Dia desses a Erica Friedman, do site Okazu (*e do Yuricon*), postou o link para um texto sobre uma das figuras mais recorrentes nos shoujo mangá “the girl-prince”, ou a garota que assume a posição de príncipe em uma história. Garanto que vocês já devem estar lembrando de pelo menos três personagens: Safire, Oscar e Utena. E ela escreve muita coisa legal e faz a analogia entre essas personagens tipo e o teatro Takarazuka com seus Otokoyaku. Pois bem, como a Erica fez o texto para o site The Hooded Utilitarian, ela não podia dar autorização para que eu traduzisse e eu não quis escrever para o site pedindo permissão. O texto inteiro é excelente e merece ser lido. Eu destaquei quatro parágrafos para que vocês possam ter idéia da qualidade do texto. Quem quiser ler completo, em inglês, é só clicar no link. Segue os trechinhos que escolhi:
A garota príncipe pode ser rastreada pelo menos até o Torikaeabaya, um conto da Era Heian sobre um irmão e uma irmã que são naturalmente mais alinhados com os papéis definidos para o gênero oposto. Eles trocam de lugar na corte Heian e o drama se desenrola. A princesa da história se sai espetacularmente bem como um príncipe até que ela se apaixona e é desmascarada por uma gravidez, um tema que ecoa em muitos contos ocidentais sobre mulheres cross-dressers. [Nota da tradutora: Vide a Papisa Joana.]É isso, não seria correto traduzir mais. A própria Erica me disse que teve aborrecimentos com sites brasileiros que traduziram e utilizaram textos seus sem autorização. E eu sei bem como é. Há quem roube textos desse meu blog sem nenhum pudor, imagina de alguém do estrangeiro? Mas, enfim, eu achei o texto magnífico, muito bem feito, com idéias que eu já tinah tido e outras que eu nem tinha pensado. E, mais do que isso, com uma elegância que eu jamais consegui alcançar. Imperdível. [O fanart que ilustra o post veio daqui.]
[…] Em 1954, o Deus do Mangá, Osamu Tezuka combinou o Otokoyaku do Takarazuka com a hiper-feminina Branca de Neve da Disney e criou o protótipo para todas as garotas-príncipe que viriam depois – Safire de A Princesa e o Cavaleiro/Ribon no Kishi [...] Safire era uma garotoa, ma sfoi forçada por razões políticas a viver como um garoto. Como o Otokoyaku do Takarazuka, ela é o objeto do desejo de outras mulheres, mas essencialmente feminina. Apesar de se apaixonar por um homem, ela nunca perde as suas virtudes heróicas. Safire estabeleceu um padrão muito alto para todas as garotas-príncipe que seguiram em suas pegadas.
[…] Em 1973, Ryoko Ikeda (Se Tezuka é o Deus do mangá, eu estou inclinada a pensar que Ikeda é a Deusa,) aceitou o desafio lançado por Tezuka com Ribon no Kishi e produziu sua obra-prima, a Rosa de Versalhes. (Curiosamente, a Rosa de Versalhes é uma das produções favoritas do Takarazuka, com incontáveis repetições ao longo dos anos desde que Lady Oscar fez sua estréia na revista Margaret. Ribon no Kishi foi transformado em um musical, mas ninca pelo Takarazuka, cujo quartel-general fica na cidade onde Tezuka cresceu.) Lady Oscar, assim como Safire, era uma garota criada como um garoto e a história se passava durante os anos anteriores à Revolução Francesa – que era uma época tão fantástica quanto o mundo de pura fantasia no qual Safire vivia. Da mesma forma que Safire, Oscar era atraente para outras mulheres, mas seu coração tinha sido conquistado por seu amigo mais íntimo, André. A história chega ao fim com um final apropriadamente épico durante a Queda da Bastilha. Oscar mudou a história da garota-príncipe completamente. Ela não deseja ser feminina, ela está completamente imersa na sua vida Otokoyaku, e não a rejeita, mesmo quando o amor se torna um problema. As dificuldades de Oscar em aceitar André são inteiramente baseadas nas suas diferenças de classe e, muito mais complicado para a honrada Oscar – está o fato de ser sua superior na vida militar. Papéis de gênero ou sexualidade não são a questão aqui. Oscar impregnou muitas das garotas-príncipe depois dela com um forte senso de dever e honra.
[...] Pouco antes da virada do século, a garota-príncipe renasceu com Shoujo Kakumei Utena [...] Tenjou Utena seguiu suas antecessoras turvando as fronteiras de gênero, adotando roupas de garoto para criar seu próprio e inequívoco look. Em Utena, o conceito de masculinidade fica em segundo plano em relação ao conceito que é o “ser um príncipe”. Como Safire, Utena salva princesas... e príncipes... e redefine a si mesma e para a audiência o que significa “ser um príncipe”. Porque cada um, o anime, o mangá, o filme e o mangá do filme, conta uma versão ligeiramente diferente da história, os criadores, Chiho Saito e Ikuhara Kunihiko tem a liberdade de brincar de “e se?” com Utena. O que acontece se ela ama o Príncipe? E se ela o rejeita? E se ela ama e resgata a Princesa? E se o próprio mundo a rejeita? Cada final brinca com idéias estabelecidas pelas garotas-príncipe antes dela e , como qualquer um que tenha visto a série de TV pode atestar, há o reconhecimento evidente das raízes literárias nas persoangens e na cenografia. Ryouko Ikeda e Nobuko Yoshiya estão presentes como anjos da guarda nessa narrativa.
3 pessoas comentaram:
Texto muito bom e a imagem que ilustra o texto é incrível. Eu sempre fico na dúvida se gosto mais da Oscar ou da Utena. Acho Oscar encantadora demais e extremamente carismática, mas os ideais da Utena são mais revolucionários e modernos na minha opinião. Enfim, queria mais mangás com garotas-príncipes por aqui... Queria basara...
Ótimo post, vou ler o texto original.
Gosto muito de histórias onde a garota/mulher tem que se passar por garoto/homem. Acho muito interessante pois com uma personagem assim é possível fazer uma história série, dramática, mostrando a superação da personagem (exemplo Basara) e também da para fazer uma ótima comédia, com ótimas piadas (exemplo Ouran, Hanakimi). A personagem da garota-príncipe também é legal, pois sempre passa esse ar de realeza. Das 3 personagens citadas minha preferida acho que é a Oscar, mas também gosto muito da Utena.
Abraço, Lady.
Quero ler a matéria original por inteiro! Até me emocionei lendo os trechos que você psotou... eu ADORO ese tema da garota príncipe, e as 3 personagens são praticamente um reflexo da condição feminina (e de como a mulher era vista) através dos tempos. Que coisa linda.
Não é à toa que fiz cosplay das 3 obras: Princesa e o Cavaleiro, Rosa de Versalhes e Utena.
(Só não fiz a Oscar porque minha amiga queria muito fazer, mas eu adoro a personagem. Embora goste muito do constraste com a Maria Antonieta e da coragem que Ikeda teve de mostrar a rainha como uma heoína com falhas, e não como uma vilã.
Um adendo: em 2007 (se a memória não me falha), o grupo de pop idols Morning Musume fez uma adaptação de Ribbon no Kishi. As atrizes eram idols -- mas a produção foi do Takarazuka, se não me engano (a apresentação acredito que foi no teatro do Takarazuka de Tokyo). Inclusive nos papéis da mãe da Safiri, pai da Safiri e de Deus (sim, ele aparece na peça XD) estão duas atrizes mais velhas e consagradas do Takarazuka (musumeyaku e otokoyaku, obviamente), como convidadas.
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