sexta-feira, 4 de março de 2011

Me Perguntaram no Formspring 7: A novela vai mal, porque o Lázaro Ramos é feio



Fazia tempo que eu não abria um post da série “Me Perguntaram no Formspring” (1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6) , mas me senti meio que obrigada a comentar essa pergunta aqui:
“Agora todo mundo é obrigado a achar Lázaro Ramos lindo ? Querida, há muitos negros lindíssimos, que se dariam muito melhor naquele personagem. Se ele foi rejeitado é pq ele é feio, simples. Lamentável vc cair nesse senso comum.”
Pelo tom agressivo das frases, ou, pelo menos, eu li assim, e o anonimato, pode ser uma simples trollagem, já que pergunta, só existe uma “Agora todo mundo é obrigado a achar Lázaro Ramos lindo ?”. A minha resposta é simples: Não. Eu mesma não acho o Lázaro Ramos um homem bonito, mas o acho um ator tão fantástico que, por causa do seu talento, consegue, sim, ser atraente e muito. Veja bem, homem, não homem negro, pois ser preto ou branco ou azul de bolinhas, não está pesando para mim. Mas quem disse que é preciso ser bonito para ser galã de novela no Brasil? Toni Ramos estava namorando uma das atrizes mais bonitas da TV na novela passada, uma menina que poderia quase ser sua neta. E mais, todos os galãs de novela precisam ser o Rodrigo Lombardi em Caminho das Índias? E isso só para citar um exemplo de um homem que, para mim, reune todos os atributos físicos que um galão precisa ter. Mas, enfim, a notícia que gerou a “pergunta” foi a seguinte:
André, personagem de Lázaro Ramos, é o galã mais rejeitado de novela das nove

Rio - Nos bastidores da Globo dizem que André, personagem de Lázaro Ramos em ‘Insensato Coração’, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, teve o maior índice de rejeição no grupo de discussão realizado semana passada. Acham que ele não é um galã para conquistar tantas mulheres.
Há quanto tempo (*se é que um dia foi*), um Toni Ramos ou um Zé Mayer ou um Antônio Fagundes foram considerados bonitos? Por que, volta e meia, se insiste em vendê-los como “galãs” com potencial para seduzir mulheres que tem idade para serem filhas ou até netas? O que eles têm em comum? Sexy appeal ou todos são considerados socialmente brancos? Eu apostaria no segundo, porque, afinal, a rejeição ao Lázaro Ramos não se baseia nas atitudes canalhas de sua personagem – um galinha, insensível, que trata as mulheres como lixo –, pois isso já vimos antes, mas ao fato dele ser “feio”. Mas sexy appeal tem a ver com essa coisa meio indefinível chamada de “feiúra”? Será que outras personagens canalhas conquistadoras não seriam mais verossímeis para a audiência se, apesar de consideradas “feias”, fossem igualmente ricas? Pense em O Dono do Mundo, que é do mesmo autor desta novela. Antônio Fagundes, bem mais velho que o Lázaro Ramos é hoje, era um canalha "sedutor" sem comparação e profundamente mau caráter, mas era amado pelo público... Foi difícil puni-lo no final, a audiência não queria... mas ele era o vilão. Qual seria, então , o problema do Lázaro Ramos? Ser negro. Para mim, não existe outra resposta. Ser rico, orgulhoso, conquistador, bem sucedido, etc. e negro não combinam. São coisas incompatíveis. Não no nosso Brasil sem racismo, no nosso Brasil da democracia racial. Talvez, se ele fosse o pé rapado golpista conquistador, até colasse, mas homem fino, bem educado e rico, não pode, afinal, ele é FEIO.

A novela deve ter vários problemas, eu não assisto, mas leio as notícias de TV, e sei disso, só que o primeiro a rodar vai ser o Lazáro Ramos. Ele é culpado da baixa audiência por causa da sua feiúra. Para quem acha que os grupos que avaliam novelas não são conservadores, ainda que o público em geral talvez não seja tanto, cito dois casos que já não são tão recentes. Em Torre de Babel, que ia mal de audiência, tanto quanto Insensato Coração, houve uma grande mexida que executou todos os indesejáveis de uma tacada só: a idosa cadeirante mal humorada, o jovem drogado, o pai (*velho, feio e mau*) que tinha traído o filho (*Tony Ramos que era para ser vilão, mas não foi... o público não deixou*) com a nora, e, claro, o casal de lésbicas chiques. Todos morreram. No continuado da remexida, o ferro velho da novela virou um colorido bar temático, já que sujeira não pode existir em novela, e os donos do local de sujeitos grosseiros e pendendo para a vilania, tornaram-se personagens cômicas e atraentes. O outro caso foi de A Padroeira, novela das seis que nasceu com cara de filme de capa e espada, além, claro, do seu caráter religioso de propaganda. A novela era escura, as roupas gastas, as casas feias... Assim, bem fiel ao que deveria ser uma vilazinha do interior do Brasil colonial. Dava gosto assistir aquele apuro todo, mas o elenco que encabeçava a trama era fraco... Muito fraco! Pois é, vieram as pesquisas e a mudança: roupas coloridas e limpinhas, casas novinhas e enfeitadas, e humor pastelão. A primeira personagem que rodou, se bem me lembro, foi o escravo, fundamental para a trama dos milagres, Norton Nascimento, que na época ficou muito sentido.

Veja bem, eu brinquei que os dias de Zé Mayer de Lázaro Ramos estavam contados, e continuo achando que será assim. Talvez a personagem fique pobre, e aí seria colocada no seu “devido lugar”. Não sei o que será feito, mas o racismo em telenovela brasileira é notório. A começar nos anos 1960 com Janete Clair criando o primeiro casal inter-racial de uma telenovela brasileira e invertendo o padrão, a mocinha era rica, o amado um escravo. O povo não aceitou, ela recebeu muitas cartas... Se fosse o inverso, seria verossímil, não é? O homem branco se apropriando da mulher negra, estaria mantida a ordem social, os papéis de gênero esperados... E outros casos foram se repetindo e outro muito notório foi quando Zezé Motta, e o próprio galã Marcos Paulo, foi hostilizada durante a novela Corpo a Corpo. O casal era inaceitável para muitos brasileiros, apesar da moça ser arquiteta, de classe média, de boa família... A desculpa, na época, para esconder o racismo de muita gente era “Ela não é bonita o suficiente”. Bonitos só se sentem atraídos por bonitos, jovens por jovens, ricos por ricos, pobres por pobres, e, claro, ninguém se apaixona perdidamente por alguém muito diferente de você. Não quando se trata de um galã ou heroína negros, porque “galãs” brancos fora dos padrões temos vários na história das telenovelas.

Para quem acha que não, eu recomendo o ótimo,*** A Negação do Brasil. O documentário deve estar aos pedaços no Youtube. Comprar é difícil, mas eu consegui. Neste documentário premiado, o autor Joel Zito Araújo, passa em revista as novelas da Rede Globo e de TVs hoje extintas, como a Exelcior e a Tupi, desde os anos 1960 com O Direito de Nascer e entrevistas atores e atrizes negros brasileiros. Os casos de racismo contados são escabrosos. Mas sempre que olho a vilazinha classe média baixa de TiTiTi, a única novela que assisto, e não vejo um negro sequer (*na novela inteira só há dois negros*), eu sei que as coisas mudaram muito pouco. E a bela capa que vi também esta semana com Lázaro Ramos e os dizeres “O Primeiro Galã Negro das Novelas Brasileiras”, logo não fará mais sentido algum.

Enfim, o que eu peço para quem chegou até aqui é que tente lembrar de personagens negros relevantes em novelas brasileiras, que não fossem cômicas, que tivessem uma família, que não fossem únicos em um ambiente socialmente branco. Eu lembro de poucos, muito poucos... em TiTiTi, as duas personagens negras, Adriano (*o homem negro mais bonito das telenovelas hoje*) e Clotilde, além de terem características vilanescas, não têm família, pai, mãe, irmãos, amigos e/ou amigas negros ou mulatos. Eles estão lá para cumprir cotas... Mas, enfim, eu falo de TiTiTi em outro post.

*** Eu não considero o documentário excelente, porque tenho muitas críticas. Por exemplo, o autor é sectário e diz em sua tese (*eu tenho o livro*), que o problema das mulheres está resolvido nas telenovelas, o dos negros, não está. Como assim? Sou mulher e deiscordo. Ele omite o casal inter-racial de Janete Clair, mesmo esta novela – Passo dos Ventos, eu acho – estar dentro do recorte da sua tese de doutorado. E ele é fã do Manoel Carlos e odeia o Gilberto Braga, o primeiro autor de novela a sofrer pressão por racismo em suas obras e autor de Insensato Coração. A paixão dele pelo Manoel Carlos chega a ser irritante, porque uma das cenas do documentário que é tratada como de resistência ao racismo, estava inserida em uma trama que reafirmou o racismo: o marido não queria ter filhos com a esposa negra, ela engravida, eles se separam, a criança nasce branca (*sim, branca!*), e eles reatam. Mas isso não é comentado... Tampouco é citado nem rapidamente que Taís Araújo foi a primeira protagonsita negra em Xica da Silva.

7 pessoas comentaram:

Nossa, muito legal sua matéria. Adorei. Eu vi esse documentário (por indicação sua), é bem legal e depois que terminou, também fiquei me perguntando o pq de não citarem Xica da Silva. E infelizmente suas palavras vão se confirmar no caso do Lazaro Ramos. O mesmo aconteceu com Tais Araujo, que perdeu o posto de destaque e ficou completamente jogada na trama de Manoel Carlos, onde ela foi anunciada e ovacionada como a primeira Helena negra. Ela até começou com bastante destaque, mas não demorou muito pra Aline Moraes tomar o lugar de mocinha. A bem da verdade, toda a trama da Helena era bem fraca, se comparada com as outras.

Hehehe, parece que sou noveleira neh, mas nem é, leio bastante jornal e as vezes vejo uma cena ou outra e comentarios de amigas e minha amiga, então mesmo nem vendo, fico por dentro de tudo O_O

Há quanto tempo (*se é que um dia foi*), um Toni Ramos ou um Zé Mayer ou um Antônio Fagundes foram considerados bonitos?[2]
Faço minhas as suas palavras.

Amei o texto Valéria. Nosso Brasil é um grande educador quando se trata de racismo. Você já ouve piadas sobre racismo desde pequeno, as vezes na escola, as vezes até mesmo em casa.
Essa novela, "insensato coração" parece que vai ter como tema principal o preconceito, já que temos um protagonista negro e um núcleo gay no futuro, mas parece queo grande vilão da novela não estará presente na trama. O vilão é o grande público...

Essa novela é toda errada, uma das piores que já vi. Assisti os primeiros capítulos e considero uma das coisas mais podres já produzidas na tv. Os protagonistas tem química zero, a trama é chata e arrastada, alguns personagens estão ali sabe Deus o porquê! Mas como a corda arrebenta no lado do preconceito, o Lázaro que vai pagar o pato, assim como foi com a Taís, bem citado pela Roberta. O fato dele não estar no padrão, leia-se "branco", é motivo pra tantas críticas. Mas o grande vilão, além do público, é o autor que criou um personagem despresível e nojento! Ele poderia ser um conquistador, mas é difícil comprar a ideia de um cara tão cretino ter tanta mulher! Como alguém que não tem um pingo de tato consegue conquistar tantas? Estamos muito desesperadas, só pode ser! O personagem do Fagundes no Dono do Mundo, que me lembro pouco, era um escroque mais pro fascinante, um sedutor e não um cara desagradável. Não me lembro dele tratar as mulheres tão mal já na hora da conquista!! O personagem do Lázaro, pra mim, é muito intragável! Assim como o Manoel Carlos que criou uma trama fraca e sem atrativos pra cercar a Helena de Taís, acho que o Gilberto Braga repete a dose, criando um personagem difícil de engolir em qualquer cor!

Concordo com quase tudo que você diz, o Lázaro Ramos realmente é feio, mas não acho que esse é o motivo de fracasso da novela, é só que a novela inteira é toda muito ruim, eu tentei assistir um pouco, mas estava difícil de tão fraca.

Aliás, acho que esse papel está aquém das capacidades do Lázaro Ramos, ele é um ótimo ator, merecia um "desafio maior". Discordando de você eu vejo Zé Mayer, Fagundes e Rony Ramos como "apostas fáceis", eles são atores antigos, o público já está acostumado com eles e eles moram no coração do Brasil, impossível negar. Acredito que colocar um desses atores como "galã" é um modo de chamar a(o)s fãs desses atores. Não é muito diferente de colocar uma Suzana Vieira ou Glória Menezes como "mocinha".

Aliás, com a falta de galãs resolveram colocar o Herson Capri, ele já foi muito bonito, mas está bem acabado.

Falta gente bonita nessa trama, não são só os galãs, Paola Oliveira está verde demais para ser a mocinha, Camila Pitanga está bem (tem como ela estar mal?), mas queria ela mais "proativa", ela está apagadinha demais, queria que ela fosse mais provocante, tivesse mais iniciativa. E acho a Camilla Pitanga muito "branca", pra mim ela não é muito diferente de uma "Juliana Paes", mal consigo enxergá-la como parda, muito menos como negra. Disseram que a Deborah Secco roubou a cena e está virando a protagonista da novela, uma pena que ela sempre interprete o mesmo papel (saudades dela em Confissões de Adolescente - era a minha preferida).

Enfim, acho que deveriam colocar mais uns cinco homens de porte de galã e mais umas três ou quatro mulheres.

P.s. Ainda acho o Zé Mayer bem "pegável".

"Camilla Pitanga muito "branca", pra mim ela não é muito diferente de uma "Juliana Paes", mal consigo enxergá-la como parda, muito menos como negra. "

Ahuahuahuahauhauhua! Ela é bonita demais pra ser negra, imagino...

Você ainda fica surpresa com o rascimo, moça do Shoujo? É bem por aí. Mas o pior mesmo é que ou você será ignorada ou acusada de ver racismo em tudo. =P

""Camilla Pitanga muito "branca", pra mim ela não é muito diferente de uma "Juliana Paes", mal consigo enxergá-la como parda, muito menos como negra. "

Ahuahuahuahauhauhua! Ela é bonita demais pra ser negra, imagino..."

Não, Anderson, é pq na tv colocam quilos de maquiagem nela pra pele dela parecer apenas "bronzeada". Ou vai dizer que ela realmente parece negra? Não, a Camilla Pitanga parece uma garota que pegou sol demais na praia. E é claro que isso não é só com ela, qualquer negro na TV Globo é excessivamente maquiado para parecer mais claro. Entendeu o ponto?

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