Esse é o título de um artigo da revista Época de 28 de junho. Volta e meia, travestida de preocupação com o bem estar dos jovens, alguém ataca os quadrinhos. Há uma produção expressiva de adaptações de clássicos da literatura brasileira para os quadrinhos nos últimos textos. Alguns deles, junto com outras HQs, vêm sendo incluídos nos programas de leitura do MEC e enviados às bibliotecas escolares. A qualidade desses materiais com certeza é variável, mas certamente eles não são responsáveis pelo declínio do gosto pela leitura (se é que ele existe), pelo contrário! Quem não lê livros, muito provavelmente, também não lê quadrinhos. Nunca os leu. As HQs não substituem a literatura e, como professora, não vejo os quadrinhos como esses ditadores universalmente presentes em nossas escolas. Boa parte dos professores ainda os rejeita, seja Eisner – que o autor do texto se apressa em incensar – seja o material que ele está depreciando. Curiosamente o autor do texto não assume que formou mal suas filhas, afinal, exemplo vem de casa e se elas não se tornaram leitoras, se preferem as (horríveis) HQs e resumos de internet, de quem é a culpa? Mas, claro, é mais fácil culpar a tecnologia e os professores, essa classe maldita e preguiçosa da qual faço parte.
A EBAL já adaptava clássicos da literatura lá nos anos 1950, antes até, e não desvirtuou ninguém. Muita gente começou pelo quadrinho e, depois, foi para o livro, assim como eu li muitos clássicos da literatura adaptados para adolescentes. E quem eram os adaptadores? Grandes autores e autoras da nossa literatura. Brasileiros e brasileiras liam pouco e continuam assim; seja porque os livros são caros, seja porque o acesso à alfabetização somente aos poucos vai se universalizando e a TV é melhor pedagoga, presença universal em quase 100% dos lares brasileiros. Enfim, eu lamento muito que as HQs continuem sendo o bode expiatório para problemas mais profundos e que a produção nacional de HQs, quando consegue encontrar um nicho interessante, sofra com ataques reacionários. Interessante é que o cinema faz a mesma coisa, mas os quadrinhos é que sempre pagam o pato. É a “invasão bárbara”, fujam para as colinas. Segue o texto, tirem suas conclusões.
A EBAL já adaptava clássicos da literatura lá nos anos 1950, antes até, e não desvirtuou ninguém. Muita gente começou pelo quadrinho e, depois, foi para o livro, assim como eu li muitos clássicos da literatura adaptados para adolescentes. E quem eram os adaptadores? Grandes autores e autoras da nossa literatura. Brasileiros e brasileiras liam pouco e continuam assim; seja porque os livros são caros, seja porque o acesso à alfabetização somente aos poucos vai se universalizando e a TV é melhor pedagoga, presença universal em quase 100% dos lares brasileiros. Enfim, eu lamento muito que as HQs continuem sendo o bode expiatório para problemas mais profundos e que a produção nacional de HQs, quando consegue encontrar um nicho interessante, sofra com ataques reacionários. Interessante é que o cinema faz a mesma coisa, mas os quadrinhos é que sempre pagam o pato. É a “invasão bárbara”, fujam para as colinas. Segue o texto, tirem suas conclusões.
Os quadrinhos podem destruir a literatura Como as adaptações banalizam as obras-primas sob pretexto de facilitar a leitura
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV
Observo um fato cada vez mais frequente: o desprezo dos jovens por certas obras literárias, sobretudo as adotadas nas escolas e exigidas no vestibular. Os estudantes já não têm paciência para lidar com Iracema, de José de Alencar, Dom Casmurro, de Machado de Assis, O Ateneu, de Raul Pompeia, e nem mesmo conseguem tirar proveito das humorísticas Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Eles tratam os títulos que acabei de citar com uma falta absoluta de respeito – pior, uma falta de noção de respeito. Não entendem a grandeza desses e outros grandes romances do passado. Os professores, por seu turno, não parecem fazer questão de transmitir um entusiasmo literário que eles próprios não possuem. Os professores jogaram a toalha. Aí tudo se torna rotineiro e entediante como uma lição de casa que não pode ser executada. Quanto mais são obrigados a ler, mais os jovens repudiam os livros. Eles já não veem sentido no ato da leitura, até porque são encorajados pelos mais velhos a se valer da internet, dos videogames e da televisão, em detrimento dos meios tradicionais.
Muitos pensam que ser moderno significa não precisar mais ler. Daí o apelo dos tablets: essas tabuletas altamente tecnológicas são os novos aparelhos de televisão, receptores ideais para analfabetos ou cidadãos pós-alfabetizados. Gente que não precisa mais enfrentar um texto com começo, desenvolvimento e conclusão, que adora a fragmentação. Os mesmos que exaltam os tablets acham que o ensino tradicional não consegue mais acompanhar a evolução tecnológica. Então, o que pôr no lugar da tradição? Claro, como não pensamos nisto antes? Se os estudantes querem diversão, vamos dar-lhes histórias em quadrinhos – de preferência, em monitores de LED, via tablets.
Mas a transposição pura e simples não é o problema. As formas e conteúdos podem migrar à vontade, eternamente. A questão é outra: os quadrinhos andam tão salientes que avançam pelo campo literário com avidez dos bárbaros e autoconfiança dos consagrados. As adaptações em HQ de obras literárias e teatrais têm surgido a cada minuto, para supostamente acrescentar algo aos textos originais. Elas vêm abençoadas pela crítica e aprovadas pelo olhar indulgente dos adultos que desacreditam de tudo, notadamente da capacidade de ler das novas gerações. E os jovens correspondem à expectativa, consumindo quadrinhos literários para evitar dar conta de livros que não têm paciência para ler. Como resultado, essas adaptações têm feito um desserviço à literatura – e à cultura como um todo. São, em geral, transposições de má qualidade, criadas por editores oportunistas, sequiosos de aproveitar a falta de vontade de ler da mocidade. Sob o pretexto de facilitar a leitura, esse tipo de adaptação destrói a vontade de ler. Traz um atalho enganoso. Isso porque, em vez de encurtar o caminho, o atalho elimina uma etapa importante da formação do jovem: a da compreensão, análise e, por consequência, do domínio de textos complexos. Ora, para mim isso configura um crime.
Não vou me deter em exemplos de adaptações infelizes, que são inúmeros. Já me deparei com muitas adaptações, em quadrinhos ou não, porque minhas duas filhas estão se preparando para o vestibular e precisam ler o maior número de obras consagradas no menor tempo possível. Percebi que, nas provas do ensino médio, elas recorriam aos famigerados resumos de obras na internet, copiando nomes e ações sem sentido e sem contextualização. Para obter alguma interpretação das obras, elas recorriam às histórias em quadrinhos, aliás recomendadas pelo colégio. Elas leram assim Os Lusíadas, de Camões, Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, e até Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Não preciso dizer que se tratava de transposições forçadas, mal realizadas e desprezíveis – cheias de erros de português e, pior, erros de interpretação das obras originais. Uma versão de Memórias de um sargento de milícias, por exemplo, traz um vocabulário pobre no final das páginas, sem nenhuma explicação sobre o emprego de determinados termos. As ilustrações são feias e caricatas, limitando-se a servir aos balões e descrições extraídas diretamente do livro. Bom, diante de tanta bandalheira, decidi banir de casa essas HQs. Até entendo algumas adaptações facilitadoras de livros universais, como a que Clarice Lispector fez de Dom Quixote, ou Fernando Sabino de Silvia, de Gerard de Nerval. Esses livrinhos servem como rito de passagem para dificuldades maiores a serem vencidas num estágio posterior. Adaptações literárias em geral geram uma perda de informação. Obviamente, a melhor lei não é a do menor esforço, e esses livros servem como incentivo a futuras viagens de leitura. O que não perdoo são adaptações ruins e quadrinhos malfeitos, que só envergonham o gênero.
Convém não confundir certos quadrinhos oportunistas com a grande arte estabelecida por Will Eisner, Crumb, Frank Miller, Alan Moore e Joe Sacco, entre outros. As HQs nasceram na imprensa e jamais negaram sua vocação popular. Aos poucos, foram experimentando uma ascensão intelectual e artística, graças aos artistas que fizeram delas o seu meio de expressão. Repare que esses grandes artistas dificilmente se submetem a adaptações feitas diretamente de uma obra. Um dos artistas de quadrinhos brasileiros que lidou com a série literária foi o quadrinista carioca Flavio Colin (1930-2002). Colin foi um verdadeiro mestre da transcriação. Ele por exemplo recriou histórias do sertão mineiro no volume Estórias Gerais, uma graphic novel em parceria com o mineiro Wellington Srbek, lançada em 2001 e reeditada pela Conrad em 2007. Ali está a síntese transfiguradora dos mundos de Guimarães Rosa, de João Cabral, de Ariano Suassuna e Dias Gomes. Colin também adaptou, com André Diniz, as aventuras do coronel Fawcett. Fawcett foi lançado pela Devir Livraria, e vale a leitura, mesmo porque a tragédia do explorador inglês em busca do Eldorado vai virar filme - em uma adaptação do livro A cidade perdida, do jornalista David Gann. A HQ de Diniz e Colin é melhor que a pesquisa de Gann no que se refere à narrativa, um exemplo da grandeza a que o gênero pode assumir, sem medo de ser equiparada a obras literárias. Esses artistas são criadores cujos universos hoje são adaptados para outras formas de arte.
Sou um admirador dos quadrinistas. Os gibis e romances gráficos estimulam minha imaginação, algo que nenhum livro seria capaz de proporcionar. Algumas das melhores ideias do cinema vêm hoje dos quadrinhos. O Brasil experimenta uma fase de produção de alta valor nessa área. Não há como negar a influência dos quadrinhos na cultura atual. O problema é o uso que se faz deles. A culpa não é da HQ, mas da qualidade das adaptações. É de quem aceita o recurso fácil de ler tudo depressa. Infelizmente, os quadrinhos são inocentes úteis, pois viraram instrumentos eficientes para a desmoralização da literatura.
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV
Observo um fato cada vez mais frequente: o desprezo dos jovens por certas obras literárias, sobretudo as adotadas nas escolas e exigidas no vestibular. Os estudantes já não têm paciência para lidar com Iracema, de José de Alencar, Dom Casmurro, de Machado de Assis, O Ateneu, de Raul Pompeia, e nem mesmo conseguem tirar proveito das humorísticas Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Eles tratam os títulos que acabei de citar com uma falta absoluta de respeito – pior, uma falta de noção de respeito. Não entendem a grandeza desses e outros grandes romances do passado. Os professores, por seu turno, não parecem fazer questão de transmitir um entusiasmo literário que eles próprios não possuem. Os professores jogaram a toalha. Aí tudo se torna rotineiro e entediante como uma lição de casa que não pode ser executada. Quanto mais são obrigados a ler, mais os jovens repudiam os livros. Eles já não veem sentido no ato da leitura, até porque são encorajados pelos mais velhos a se valer da internet, dos videogames e da televisão, em detrimento dos meios tradicionais.
Muitos pensam que ser moderno significa não precisar mais ler. Daí o apelo dos tablets: essas tabuletas altamente tecnológicas são os novos aparelhos de televisão, receptores ideais para analfabetos ou cidadãos pós-alfabetizados. Gente que não precisa mais enfrentar um texto com começo, desenvolvimento e conclusão, que adora a fragmentação. Os mesmos que exaltam os tablets acham que o ensino tradicional não consegue mais acompanhar a evolução tecnológica. Então, o que pôr no lugar da tradição? Claro, como não pensamos nisto antes? Se os estudantes querem diversão, vamos dar-lhes histórias em quadrinhos – de preferência, em monitores de LED, via tablets.
Mas a transposição pura e simples não é o problema. As formas e conteúdos podem migrar à vontade, eternamente. A questão é outra: os quadrinhos andam tão salientes que avançam pelo campo literário com avidez dos bárbaros e autoconfiança dos consagrados. As adaptações em HQ de obras literárias e teatrais têm surgido a cada minuto, para supostamente acrescentar algo aos textos originais. Elas vêm abençoadas pela crítica e aprovadas pelo olhar indulgente dos adultos que desacreditam de tudo, notadamente da capacidade de ler das novas gerações. E os jovens correspondem à expectativa, consumindo quadrinhos literários para evitar dar conta de livros que não têm paciência para ler. Como resultado, essas adaptações têm feito um desserviço à literatura – e à cultura como um todo. São, em geral, transposições de má qualidade, criadas por editores oportunistas, sequiosos de aproveitar a falta de vontade de ler da mocidade. Sob o pretexto de facilitar a leitura, esse tipo de adaptação destrói a vontade de ler. Traz um atalho enganoso. Isso porque, em vez de encurtar o caminho, o atalho elimina uma etapa importante da formação do jovem: a da compreensão, análise e, por consequência, do domínio de textos complexos. Ora, para mim isso configura um crime.
Não vou me deter em exemplos de adaptações infelizes, que são inúmeros. Já me deparei com muitas adaptações, em quadrinhos ou não, porque minhas duas filhas estão se preparando para o vestibular e precisam ler o maior número de obras consagradas no menor tempo possível. Percebi que, nas provas do ensino médio, elas recorriam aos famigerados resumos de obras na internet, copiando nomes e ações sem sentido e sem contextualização. Para obter alguma interpretação das obras, elas recorriam às histórias em quadrinhos, aliás recomendadas pelo colégio. Elas leram assim Os Lusíadas, de Camões, Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, e até Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Não preciso dizer que se tratava de transposições forçadas, mal realizadas e desprezíveis – cheias de erros de português e, pior, erros de interpretação das obras originais. Uma versão de Memórias de um sargento de milícias, por exemplo, traz um vocabulário pobre no final das páginas, sem nenhuma explicação sobre o emprego de determinados termos. As ilustrações são feias e caricatas, limitando-se a servir aos balões e descrições extraídas diretamente do livro. Bom, diante de tanta bandalheira, decidi banir de casa essas HQs. Até entendo algumas adaptações facilitadoras de livros universais, como a que Clarice Lispector fez de Dom Quixote, ou Fernando Sabino de Silvia, de Gerard de Nerval. Esses livrinhos servem como rito de passagem para dificuldades maiores a serem vencidas num estágio posterior. Adaptações literárias em geral geram uma perda de informação. Obviamente, a melhor lei não é a do menor esforço, e esses livros servem como incentivo a futuras viagens de leitura. O que não perdoo são adaptações ruins e quadrinhos malfeitos, que só envergonham o gênero.
Convém não confundir certos quadrinhos oportunistas com a grande arte estabelecida por Will Eisner, Crumb, Frank Miller, Alan Moore e Joe Sacco, entre outros. As HQs nasceram na imprensa e jamais negaram sua vocação popular. Aos poucos, foram experimentando uma ascensão intelectual e artística, graças aos artistas que fizeram delas o seu meio de expressão. Repare que esses grandes artistas dificilmente se submetem a adaptações feitas diretamente de uma obra. Um dos artistas de quadrinhos brasileiros que lidou com a série literária foi o quadrinista carioca Flavio Colin (1930-2002). Colin foi um verdadeiro mestre da transcriação. Ele por exemplo recriou histórias do sertão mineiro no volume Estórias Gerais, uma graphic novel em parceria com o mineiro Wellington Srbek, lançada em 2001 e reeditada pela Conrad em 2007. Ali está a síntese transfiguradora dos mundos de Guimarães Rosa, de João Cabral, de Ariano Suassuna e Dias Gomes. Colin também adaptou, com André Diniz, as aventuras do coronel Fawcett. Fawcett foi lançado pela Devir Livraria, e vale a leitura, mesmo porque a tragédia do explorador inglês em busca do Eldorado vai virar filme - em uma adaptação do livro A cidade perdida, do jornalista David Gann. A HQ de Diniz e Colin é melhor que a pesquisa de Gann no que se refere à narrativa, um exemplo da grandeza a que o gênero pode assumir, sem medo de ser equiparada a obras literárias. Esses artistas são criadores cujos universos hoje são adaptados para outras formas de arte.
Sou um admirador dos quadrinistas. Os gibis e romances gráficos estimulam minha imaginação, algo que nenhum livro seria capaz de proporcionar. Algumas das melhores ideias do cinema vêm hoje dos quadrinhos. O Brasil experimenta uma fase de produção de alta valor nessa área. Não há como negar a influência dos quadrinhos na cultura atual. O problema é o uso que se faz deles. A culpa não é da HQ, mas da qualidade das adaptações. É de quem aceita o recurso fácil de ler tudo depressa. Infelizmente, os quadrinhos são inocentes úteis, pois viraram instrumentos eficientes para a desmoralização da literatura.
11 pessoas comentaram:
Observo um fato cada vez mais frequente: o desprezo dos jovens por certas obras literárias, sobretudo as adotadas nas escolas e exigidas no vestibular.
(Atenção para a palavra "exigidas"...) A maioria das obras exigidas no vestibular são um saco. Arrastadas, levam um capítulo inteiro pra descrever o que caberia num parágrafo, têm linguagem incompreensível que exige, mesmo de viciados em leitura, umas três consultas ao dicionário por página, trazem ambientes e assuntos muitas vezes distantes dos gostos e interesses das pessoas de hoje. Diante desses obstáculos, não tem grandeza literária que faça a maioria das pessoas gostarem dessas obras. E isso tudo ainda faz a gente se perguntar por que, em 100 anos, não surgiu nada melhor em litreratura.
Quanto mais são obrigados a ler, mais os jovens repudiam os livros.
Quando alguém chega na adolescência sem gostar de leitura, é sinal de uma falha grave dos pais e educadores que lidaram com esse alguém ao longo da vida. A própria rebeldia natural da idade se encarrega de afastar os jovens de coisas impostas, mas a leitura não deveria ser uma coisa imposta. Ninguém precisa obrigar jovem a gostar de música ou cinema...
Se os estudantes querem diversão, vamos dar-lhes histórias em quadrinhos
Desprezo pelos quadrinhos, como se eles fossem apenas diversão, e não uma forma de arte. Além disso, a própria leitura também deveria ser divertida. Se a juventude não acha a leitura de livros divertida, os quadrinhos não têm nada a ver com isso.
os quadrinhos andam tão salientes que avançam pelo campo literário com avidez dos bárbaros e autoconfiança dos consagrados. As adaptações em HQ de obras literárias e teatrais têm surgido a cada minuto, para supostamente acrescentar algo aos textos originais. Elas vêm abençoadas pela crítica e aprovadas pelo olhar indulgente dos adultos que desacreditam de tudo, notadamente da capacidade de ler das novas gerações.
Tudo estava bem quando os quadrinhos eram desprezados, irrelevantes, mantinham-se no "seu devido lugar". Agora que eles estão crescendo, sendo reconhecidos e ganhando notoriedade, incomodam...
São, em geral, transposições de má qualidade, criadas por editores oportunistas, sequiosos de aproveitar a falta de vontade de ler da mocidade.
Não adianta atacar o sintoma como se fosse a doença. O problema é a falta de vontade de ler, e não os atalhos que surjam por conta disso.
Bom, diante de tanta bandalheira, decidi banir de casa essas HQs.
Dá elas pra mim? Gosto de promover o encontro de uma HQ com um scanner, pra que mais pessoas possam ler... :-)
O que não perdoo são adaptações ruins e quadrinhos malfeitos, que só envergonham o gênero.
Nomes aos bois seria útil nesse caso. Entendi o que o autor do texto quis dizer, mas no geral o tom parece ser mais anti-HQs do que anti-HQs-malfeitas, e é da primeira maneira que muita gente vai interpretar, ajudando a aumentar o desprezo que tradicionalmente existe no Brasil pelas histórias em quadrinhos.
Infelizmente, os quadrinhos são inocentes úteis, pois viraram instrumentos eficientes para a desmoralização da literatura.
E com certeza a solução pra se reerguer o moral da leitura não é a desmoralização dos quadrinhos que, ainda que talvez não seja intencional, é o que o texto acaba ajudando a fazer.
(E antes que perguntem, não sou avesso a livros e viciado em quadrinhos. Os livros me levaram aos quadrinhos, e só comecei a gostar de HQs com quase 18 anos, depois de muitos livros.)
Eu me pergunto como um editor de revista pode aprovar um texto como esse? Parece ter sido publicado sem nenhuma revisão melhor do seu ator, pensando mais profundamente sobre as questões que ele aborda. Pra mim o texto está cheio de contradições. Quadrinho por quadrinho eu leio desde criança, com Turma da Mônica, e desde então nunca parei. É como você disse Valéria, quadrinhos e livros estão ligados... Um leva ao outro ao meu ver. Quadrinhos são sim estimuladores da imaginação, você ri e chora lendo-os, como podem ser um desserviço como esse sujeito diz? Pelamordedeus.
Se a pessoa não lê livros, ela muito provavelmente também não lê quadrinhos.
Reflita.
Reflita, quem? O autor do texto, eu suponho? Porque o que eu enfatizei e a preguiça; boa parte dos não-leitores de livros, não são assim porque quadrinhos os disvirtuaram no caminho.
Se não entendi o que você quis escrever, desculpe, se não foi o caso, voc~e precisa refletir.
e agora ficou chique fala do Joe Sacco em qualquer roda quando alguém diz "hq"... eu não gosto quando o underground vira mainstrean... e sem contar que: Será que o respectivo autor da matéria já leu algum dos atores que cita? que sacco.
Olá Valéria, primeiro gostaria de dizer que eu adoro seu blog, eu não sou uma shoujo fã, mas desde que conheci o Shoujo Café venho me interessando muito por alguns títulos que passava reto sem nem ao menos dar uma chance.
Eu ainda me surpreendo como existem adultos que colocam as HQs, ou mais no meu caso, jogos para vídeo game, o computador, etc. como principal male da juventude D: Eu tenho 15 anos e sinceramente, metade dos meus colegas não pegam em um livro ou prestam atenção em uma HQ sem ser de lutinha e sangue e tal, mesmo que sua vida dependesse disso.
Eu leio livros e eu leio HQs, ou seja, esse senhor é um completo e total babaca ¬¬
O pior é vê que pessoas como ele nem ao menos sabe a realidade nas escolas D: eu não sei tanto a senhora, mas eu como aluna nem mais tenho motivação para ir para escola por simplesmente não aprender nada. E quando tenho algo para aprender a minha sala não permite por "jovens que leem HQs" como esse autor quis dizer (interessante como eu nunca vi nenhum ler nem ao menos o próprio caderno)
Complicado saber quem enquanto a situação está piorando a cada dia ninguém faz nada pra ajudar e preferem culpar coisas até mais benéficas do que a TV.
Enfim, eu adorei o post, me fez pensar muito e FINALMENTE mandar um comentário pra senhora.
Que textinho mais nojento!
Se não fosse creditado, poderia se pensar que é do Fredrick Wertham!
Achei o texto babaca e reacionário. Me soou mais como um discurso apocalíptico, "ah meu deus, tem mais gente que o macho-branco-aristocrático tendo contato com os clássicos, isso é inadimissível!". Se não em engano o Giron também atacou os mash-ups literários, um tempo atrás.
Quadrinhos não destroem o gosto pela literatura, de forma alguma. Mas eu discordo de você quando diz
Quem não lê livros, muito provavelmente, também não lê quadrinhos.
Porque em algumas comunidades por aí você ve gente que lê apenas mangá, e nada de literatura, o que é triste. Mas acredito que é uma minoria que se manifesta, e que boa parte tem o prazer de ler.
Além dos problemas apontados por você, acho que a forma de ensino "tradicional" e essa rejeição pelo "popular", que se ve ainda, infelizmente, nos cursos de letras e se respalda na escola, são um incentivo a matar o gosto pela leitura. O aluno não se encontra nos clássicos e os livros que dialogam com ele não são apresentados nas escolas, os afastando da literatura. Mas acredito que a geração atual de professores, que estão a sair da universidade consiga contornar esses problemas.
Mas aí esbarramos em outros, como o preço dos livros. É complicado, mas tenho fé!
Warty, veja que eu usei "muito provavelmente", não generalizei. Curiosamente, as pessoas parecem esquecer deste porém na minha frase. E mais, estou em sala de aula há quase 20 anos. Minha experiência aponta o seguinte:
1. Leitores de quadrinhos, quaiser quadrinhos, especialmente adolescentes, são ávidos consumidores de livros.
2. Leitores de livros, nem sempre curtem quadrinhos, especialmente quando estes estão associados à "coisa de criança" na sua cabeça.
3. Não leitores rejeitam tudo. Preferem os filmes aos livros e quadrinhos; acreditam que a TV pode lhes dar toda a informação necessária.
4. E há o grupo mais complicado, os que só lêem a Bíblia.
E, bem, senti preconceito contra leitores de mangá. Bitolados por alguma coisa, existem de todos os tipos.
Não foi preconceito, são apenas as comunidades que mais participo, e um dos "gêneros" que mais leio. Mas já li comentários no mesmo sentido em comunidades de leitores apenas de comics, também. O que me deixa desapontado.
Mas bem, entendo seu ponto e foi falha minha ter generalizado. O grande inimigo talvez continuem sendo os preços. Porque, por exemplo, adolescente que compra quadrinho com dinheiro do lanche, não vai poder comprar um livro que custa o preço de 3, 4 revistas mensais. É difícil mesmo.
Ah, só pra constar, fui eu que falei do livro da Joane Russ no formspring, nem sei como assina perguntas lá. Admito que foi a partir da leitura do seu blog que passei a perceber cada vez mais esse contraste de gênero em nossa realidade.
Bem, abraços, Valéria.
Endosso tudo o que disse, parabéns!
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