Hoje começa o Festival do Japão, em São Paulo (*site oficial, aqui*). O tradicional evento se estende por todo o final de semana e nele será lançada a Ação Magazine (*página oficial e Twitter*), revista coletânea de quadrinhos idealizada pelo Alexandre Lancaster, do site Maximum Cosmo. Trata-se de um projeto ousado e novo, uma tentativa de explorar um modelo que é muito bem sucedido no Japão, mas que não tem muitos correspondentes no Ocidente. Como eu sei que é um projeto antigo dele, e torço pelo sucesso do projeto, decidi pedir uma entrevista. Não comentei nada sobre a Ação Magazine antes por dois motivos, o primeiro, é que queria esperar o lançamento, apesar da edição teste ter criado uma grande expectativa em muita gente, o segundo, é que o foco da revista não é o público feminino, como o Lancaster bem explica. Segue a rápida entrevista e quem quiser, pode também ouvir o Shoujocast que fizemos com ele.
SHOUJO CAFÉ: Como surgiu a idéia de produzir uma revista como a Ação Magazine?
ALEXANDRE LANCASTER: Sinceramente, em retrospectiva eu entendo que a Ação surgiu de uma necessidade prática. E não vou negar que partiu dos problemas que eu antevia para minha própria série, Expresso! – eu percebia que muita gente brigava para ser publicado, bate à porta das editoras, é dispensado – e provavelmente seria dispensado mesmo que fosse um gênio dos quadrinhos, porque nosso mercado não foi pensado pra se auto-sustentar. E nesse contexto eu me dei conta que o formato de almanaque é o ideal para nosso país. Apesar de se falar do universo dos quadrinhos de livaria – e mal ou bem ele é parte do nosso projeto já que envolve os futuros encadernados das séries – o grande público ainda está nas bancas. E mal ou bem os grandes almanaques japoneses não são um formato que caminha para a obsolescência, por mais que os profetas do apocalipse digam o contrário; eles tem essa natureza de se manter sempre perenes, transformando-se com seu tempo porque os seus autores sempre se renovam e refletem o que se faz em sua época – a Jump de 1972 não é a Jump de 1982 que não é a Jump de 1992. parece algo meio óbvio, mas mostra como por mais que os sucessos de momento passem, um almanaque bem conduzido tem poder de marca. A água de um rio nunca corre duas vezes em sua extensão – mas o rio sempre fica. O mais importante é sempre representar o novo, e por isso mesmo o nosso slogan não poderia ser outro: "Junte-se ao novo, seja o novo!" – e é essa disputa interna pelo novo que ajuda a manter o público sempre presente.
SC: Você acredita que o “mangá nacional” conseguirá competir com o material estrangeiro? Qual seria o seu diferencial?
AL: Nossa principal arma é justamente o que temos em casa. Muitos garotos surgem com propostas do tipo "mangá de shinigami" e similares, mas eu digo e repito: precisamos contar histórias que os japoneses não tenham como contar. Precisamos oferecer o que eles não oferecem. E o que eles não oferecem está em casa. É importante reparar que não estamos sozinhos nisso. Um livro como A Batalha do Apocalipse, do Eduardo Spohr, conseguiu se tornar um best-seller com direito a anjos abertamente inspirados em Cavaleiros do Zodíaco lutando na Ponte Rio-Niterói, e o André Vianco se estabeleceu falando de vampiros lusitanos no Brasil. E mais importante, eles tem sua identidade. Não adianta simplesmente fazer o mesmo e chamar o ryu de joão ou a kyoko de maria. O importante é procurar histórias, encontrar o que temos a oferecer, e partir disso – simplesmente porque assim você irá contar algo que você não vai encontrar na Shonen Jump, ou aonde for. Mas isso também nos dá uma responsabilidade muito grande: temos que ser bons. Temos que mostrar ao que viemos. Se não soubermos tratar essa matéria prima com todo o potencial que ela oferece, compremeteremos justamente esses temas e daremos munição à turma que os desvaloriza. Não estamos fazendo discurso ufanista nenhum; queremos produzir quadrinho de entretenimento falando a língua que conhecemos e fazer algo inusitado – até porque ao se estabelecer de verdade um tipo de história em outro cenário, ele estará sujeito a circunstâncias e regras diferentes que o tornarão, efetivamente, outra história.
SC: A Ação Magazine chegará a todos os estados do Brasil ou será uma publicação regional?
AL: Nossa intenção é chegar a todo o país. Estamos começando, claro, e o começo é sempre o mais difícil. Mas queremos chegar a todos que quiserem ter uma Ação Magazine em mãos. E estamos trabalhando nisso.
SC: Como se deu a seleção do material que compõe a revista?
AL: Sendo direto: por capacidade e qualidade. Se não formos bons, não conseguiremos competir com o material japonês em bancas. Mas tão importante quanto foi um espírito de vestir a camisa e encampar o conceito editorial da publicação – o espírito de "somos parte da Ação". Na verdade eu esperava que rolasse aquela competição típica, mas o tom da equipe tem sido de esforço e união. Todos queremos ver essa revista acontecer. E isso tem sido sensacional. Eu lamento que todos nós não estejamos juntos de cara no primeiro dia do evento – eu queria muito que esse momento acontecesse. E isso tem sido maravilhoso. Recebo propostas de gente que quer trabalhar na revista em diferentes cargos de apoio. Estou de olho, mas isso fica muito para o futuro – porque são pessoas que mesmo não fazendo parte do grupo artístico, sentem que algo está acontecendo e querem ver isso acontecer, querem ser parte dessa Ação também. Ainda somos pequenos, mas isso não será esquecido. Mas estou desviando do assunto. O que importa é que os títulos tinham que de forma geral contribuir para a grade – e não queremos títulos de nicho, queremos material de massa. Pode reparar que esses materiais não competem uns com os outros – cada um atinge um possível segmento dentro do público que queremos atingir. O público de Madenka não é o mesmo público de Rapsódia, pode ter certeza.
SC: Qual o público alvo da Ação Magazine? Vocês pensam em atingir o público feminino?
AL: Nosso público básico é essencialmente masculino e adolescente – e não é a toa que temas como carros e esportes de luta estão lá. Acreditamos nessa segmentação, mas não acreditamos que ela vá necessariamente espantar as mulheres – boa parte delas lêem títulos publicados na Shonen Jump, materiais como Naruto tem um grande contingente feminino de fãs. Não pensamos em fazer uma revista mista, até porque uma de nossas intenções é fazer, sim, uma revista de quadrinhos femininos – sempre construídos sob essa orientação editorial de buscar aquilo que o equivalente japonês não oferece, sempre tentando criar nossas próprias histórias. E elas estão em todos os cantos, acredite. Como eu disse, a trajetória de uma menina goiana de quinze anos que queira ser uma cantora sertaneja vai ser fatalmente diferente da trajetória de uma menina japonesa que queira ser uma idoru. E é essa a diferença que queremos: aquela que força a criação de histórias que não foram contadas, que não tem como ser iguais às que os japoneses produzem.
SHOUJO CAFÉ: Como surgiu a idéia de produzir uma revista como a Ação Magazine?
ALEXANDRE LANCASTER: Sinceramente, em retrospectiva eu entendo que a Ação surgiu de uma necessidade prática. E não vou negar que partiu dos problemas que eu antevia para minha própria série, Expresso! – eu percebia que muita gente brigava para ser publicado, bate à porta das editoras, é dispensado – e provavelmente seria dispensado mesmo que fosse um gênio dos quadrinhos, porque nosso mercado não foi pensado pra se auto-sustentar. E nesse contexto eu me dei conta que o formato de almanaque é o ideal para nosso país. Apesar de se falar do universo dos quadrinhos de livaria – e mal ou bem ele é parte do nosso projeto já que envolve os futuros encadernados das séries – o grande público ainda está nas bancas. E mal ou bem os grandes almanaques japoneses não são um formato que caminha para a obsolescência, por mais que os profetas do apocalipse digam o contrário; eles tem essa natureza de se manter sempre perenes, transformando-se com seu tempo porque os seus autores sempre se renovam e refletem o que se faz em sua época – a Jump de 1972 não é a Jump de 1982 que não é a Jump de 1992. parece algo meio óbvio, mas mostra como por mais que os sucessos de momento passem, um almanaque bem conduzido tem poder de marca. A água de um rio nunca corre duas vezes em sua extensão – mas o rio sempre fica. O mais importante é sempre representar o novo, e por isso mesmo o nosso slogan não poderia ser outro: "Junte-se ao novo, seja o novo!" – e é essa disputa interna pelo novo que ajuda a manter o público sempre presente.
SC: Você acredita que o “mangá nacional” conseguirá competir com o material estrangeiro? Qual seria o seu diferencial?
AL: Nossa principal arma é justamente o que temos em casa. Muitos garotos surgem com propostas do tipo "mangá de shinigami" e similares, mas eu digo e repito: precisamos contar histórias que os japoneses não tenham como contar. Precisamos oferecer o que eles não oferecem. E o que eles não oferecem está em casa. É importante reparar que não estamos sozinhos nisso. Um livro como A Batalha do Apocalipse, do Eduardo Spohr, conseguiu se tornar um best-seller com direito a anjos abertamente inspirados em Cavaleiros do Zodíaco lutando na Ponte Rio-Niterói, e o André Vianco se estabeleceu falando de vampiros lusitanos no Brasil. E mais importante, eles tem sua identidade. Não adianta simplesmente fazer o mesmo e chamar o ryu de joão ou a kyoko de maria. O importante é procurar histórias, encontrar o que temos a oferecer, e partir disso – simplesmente porque assim você irá contar algo que você não vai encontrar na Shonen Jump, ou aonde for. Mas isso também nos dá uma responsabilidade muito grande: temos que ser bons. Temos que mostrar ao que viemos. Se não soubermos tratar essa matéria prima com todo o potencial que ela oferece, compremeteremos justamente esses temas e daremos munição à turma que os desvaloriza. Não estamos fazendo discurso ufanista nenhum; queremos produzir quadrinho de entretenimento falando a língua que conhecemos e fazer algo inusitado – até porque ao se estabelecer de verdade um tipo de história em outro cenário, ele estará sujeito a circunstâncias e regras diferentes que o tornarão, efetivamente, outra história.
SC: A Ação Magazine chegará a todos os estados do Brasil ou será uma publicação regional?
AL: Nossa intenção é chegar a todo o país. Estamos começando, claro, e o começo é sempre o mais difícil. Mas queremos chegar a todos que quiserem ter uma Ação Magazine em mãos. E estamos trabalhando nisso.
SC: Como se deu a seleção do material que compõe a revista?
AL: Sendo direto: por capacidade e qualidade. Se não formos bons, não conseguiremos competir com o material japonês em bancas. Mas tão importante quanto foi um espírito de vestir a camisa e encampar o conceito editorial da publicação – o espírito de "somos parte da Ação". Na verdade eu esperava que rolasse aquela competição típica, mas o tom da equipe tem sido de esforço e união. Todos queremos ver essa revista acontecer. E isso tem sido sensacional. Eu lamento que todos nós não estejamos juntos de cara no primeiro dia do evento – eu queria muito que esse momento acontecesse. E isso tem sido maravilhoso. Recebo propostas de gente que quer trabalhar na revista em diferentes cargos de apoio. Estou de olho, mas isso fica muito para o futuro – porque são pessoas que mesmo não fazendo parte do grupo artístico, sentem que algo está acontecendo e querem ver isso acontecer, querem ser parte dessa Ação também. Ainda somos pequenos, mas isso não será esquecido. Mas estou desviando do assunto. O que importa é que os títulos tinham que de forma geral contribuir para a grade – e não queremos títulos de nicho, queremos material de massa. Pode reparar que esses materiais não competem uns com os outros – cada um atinge um possível segmento dentro do público que queremos atingir. O público de Madenka não é o mesmo público de Rapsódia, pode ter certeza.
SC: Qual o público alvo da Ação Magazine? Vocês pensam em atingir o público feminino?
AL: Nosso público básico é essencialmente masculino e adolescente – e não é a toa que temas como carros e esportes de luta estão lá. Acreditamos nessa segmentação, mas não acreditamos que ela vá necessariamente espantar as mulheres – boa parte delas lêem títulos publicados na Shonen Jump, materiais como Naruto tem um grande contingente feminino de fãs. Não pensamos em fazer uma revista mista, até porque uma de nossas intenções é fazer, sim, uma revista de quadrinhos femininos – sempre construídos sob essa orientação editorial de buscar aquilo que o equivalente japonês não oferece, sempre tentando criar nossas próprias histórias. E elas estão em todos os cantos, acredite. Como eu disse, a trajetória de uma menina goiana de quinze anos que queira ser uma cantora sertaneja vai ser fatalmente diferente da trajetória de uma menina japonesa que queira ser uma idoru. E é essa a diferença que queremos: aquela que força a criação de histórias que não foram contadas, que não tem como ser iguais às que os japoneses produzem.
2 pessoas comentaram:
Olá Valeria!
Que surpresa boa (pelo menos pra mim) este lançamento!
E meus parabéns ao Alexandre Lancaster e aos demais colaboradores pelo lançamento da revista.
Acredito que é um grande e ótimo passo para os quadrinhos no Brasil e não somente para os fãs de mangá como nós!
Vou adquirir meu exemplar mesmo sendo uma revista para meninos.
E parabéns pela entrevista! Ficou ótima!
Abraços!
Acho que isso pode dar certo,muito boa a inciativa dele,muitos otakus tem 1001 histórias criadas na mente dele,mas não sabe onde expor,fanfic não adianta,isso é uma solução pra eles,e também pra aquelas pessoas que queriam um bom mangá.
Só faltou 1 perguntinha,de quanto em quanto tempo a revista irá sair...
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