terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Comentando Not Love But Delicious Foods



Not Love But Delicious Foods ou Ai ga Nakute mo Kutte Yukemasu (愛がなくても喰ってゆけます。) é um mangá oneshot de Fumi Yoshinaga que saiu no final do ano passado nos EUA pela editora Yen Press. O volume, formado por histórias curtas, bem curtas mesmo, foi publicado em 2005, no Japão, na revista Manga Erotics F. Em Not Love But Delicious Foods, Yoshinaga fala da sua segunda paixão, a boa comida, e faz um guia de restaurantes – de verdade mesmo – que qualquer pessoa pode visitar quando for ao Japão. Há endereços, dados sobre preços, descrições dos melhores pratos, mapa para que você possa achar o estabelecimento e tudo mais que for relevante. A cada história, Yoshinaga vai a um restaurante diferente algum de seus amigos ou vários deles e ficamos conhecendo um pouco mais sobre a autora que se descreve logo no início como “F-mi Y-naga (*e todos usam nomes com traços para esconder sua identidade original*), uma mulher de 31 anos que ganha a vida desenhando homens praticando sexo anal”.

Sim, foi o mangá mais engraçado que eu li da autora, mas, também, foi o mais torturante, porque são tantas comidas deliciosas que eu fiquei deprimida de não poder comer os pães recheados, tortas, sorvetes e outras coisas que ela desenhou e descreveu com tanto esmero. Claro que eu dispensaria muita coisa, como as carnes cruas, a fixação por fígado, e ouriços do mar. E quando eu falo deprimida, falo sério, porque eu estava em São João de Meriti, aqui na casa dos meus pais, e não tinha nem como ligar e pedir uma pizza ou para o Habib’s ou descer no Subway, que seria a opção mais fácil na minha casa. Tive que me contentar com um pão sem graça... :(

Not Love But Delicious Foods é o mangá de Yoshinaga com o maior número de personagens, eu acho. Há a amiga magra e linda, mas atormentada pelo demônio da fome, quando ela e Yoshinaga vão a um restaurante popular, elas comem tanto e acabam pagando tão caro que recebem agradecimentos de todas as personagens; há o amigo que todos os amigos sabem que é gay, menos Yoshinaga, e é hilário ela se desculpando com o rapaz por falar de gays em seus mangás sem falar de gays de verdade; há a amiga que só come doces e sobreviveu por quatro dias somente do bufê de tortas de um hotel e lambendo um pouquinho de sal para não sair do ar; há o assistente pouco competente mas muito autoritário de Yoshinaga que mora com ela e promove um goukon (*aqueles encontros arranjados*) com um sujeito igualzinho ao Tachibana de Antique Bakery (*西洋 骨董 洋菓子店 Seiyō Kottō Yōgashiten*), Yoshinaga assedia sexualmente o sujeito de forma tão ostensiva que ele tem que se esforçar para não colocar para fora toda a comida (*Pela primeira vez ele quase teve que "prestar reverência ao deus de cerâmica" ^_^*). São muitos tipos e Yoshinaga coloca no mangá todas as variações possíveis das suas personagens.

O mangá mostra muito bem a tensão sofrida pelos mangá-kas, especialmente em relação aos prazos, e como Yoshinaga compensa esse stress comendo, ela diz que é seu segundo prazer e que só não pensa em comida quando está dormindo e trabalhando... quer dizer, ela diz que, às vezes, pensa em comida quando trabalha, também. Afinal, eu já desconfiava que ela gostava de comer desde Antique. ^_^ Fora isso, há várias questões culturais abordadas no mangá, como o fato da carne vermelha ser vista como “comida de homem”, ou a pressão para que as pessoas, especialmente as mulheres, se casem, fora uma abundante distribuição de psicologia rasteira (*e hilária*) na análise dos hábitos alimentares e comprotamentos dos amigos e amigas da mangá-ka. Um dos lances mais engraçados é como Yoshinaga vai do tipo desleixado e assustador no seu modo de trabalho para uma figura absolutamente espalhafatosa quando se veste para sair. Segundo seu colega de apartamento “a moda esquisita é o último refúgio dos feios”.

Aliás, o melhor do mangá são essas frases de efeito super inspiradas. E o colega de apartamento da Yoshinaga é quem mais aparece depois dela. Ele foi seu kouhai na faculdade e ela quer que ele siga carreira como mangá-ka, mas ele não evolui sequer como assistente. Então Yoshhinaga insiste para que outros colegas mangá-kas o contratem temporariamente, para que ele ganhe experiência. O sujeito, no entanto, é muito autoritário e tem toda a pinta de editor... sem ser... E até é contratado por uma editora, mas joga tudo para o alto, quando arruma uma briga por causa dos prazos apertados e de uma injustiça que fazem com a sua chefe e amiga. É despedido, claro! Mas acaba justificando que é para poder dizer o que pensa que não aceita emprego fixo. E o amigo que conseguiu o emprego para ele, um sempai de Yoshinaga, muito bonito, mas bem excêntrico, acaba perdoando o rapaz, mesmo tendo tido problemas por causa da atitude dele. Há muitas persoangens simpáticas em um volume tão curtinho. Mas é Yoshinaga e ela já me convenceu que é capaz e fazer qualquer coisa e muito bem. ^_^

Not Love But Delicious Foods é muito engraçado, muito mesmo e Yoshinaga mostra bem o seu senso de humor e capacidade de rir de si mesma. É uma pequena jóia, mas não acho que seria uma boa apresentação de Yoshinaga no Brasil, afinal, ela faz referência o tempo todo ao seu trabalho como mangá-ka, especialmente fazendo yaoi. Parece mais um mangá para quem já é fã da autora. Daí, continuo insistindo que o melhor cartão de apresentação de Yoshinaga no Brasil seria Antique Bakery. ^_^ Mas para quem gosta da autora, eu recomendo esse volume. O único problema é não vir com a advertencia "Não leia sem ter muitas coisas gostosas por perto", pois você vai precisar. ^_^ Eu comprei no Book Depository, que não cobra frete. Foi minha primeira experiência com eles. Se você quiser comprar algum mangá por lá, use, por favor, o link do site Blyme Yaoi, enquanto eu não coloco a banner deles por aqui.

7 pessoas comentaram:

Gente... Eu ri muito só com essa resenha do mangá! Que tortura, é mais um que vai pra minha lista de mangás que quero importar, agora sabe Deus quando... Embora só por ter o nome da Fumi Yoshinaga eu já sentia certa curiosidade em ler antes... Enfim, bom tetxo. Parece que aproveitou bastante o mangá. =)

Olha, é muito legal... Mas é o tipoi de coisa: não lei se não tiver um monte de coisas gostosas para acompanhar... ^_^

Também adorei a resenha...e fiquei muito curiosa para ler...vou colocá-lo na lista...

:D

Tou louca para ler, já que compartilho as duas paixões da Yoshinaga Sensei: BL e comida!

Ela desenha comidas muito apetitosas sim, é uma tortuuura!

Amei esta resenha, me decidi a comprar assim que possível. Muito obrigada pelo merchan, rsrs, a Bookdepository é muito bacana e nossa afiliação mais movimentada. ^^

Mangás da Yoshinaga que falam sobre comida são sempre uma tortura. Sofri lendo Antique Bakery. xD

Ótima review, esse entra para a lista dos mangás a importar. =]

Amei essa resenha, e discordo de você, acho que o mangá ideal para começarem a publicar Fumi Yoshinaga é Flower of Life, se publicarem Antique Bakery antes é capaz da autora ficar marcada como autora de mangá BL, acho que o ideal é começar com coisas mais neutras.

Bem, Kadu, se você leu Antique, e para escrever o que escreveu, acredito que tenha lido, sabe muito bem que não é um mangá BL. Logo, o que você escreveu não se justifica. Outra coisa, fazer yaoi não é estigma, é opção, como fazer qualquer outro gênero. E o terceiro ponto é que Not Love But Delicious Foods é um mangá para quem já conhece Yoshinaga. Como leitora e admiradora desta mangá-ka, digo que é uma temeridade come, não é boa carta de apresentação.

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