Eis a segunda parte da entrevista com Riyoko Ikeda, feita durante o Festival de Angoulême na França. Aqui, Ikeda mostra que o fato de Oscar se vestir “como um homem” não significava escândalo no Japão (*tampouco apontava para qualquer conteúdo homossexual*), fala de como suas aulas de História deveriam ser convencionais (*como as de tanta gente*) e que o livro do Zweig é que deu para Maria Antonieta alguma dimensão de humanidade. Sobre essas coisas, ela nunca tinha falado em outras entrevistas. É interessante a reflexão que ela faz sobre a Polignac, uma das vilãs da Rosa, sob a perspectiva de dependência que boa parte da nobreza tinha em relação ao rei, e de como seria interessante para eles impedir a ruína do Antigo Regime. Queria saber de a Ikeda leu As Linhagens do Estado Absolutista do Perry Anderson, porque, mal ou bem, ela defende a mesma tese. Para quem qusie ler, a primeira parte da entrevista está aqui.
Riyoko Ikeda, em majestade
Você disse que se inspirou em Stefan Sweig, para criar La Rose de Versailles…
Sim, certamente. Porque antes dele eu conhecia a História Francesa da seguinte maneira : Marie Antonieta viveu no Palácio de Versailles, ela amava o luxo, ela arruinou as finanças públicas provocando um grande déficit, ela foi decapitada. E era tudo. Quando li Stefan Zweig, eu fui tocada pela dimensão humana desta mulher. Nesse momento, vinte anos antes, eu me disse que queria fazer uma história, e guardei o título em um dos cantos da minha cabeça. Dez anos mais tarde, comecei a série em formato mangá.
Por que se focou em Madame de Polignac ?
Na sociedade aristocrática francesa do século XVIII, ela representa muito bem a situação dos nobres, obrigados a cortejar o Rei e a Rainha para obter seus favores. Eu mostrei muito a injustiça que caracteriza os privilégios. A história da Revolução é a dos nobres que estão desesperadas parar a roda do tempo, para que a história não possa avançar.
E a idéia do travestismo, ele tinha o sentido de provocação no Japão?
Existem dois pontos de vista: um europeu, um japonês. Nós, quando falamos de Joana d'Arc, nós a vemos como uma travesti. Ela é uma mulher que se veste de homem para poder lutar. Mas na Europa, foi queimada. Talvez em parte por causa de seus trajes. Isto é devido à moral e ao cristianismo. No Japão, as trupes de teatro formadas exclusivamente por homens podem interpretar uma variedade de papéis, femininos ou masculinos, o mesmo ocorre com as artistas mulheres. Havia mais liberdade. Pensei também em Cristina, Rainha da Suécia. Quando seu pai morreu, quando leram em seu testamento viram que ele desejava que sua filha fosse educada como um menino... Enfim, o personagem de Oscar deveria ter sido um homem. Eu queria mostrar um capitão das tropas reais, que em 14 de julho de 1789, mudou de lado e defendeu o povo. Mas eu tinha apenas 26 anos, eu realmente não conseguiria jamais imaginar a cena. Então eu comecei a desenhar uma mulher...
Após a Revolução Francesa, que você ficou interessada por Napoleão. Um dos maiores falocratas da história, aquele que disse que as mulheres só servem para cuidar das crianças!
Como homem, ele podia ser fascinante. Para desenhar A Glória de Napoleão, eu fui à França e à Europa, visitar os locais das grandes batalhas, eu pude perceber a velocidade do avanço das tropas. Sempre que venho a Paris, eu faço uma peregrinação ao Hotel des Invalides, onde seu caixão de encontra preservado ... No Japão, o Embaixador da França me deu a Legião de Honra, a medalha dos militares! Ele disse: "Foi Napoleão que vos respondeu."
1 pessoas comentaram:
Agradecida pelas entrevistas com a Ryioko!
Acabei de ler todas!
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