segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Monumental e requintada, a exposição de Takashi Murakami no Palácio de Versailles faz jus à paixão que o rei Luís XIV tinha pelas artes



A Isto É fez uma matéria sobre a exposição de Takashi Murakami no Palácio de Versailles e achei que valia a pena postar aqui. Há mais imagens no site da revista, então, vale a pena visitar. Eu só coloquei aqui a obra “Flower Matango” que está exposta na Galeria dos Espelhos.

Luxo não sai da moda

Monumental e requintada, a exposição de Takashi Murakami no Palácio de Versailles faz jus à paixão que o rei Luís XIV tinha pelas artes


Paula Alzugaray

Às portas da Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes, onde o rei Luís XIV da França (1638-1715) recebia seus convidados para dançar entre 357 espelhos e esculturas folheadas a ouro, a sexy recepcionista Miss Ko2 recebe os visitantes. Personagem de mangá japonês, ela foi transformada numa escultura em fiberglass, de 1,74 m de altura, pelo artista japonês Takashi Murakami. “Miss Ko2” é, no entanto, apenas um aperitivo para o banquete de obras que o visitante encontra na exposição “Murakami Versailles” – todas elas feitas em materiais nobres como ouro, prata, cobre e pedras preciosas.

Se suportar a lamentação de um grupo de conservadores que acusam Murakami de intrusão em monumento histórico, a mostra ficará em cartaz até dezembro. Mas o fato é que o casamento entre a opulência ornamental do classicismo francês e o mangá de luxo japonês não poderia ser mais perfeito. Murakami sabe como aliar técnicas tradicionais e imagens contemporâneas e faz de cada escultura um troféu.

Sob os olhos dos Bourbon pintados por seus artistas favoritos, a escultura “Yume Lion”, em alumínio com folhas de ouro, rivaliza em luxo com as tochas douradas do Salão de Apolo. Adiante, na antessala dos aposentos de Maria Antonieta, Murakami dá a sua interpretação para as joias da rainha. “The Simple Things” é a escultura de uma criatura repugnante, que guarda entre afiadas arcadas dentárias um vidro de ketchup cravejado de rubis, uma loção Johnsons feita de safiras e uma lata de Pepsi de diamantes. Murakami não tem problemas em citar marcas. Sabe rimar marketing e arte contemporânea e é controverso por isso (leia bate-papo).

Seu reconhecimento internacional veio depois da primeira exposição fora do Japão, na Galerie Emmanuel Perrotin, em Paris, em 1995. Mas ele ganhou fama para além do circuito da arte quando o estilista Marc Jacobs convidou-o para reinterpretar a marca Louis Vuitton na primavera-verão de 2003. A parceria funcionou tão bem que em 2008 Murakami entrou na lista das 100 personalidades mais influentes do mundo feita pela revista “Time”. Para se ter uma ideia de quanto ele cresceu, sua “Miss Ko2”, vendida em 2003 por US$ 567 mil está estimada hoje entre US$ 4 milhões e US$ 6 milhões.

A irreverente homenagem que Murakami rende a Versalhes, “um dos maiores símbolos da história ocidental”, segundo palavras do próprio artista, se consagra na apoteótica Sala da Coroação. O local, um dos pontos turísticos máximos do castelo, reúne três pinturas históricas monumentais de Napoleão e ganhou de Murakami um pequeno Buda branco, feio e nu, intitulado “The Emperor’s New Clothes”. A associação que ele faz entre a realeza francesa e a fábula do rei que fica nu diante dos súditos é um dos nós da querela entre tradicionalistas e modernos franceses.

Ao convidar Murakami, a administração do museu foi fiel à tradição do monarca conhecido como “Rei Sol”, que construiu a imagem pública de patrono das artes. Ele é o terceiro artista contemporâneo convidado a expor em Versalhes. Jeff Koons levantou poeira por lá em 2008, e foi seguido pelo menos controvertido artista Frances Xavier Veilhan em 2009. “É notável que a reação contrária à entrada da arte contemporânea em Versalhes ecloda com a mostra de uma produção não ocidental no templo da civilização burbônica. Trata-se de mais uma evidência da necessidade de a França atual buscar representações de uma identidade cuja compreensão lhe escapa”, analisa o crítico, historiador e curador brasileiro Felipe Chaimovich.

Fotos: Takashi Murakami/Kaikai Kiki Co., Ltd. All Rights Reserved. photo : Cedric Delsaux - The Hall of Mirrors / Château de Versailles

Os bastidores da arte, em uma semana Bate-papo com Sarah Thornton
Nina Gazire

“Uma linha de montagem.” Assim a socióloga canadense Sarah Thornton (foto) define o estúdio do artista japonês Takashi Murakami, um de seus entrevistados no livro “Sete Dias no Mundo das Artes”, lançado no Brasil pela editora Agir. Para fazer o relato sobre uma semana no universo da arte mundial, a autora, que também é colunista sobre arte e mercado na revista “The Economist”, visitou os mais importantes museus e instituições, conversou com artistas e debruçou-se sobre as melhores revistas especializadas do planeta. O seu livro é sucesso nos EUA, no Chile e Japão. Narra, entre outras aventuras, os bastidores de um leilão na “Christie’s” de Nova York, no qual um especialista afirmou que o ato de comprar arte, nos dias atuais, é parecido com o de comprar roupas.

O que levou a sra. a entrevistar Murakami?
Quis mostrar a realidade da produção artística hoje. Visitei seu estúdio, que é um dos maiores e mais prolíficos do mundo, e vi como funciona. É uma situação extremamente complexa que me lembra uma linha de montagem. São diversos assistentes e ele monitora tudo de perto. É uma indústria: Murakami realiza vendas astronômicas, faz inúmeras parcerias, desenha bolsas para a Louis Vuitton. Só a visita ao estúdio renderia um livro. É uma pessoa extremamente competente, possui doutorado, mas é também um exímio negociante. Quero saber como esse lugar se transforma em uma zona de negociações financeiras. Ele é fascinado por Warhol e muito de seu estúdio se apropriou do modelo de negócios que esse artista implantou. O capítulo sobre Murakami está no fim do livro. É uma espécie de epítome sobre o mundo da arte contemporânea onde confluem a produção, a negociação, o aprendizado.

Após a imersão no mundo dos leilões, qual é a sua opinião sobre o mercado de arte?
Quero entender o que faz uma obra ser vendida ou não. É um mecanismo simples e misterioso. Não quero levantar um julgamento moral sobre isso, quero apenas entender. Estou interessada no mercado primário, que é o da entrada da obra no mercado, e no mercado secundário, que é como essa obra passará a circular e ser valorizada ou não. O mercado de leilões é algo extremamente lucrativo e movimenta o mercado secundário das artes. Se uma obra de um artista é bem vendida, o restante da produção é valorizado. Claro que existem flutuações. A vantagem de visitar os bastidores de um leilão é entender esse lado subjetivo, as tomadas de decisões e dos gostos que influenciam o mercado da arte.

1 pessoas comentaram:

Bonita e importante expressão artística. Pena que há um grupo de franceses fazendo abaixo-assinado contra a exposição.



http://www.harajukunews.blogspot.com

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