sábado, 16 de abril de 2011

Minhas Últimas Palavras (ESPERO) sobre o Massacre de Realengo



Queria ter escrito este texto na quinta-feira, e espero que essas sejam as minhas últimas palavras aqui sobre o “Massacre de Realengo” (12). Muitos meios de comunicação, como a Revista Isto é, já sinalizaram que o sujeito foi até a escola para matar meninas (“Apesar de ter escolhido como alvos preferenciais as meninas, o assassino Welington acertou um tiro na cabeça de Rafael Pereira da Silva (...)”), mas a coragem para dizer isso com todas as palavras, dando o nome aos bois – FEMINICÍDIO – só vi nos textos feministas (1-2), e na boca de um dos jornalistas mais extrema-direita desse país. Agora que (Graças ao bom Deus!) os meninos feridos, porque as meninas ele executou mesmo, estão se recuperando (*até os dois que estavam em estado muito grave*), a média deve continuar aquela mesmo: 10 meninas e 2 meninos mortos. Só que a gente continua escondendo falando “12 alunos mortos”, “12 crianças mortas”. Eu fico muito constrangida em ter que concordar (parcialmente) com um facistóide, mas se o resto da mídia, seja a grande imprensa ou os blogs, se recusam a dizer, a aceitar que um sujeito pode, sim, odiar tanto as mulheres e se sentir tão frustrado consigo mesmo a ponto de fazer o que esse cara fez... Paciência! Eu vou continuar clamando no deserto sempre que necessário. Eu não tenho nenhum problema com isso.

Enfim, mas o que me fez postar sobre Realengo de novo foi a exposição que a mídia – a grande imprensa escrita e televisiva – vem fazendo e fotos desse celerado posando com armas, posando com a carta de suicídio, além, claro, dos vídeos. Confesso que quando vi um desses vídeos no Jornal da Globo, quando ouvi a voz áspera, monótona, a fala desconexa do sujeito (*me recuso a escrever no nome dele*), meu estômago revirou. Eu acredito que existam indivíduos que busquem a fama póstuma. Estão dando isso para esse elemento. Agora, ele é famoso! E será ainda mais se continuarmos nesta toada. Logo, várias comunidades e pessoas vão começar a expressar abertamente na internet a paixão por esse monstro que, mesmo que tenha sido vítima de bullying, retornou a sua antiga escola e projetou seu ódio, sua frustração, seu mix de fanatismo religioso, nas meninas e meninos que lá estudavam. Corremos sério risco de termos copy cats, isto é, gente que vai imitar ou tentar imitar esse cara. E, enquanto escrevo, a Record está colocando os vídeos no ar DE NOVO! E a culpa é do Estado que está cedendo essas imagens e vídeos desse sujeito que passa mensagens para aqueles que sofrem bullying os estimulando a... MATAR MENINAS E MENINOS QUE NÃO FORAM OS RESPONSÁVEIS PELA VIOLÊNCIA QUE SOFRERAM!

Esse tipo de cara não deveria ter o direito de fala, não deveria ter o direito de entrar nas nossas casas, porque a TV X ou Y quer audiência. Eu me considero agredida e imagino os pais, mães, irmãos e irmãs, parentes, amigos, dessas crianças, das vítimas fatais e sobreviventes. Já chega! E não estou falando que devemos deixar de discutir o caso. É necessário, muito necessário falar de Realengo, discutir o nosso sistema educacional, falar que foi feminicídio, denunciar como o discurso religioso pode ter terríveis influências sobre mentes já perturbadas... são muitas coisas a discutir neste caso. Aliás, recomendo muito o último texto do Contardo Calligaris sobre o caso. Muito mesmo! Agora, mostrar o rosto do monstro? Sua voz? NÃO! Disso a gente não precisa, ou, pelo menos, eu não preciso!

5 pessoas comentaram:

Oi Valéria concordo com você em gênero, número e grau. Assisti o jornal da BAND e eles decidiram não mostrar este vídeo alegando que não queriam dar voz ao assassino e achei a postura deles muito boa em relação ao assunto.

Vc tem toda a razão. Eu fui ver o vídeo do Wellington no youtube (mas nem consegui ver tudo, sério mesmo.) e tinha MUITOS comentários de gente exaltando ele, chamando ele de herói e outras dizendo que não defendiam o que ele fez mas que entendiam suas razões e que ele foi levado a isso pois era muito sofrido e solitário! Razões!!?? Existe razão em fazer o que ele fez? E tem tanta gente que sofre nesse mundo de tantas maneiras diferentes e não sai fazendo isso!

Mas enfim, é como vc disse. Essa voz que estão dando a ele está fazendo com muitos se solidarizem com a "causa" dele e que até o admirem por sua "coragem" como vi gente dizendo no youtube... e isso me dá muito medo e nojo já que o que deveria ser realmente ser discutido está sendo deixado de lado.

Pois é, Lina, a mensagem que essa imprensa nacional está apssando é a pior pos´sivel. Esse cara vai ser transformado em mártir... E eu tenho medo do que pode acontecer por conta disso.

Cada uma que lê por aí!
Qualquer um que tenha se sentido indesejado, desprezado ou perseguidos por colegas (de escola ou trabalho) pode até ter pensamentos negativos e revanchista.
Mas não existe solidão e sofrimento que justifiquem tirar a vida dos outros.
Quem "glorifica" o atirador só o faz porque não teve um filho ou irmãzinha feridos ou mortos no Realengo.
Esse triste episódio poderia servir para mostrar a quem o desconhecia o que é bullying, e os danos que pode causar, especialmente em mentes fragilizadas.
Poderia levanter questões sobre as desordens mentais, e o que se pode fazer para ajudar as pessoas que demonstram qualquer tipo de perturbação.
O que se vê, infelizmente, é políticos oportunistas colocando a "melancia do desarmamento" no pescoço(cumpra-se as leis existentes, antes de querer mexer com tudo, oras)
E o sensacionalismo nas TVs, que parecem estar felizes em ter a "columbine" brasileira.
ai.
alguém, por favor, pare o mundo que eu quero descer

Topei com isso, não sei c vc já viu:

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2011/04/17/interna_brasil,248216/facil-de-matar-serie-traca-o-novo-cenario-das-mortes-femininas-no-pais.shtml?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter&sms_ss=facebook&at_xt=4dab282449cf3411%2C0

Não se refere ao caso de Realengo (ou ainda, eu acho), mas menciona o femicídio.

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