Sexta-feira estréia O Discurso do Rei (The King’s Speech). Todo mundo que passa por aqui sabe que sou fã do Colin Firth e que estou doida para ver o filme, mas eu teria postado a crítica de Bravura Indômita, por exemplo, mas só postaram um box ridículo. Semana passada, saiu uma crítica na Isto é de Cisne Negro, mas o autor disse que o filme era “decepcionante” e, bem, eu já imaginava que minha opinião seria outra. Daí, nem valia a pena repassar. Este texto aqui está interessante. Mas tem um quadro de imagens no site que me deu uma informação muito bizarra. George VI morreu de câncer no pulmão com 57 anos e, o detalhe curioso, é que ele só começou a fumar por recomendação médica. Cigarro ajudaria a curar a gagueira, que era nervosa, claro. Pode?! Vejam como a “ciência” não é digna de confiança absoluta. Lá embaixo, a entrevista com o Colin Firth para a revista Época. Acho que enganei o site, proque era só para assinantes e eu consegui abrir e capturar o texto. ^_^
A história de um rei gago
Com 12 indicações ao Oscar, o filme "O Discurso do Rei" retrata com fidelidade as dificuldades de George VI com a gagueira, mas peca no registro de fatos hitóricos
Ivan Claudio
Em uma das ótimas passagens do filme “O Discurso do Rei”, que estreia na sexta-feira 11 embalado por uma dúzia de indicações ao Oscar, o monarca inglês George VI está na sala de projeções do Palácio de Buckingham com a sua mulher, a rainha Elizabeth (que mais tarde ficaria conhecida como rainha-mãe), e as filhas Elizabeth (hoje a rainha Elizabeth II) e Margaret. Ao aparecer na tela a imagem do ditador alemão Adolf Hitler numa fala inflamada ao povo germânico, uma das meninas perguntou ao pai: “O que ele está dizendo?” George VI respondeu: “Não sei. Mas é algo muito bem dito”. A ironia, tipicamente britânica, esconde um duplo sentido. O primeiro, mais cínico, diz respeito à postura da Inglaterra em relação ao avanço nazista, ao se mostrar indecisa até a invasão da Polônia. O outro sentido, que traduz o lado humano dos poderosos, é uma espécie de mea-culpa. George VI (Colin Firth) era um rei gago e, por isso, demonstra a sua admiração pela desenvoltura com que Hitler pronuncia os “erres” que marcam o seu idioma. Não que o monarca se embananasse com esses fonemas, pois sua maior dificuldade se dava com as palavras iniciadas pela letra “k”, e a mais famosa delas justamente “king” (rei).
O príncipe Albert (esse era o seu primeiro nome) chegou ao trono porque seu irmão mais velho, Edward VIII, decidiu se casar com a avançada socialite americana Wallis Simpson, divorciada duas vezes e dona de espírito livre suficiente para sobreviver aos escândalos que marcariam daí para a frente a linhagem real. Nada, contudo, era mais constrangedor do que se ouvir as mensagens oficiais do soberano recém-empossado – sua oratória truncada era sempre recebida com um silêncio incômodo. Na Inglaterra da época, a gagueira de um nobre era vista como uma falha de caráter. Além dessa pecha, passou a ser também um “defeito técnico” no grande show da nova política espetacularizada. A era do rádio mudou a face do discurso público e dispensou a cerimônia ao ar livre para se fazer ouvir por cada cidadão, àquela altura acuado em casa pelo medo da guerra. Pior para George VI, que, de consultório em consultório, só conseguiu sucesso na melhor emissão das palavras ao procurar os serviços de um ator fracassado, mas profundo conhecedor do aparelho respiratório e da fala, Lionel Logue (Geoffrey Rush). Detalhe: ele era australiano, ou seja, cidadão de uma ex-colônia, o que tornou a relação terapeuta-paciente ainda mais problemática, especialmente por que Logue insistia em chamar o rei pelo seu apelido de família – Bertie.
Trata-se, como se vê, de uma relação muito bem temperada pela gravidade histórica e pela leveza dos detalhes anedóticos para ser vista como totalmente verdadeira. Mas, feitas algumas ressalvas às inevitáveis liberdades ficcionais, é mesmo verídica. O diretor Tom Hooper, que também foi gago e por isso decidiu estudar a vida de George VI, declarou que os melhores diálogos do filme não foram escritos pelo roteirista, mas tirados diretamente do diário de Logue, revelados há apenas cinco anos pelo neto do fonoaudiólogo autodidata. Hooper começou a reconstituir o relacionamento entre o monarca e seu professor de voz nos anos 1980 e procurou de imediato o filho de Logue. Mas ele disse que só contribuiria com a obra, originalmente pensada para o teatro, se a rainha-mãe, ainda viva, permitisse que a história viesse à luz. Consultada pelo cineasta, Elizabeth declarou: “Autorizo, mas só depois de minha morte. A lembrança desses fatos ainda é muito dolorosa.” Bem, como se sabe, a rainha-mãe viveu 101 anos, só vindo a falecer em 2002. Nesse período, quem também morreu foi o filho de Logue – Hooper teve então que ir atrás do neto, que estava ciente do tesouro guardado. Tanto é assim que acaba de lançar o livro “O Discurso do Rei: Como um Homem Salvou a Monarquia Inglesa”.
Entre as passagens consideradas imprecisas está o assentimento do primeiro-ministro Winston Churhill à abdicação ao trono de Edward VIII – na verdade, ele preferia o governo anterior. Outra passagem inverídica é a direta participação de Logue no famoso discurso de George VI anunciando a entrada da Inglaterra na guerra, em 1939. Foi provado que o rei já conseguia declamar longas sentenças nessa época. Uma coisa, porem, é verdade: o monarca tropeçou de propósito em algumas palavras para deixar o pronunciamento, ponto alto do filme, mais autêntico. “Se falasse com perfeição o povo poderia não acreditar que era eu” , afirmou. George VI pode não ter feito um grande governo. Mas, com certeza, demonstrou que na era midiática que se anunciava o político passou a ser, antes de tudo, um ator.
Colin Firth: “Foi meu trabalho mais difícil”
Favorito ao Oscar, o ator inglês conta como foi seu preparo para interpretar o rei George VI no cinema e seu envolvimento com a história da família real britânica
Marcelo Bernardes, de Nova York
ÉPOCA - O senhor conhecia bem a história de George VI?
Colin Firth - Não. A não ser pelo fato da gagueira dele, pois minha mãe havia demonstrado uma certa simpatia a seu impedimento de oratória. Pertenço a uma geração que cresceu sem se importar, ou desdenhando a família real, a não ser que houvesse um grande evento. Sabia muito mais sobre o irmão de George VI e o romance dele com a socialite americana Wallis Simpson. George VI sempre foi um personagem oculto na margem da história.
ÉPOCA - E o que aprendeu de mais fascinante sobre o personagem?
Firth - Em primeiro lugar, como ele se diferenciava de outros líderes da Europa continental da época, não tendo nenhuma ambição pelo poder. Também como a gagueira dele afetava outros aspectos de sua vida cotidiana. Por exemplo, George VI sempre foi um péssimo estudante de matemática, pois ele tinha problemas em pronunciar coisas triviais como frações. Mas um dos aspectos mais interessantes que aprendi foi como a tecnologia se tornou uma barreira para ele, em vez de ajudá-lo, como a tecnologia nos ajuda hoje. George VI viveu na época da transmissão ao vivo do rádio. Se tivesse nascido uma geração antes, não teria precisado entrar ao vivo. Se tivesse nascido uma geração depois, seus discursos poderiam ter sido editados.
ÉPOCA - Qual foi o principal desafio de interpretar o personagem?
Firth - Tive de vasculhar horas e horas de gravações dele. Além da gagueira, tive de aprender a falar com certo tipo de dicção e entonação pública que foi muito alterada nas décadas seguintes. Foi também complicado o fato de quanto a gagueira dele estaria presente no filme. Se ela fosse excessiva, poderia deixar o público desconfortável no cinema, a ponto de desvirtuar a concentração na história que pretendíamos contar. Se ela fosse branda, estaríamos fazendo um desserviço à história. Acho que conseguimos encontrar um meio-termo. Com certeza, foi o trabalho mais difícil que já fiz como ator.
Com 12 indicações ao Oscar, o filme "O Discurso do Rei" retrata com fidelidade as dificuldades de George VI com a gagueira, mas peca no registro de fatos hitóricos
Ivan Claudio
Em uma das ótimas passagens do filme “O Discurso do Rei”, que estreia na sexta-feira 11 embalado por uma dúzia de indicações ao Oscar, o monarca inglês George VI está na sala de projeções do Palácio de Buckingham com a sua mulher, a rainha Elizabeth (que mais tarde ficaria conhecida como rainha-mãe), e as filhas Elizabeth (hoje a rainha Elizabeth II) e Margaret. Ao aparecer na tela a imagem do ditador alemão Adolf Hitler numa fala inflamada ao povo germânico, uma das meninas perguntou ao pai: “O que ele está dizendo?” George VI respondeu: “Não sei. Mas é algo muito bem dito”. A ironia, tipicamente britânica, esconde um duplo sentido. O primeiro, mais cínico, diz respeito à postura da Inglaterra em relação ao avanço nazista, ao se mostrar indecisa até a invasão da Polônia. O outro sentido, que traduz o lado humano dos poderosos, é uma espécie de mea-culpa. George VI (Colin Firth) era um rei gago e, por isso, demonstra a sua admiração pela desenvoltura com que Hitler pronuncia os “erres” que marcam o seu idioma. Não que o monarca se embananasse com esses fonemas, pois sua maior dificuldade se dava com as palavras iniciadas pela letra “k”, e a mais famosa delas justamente “king” (rei).
O príncipe Albert (esse era o seu primeiro nome) chegou ao trono porque seu irmão mais velho, Edward VIII, decidiu se casar com a avançada socialite americana Wallis Simpson, divorciada duas vezes e dona de espírito livre suficiente para sobreviver aos escândalos que marcariam daí para a frente a linhagem real. Nada, contudo, era mais constrangedor do que se ouvir as mensagens oficiais do soberano recém-empossado – sua oratória truncada era sempre recebida com um silêncio incômodo. Na Inglaterra da época, a gagueira de um nobre era vista como uma falha de caráter. Além dessa pecha, passou a ser também um “defeito técnico” no grande show da nova política espetacularizada. A era do rádio mudou a face do discurso público e dispensou a cerimônia ao ar livre para se fazer ouvir por cada cidadão, àquela altura acuado em casa pelo medo da guerra. Pior para George VI, que, de consultório em consultório, só conseguiu sucesso na melhor emissão das palavras ao procurar os serviços de um ator fracassado, mas profundo conhecedor do aparelho respiratório e da fala, Lionel Logue (Geoffrey Rush). Detalhe: ele era australiano, ou seja, cidadão de uma ex-colônia, o que tornou a relação terapeuta-paciente ainda mais problemática, especialmente por que Logue insistia em chamar o rei pelo seu apelido de família – Bertie.
Trata-se, como se vê, de uma relação muito bem temperada pela gravidade histórica e pela leveza dos detalhes anedóticos para ser vista como totalmente verdadeira. Mas, feitas algumas ressalvas às inevitáveis liberdades ficcionais, é mesmo verídica. O diretor Tom Hooper, que também foi gago e por isso decidiu estudar a vida de George VI, declarou que os melhores diálogos do filme não foram escritos pelo roteirista, mas tirados diretamente do diário de Logue, revelados há apenas cinco anos pelo neto do fonoaudiólogo autodidata. Hooper começou a reconstituir o relacionamento entre o monarca e seu professor de voz nos anos 1980 e procurou de imediato o filho de Logue. Mas ele disse que só contribuiria com a obra, originalmente pensada para o teatro, se a rainha-mãe, ainda viva, permitisse que a história viesse à luz. Consultada pelo cineasta, Elizabeth declarou: “Autorizo, mas só depois de minha morte. A lembrança desses fatos ainda é muito dolorosa.” Bem, como se sabe, a rainha-mãe viveu 101 anos, só vindo a falecer em 2002. Nesse período, quem também morreu foi o filho de Logue – Hooper teve então que ir atrás do neto, que estava ciente do tesouro guardado. Tanto é assim que acaba de lançar o livro “O Discurso do Rei: Como um Homem Salvou a Monarquia Inglesa”.
Entre as passagens consideradas imprecisas está o assentimento do primeiro-ministro Winston Churhill à abdicação ao trono de Edward VIII – na verdade, ele preferia o governo anterior. Outra passagem inverídica é a direta participação de Logue no famoso discurso de George VI anunciando a entrada da Inglaterra na guerra, em 1939. Foi provado que o rei já conseguia declamar longas sentenças nessa época. Uma coisa, porem, é verdade: o monarca tropeçou de propósito em algumas palavras para deixar o pronunciamento, ponto alto do filme, mais autêntico. “Se falasse com perfeição o povo poderia não acreditar que era eu” , afirmou. George VI pode não ter feito um grande governo. Mas, com certeza, demonstrou que na era midiática que se anunciava o político passou a ser, antes de tudo, um ator.
Colin Firth: “Foi meu trabalho mais difícil”
Favorito ao Oscar, o ator inglês conta como foi seu preparo para interpretar o rei George VI no cinema e seu envolvimento com a história da família real britânica
Marcelo Bernardes, de Nova York
ÉPOCA - O senhor conhecia bem a história de George VI?
Colin Firth - Não. A não ser pelo fato da gagueira dele, pois minha mãe havia demonstrado uma certa simpatia a seu impedimento de oratória. Pertenço a uma geração que cresceu sem se importar, ou desdenhando a família real, a não ser que houvesse um grande evento. Sabia muito mais sobre o irmão de George VI e o romance dele com a socialite americana Wallis Simpson. George VI sempre foi um personagem oculto na margem da história.
ÉPOCA - E o que aprendeu de mais fascinante sobre o personagem?
Firth - Em primeiro lugar, como ele se diferenciava de outros líderes da Europa continental da época, não tendo nenhuma ambição pelo poder. Também como a gagueira dele afetava outros aspectos de sua vida cotidiana. Por exemplo, George VI sempre foi um péssimo estudante de matemática, pois ele tinha problemas em pronunciar coisas triviais como frações. Mas um dos aspectos mais interessantes que aprendi foi como a tecnologia se tornou uma barreira para ele, em vez de ajudá-lo, como a tecnologia nos ajuda hoje. George VI viveu na época da transmissão ao vivo do rádio. Se tivesse nascido uma geração antes, não teria precisado entrar ao vivo. Se tivesse nascido uma geração depois, seus discursos poderiam ter sido editados.
ÉPOCA - Qual foi o principal desafio de interpretar o personagem?
Firth - Tive de vasculhar horas e horas de gravações dele. Além da gagueira, tive de aprender a falar com certo tipo de dicção e entonação pública que foi muito alterada nas décadas seguintes. Foi também complicado o fato de quanto a gagueira dele estaria presente no filme. Se ela fosse excessiva, poderia deixar o público desconfortável no cinema, a ponto de desvirtuar a concentração na história que pretendíamos contar. Se ela fosse branda, estaríamos fazendo um desserviço à história. Acho que conseguimos encontrar um meio-termo. Com certeza, foi o trabalho mais difícil que já fiz como ator.
1 pessoas comentaram:
Assisti hoje à tarde e achei bacaninha. A história é bem simples, mas a caracterização dos personagens realmente impressiona.
Acho que "A Single Man" tem uma trama melhor, mas a atuação do Colin Firth aqui está irretocável. Ah, a Helen Bonham-Carter também surpreende!
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