Terminei de ler o volume #6 de Ōoku (大奥) faz mais de duas semanas, mas, assim como no caso de Black Bird, atrasei a resenha. E não pensem que o volume é ruim, longe disso! Diria até que é um dos melhores até agora... o problema, é que acho todos os volumes excelentes. Mas é um daqueles volumes de despedida, quando várias personagens que aprendemos a gostar ou odiar terminam seus dias e a participação na história. Uma das coisas interessantes de Ōoku é que como existe uma marcação de tempo muito forte, é como se a série recomeçasse a cada ciclo, com a troca do elenco. Neste volume, temos a despedida de Tsunayoshi, Gyokuei, Emonnosuke e Yanagisawa.
Quando terminamos o último volume, a Shogun Tsunayoshi estava envelhecendo rápido e tinha perdido toda a sua popularidade, além disso, éramos apresentados a jovem O-Nobu, a futura Yoshimune. O volume #6 abre com a família de Yoshimune, sua mãe abdicando em favor da sábia filha mais velha. É o início da intriga pela sucessão. Quem sucederá Tsunayoshi, a irmã de Yoshimune ou a sobrinha da Shogun, filha do inimigo de Gyokuei? Tsunayoshi sabe o que é o correto, isto é, deixar o trono para a sobrinha, mas não quer desagradar o pai. Já Emonnosuke precisa tentar contornar a falta de fundos e administrar o Ōoku de forma competente.
Esse é um volume que oscila entre o Ōoku e o mundo exterior. Também é um volume que não segue o tempo de forma linear, já que alguns acontecimentos se sobrepõem. Eu, por exemplo, não consegui saber quantos anos Yoshimune tem no final do volume. E nem adianta buscar a cronologia oficial, porque Yoshinaga decidiu tomar algumas liberdades. De qualquer forma, a decisão de quem será sua sucessora acaba saindo um pouco das mãos de Tsunayoshi, pois a irmã mais velha de Yoshimune morre envenenada. Curioso é como todos lamentam a morte da irmã mais velha, mas não da do meio, que era vista como incompetente. Por conta dessas tragédias, é Yoshimune, ainda no início da adolescência, assume o governo da província. Tsunayoshi acaba tendo que escolher sua sobrinha.
Curiosamente, a sobrinha de Tsunayoshi talvez seja uma das personagens mais simpáticas e gentis que apareceram na série até agora. Uma mulher de 35 anos, sensata e boa governante, mas aparentando ser mais velha e com a saúde bem frágil. Só que, ao ser empurrada por seu dever de gerar um herdeiro, ela acaba abreviando sua vida. Foi uma participação muito rápida... Mas a braço direito da futura Shogun Ienobu não é tão cordial assim e acaba mexendo seus pauzinhos para que sua senhora, a pessoa a quem devota todo o seu ser, possa chegar ao trono. Pelo jeito, Manabe Akifusa, essa personagem tão devotada, será o centro das atenções no próximo volume junto com o concubino da Shogun, Sakyo, um dos homens mais lindos que Yoshinaga já desenhou neste mangá.
Esse foi um volume cheio de emoções e de discussões interessantes. Foi a primeira vez que Yoshinaga toca abertamente na questão do lesbianismo, seja através das dúvidas que a devoção absoluta de Manabe por Ienobu provocam, seja pela declaração de amor que Yanagisawa faz à Tsunayoshi em seu leito de morte. Aliás, Tsunayoshi, com todos os seus defeitos, é a personagem mais amada de toda a série. Outra questão que é trazida para o centro da discussão é que a razão da vida de homens e mulheres, aquilo que os une, não é o dever de procriar. Que tal obrigação só torna a vida de todos miserável. São Emonnosuke e Sakyo, ambos belos homens que em algum momento foram prostituídos, que levantam a questão. A morte de Ienobu e o longo definhar de Tsunayoshi provam que eles estão certos. Foi muito bom ver Fumi Yoshinaga trazer a questão para a série, já que, ainda hoje, a maternidade compulsória é algo que oprime as mulheres em praticamente todas as culturas. Por fim, há a questão do abuso sexual.
Uma das situações mais interessantes desse volume é o drama de Sakyo, um jovem que desde a adolescência foi violentado pela mãe, constrangido a ser seu amante depois da morte de seu pai. O rapaz era proibido de usar a tonsura, mantendo um corte de cabelo juvenil e era o pai de sua irmã e irmão caçulas. Oprimido por essa situação, ele desprezava as mulheres e acabou atraindo o ódio daquelas que cobiçavam seu corpo. Mas a idéia de se prostituir, de descer mais do que já tinha descido o desesperava. É então que encontra Manabe, a jovem o salva e ele se apaixona por ela, só que a conselheira não o deseja para si, mas para sua senhora... Enfim, já escrevi demais, o importante é que Fumi Yoshinaga mostra que em um mundo de mulheres, mas com padrões não muito diferentes daquele que era dominado pelos homens, esse tipo de violência – a pedofilia, o incesto, o estupro – poderiam, sim, ser praticados por mulheres. Sakyo é outra das personagens que deve ter papel central no volume #7.
E, sim, temos o desfecho de Tsunayoshi e Emonnosuke... Eu li e reli essa parte... Já tinha escrito na resenha passada que ele fazia amor com ela através dos homens que subiam ao leito da Shogun, pois bem, neste volume Tsunayoshi deseja a morte, e passa cada vez mais tempo no Ōoku. Depois de uma tentativa de assassinato frustrada por Akimoto, braço direito de Emonnosuke, Tsunayoshi decide se matar, mas Emonnosuke a impede e se declara. Bem, Tsunayoshi é uma personagem moralmente problemática e foi péssima governantes, mas acabei me apegando a ela de alguma forma. Já Emonnosuke, o “dark Arikoto”, era uma raposa, capaz de tudo pelo poder, mas sua inteligência, elegância e a devoção pela Shogun me conquistou. E, bem, a cena de amor dele com Tsunayoshi foi belíssima, as palavras que ele disse, a confissão de que a amava desde sempre, mas que não suportaria dividi-la, a felicidade de na velhice poder fazer amor pela primeira vez por amor, não para procriar... E tudo no traço de Yoshinaga que vai se tornando cada vez mais minimalista... E isso é o canto do cisne de Emonnosuke, pois ele morre na manhã seguinte... Depois disso, Tsunayoshi encontra alguma paz e faz o que é certo, escolhendo Ienobu como sua sucessora.
É isso, mais uma geração de Ōoku desapareceu. No próximo volume, acredito que somente no final dele, Yoshimune se tornará Shogun. Das personagens importantes desses últimos dois volumes, só duas sobreviveram, Yanagisawa, que se retirou da vida pública depois da morte de sua senhora, e Akimoto, que volta para a casa de sua irmã (*de quem havia fugido por amá-la da “forma errada”*). Ah, sim! Arikoto continua vivo e bem velhinho, ele faz uma breve aparição. Mas o volume #7 terá um elenco todo novo, a suspensão das impopulares leis de Tsunayoshi, e, segundo prometido no final, um grande escândalo sexual... Vamos esperar. Acho que a mestra da jovem Shogun filha de Ienobu terá um papel importante, afinal, ela é uma personagem histórica, e tem um discurso muito conservador defendendo que o direito de governo é dos homens, não das mulheres e que a velha ordem, agora tão distante, deve ser retomada. Será? O próximo volume só em julho... Que chato!
Quando terminamos o último volume, a Shogun Tsunayoshi estava envelhecendo rápido e tinha perdido toda a sua popularidade, além disso, éramos apresentados a jovem O-Nobu, a futura Yoshimune. O volume #6 abre com a família de Yoshimune, sua mãe abdicando em favor da sábia filha mais velha. É o início da intriga pela sucessão. Quem sucederá Tsunayoshi, a irmã de Yoshimune ou a sobrinha da Shogun, filha do inimigo de Gyokuei? Tsunayoshi sabe o que é o correto, isto é, deixar o trono para a sobrinha, mas não quer desagradar o pai. Já Emonnosuke precisa tentar contornar a falta de fundos e administrar o Ōoku de forma competente.
Esse é um volume que oscila entre o Ōoku e o mundo exterior. Também é um volume que não segue o tempo de forma linear, já que alguns acontecimentos se sobrepõem. Eu, por exemplo, não consegui saber quantos anos Yoshimune tem no final do volume. E nem adianta buscar a cronologia oficial, porque Yoshinaga decidiu tomar algumas liberdades. De qualquer forma, a decisão de quem será sua sucessora acaba saindo um pouco das mãos de Tsunayoshi, pois a irmã mais velha de Yoshimune morre envenenada. Curioso é como todos lamentam a morte da irmã mais velha, mas não da do meio, que era vista como incompetente. Por conta dessas tragédias, é Yoshimune, ainda no início da adolescência, assume o governo da província. Tsunayoshi acaba tendo que escolher sua sobrinha.
Curiosamente, a sobrinha de Tsunayoshi talvez seja uma das personagens mais simpáticas e gentis que apareceram na série até agora. Uma mulher de 35 anos, sensata e boa governante, mas aparentando ser mais velha e com a saúde bem frágil. Só que, ao ser empurrada por seu dever de gerar um herdeiro, ela acaba abreviando sua vida. Foi uma participação muito rápida... Mas a braço direito da futura Shogun Ienobu não é tão cordial assim e acaba mexendo seus pauzinhos para que sua senhora, a pessoa a quem devota todo o seu ser, possa chegar ao trono. Pelo jeito, Manabe Akifusa, essa personagem tão devotada, será o centro das atenções no próximo volume junto com o concubino da Shogun, Sakyo, um dos homens mais lindos que Yoshinaga já desenhou neste mangá.
Esse foi um volume cheio de emoções e de discussões interessantes. Foi a primeira vez que Yoshinaga toca abertamente na questão do lesbianismo, seja através das dúvidas que a devoção absoluta de Manabe por Ienobu provocam, seja pela declaração de amor que Yanagisawa faz à Tsunayoshi em seu leito de morte. Aliás, Tsunayoshi, com todos os seus defeitos, é a personagem mais amada de toda a série. Outra questão que é trazida para o centro da discussão é que a razão da vida de homens e mulheres, aquilo que os une, não é o dever de procriar. Que tal obrigação só torna a vida de todos miserável. São Emonnosuke e Sakyo, ambos belos homens que em algum momento foram prostituídos, que levantam a questão. A morte de Ienobu e o longo definhar de Tsunayoshi provam que eles estão certos. Foi muito bom ver Fumi Yoshinaga trazer a questão para a série, já que, ainda hoje, a maternidade compulsória é algo que oprime as mulheres em praticamente todas as culturas. Por fim, há a questão do abuso sexual.
Uma das situações mais interessantes desse volume é o drama de Sakyo, um jovem que desde a adolescência foi violentado pela mãe, constrangido a ser seu amante depois da morte de seu pai. O rapaz era proibido de usar a tonsura, mantendo um corte de cabelo juvenil e era o pai de sua irmã e irmão caçulas. Oprimido por essa situação, ele desprezava as mulheres e acabou atraindo o ódio daquelas que cobiçavam seu corpo. Mas a idéia de se prostituir, de descer mais do que já tinha descido o desesperava. É então que encontra Manabe, a jovem o salva e ele se apaixona por ela, só que a conselheira não o deseja para si, mas para sua senhora... Enfim, já escrevi demais, o importante é que Fumi Yoshinaga mostra que em um mundo de mulheres, mas com padrões não muito diferentes daquele que era dominado pelos homens, esse tipo de violência – a pedofilia, o incesto, o estupro – poderiam, sim, ser praticados por mulheres. Sakyo é outra das personagens que deve ter papel central no volume #7.
E, sim, temos o desfecho de Tsunayoshi e Emonnosuke... Eu li e reli essa parte... Já tinha escrito na resenha passada que ele fazia amor com ela através dos homens que subiam ao leito da Shogun, pois bem, neste volume Tsunayoshi deseja a morte, e passa cada vez mais tempo no Ōoku. Depois de uma tentativa de assassinato frustrada por Akimoto, braço direito de Emonnosuke, Tsunayoshi decide se matar, mas Emonnosuke a impede e se declara. Bem, Tsunayoshi é uma personagem moralmente problemática e foi péssima governantes, mas acabei me apegando a ela de alguma forma. Já Emonnosuke, o “dark Arikoto”, era uma raposa, capaz de tudo pelo poder, mas sua inteligência, elegância e a devoção pela Shogun me conquistou. E, bem, a cena de amor dele com Tsunayoshi foi belíssima, as palavras que ele disse, a confissão de que a amava desde sempre, mas que não suportaria dividi-la, a felicidade de na velhice poder fazer amor pela primeira vez por amor, não para procriar... E tudo no traço de Yoshinaga que vai se tornando cada vez mais minimalista... E isso é o canto do cisne de Emonnosuke, pois ele morre na manhã seguinte... Depois disso, Tsunayoshi encontra alguma paz e faz o que é certo, escolhendo Ienobu como sua sucessora.
É isso, mais uma geração de Ōoku desapareceu. No próximo volume, acredito que somente no final dele, Yoshimune se tornará Shogun. Das personagens importantes desses últimos dois volumes, só duas sobreviveram, Yanagisawa, que se retirou da vida pública depois da morte de sua senhora, e Akimoto, que volta para a casa de sua irmã (*de quem havia fugido por amá-la da “forma errada”*). Ah, sim! Arikoto continua vivo e bem velhinho, ele faz uma breve aparição. Mas o volume #7 terá um elenco todo novo, a suspensão das impopulares leis de Tsunayoshi, e, segundo prometido no final, um grande escândalo sexual... Vamos esperar. Acho que a mestra da jovem Shogun filha de Ienobu terá um papel importante, afinal, ela é uma personagem histórica, e tem um discurso muito conservador defendendo que o direito de governo é dos homens, não das mulheres e que a velha ordem, agora tão distante, deve ser retomada. Será? O próximo volume só em julho... Que chato!
3 pessoas comentaram:
A cada vez que leio uma resenha sobre esse mangá, fico mais e mais apaixonada pela história. Gostaria de saber onde posso comprá-los em inglês, já que no site da Livraria Cultura só tem até o nº5.
Livia, se você tiver os dados de ISBN, você pode encomendar na Livraria Cultura. Mas, se você usa cartão, pode comprar direto e sem frete pelo Book Depository. Sai mais barato. Tem link no meu blog.
Brigada pela dica, Valéria. Só mais uma pergunta: demora muito pra chegar?
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