É meio óbvio começar escrevendo algo assim, mas para que eu não gostasse do Discurso do Rei (The King’s Speech), algo teria que dar realmente muito, muito, muito errado. Como nada deu errado, como eu mesma já esperava, sai do cinema muito satisfeita com o filme, afinal, é o tipo de obra que me atrai, pois traz atores e atrizes que eu admiro muito (*teria que listar boa parte do elenco e, agora, o SAG está mais que explicado*); diálogos carregados de inteligência, sentimento, e humor britânico; um fundo histórico consistente (*ainda que deficiente, mas volto a isso mais adiante*); e fala de superação (*culminando com o discurso no final, que dá nome ao filme*). Nada deu errado e eu tive o bônus de rever Geoffrey Hush em outro excelente papel. Sim, os holofotes principais estão sobre o Colin Firth, e não poderia ser diferente, mas o filme, a meu ver, tem dois protagonistas, o rei e o terapeuta. Só que o Geoffrey Hush já ganhou um Oscar por Shine... Bem, ele está indicado à coadjuvante, só que, este ano, o Oscar nessa categoria já tem um nome carimbado e não é o dele. Mas, enfim, vamos para um resumo do filme.
O Discurso do Rei (The King’s Speech) foca na relação entre o Príncipe Albert (Colin Firth), Bertie, para os íntimos, depois Rei George VI, e seu terapeuta, Lionel Logue (Geoffrey Hush). O príncipe é gago e sua condição o envergonha e atormenta, já que, na Era do Rádio, não é mais possível, como diz seu pai, o Rei George V (Michael Gambon), somente posar de uniforme e se esforçar para não cair do cavalo. Para piorar a situação, a polêmica relação do Príncipe de Gales, futuro Eduardo VIII, com uma americana, plebéia, duas vezes divorciada, pode terminar colocando Albert no trono. E são tempos difíceis, pois a Europa caminha para a II Guerra Mundial. Desesperado, mas contando com o apoio da esposa (Helena Borham-Carter), o Príncipe finalmente contrata Logue, que com seus métodos pouco ortodoxos consegue, aos poucos, ganhar o respeito e a amizade do paciente, criando uma relação de cumplicidade que possibilita ao príncipe confrontar seus fantasmas e ganhar a confiança para falar por si mesmo.
Eu gostei muito do Discurso do Rei. Não se trata de um filme louvando a monarquia inglesa, como alguns críticos andam repetindo por aí, aliás, a rejeição a filmes sobre reis e rainhas, e a esta forma de governo como um todo, faz com que muita gente só veja defeitos em filmes deste tipo. Foi assim com o excelente A Jovem Rainha Vitória no ano passado, mas, como O Discurso do Rei recebeu 12 indicações ao Oscar, não é possível só torcer o nariz ou ignorar, é preciso um pouquinho mais de atenção. Pois bem, O Discurso merece toda a atenção, especialmente, porque fala de superação, fala de como uma família – especialmente pai e mãe – distantes, negligentes e até cruéis podem marcar negativamente a vida de uma pessoa, e é o melhor filme que eu já vi sobre relação entre paciente e terapeuta.
Bertie, futuro George VI, é o paciente. Sua gagueira é acentuada por situações de tensão e discursar em público é algo dramático para ele. O fracasso se torna ainda mais pesado, porque, pelo menos no filme, ele sabe, no seu íntimo que pode ter que assumir o lugar do irmão, que é mais velho, mais charmoso, e fala muito bem. Viver nas sombras poderia ser a opção para o segundo filho de um rei, mas ele deu azar... muito azar. Ou sorte, talvez, pois para efeito dramático é exatamente esse perigo que o obriga a procurar ajuda. Primeiro, de médicos subservientes e incompetentes, pois lhe recomendaram o fumo para curar a gagueira. George VI morreu aos 57 anos de câncer nos pulmões. Olha, quando fiquei sabendo desse detalhe, que está no filme, fiquei me perguntando se os médicos dos reis da Inglaterra não tinham melhorado nada em relação ao início do século anterior. Parece que, não. Aliás, comentei bastante sobre isso na resenha sobre A Jovem Rainha Vitória.
O que parece aterrorizar mais Bertie antes de ser rei é o tal Discurso de Natal. Uma tradição “inventada”, como Eric Hobsbawn bem explicou em um de seus livros, mas que parece sólida e eterna. É depois de um deles que há uma excelente conversa entre o rei George V e seu segundo filho. Ali, o velho rei fala que os monarcas do século XX precisam ser artistas, culpa do rádio (*e do cinema*). Mas explica algo mais antigo: é pela fala que alguém – um homem, claro, e nobre – se impõe e domina. Bertie não tem voz ainda, portanto, ele é menos que um homem e não honra seu sangue nobre. Para aumentar a carga dramática, o velho rei também parece suspeitar que a “salvação” da monarquia inglesa estará nas costas daquele filho inseguro. A expressão corporal de Colin Firth nesta cena e em outras tantas em que a personagem está acuada, são um primor, pois mostram toda a auto-repressão que ele se impõe, sua frustração e medo, sua pequenez. Já no final do filme, um aterrorizado George VI, se pergunta porque ele precisa fazer o discurso de declaração de guerra se ele, como rei, não pode escolher ministros ou governar de fato, se ele tem somente um cargo simbólico e consultivo, porque precisa ser "a voz"?
Logue, o terapeuta australiano, não é o que gostaria de ser, não é um vencedor. Seu desejo , que ele continua perseguindo, é atuar no teatro, mas ele fracassa. E temos uma cena deliciosa onde o ator que fez o Mr. Collins em Orgulho & Preconceito, de 1995, e várias outras personagens asquerosas, humilhando Logue, porque ele esta velho demais para a companhia de teatro e porque ele tem sotaque australiano. Logue, no entanto, não se entrega à frustração, ele tem um talento, ainda que não tenha um diploma, e se dedica a curar pessoas com problemas de fala. Quando encontra com o Príncipe, ele deixa claro que o problema não é somente mecânico, como o paciente deseja acreditar, mas que o mal está dentro dele, tem a ver, muito provavelmente, com sua infância. “Para se curar, é preciso desejar ser curado”, esse é o mote. Só que para se curar, Bertie precisará se desnudar diante do médico, tirar o invólucro de realeza que o protege e esconde sua deficiência das pessoas comuns (*desde que não abra a boca*) e tudo começa com Logue o chamando pelo nome, pior, pelo apelido. De novo a expressão corporal e facial de Colin Firth são um primor.
E tome diálogos maravilhosos, verdadeiros duelos entre Firth e Hush. E sempre tudo tem um toque de humor. Fazia muito tempo que não via um filme com o Geoffrey Hush, tinha quase esquecido de como ele é fascinante, arrebatador. Ele convence como o terapeuta pouco ortodoxo que se torna amigo do Rei. Se torna amigo, debochando muitas vezes da própria monarquia, afinal, é ela uma das fontes da doença do seu paciente. A monarquia é esse “emprego” que não pode ser largado, ainda que não se tenha vocação, como fica caracterizado na primeira conversa entre Geoffrey Hush e Helena Borham-Carter. Daí, é injusto tentar dizer que O Discurso do Rei é um filme só de Colin Firth, ele é um filme de dois grandes atores, dois gigantes, que muita gente não conhece, porque costuma não fugir muito do cinemão americano convencional, ou acha que os bons atores só são aqueles que são indicados e ganham Oscar.
A crítica à monarquia no filme está presente desde o início, e, de forma sutil ou aberta, somos levados a se questionar sobre a racionalidade de todo um sistema, ou pelo menos, eu fui (*não que eu achasse algo bonito antes, que fique claro*). E ela se torna mais dura com a apresentação da família fria que produziu o príncipe gago. Uma mãe distante, a Rainha Mary, com a cena emblemática do filho mais velho se atirando nos seus braços aos prantos quando da morte do pai e ela simplesmente se negando a abraçá-lo. Ainda que esta cena seja uma invenção, pois Eduardo VIII parece não ter estado presente na morte do pai, ela tem a função de ajudar a caracterizar a família. Acho que ela foi retirada do filme de 2003, Bertie & Elizabeth (*e não foi a única coisa retirada de lá*), só que lá o pranto do novo rei era mais sincero e a reação da mãe, mais humana. Temos também o pai autoritário, que pode ser definido por uma frase “Meu pai tinha medo do pai dele, eu tinha medo do meu pai, e espero que meus filhos tenham muito medo de mim”. Será que preciso dizer mais? Sim, mas ainda temos o irmão mais velho “perfeito” com liberdade, dada pelo pai, para debochar do irmão canhoto (*foi punido para deixar de ser*), gago, tímido e de pernas tortas (*teve que usar por anos na infância placas de metal doloridas nas pernas para se corrigir*). Tudo, claro, para que ele vire “homem de verdade”. Se esta é a família real, você gostaria de fazer parte dela?
Esses detalhes sórdidos, cruéis, vão sendo revelados de forma muito sutil ao longo da terapia, especialmente na cena da montagem da maquete de avião. Só quando o príncipe se abre totalmente, falando inclusive do irmão caçula que foi escondido de todos por ser epilético, e que morreu aos 13 anos (*A BBC tem uma minissérie sobre ele, chamada The Lost Prince, está aqui para eu assistir*), é que ele começa realmente a se curar. E paciente e terapeuta brigam, já que Bertie tem um gênio explosivo, ainda que contido, se enfrentam, mas o trabalho segue adiante. Quando li em uma entrevista sobre a possível censura que o filme poderia sofrer para se enquadrar em censura livre nos EUA (PG13), imaginei um ou outro palavrão... Nada disso, faz parte da terapia, da libertação, xingar muito... E o Colin Firth derrama uma torrente de palavras “feias” em cima da gente, rendendo ótimas seqüências.
Para fazer um contraponto com a infância torturante que teve, Bertie tenta ser um bom pai para as filhas. Parece que isso procede e as cenas em família de Bertie, Elizabeth e as duas meninas, a futura rainha Elizabeth II e sua irmã Margareth, são bem simpáticas. Só que o peso da monarquia está lá e fica muito marcado quando as meninas vêem o pai recém convertido em rei e todo paramentado. Ele abre os braços para abraçar as meninas e elas se contêm e se curvam, porque é assim que se cumprimenta um Rei. De novo, a expressão facial e corporal de Firth dão o tom da cena e ele avança para beijar as filhas. O filme, aliás, abusa do close-up no protagonista, o foco fechado nele mostram a solidão, o medo e, em alguns momentos, o alívio.
O Discurso do Rei é um filme de atores, são eles – Colin Firth e Geoffrey Hush – e ela – Helena Borham-Carter – a alma do filme. Temos ainda a presença de outras carinhas conhecidas, principalmente de quem assiste minisséries da BBC e filmes ingleses, como Michael Gambon e Jennifer Ehle, só para citar dois deles. Para os fãs de Orgulho & Preconceito, a minissérie da BBC, temos a boa surpresa do reencontro entre Colin Firth (Darcy) e Jennifer Ehle (Elizabeth), 15 anos depois. É coisa rápida, mas foi uma cena bem curiosa, até porque é um dos momentos engraçadinhos do filme. E a Helena Borham-Carter ao conhecer a esposa do terapeuta, Jennifer Ehle, solta algo mais ou menos assim “Seu marido chama o meu de Bertie, e ele o chama de Lionel. Mas você não vai me chamar de Liz, porque eu não permito isso.” Foi com ver Borham-Carter, uma atriz que eu gosto muito, fazendo “gente normal” depois de um bom tempo.
Aliás, Elizabeth, depois conhecida como Rainha-Mãe, e membro mais popular da casa real inglesa por muito tempo, é uma personagem cheia de nuances, é amorosa e capaz de fazer tudo pela felicidade do marido, mas, ao mesmo tempo, muito ciosa da etiqueta e orgulhosa. Elizabeth (mãe) não é uma personagem doce, ela passa aquela imagem de nobreza distante, fria, ciente do seu papel figurativo, da sua dignidade, mas a personagem é humanizada na relação com o marido e as filhas. É bonitinha a cena do carro, onde ela diz que Wallis Simpson, sua inimiga, a chamava de cozinheira gorda. Bertie diz que ela não é gorda. Ela retruca que está ficando cheinha, daí ele emenda dizendo que “mas você raramente cozinha”. Outra cena bonita, mas dessa vez dramática, entre Colin Firth e Helena Borham-Carter (*não sei se eles atuaram juntos antes, acho que não*) é quando ela explica porque o rejeitou duas vezes, porque queria continuar invisível, não por não gostar dele, mas a realeza é um peso. É logo depois dele se tornar rei e começar a colocar pé nos assuntos de Estado. Ele termina chorando nos braços dela. De fato, ela foi a primeira esposa de príncipe inglês, desde os tempos de Henrique VIII, a não vir de uma casa reinante. Ela só era da nobreza. Bertie queria casar com ela, e jurou que se não fizesse isso, não casaria com mais ninguém. Ela terminou aceitando, e o rei e a rainha cedendo. Mal sabia eles da dor de cabeça que o filho mais velho lhes daria...
Mas o filme tem pontos fracos, claro, alguns deles podem ser relevados, mas todos precisam ser ponderados. Vejam bem, Eduardo VIII renunciou ao trono, porque amava Wallis Simpson. Está no discurso de abdicação, ele não suportaria reinar sem a mulher amada ao seu lado, dando-lhe suporte. E eu acredito nisso e não vou colocar em questão esse dado. No entanto, ela não era uma “ameaça” somente por ser americana, plebéia, e duas vezes divorciada. Há um expediente nas monarquias que é o casamento morganático, eles poderiam se casar, só que ela jamais seria rainha e seus filhos não teriam direito ao trono, mas todos ficariam felizes. É o caso de Charles e Camilla Parker-Bowles. Só que a coisa era mais complicada. Simpson era simpatizante nazista, suspeita mesmo de ser espiã e estávamos às vésperas da II Guerra. Percebem o quanto esse casamento poderia ser indesejável?
No filme, não se fala disso, só se comenta sobre seus possíveis casos amorosos, mesmo tendo um relacionamento fixo com o príncipe. O mais periogoso deles, com o embaixador alemão em Londres, o famoso Ribbentrop, do Pacto Germano-Soviético. Na verdade, em todo o filme, o problema de Simpson é sempre moral. Até poderia ser, também, mas gente como Winston Churchill deveria ir além da fofoquinha de salão que a esposa de Bertie, Elizabeth, ajudava a alimentar. Nesse ponto, O Discurso do Rei não é melhor que Bertie e Elizabeth, na verdade, é, porque Wallis Simpson mal aparece e não tentam apresentá-la simplesmente como uma “prostituta vulgar” e “burra”. Uma mulher vulgar e sem atrativos não faria um rei renunciar ao trono para casar com ela e eles não ficariam juntos até a morte.
Agora, a parte mais cabeluda é que continuam evitando falar que Eduardo VIII, desde os tempos em que era David, o Príncipe de Gales, era simpatizante nazista, como tantos outras pessoas. Não era culpa de Simpson, talvez a simpatia por Hitler – que o próprio George VI mostra em um breve momento de inveja da oratória do Füher – pode ter ajudado a unir os dois. David, apesar de ser principalmente o playboy, também era dado a fazer discursos inflamados prometendo que promoveria reformas trabalhistas à moda nazista, coisa que nenhum rei da Inglaterra poderia prometer, já que quem tem essas responsabilidade são o primeiro-ministro e o parlamento, muito menos o príncipe herdeiro. Depois de Rei, passou por cima do primeir-ministro e negociou diretamente com o embaixador alemão... Veja só que perigo! Ou seja, ainda hoje, os filmes sobre a monarquia inglesa tentam anular essa ligação entre certos membros da casa real e o nazismo, que era um modelo muito bem sucedido nos anos 1930. O Discurso do Rei nem fala dos elos nazistas de Wallis Simpson, anula tudo, ignora tudo, cala-se sobre tudo. Neste caso, trata-se de uma tentativa de manter uma boa imagem artificial da monarquia, sim. É minha única conclusão. Tudo fica no nível pessoal e temos então de um lado, o sujeito que se nega a assumir responsabilidades e se sacrificar pelo seu povo, e do outro, o sujeito que mesmo sabendo de suas deficiências, se entrega para o sacrifício. O Discurso do Rei poderia e deveria ir além aqui. Só por causa disso, não posso dar nota 10.
Como o filme é entre um paciente gago e seu terapeuta, essa questão do nazismo poderia ser resolvida fácil, em poucas linhas de diálogo, em um filmete, como em Bertie & Elizabeth que mostra a visita que David fez à Alemanha nazista depois da abdicação. O próprio filme dá a deixa, pois há diálogos, um deles entre Bertie e o já rei Eduardo VIII sobre o avanço dos comunistas. “Onde está o Czar agora? E nosso primo Willie (*o kaiser alemão*)?”, pergunta Bertie temendo pelo futuro da monarquia britânica diante das loucuras de David. Há quem se negue a ver que na Inglaterra, desde o século XIX, havia quem defendesse a República, nas suas mais diferentes formas. David diz que Herr Hitler irá barrar Stálin.
Ora, para quem sabe um pouco de História esse diálogo basta. Está caracterizada a precária política de não-agressão inglesa que ajudou a conduzir a Europa à II Grande Guerra, a negligência em relação às leis antissemitas germânicas e tudo mais. Nisso o filme foi bem enxuto e coerente, mas ele evita associar membros da família real ao nazismo. David é só um cabeça de vento. Ainda ligada a questão de Hitler, temos a única cena constrangedora do filme. Única mesmo! É a da renúncia do primeiro-ministro que se desculpa com o rei, agora George VI, por não ter percebido “a maldade” de Hitler. Roteirista e diretor poderiam ter nos poupado daquela fala infantil... Afinal, Hitler só receberia aqueles adjetivos usados bem depois, quando a guerra realmente estivesse correndo solta e a "caixa preta" do Holocausto começasse a ser aberta.
Acredito que é hora de concluir essa longa resenha... Colin Firth merece o Oscar? Sim, merece. Ele está impecável, tanto quanto em A Single Man, que era um filme melhor. Se levar o Oscar é justo e merecido, não um prêmio de consolação. Geoffrey Hush merece o Oscar de coadjuvante? Merece, mas não vai levar. Helena Borham-Carter está ótima como Elizabeth? Sim. Foi ótimo revê-la fazendo uma pessoa e não uma caricatura de qualquer coisa? Sim. Ela merece o Oscar? Não sei. Eu realmente não sei se daria para ela se pudesse escolher, mas se ela emplacar ótimos papéis “normais”, ela pode levar depois. Se houvesse um Oscar pelo conjunto dos atores, um prêmio de elenco, seria sob medida para O Discurso do Rei. Acho que o discurso pode levar roteiro original e, principalmente, figurino. Nesse caso, é meio clichê darem para filmes de época e de reis e rainhas. Mas, ainda assim, seria muito merecido. Melhor filme? Não, acho que leva e, vou ser franca, Cisne Negro é muito mais impressionante, arrebatador, terrível.
E chegamos ao ponto que eu queria, o diretor de O Discurso do Rei é correto, mas é invisível, o filme é dos atores, todos ótimos. Não vi nada do Hooper antes, talvez esteja sendo injusta, mas, em nenhum momento, eu pensei no diretor, que ele deve ter tido alguma sacada genial. Vi inclusive cenas que podem ter sido chupadas de outros filmes, como a que eu descrevi. Sei que ele levou o DGA, isso o coloca na frente cós concorrentes, mas preferia muito mais que fosse para o Darren Aranofsky, pois vemos a marca dele no filme. E de resto, o que volta e meia me pergunto, especialmente quando vejo filmes ingleses é “por que o Colin Firth é quase o único dos grandes atores ingleses que não deu as caras em Harry Potter?” Nada a ver com esse filme, eu sei, mas eu sempre me pergunto... Ah, sim, e o filme cumpre a Bechdel Rule, ainda que seja "O Discurso do Rei". Há mais de seis personagens mulheres e com nome no filme, elas conversam entre si e, nem sempre, é sobre algum homem.
O Discurso do Rei (The King’s Speech) foca na relação entre o Príncipe Albert (Colin Firth), Bertie, para os íntimos, depois Rei George VI, e seu terapeuta, Lionel Logue (Geoffrey Hush). O príncipe é gago e sua condição o envergonha e atormenta, já que, na Era do Rádio, não é mais possível, como diz seu pai, o Rei George V (Michael Gambon), somente posar de uniforme e se esforçar para não cair do cavalo. Para piorar a situação, a polêmica relação do Príncipe de Gales, futuro Eduardo VIII, com uma americana, plebéia, duas vezes divorciada, pode terminar colocando Albert no trono. E são tempos difíceis, pois a Europa caminha para a II Guerra Mundial. Desesperado, mas contando com o apoio da esposa (Helena Borham-Carter), o Príncipe finalmente contrata Logue, que com seus métodos pouco ortodoxos consegue, aos poucos, ganhar o respeito e a amizade do paciente, criando uma relação de cumplicidade que possibilita ao príncipe confrontar seus fantasmas e ganhar a confiança para falar por si mesmo.
Eu gostei muito do Discurso do Rei. Não se trata de um filme louvando a monarquia inglesa, como alguns críticos andam repetindo por aí, aliás, a rejeição a filmes sobre reis e rainhas, e a esta forma de governo como um todo, faz com que muita gente só veja defeitos em filmes deste tipo. Foi assim com o excelente A Jovem Rainha Vitória no ano passado, mas, como O Discurso do Rei recebeu 12 indicações ao Oscar, não é possível só torcer o nariz ou ignorar, é preciso um pouquinho mais de atenção. Pois bem, O Discurso merece toda a atenção, especialmente, porque fala de superação, fala de como uma família – especialmente pai e mãe – distantes, negligentes e até cruéis podem marcar negativamente a vida de uma pessoa, e é o melhor filme que eu já vi sobre relação entre paciente e terapeuta.
Bertie, futuro George VI, é o paciente. Sua gagueira é acentuada por situações de tensão e discursar em público é algo dramático para ele. O fracasso se torna ainda mais pesado, porque, pelo menos no filme, ele sabe, no seu íntimo que pode ter que assumir o lugar do irmão, que é mais velho, mais charmoso, e fala muito bem. Viver nas sombras poderia ser a opção para o segundo filho de um rei, mas ele deu azar... muito azar. Ou sorte, talvez, pois para efeito dramático é exatamente esse perigo que o obriga a procurar ajuda. Primeiro, de médicos subservientes e incompetentes, pois lhe recomendaram o fumo para curar a gagueira. George VI morreu aos 57 anos de câncer nos pulmões. Olha, quando fiquei sabendo desse detalhe, que está no filme, fiquei me perguntando se os médicos dos reis da Inglaterra não tinham melhorado nada em relação ao início do século anterior. Parece que, não. Aliás, comentei bastante sobre isso na resenha sobre A Jovem Rainha Vitória.
O que parece aterrorizar mais Bertie antes de ser rei é o tal Discurso de Natal. Uma tradição “inventada”, como Eric Hobsbawn bem explicou em um de seus livros, mas que parece sólida e eterna. É depois de um deles que há uma excelente conversa entre o rei George V e seu segundo filho. Ali, o velho rei fala que os monarcas do século XX precisam ser artistas, culpa do rádio (*e do cinema*). Mas explica algo mais antigo: é pela fala que alguém – um homem, claro, e nobre – se impõe e domina. Bertie não tem voz ainda, portanto, ele é menos que um homem e não honra seu sangue nobre. Para aumentar a carga dramática, o velho rei também parece suspeitar que a “salvação” da monarquia inglesa estará nas costas daquele filho inseguro. A expressão corporal de Colin Firth nesta cena e em outras tantas em que a personagem está acuada, são um primor, pois mostram toda a auto-repressão que ele se impõe, sua frustração e medo, sua pequenez. Já no final do filme, um aterrorizado George VI, se pergunta porque ele precisa fazer o discurso de declaração de guerra se ele, como rei, não pode escolher ministros ou governar de fato, se ele tem somente um cargo simbólico e consultivo, porque precisa ser "a voz"?
Logue, o terapeuta australiano, não é o que gostaria de ser, não é um vencedor. Seu desejo , que ele continua perseguindo, é atuar no teatro, mas ele fracassa. E temos uma cena deliciosa onde o ator que fez o Mr. Collins em Orgulho & Preconceito, de 1995, e várias outras personagens asquerosas, humilhando Logue, porque ele esta velho demais para a companhia de teatro e porque ele tem sotaque australiano. Logue, no entanto, não se entrega à frustração, ele tem um talento, ainda que não tenha um diploma, e se dedica a curar pessoas com problemas de fala. Quando encontra com o Príncipe, ele deixa claro que o problema não é somente mecânico, como o paciente deseja acreditar, mas que o mal está dentro dele, tem a ver, muito provavelmente, com sua infância. “Para se curar, é preciso desejar ser curado”, esse é o mote. Só que para se curar, Bertie precisará se desnudar diante do médico, tirar o invólucro de realeza que o protege e esconde sua deficiência das pessoas comuns (*desde que não abra a boca*) e tudo começa com Logue o chamando pelo nome, pior, pelo apelido. De novo a expressão corporal e facial de Colin Firth são um primor.
E tome diálogos maravilhosos, verdadeiros duelos entre Firth e Hush. E sempre tudo tem um toque de humor. Fazia muito tempo que não via um filme com o Geoffrey Hush, tinha quase esquecido de como ele é fascinante, arrebatador. Ele convence como o terapeuta pouco ortodoxo que se torna amigo do Rei. Se torna amigo, debochando muitas vezes da própria monarquia, afinal, é ela uma das fontes da doença do seu paciente. A monarquia é esse “emprego” que não pode ser largado, ainda que não se tenha vocação, como fica caracterizado na primeira conversa entre Geoffrey Hush e Helena Borham-Carter. Daí, é injusto tentar dizer que O Discurso do Rei é um filme só de Colin Firth, ele é um filme de dois grandes atores, dois gigantes, que muita gente não conhece, porque costuma não fugir muito do cinemão americano convencional, ou acha que os bons atores só são aqueles que são indicados e ganham Oscar.
A crítica à monarquia no filme está presente desde o início, e, de forma sutil ou aberta, somos levados a se questionar sobre a racionalidade de todo um sistema, ou pelo menos, eu fui (*não que eu achasse algo bonito antes, que fique claro*). E ela se torna mais dura com a apresentação da família fria que produziu o príncipe gago. Uma mãe distante, a Rainha Mary, com a cena emblemática do filho mais velho se atirando nos seus braços aos prantos quando da morte do pai e ela simplesmente se negando a abraçá-lo. Ainda que esta cena seja uma invenção, pois Eduardo VIII parece não ter estado presente na morte do pai, ela tem a função de ajudar a caracterizar a família. Acho que ela foi retirada do filme de 2003, Bertie & Elizabeth (*e não foi a única coisa retirada de lá*), só que lá o pranto do novo rei era mais sincero e a reação da mãe, mais humana. Temos também o pai autoritário, que pode ser definido por uma frase “Meu pai tinha medo do pai dele, eu tinha medo do meu pai, e espero que meus filhos tenham muito medo de mim”. Será que preciso dizer mais? Sim, mas ainda temos o irmão mais velho “perfeito” com liberdade, dada pelo pai, para debochar do irmão canhoto (*foi punido para deixar de ser*), gago, tímido e de pernas tortas (*teve que usar por anos na infância placas de metal doloridas nas pernas para se corrigir*). Tudo, claro, para que ele vire “homem de verdade”. Se esta é a família real, você gostaria de fazer parte dela?
Esses detalhes sórdidos, cruéis, vão sendo revelados de forma muito sutil ao longo da terapia, especialmente na cena da montagem da maquete de avião. Só quando o príncipe se abre totalmente, falando inclusive do irmão caçula que foi escondido de todos por ser epilético, e que morreu aos 13 anos (*A BBC tem uma minissérie sobre ele, chamada The Lost Prince, está aqui para eu assistir*), é que ele começa realmente a se curar. E paciente e terapeuta brigam, já que Bertie tem um gênio explosivo, ainda que contido, se enfrentam, mas o trabalho segue adiante. Quando li em uma entrevista sobre a possível censura que o filme poderia sofrer para se enquadrar em censura livre nos EUA (PG13), imaginei um ou outro palavrão... Nada disso, faz parte da terapia, da libertação, xingar muito... E o Colin Firth derrama uma torrente de palavras “feias” em cima da gente, rendendo ótimas seqüências.
Para fazer um contraponto com a infância torturante que teve, Bertie tenta ser um bom pai para as filhas. Parece que isso procede e as cenas em família de Bertie, Elizabeth e as duas meninas, a futura rainha Elizabeth II e sua irmã Margareth, são bem simpáticas. Só que o peso da monarquia está lá e fica muito marcado quando as meninas vêem o pai recém convertido em rei e todo paramentado. Ele abre os braços para abraçar as meninas e elas se contêm e se curvam, porque é assim que se cumprimenta um Rei. De novo, a expressão facial e corporal de Firth dão o tom da cena e ele avança para beijar as filhas. O filme, aliás, abusa do close-up no protagonista, o foco fechado nele mostram a solidão, o medo e, em alguns momentos, o alívio.
O Discurso do Rei é um filme de atores, são eles – Colin Firth e Geoffrey Hush – e ela – Helena Borham-Carter – a alma do filme. Temos ainda a presença de outras carinhas conhecidas, principalmente de quem assiste minisséries da BBC e filmes ingleses, como Michael Gambon e Jennifer Ehle, só para citar dois deles. Para os fãs de Orgulho & Preconceito, a minissérie da BBC, temos a boa surpresa do reencontro entre Colin Firth (Darcy) e Jennifer Ehle (Elizabeth), 15 anos depois. É coisa rápida, mas foi uma cena bem curiosa, até porque é um dos momentos engraçadinhos do filme. E a Helena Borham-Carter ao conhecer a esposa do terapeuta, Jennifer Ehle, solta algo mais ou menos assim “Seu marido chama o meu de Bertie, e ele o chama de Lionel. Mas você não vai me chamar de Liz, porque eu não permito isso.” Foi com ver Borham-Carter, uma atriz que eu gosto muito, fazendo “gente normal” depois de um bom tempo.
Aliás, Elizabeth, depois conhecida como Rainha-Mãe, e membro mais popular da casa real inglesa por muito tempo, é uma personagem cheia de nuances, é amorosa e capaz de fazer tudo pela felicidade do marido, mas, ao mesmo tempo, muito ciosa da etiqueta e orgulhosa. Elizabeth (mãe) não é uma personagem doce, ela passa aquela imagem de nobreza distante, fria, ciente do seu papel figurativo, da sua dignidade, mas a personagem é humanizada na relação com o marido e as filhas. É bonitinha a cena do carro, onde ela diz que Wallis Simpson, sua inimiga, a chamava de cozinheira gorda. Bertie diz que ela não é gorda. Ela retruca que está ficando cheinha, daí ele emenda dizendo que “mas você raramente cozinha”. Outra cena bonita, mas dessa vez dramática, entre Colin Firth e Helena Borham-Carter (*não sei se eles atuaram juntos antes, acho que não*) é quando ela explica porque o rejeitou duas vezes, porque queria continuar invisível, não por não gostar dele, mas a realeza é um peso. É logo depois dele se tornar rei e começar a colocar pé nos assuntos de Estado. Ele termina chorando nos braços dela. De fato, ela foi a primeira esposa de príncipe inglês, desde os tempos de Henrique VIII, a não vir de uma casa reinante. Ela só era da nobreza. Bertie queria casar com ela, e jurou que se não fizesse isso, não casaria com mais ninguém. Ela terminou aceitando, e o rei e a rainha cedendo. Mal sabia eles da dor de cabeça que o filho mais velho lhes daria...
Mas o filme tem pontos fracos, claro, alguns deles podem ser relevados, mas todos precisam ser ponderados. Vejam bem, Eduardo VIII renunciou ao trono, porque amava Wallis Simpson. Está no discurso de abdicação, ele não suportaria reinar sem a mulher amada ao seu lado, dando-lhe suporte. E eu acredito nisso e não vou colocar em questão esse dado. No entanto, ela não era uma “ameaça” somente por ser americana, plebéia, e duas vezes divorciada. Há um expediente nas monarquias que é o casamento morganático, eles poderiam se casar, só que ela jamais seria rainha e seus filhos não teriam direito ao trono, mas todos ficariam felizes. É o caso de Charles e Camilla Parker-Bowles. Só que a coisa era mais complicada. Simpson era simpatizante nazista, suspeita mesmo de ser espiã e estávamos às vésperas da II Guerra. Percebem o quanto esse casamento poderia ser indesejável?
No filme, não se fala disso, só se comenta sobre seus possíveis casos amorosos, mesmo tendo um relacionamento fixo com o príncipe. O mais periogoso deles, com o embaixador alemão em Londres, o famoso Ribbentrop, do Pacto Germano-Soviético. Na verdade, em todo o filme, o problema de Simpson é sempre moral. Até poderia ser, também, mas gente como Winston Churchill deveria ir além da fofoquinha de salão que a esposa de Bertie, Elizabeth, ajudava a alimentar. Nesse ponto, O Discurso do Rei não é melhor que Bertie e Elizabeth, na verdade, é, porque Wallis Simpson mal aparece e não tentam apresentá-la simplesmente como uma “prostituta vulgar” e “burra”. Uma mulher vulgar e sem atrativos não faria um rei renunciar ao trono para casar com ela e eles não ficariam juntos até a morte.
Agora, a parte mais cabeluda é que continuam evitando falar que Eduardo VIII, desde os tempos em que era David, o Príncipe de Gales, era simpatizante nazista, como tantos outras pessoas. Não era culpa de Simpson, talvez a simpatia por Hitler – que o próprio George VI mostra em um breve momento de inveja da oratória do Füher – pode ter ajudado a unir os dois. David, apesar de ser principalmente o playboy, também era dado a fazer discursos inflamados prometendo que promoveria reformas trabalhistas à moda nazista, coisa que nenhum rei da Inglaterra poderia prometer, já que quem tem essas responsabilidade são o primeiro-ministro e o parlamento, muito menos o príncipe herdeiro. Depois de Rei, passou por cima do primeir-ministro e negociou diretamente com o embaixador alemão... Veja só que perigo! Ou seja, ainda hoje, os filmes sobre a monarquia inglesa tentam anular essa ligação entre certos membros da casa real e o nazismo, que era um modelo muito bem sucedido nos anos 1930. O Discurso do Rei nem fala dos elos nazistas de Wallis Simpson, anula tudo, ignora tudo, cala-se sobre tudo. Neste caso, trata-se de uma tentativa de manter uma boa imagem artificial da monarquia, sim. É minha única conclusão. Tudo fica no nível pessoal e temos então de um lado, o sujeito que se nega a assumir responsabilidades e se sacrificar pelo seu povo, e do outro, o sujeito que mesmo sabendo de suas deficiências, se entrega para o sacrifício. O Discurso do Rei poderia e deveria ir além aqui. Só por causa disso, não posso dar nota 10.
Como o filme é entre um paciente gago e seu terapeuta, essa questão do nazismo poderia ser resolvida fácil, em poucas linhas de diálogo, em um filmete, como em Bertie & Elizabeth que mostra a visita que David fez à Alemanha nazista depois da abdicação. O próprio filme dá a deixa, pois há diálogos, um deles entre Bertie e o já rei Eduardo VIII sobre o avanço dos comunistas. “Onde está o Czar agora? E nosso primo Willie (*o kaiser alemão*)?”, pergunta Bertie temendo pelo futuro da monarquia britânica diante das loucuras de David. Há quem se negue a ver que na Inglaterra, desde o século XIX, havia quem defendesse a República, nas suas mais diferentes formas. David diz que Herr Hitler irá barrar Stálin.
Ora, para quem sabe um pouco de História esse diálogo basta. Está caracterizada a precária política de não-agressão inglesa que ajudou a conduzir a Europa à II Grande Guerra, a negligência em relação às leis antissemitas germânicas e tudo mais. Nisso o filme foi bem enxuto e coerente, mas ele evita associar membros da família real ao nazismo. David é só um cabeça de vento. Ainda ligada a questão de Hitler, temos a única cena constrangedora do filme. Única mesmo! É a da renúncia do primeiro-ministro que se desculpa com o rei, agora George VI, por não ter percebido “a maldade” de Hitler. Roteirista e diretor poderiam ter nos poupado daquela fala infantil... Afinal, Hitler só receberia aqueles adjetivos usados bem depois, quando a guerra realmente estivesse correndo solta e a "caixa preta" do Holocausto começasse a ser aberta.
Acredito que é hora de concluir essa longa resenha... Colin Firth merece o Oscar? Sim, merece. Ele está impecável, tanto quanto em A Single Man, que era um filme melhor. Se levar o Oscar é justo e merecido, não um prêmio de consolação. Geoffrey Hush merece o Oscar de coadjuvante? Merece, mas não vai levar. Helena Borham-Carter está ótima como Elizabeth? Sim. Foi ótimo revê-la fazendo uma pessoa e não uma caricatura de qualquer coisa? Sim. Ela merece o Oscar? Não sei. Eu realmente não sei se daria para ela se pudesse escolher, mas se ela emplacar ótimos papéis “normais”, ela pode levar depois. Se houvesse um Oscar pelo conjunto dos atores, um prêmio de elenco, seria sob medida para O Discurso do Rei. Acho que o discurso pode levar roteiro original e, principalmente, figurino. Nesse caso, é meio clichê darem para filmes de época e de reis e rainhas. Mas, ainda assim, seria muito merecido. Melhor filme? Não, acho que leva e, vou ser franca, Cisne Negro é muito mais impressionante, arrebatador, terrível.
E chegamos ao ponto que eu queria, o diretor de O Discurso do Rei é correto, mas é invisível, o filme é dos atores, todos ótimos. Não vi nada do Hooper antes, talvez esteja sendo injusta, mas, em nenhum momento, eu pensei no diretor, que ele deve ter tido alguma sacada genial. Vi inclusive cenas que podem ter sido chupadas de outros filmes, como a que eu descrevi. Sei que ele levou o DGA, isso o coloca na frente cós concorrentes, mas preferia muito mais que fosse para o Darren Aranofsky, pois vemos a marca dele no filme. E de resto, o que volta e meia me pergunto, especialmente quando vejo filmes ingleses é “por que o Colin Firth é quase o único dos grandes atores ingleses que não deu as caras em Harry Potter?” Nada a ver com esse filme, eu sei, mas eu sempre me pergunto... Ah, sim, e o filme cumpre a Bechdel Rule, ainda que seja "O Discurso do Rei". Há mais de seis personagens mulheres e com nome no filme, elas conversam entre si e, nem sempre, é sobre algum homem.
10 pessoas comentaram:
Muito boa resenha, detalhista, uma aula!!!
Obrigada, Pandora. ;) Se assistir ao filme, diga o que achou.
"O discurso do rei" não é o tipo de filme que me faria ir no cinema, mas Colin Firth me faz deixar a preguiça de lado($) e conferir sua performance. Helena Borham-Carter também é ótima. O trailer está bem convidativo.
Valéria, você cada vez mais está fazendo resenhas EXCELENTES! Enfim, não deixe de fazer isso, porque é muito bom ler e comentar essas resenhas que você escreve com tanto carinho para o shoujo café. Nós leitores agradecemos!
Acho que verei o filme quando ele sair em dvd, só há chances dele aparecer nos cinemas daqui se ganhar algum(ns) oscar(s) muito importante(s).
Sobre a Helena Bonham-Carter eu escutei uma piada muito boa dizendo que ela deveria ganhar o Oscar pq foi a primeira vez que ela não interpretou a si mesma.
Quem disse isso da Helena Bonham-Carter, deve só lembrar dela depois que casou com o Tim Burton. ela tem uma filmografia anterior excelente. Uma Janela para o Amor, Lady Jane, são ótimos exemplos. Fora o material da BBC.
A mulher do Logue é a Jennifer Ehle!??? Eu não a reconheci!!! OMG!!!! O___O
Amei esse filme e ele me emocionou por vários motivos. Colin Firth está maravilhoso, espero muito que ganhe o Oscar!
É, sim, Lina. Preste atenção na cena dela com o Firth... Ali, há um quê de lembrando Orgulho & Preconceito. Ela está bem discreta... tipo a dona de casa dedicada ao marido e aos filhos... E parece mais envelhecida do que talvez seja. ^_^
Ótima resenha, Valéria! Fico feliz de tê-la lido antes de sair para assistir o filme.
Como eu disse no Twitter, me fez abrir os olhos e ficar atenta a detalhes que passariam desapercebidos, caso eu não tivesse visto a resenha antes.
Como você disse, devia existir um Oscar para o melhor elenco, pois todos os atores brilham neste filme. E a química de Colin Firth, Helena Borham-Carter e Geoffrey Rush é perfeita!
Quem ainda não viu, por favor, assistam no cinema, o filme é maravilhoso! ^^
Gostei bastante do filme, as atuações estão ótimas! Mas me impressionei que me questionei nos mesmos pontos que você: a relação com o nazismo, que pelo que o filme passa parece que sempre foi algo visto como "maligno", e por que diabos Colin Firth é um dos únicos grandes atores britânicos que não dá as caras em Harry Potter. E que venha o Oscar dele. =)
Adorei ver Colin Firth e Jennifer Ehle juntos novamente depois de tantos anos !Simplesmente MARAVILHOSO!!Voltei aos tempos de Orgulho e Preconceito!
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