Ontem comentei sobre a mostra de Takashi Murakami no Versalhes e a Jo-chan postou um link falando de um abaixo-assinado contra a exposição. Ora, por coincidência, hoje a Folha de São Paulo postou uma matéria falando de pressão na França para que fosse retirada a exposição do fotógrafo Larry Clark (*ele fotografa entre outras coisas adolescentes fazendo sexo com adolescentes*) e a obra do Murakami. Eu sou um zero à esquerda em arte, não vou ficar avaliando o potencial de A ou B, mas a questão, claro é política. Os conservadores – e surpresa descobrir entre eles os membros da casa de Bourbon derrubada pela Revolução Francesa – querem ter ingerência sobre as exposições do museu, não concordam com o atual diretor que quer que o museu seja vivo. Eu aliás, achei perfeita a frase do sujeito "Há grupos de extrema direita, uns poucos velhos, que tentam impedir as exposições (...) Mas o moderno tem lugar em Versalhes, que não é mais a residência dos reis, é um palácio vivo." Dane-se os conservadores. Fora isso, há a xenofobia, o racismo mesmo. As falas de remetem a estes dois pontos.
Por conta da notícia, acabei fazendo uma busca sobre o Murakami e descobri que já tinha visto obras dele. Ele é membro do movimento superflat que é uma crítica interna à produção da cultura pop japonesa. Quem entende bem disso é o Lancaster lá do Maximun Cosmo. Ele tem matérias sobre o movimento por lá. De qualquer forma, ainda que alguém não goste do tipo de arte que o Murakami faz, ou nem considere arte, um museu não é monopólio de um grupo, precisa ser vivo e expressar a riqueza de formas de expressão de uma dada sociedade. E, principalmente, não pode ser um mausoléu dedicado à memória de reis e rainhas, ainda que eles possam e mereçam ser lembrados. Fora isso, a França é uma república e orgulhosa disso. Virou as costas para a monarquia mais retrógrada, a influência daninha da religião católica (*e qualquer outra*) na política e a população como um todo mais ganhou do que perdeu com isso. Não é possível permitir que um grupo de conservadores e monarquistas ditem o que pode ou não entrar no Palácio de Versalhes. De qualquer forma, graças ao escândalo deles, muita gente está correndo para ver a exposição lá na França e tomando conhecimento dela, como eu. :)
Por conta da notícia, acabei fazendo uma busca sobre o Murakami e descobri que já tinha visto obras dele. Ele é membro do movimento superflat que é uma crítica interna à produção da cultura pop japonesa. Quem entende bem disso é o Lancaster lá do Maximun Cosmo. Ele tem matérias sobre o movimento por lá. De qualquer forma, ainda que alguém não goste do tipo de arte que o Murakami faz, ou nem considere arte, um museu não é monopólio de um grupo, precisa ser vivo e expressar a riqueza de formas de expressão de uma dada sociedade. E, principalmente, não pode ser um mausoléu dedicado à memória de reis e rainhas, ainda que eles possam e mereçam ser lembrados. Fora isso, a França é uma república e orgulhosa disso. Virou as costas para a monarquia mais retrógrada, a influência daninha da religião católica (*e qualquer outra*) na política e a população como um todo mais ganhou do que perdeu com isso. Não é possível permitir que um grupo de conservadores e monarquistas ditem o que pode ou não entrar no Palácio de Versalhes. De qualquer forma, graças ao escândalo deles, muita gente está correndo para ver a exposição lá na França e tomando conhecimento dela, como eu. :)
Mostra de Takashi Murakami em Versalhes irrita conservadores
Descendentes da família real querem fim de exposições de arte contemporânea no palácio
Depois de Jeff Koons, em 2008, japonês ocupa antiga residência de Luís 14 com obras de apelo alucinógeno e pop
DE SÃO PAULO
Enquanto não cessa a discussão em torno da mostra de Larry Clark em Paris, o palácio de Versalhes, nos arredores da capital francesa, virou alvo de outros ataques. Mesmo sem drogas e sexo explícito, obras do japonês Takashi Murakami, de pegada quase alucinógena e excessos pop, desagrada quem prefere ver algo mais clássico nas salas do palácio rococó. Versalhes recebeu há dois anos uma mostra do norte-americano Jeff Koons, famoso por seus cachorrinhos gigantes, suas obras de claro apelo comercial e também por ter se casado com a estrela pornô italiana Cicciolina.
Na época, Charles-Emmanuel de Bourbon, um dos descendentes da família real francesa, tentou sem sucesso fechar a exposição de Koons. Agora, o príncipe Sixte-Henri de Bourbon, primo de Charles-Emmanuel, e a Coordenação pela Defesa de Versalhes, grupo ultraconservador, tentam barrar Murakami, a segunda mostra de arte contemporânea a ocupar os salões e aposentos da antiga residência do rei Luís 14. "Acontece algo muito grave no palácio", diz Arnaud Uinsky, um dos diretores da Coordenação pela Defesa de Versalhes, à Folha. "Nosso governo, que se diz democrático, põe nosso patrimônio cultural a serviço dos estrangeiros, de um artista inimigo da cultura e da civilização."
HIROSHIMA CULTURAL
Nos textos divulgados pelo grupo, Murakami é acusado de não ser autor real de suas obras, feitas com dezenas de assistentes, e de "exorcizar seus fantasmas eróticos" em esculturas. Também lembram a parceria entre o artista e a grife Louis Vuitton.
"Expor Murakami nos apartamentos reais é um verdadeiro Hiroshima para a cultura francesa, isso é a indústria, a publicidade, o marketing", diz Uinsky. "Versalhes está sendo oprimido pelo desvio de poder." No caso, o grupo contra contemporâneos em Versalhes se opõe ao poder de Jean-Jacques Aillagon, ex-ministro francês da Cultura e hoje à frente do palácio. Desde o início de sua gestão, há três anos, Aillagon vem aumentando o número de visitas aos salões reais com mostras de arte contemporânea.
Segundo Laurent Brunner, diretor de exposições em Versalhes, o público aumentou 45% com a mostra de Murakami, que chega a receber 15 mil visitantes por dia. Em 2008, Jeff Koons levou 1,4 milhão de pessoas ao palácio. "Há grupos de extrema direita, uns poucos velhos, que tentam impedir as exposições", diz Brunner à Folha. "Mas o moderno tem lugar em Versalhes, que não é mais a residência dos reis, é um palácio vivo." (SILAS MARTÍ)
P.S.: Só para constar, nenhum descendente da família real francesa é parente de Maria Antonieta, pois nenhum de seus filhos deixou descendência. Os meninos morreram na infância, um deles devido aos maus tratos na época da Revolução, a menina, Maria Teresa, sobreviveu, mas nunca teve filhos.
Descendentes da família real querem fim de exposições de arte contemporânea no palácio
Depois de Jeff Koons, em 2008, japonês ocupa antiga residência de Luís 14 com obras de apelo alucinógeno e pop
DE SÃO PAULO
Enquanto não cessa a discussão em torno da mostra de Larry Clark em Paris, o palácio de Versalhes, nos arredores da capital francesa, virou alvo de outros ataques. Mesmo sem drogas e sexo explícito, obras do japonês Takashi Murakami, de pegada quase alucinógena e excessos pop, desagrada quem prefere ver algo mais clássico nas salas do palácio rococó. Versalhes recebeu há dois anos uma mostra do norte-americano Jeff Koons, famoso por seus cachorrinhos gigantes, suas obras de claro apelo comercial e também por ter se casado com a estrela pornô italiana Cicciolina.
Na época, Charles-Emmanuel de Bourbon, um dos descendentes da família real francesa, tentou sem sucesso fechar a exposição de Koons. Agora, o príncipe Sixte-Henri de Bourbon, primo de Charles-Emmanuel, e a Coordenação pela Defesa de Versalhes, grupo ultraconservador, tentam barrar Murakami, a segunda mostra de arte contemporânea a ocupar os salões e aposentos da antiga residência do rei Luís 14. "Acontece algo muito grave no palácio", diz Arnaud Uinsky, um dos diretores da Coordenação pela Defesa de Versalhes, à Folha. "Nosso governo, que se diz democrático, põe nosso patrimônio cultural a serviço dos estrangeiros, de um artista inimigo da cultura e da civilização."
HIROSHIMA CULTURAL
Nos textos divulgados pelo grupo, Murakami é acusado de não ser autor real de suas obras, feitas com dezenas de assistentes, e de "exorcizar seus fantasmas eróticos" em esculturas. Também lembram a parceria entre o artista e a grife Louis Vuitton.
"Expor Murakami nos apartamentos reais é um verdadeiro Hiroshima para a cultura francesa, isso é a indústria, a publicidade, o marketing", diz Uinsky. "Versalhes está sendo oprimido pelo desvio de poder." No caso, o grupo contra contemporâneos em Versalhes se opõe ao poder de Jean-Jacques Aillagon, ex-ministro francês da Cultura e hoje à frente do palácio. Desde o início de sua gestão, há três anos, Aillagon vem aumentando o número de visitas aos salões reais com mostras de arte contemporânea.
Segundo Laurent Brunner, diretor de exposições em Versalhes, o público aumentou 45% com a mostra de Murakami, que chega a receber 15 mil visitantes por dia. Em 2008, Jeff Koons levou 1,4 milhão de pessoas ao palácio. "Há grupos de extrema direita, uns poucos velhos, que tentam impedir as exposições", diz Brunner à Folha. "Mas o moderno tem lugar em Versalhes, que não é mais a residência dos reis, é um palácio vivo." (SILAS MARTÍ)
P.S.: Só para constar, nenhum descendente da família real francesa é parente de Maria Antonieta, pois nenhum de seus filhos deixou descendência. Os meninos morreram na infância, um deles devido aos maus tratos na época da Revolução, a menina, Maria Teresa, sobreviveu, mas nunca teve filhos.
4 pessoas comentaram:
Pra mim, chamar isso de Hiroshima da Cultura Francesa representa bem o tipo de mentalidade desse grupo conservador. Além de extremamente obtuso, é altamente desrespeitoso e insensível. De qualquer maneira, fico feliz em saber que a exposição está tendo um bom retorno de público.
Bom saber mesmo que o retorno está sendo ótimo. Eu estive em Versalhes quase dois meses atrás, numa viagem, e só lamento não ter sido agora, já que adoraria ver as obras do Takashi Murakami...
Eu não li a reportagem confesso, mas estive na exposição quando estive em Paris mês passado e não gostei, pode me chamar de conservadora, mas a exposição não condiz com o local e sem contar que quem foi lá para conhecer Versailhes, houve salas que foram desestruturadas por causa da exposição, como uma sala que teve todo o chão coberto por um tapete de flores, quando eu queria ver o original. Versailhes não é um museu, pois ele é a exposição. Desculpe se pareço conservadora, sei que sou, pode parecer que não tenho mente aberta, mas em certos casos sou bem fechada.
Ahh só quero dizer que acho a obra deles lindas, mas estão fora do contexto.
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