerente sobre essa novela, mas nunca consigo... Amo Dora! A-M-O! Antônia é legal também - aliás, daquele grupo das meninas, a única com quem não me dei foi a Açucena. Concordo integralmente com sua opinião sobre o Timóteo, mas discordo do seu ponto de vista sobre o Jesuíno (o personagem é insípido e o Cauã não conseguiu transformá-lo numa coisa melhor).
Por sinal eu gostaria de saber a sua opinião sobre os "mocinhos" das novelas de ultimamente, pois faz um bom tempo que os papéis de mocinhos são escritos como se fossem uns bananas - e quando o personagem é bacana, muitas vezes os atores escolhidos não conseguem sustentar o papel.
Pois bem, fui pega pela novela também...adoro o casal Bel de Penélope (o João Miguel é um ótimo ator), a Dora ... saquei de cara também que teria um romance por aí com o Felipe, aquela cena deles se beijando pela primeira vez, ele tentando depreciá-la mas na realidade completamente fascinado com ela, foi demais.
Eu sempre disse para minha mãe que o casal principal era dispensável na novela, um romance chato...bla bla bla.
Opa! Outra coisa que me deixou fula da vida foi o triangulo Florinda, sei lá eu tenho uma mente muito aberta, mas não consegui absorver a traição, foi desnecessária.
Concordo com o que você comentou adorei.
Ótimo texto, concordo com você em vários pontos. Primeiramente, sobre as personagens, não suporto a Açucena e aquele jeitinho dela, o Jesuíno é muito bom moço pro meu gosto, deixa passar muito fácil todas as maldades que o Timóteo faz com ele. Eu gosto do Timóteo como vilão e confesso que até torcia para rolar algo entre ele e a Açucena, mas o nível de vilania dele não chega aos pés do Leôncio(Escrava Isaura). Gosto muito do casal Felipe e Doralice, gosto da Antônia, mas queria que ela ficasse com o Cicero e não com Inácio.
Em relação ao figurino, os vestidos são muito lindos, mas dá para notar que cada personagem tem no máximo 3 mudas de roupa e olhe lá, até o pessoal da Corte.
O sotaque forçado me incomodou um pouco no começo, mas depois acostumei.
Bem é isso, se comentar mais vai ficar muito longo. Acredito que deveriam investir mais em novelas de época por aqui, pois eu adoro (e são as únicas que tenho paciência para assistir atualmente). XD
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