Comecei finalmente a assistir a minissérie Os Pilares da Terra, baseado no livro de Ken Follet. Tarde, eu sei, mas quando vi as mudanças e soube que era produção do Ridley Scott (*cenas de batalha tremidas, como de costume*), fiquei com o pé atrás. Também discordei da escalação do elenco e da falta das mulheres nos trailers. Ter um dos meus livros mais queridos convertidos para minissérie era um dos meus sonhos, mas sabia desde sempre que iria me aborrecer com algumas escolhas. Mas, enfim, primeiro episódio assistido e uma coisa a dizer: se eu não tivesse que fazer outra coisa, emendava o segundo capítulo direto. Dito isso, vocês já sabem que eu gostei e que estou dizendo que vale a pena. É muito superior, por exemplo, à adaptação de outro dos meus livros favoritos, a versão de 2005 dos Reis Malditos. Bem superior.
O episódio começa com o incêndio e naufrágio do White Ship. A tragédia que matou o único filho legítimo de Henrique I e todos os seus bastardos é o ponto de largada para a história. No livro é a execução do pai de Jack e uma das pragas mais poderosas da história da literatura. Bem, Ok, é uma opção. No seriado, pelo jeito, veremos muito mais da nobreza, de Maud, a filha de Henrique I que não foi reconhecida como governante, do que no livro. Antes de encontrarmos as personagens mais importantes da história e criação de Ken Follet, temos que ver o início da intriga política. Resumindo, o rei, filho de Guilherme, o Conquistador, só tem uma filha legítima (*e corajosa*) e um sobrinho cheio de vontade de reinar. Esse sobrinho, Stephen, conspira com a Igreja para chegar ao poder. Nesse intuito, o episódio já apresenta um monte de intriguistas, Waleran (*olho para o Ian McShane carcterizado e penso no Snape dos livros de Harry Potter*), ainda não bispo, a mãe inteligente e o pai burro de William, o arcebispo de Canterbury. Gente, enfim, capaz de qualquer coisa. No livro, realmente o naufrágio do White Ship foi uma armação, mas, se bem me lembro, Ken Follet não acusa Stephen de tomar parte. Mas eles querem rechear a série com intrigas mirabolantes, assassinatos e coisas do gênero... Já saquei. Só digo uma coisa, o livro tem um monte disso, e já passei os olhos na série inteira e sei que cortaram muita coisa e inventaram demais...
Dezoito anos depois, entra em cena Matthew Macfadyen como meu querido Prior Philip, meu personagem favorito do livro. Para quem não lembra, Mr. Darcy na última encarnação nas telas. No livro, ele já chega abade, não tem nem trinta anos, e tem que colocar um bando de monges desleixados na linha. Na minissérie, ele chega, simplesmente. Um... E encontra o abade moribundo. O abade o tinha criado quando ficara órfão (*ele foi realmente criado por um padre que o resgatou junto com o irmão quando seus pais foram assassinados, mas não tinha nada a ver com o abade de Kingsbridge*) e queria se confessar com ele.
O monge Remiguius, segundo em comando, não tinha atendido ao pedido do abade. Ou seja, Philip simplesmente “apareceu” na hora certa. Remigius é um dos sujeitos que sabem da conspiração da White Ship e tem inveja do Philip e tenta sabotá-lo. No seriado inventam que ele tem uma “dívida” com o Waleran, pois é sodomita. Philip desconfia que alguém ali está escondendo alguma coisa muito séria, mas o abade não consegue se confessar. Um dos monges, que não sei o nome, quer convencê-lo a tentar se tornar abade e ele quer fugir da tentação. Ele é autoritário, orgulhoso, e sabe disso. Personalidade como a do livro.
Saímos do mosteiro para a residência do Conde de Shiring, interpretado de forma muito convincente pelo Donald Sutherland. No livro, o conde aparece pouco, na série lhe dão grande destaque. E ele tem uma relação de cumplicidade com a filha, Aliena. Prometeu que permitiria que ela escolhesse o marido e mantém a promessa. Acho Hayley Atwell muito distante do que eu imagino da Aliena. Velha demais, aliás, todos os mais jovens são envelhecidos demais. Ela também é interpretada de forma muito leviana, coisa que a personagem não era. Como se trata da personagem feminina mais importante (*no livro, claro*), isso é um problema.
O episódio valoriza o passa fora que ela dá em William, dando início à obsessão dele. William é o vilão, deveria ser interpretado por um cara grandalhão, daquele tipo que só de olhar dá medo, do tipo que algumas mulheres acham interessante, mas eu passaria longe. Na série é um rapaz bonitinho, elegante, nada a ver com a personagem original. E parece, também, inteligente demais. No livro, quem guiava William era a mãe e ele fazia muita besteira e só não se ferrava por ser poderoso demais. O ator que faz o William não me mete medo e a personagem não pode ser reduzida a um sujeito que você acredita poder conter com uma boa surra. Ele é o vilão e precisa passar força. Recusado William, entra em cena Tom Builder e sua família.
William demite o mestre de obras da casa que mandara construir para morar com Aliena. A família de Tom Builder é jogada na estrada, são duas crianças e uma mulher grávida. No livro, as crianças devidamente envelhecidas são uma pré-adolescente, Martha, e um sujeito que já tem cara de 18, Alfred. Mas aqui tudo funcionou. Embora Rufus Sewell não se pareça com a descrição de Tom no livro, ele se apossa da personagem e lhe dá tanta vida que parece que o papel foi escrito para ele. A sensação de vê-lo atuando é a mesma que senti quando vi o Josep Maria Flotats no papel de Filipe, o Longo, na primeira versão dos Reis Malditos. Ele não se parece fisicamente com a personagem do livro, mas tomou posse e mostrou a que veio. E a relação entre os membros da família também é excelente, cumplicidade, uma dose certa de emoção. A Martha do livro era tímida, a da minissérie não é (*talvez fique depois com a tirania do irmão*), mas está muito bem interpretada. As melhores cenas do episódio 1, as mais humanas e interessantes ficaram com a família de Tom Builder. Quando eles encontram Ellen e Jack, fica ainda melhor.
Natalia Wörner é outra que tomou posse de Ellen e deu vida a personagem com grande sucesso. Ela consegue ser um pouco mais alegre que no livro, apesar do sofrimento e de viver sozinha com o filho na floresta. E a interação com Rufus Sewell foi perfeita. Já o sujeito que fez o Jack, bem, ele não disse ainda a que veio. E, no caso dele, ser mais velho, ter a idade do Alfred, faz muita diferença. No livro, Jack tinha 11 anos e Aliena 16. No primeiro encontro, ela olhou para ele como se fosse um bicho exótico, enquanto ele a via como uma princesa. Na minissérie, a diferença de idade, obstáculo para que Aliena pudesse perceber que amava Jack, que se apaixonou por ele, foi anulada. Como vão resolver isso, não sei. Só sei que queria o Jack menino esquisito por pelo menos dois capítulos, como um gênio adolescente mudo e tímido a personagem não me convenceu. O irmão de Aliena, Richard, que deveria ser novinho, também está crescido demais. Daí, o sacrifício da irmã por ele pode ficar meio esquisito... Esperemos o próximo capítulo.
Algumas mudanças foram muito evidentes e me incomodaram. Se bem me lembro do livro, o irmão de Philip encontra o filhinho recém nascido de Tom Builder e o leva para Kingsbridge, depois que Ellen e Jack encontram a criança e a levam para o caminho do mosteiro. Tom tinha abandonado o filho na neve, porque a mãe morrera de parto. Quando volta arrependido, não encontra mais o menino. Toda a seqüência do nascimento, abandono e arrependimento foi ótima. A família de Tom é o ponto alto da série. Na minissérie é o monge meio infantil, Johnny Eightpence, quem acha a criança. Ele também caiu de pára-quedas no mosteiro. Enfim, não lembro se foi o irmão de Philip quem levou a informação de que o pai de Aliena tramava com Maud para tomar o trono. Sim, claro, colocaram Stephen envenenando o rei Henrique I, coisa que não se fala no livro e que ele provavelmente não fez, para tomar o poder. A guerra civil ou anarquia seria mais legítima se não enfiassem essas jogadas. Simplesmente tanto Stephen, quanto Maud se achavam legítimos donos do poder. Para que colocar Stephen como assassino frio?
Enfim, sem olhar o livro de novo, acho que lembro que Philip sem querer foi o responsável pela queda do pai de Aliena e sua desgraça. Só que ele não barganhou sua eleição com o canalha do Waleran. Essa invenção me incomodou. Philip já era abade, embora Waleran ainda não fosse bispo. Mas, de novo, quiseram inventar uma intriga. O Matthew Macfadyen está bem no papel, a culpa não é dele em absoluto, mas Philip era incorruptível e, exatamente por isso, um tanto intolerante. Essa mancha na imagem dele, tendo que participar de uma maracutaia com o Waleran, me deixou decepcionada.
Pois bem, a mãe do William, também está OK, só que a atriz, Sarah Parish, é a mulher mais bonita do elenco, na minha opinião. Regan, a personagem, tinha o rosto deformado por uma cicatriz. Até colocam uma manchinha, mas é muito discreta para o que era no livro. Alison Pill que faz Maud (*ou Matilda*) tenta criar uma mulher forte e capaz de tudo para defender o trono do filho. Ela terá todo o mérito da criação, pois Maud mal aparece no livro. E eu, realmente, não imaginava Maud assim. Na minissérie, parece que ela sempre está na Inglaterra, quando um dos problemas para a aceitação dela por parte da nobreza inglesa era o fato dela ter morado boa parte do tempo no estrangeiro, primeiro casada com o Imperador do Sacro Império, e por isso ela foi chamada de Imperatriz por toda a vida, depois com o Conde D’Anjou, inimigo dos normandos (*i.e., da nobreza inglesa*). Ela teve três filhos e não somente o futuro Henrique II. Na série, ela é somente a filha que deseja cumprir o desejo do pai. Acredito que ela tenha sido muito mais do que isso e era mais velha que o irmão morto e uma mulher feita quando do desastre do White Ship.
Enfim, no primeiro capítulo, o destaque para mim foi a família do Tom, eles agem como família, passam sentimento, dor, preocupação. Eu não gosto do Albert no livro, mas na série ele parece um filho tão dedicado que consigo ver algo de bom nele. Liam Garrigan e a menina que faz a Martha, Skye Bennett, estão de parabéns. Foi simpática a cena entre o Conde de Shiring e a filha, pois assim como Rufus Sewell, Donald Sutherland está ótimo. Aliás, o único diálogo entre esses dois foi excelente, também. O que eu tenho medo – para além das mudanças que já sei que aconteceram (*a idade, os sei lá quantos estupros que William cometeu no livro e que serão cortados, a forma como Aliena e Jack fazem amor pela primeira vez, a morte de William, etc.*) – é que fiquem tempo demais falando da nobreza, das intrigas de Maud e Stephen, quando o importante é mostrar a catedral, o sonho de Tom Builder realizado pelo Jack, de mostrar a coragem e determinação da Aliena em cumprir o juramento feito ao pai ao custo de sua própria felicidade, de mostrar a integridade de Philip em relação aos seus votos monásticos.
Os Pilares da Terra é guiado pela construção da Catedral de Kingsbridge, não, pela intriga palaciana, é a forma como Follet consegue costurar história e ficção, criando personagens tão reais que você acredita que poderiam de fato ter existido que torna a história tão legal de se ler. Sei que Tom encontra Philip (*quero ver a "bruxa" Ellen brigando com o abade*) no próximo episódio e aí a história da catedral começa, mas temo, sim, que o foco tenha sido outro. Se não resistir, assisto o episódio dois ainda hoje. Ainda que tenha muitas ressalvas, se a minissérie saísse no Brasil completa (*não com os cortes que aconteceram nas minisséries baseadas em Jane Austen*), eu comprava.
Acabei assistindo o episódio 2 e preciso fazer algumas considerações. e pode conter spoilers. Cortaram muito da violência que está no livro e, estranhamente, enfiaram um monte de cenas de execução que no livro não são referidas. Aliás, estão inventando muita coisa. Por exemplo, o estupro de Aliena, que era perpetrado por William e seu escudeiro, foi "limpo", por assim dizer, de toda uma sorte de humilhações e violências que são feitas com ela. Nudez ZERO. O escudeiro corta a orelha de Richard, mas, estranhamente, ela parece voltar a crescer... Falha feia da maquiagem.
Uma mudança bem incomoda, porque significou diminuição do drama e da angústia, foi a execução do pai do Jack. Ele não sabia os motivos da sua condenação, ele era absolutamente inocente. E foi condenado à força e ninguém cortou-lhe a língua. Ele cantou belamente antes da execução, porque era menestrel. E deveriam ter colocado a Ellen grávida, como no livro, e jogando a praga com o "galo giratório". Afinal, podem cortar mãos e cabeças, mas não podem sangrar um galo fake? Dessa parte eu realmente não gostei.
A fuga de Aliena e Richard (*que virou um bundão na minissérie*) é dramática, mas as desgraças que enfrentam depois desaparecem, conseguem entrar sem nenhuma dificuldade para ver o pai na prisão. E foi feita uma mudança muito séria: no livro, Aliena é obrigada a jurar pelo pai, na minissérie, ela invoca o juramento. Como então ela poderá se sentir prisioneira do juramento feito? Outra coisa, não há incesto entre William e a mãe no livro, não sei quem decidiu inventar isso e colocar na série. A relação deles era próxima, a mãe o superprotegia, mas não havia qualquer insinuação de sexo. Aliás, todos os problemas do William com sexo estavam ligados a obsessão por Aliena. Enfim, de resto foi um bom capítulo. O menino que faz o Jack começou a mostrar talento, a família do Tom e a Ellen estão ótimos. As cenas do Rufus Sewell com o Matthew Macfadyen foram ótimas. Aliás, o Matthew Macfadyen está bem como Philip, mesmo com as mudanças. Se der, outro dia comento mais dois capítulos.
O episódio começa com o incêndio e naufrágio do White Ship. A tragédia que matou o único filho legítimo de Henrique I e todos os seus bastardos é o ponto de largada para a história. No livro é a execução do pai de Jack e uma das pragas mais poderosas da história da literatura. Bem, Ok, é uma opção. No seriado, pelo jeito, veremos muito mais da nobreza, de Maud, a filha de Henrique I que não foi reconhecida como governante, do que no livro. Antes de encontrarmos as personagens mais importantes da história e criação de Ken Follet, temos que ver o início da intriga política. Resumindo, o rei, filho de Guilherme, o Conquistador, só tem uma filha legítima (*e corajosa*) e um sobrinho cheio de vontade de reinar. Esse sobrinho, Stephen, conspira com a Igreja para chegar ao poder. Nesse intuito, o episódio já apresenta um monte de intriguistas, Waleran (*olho para o Ian McShane carcterizado e penso no Snape dos livros de Harry Potter*), ainda não bispo, a mãe inteligente e o pai burro de William, o arcebispo de Canterbury. Gente, enfim, capaz de qualquer coisa. No livro, realmente o naufrágio do White Ship foi uma armação, mas, se bem me lembro, Ken Follet não acusa Stephen de tomar parte. Mas eles querem rechear a série com intrigas mirabolantes, assassinatos e coisas do gênero... Já saquei. Só digo uma coisa, o livro tem um monte disso, e já passei os olhos na série inteira e sei que cortaram muita coisa e inventaram demais...
Dezoito anos depois, entra em cena Matthew Macfadyen como meu querido Prior Philip, meu personagem favorito do livro. Para quem não lembra, Mr. Darcy na última encarnação nas telas. No livro, ele já chega abade, não tem nem trinta anos, e tem que colocar um bando de monges desleixados na linha. Na minissérie, ele chega, simplesmente. Um... E encontra o abade moribundo. O abade o tinha criado quando ficara órfão (*ele foi realmente criado por um padre que o resgatou junto com o irmão quando seus pais foram assassinados, mas não tinha nada a ver com o abade de Kingsbridge*) e queria se confessar com ele.
O monge Remiguius, segundo em comando, não tinha atendido ao pedido do abade. Ou seja, Philip simplesmente “apareceu” na hora certa. Remigius é um dos sujeitos que sabem da conspiração da White Ship e tem inveja do Philip e tenta sabotá-lo. No seriado inventam que ele tem uma “dívida” com o Waleran, pois é sodomita. Philip desconfia que alguém ali está escondendo alguma coisa muito séria, mas o abade não consegue se confessar. Um dos monges, que não sei o nome, quer convencê-lo a tentar se tornar abade e ele quer fugir da tentação. Ele é autoritário, orgulhoso, e sabe disso. Personalidade como a do livro.
Saímos do mosteiro para a residência do Conde de Shiring, interpretado de forma muito convincente pelo Donald Sutherland. No livro, o conde aparece pouco, na série lhe dão grande destaque. E ele tem uma relação de cumplicidade com a filha, Aliena. Prometeu que permitiria que ela escolhesse o marido e mantém a promessa. Acho Hayley Atwell muito distante do que eu imagino da Aliena. Velha demais, aliás, todos os mais jovens são envelhecidos demais. Ela também é interpretada de forma muito leviana, coisa que a personagem não era. Como se trata da personagem feminina mais importante (*no livro, claro*), isso é um problema.
O episódio valoriza o passa fora que ela dá em William, dando início à obsessão dele. William é o vilão, deveria ser interpretado por um cara grandalhão, daquele tipo que só de olhar dá medo, do tipo que algumas mulheres acham interessante, mas eu passaria longe. Na série é um rapaz bonitinho, elegante, nada a ver com a personagem original. E parece, também, inteligente demais. No livro, quem guiava William era a mãe e ele fazia muita besteira e só não se ferrava por ser poderoso demais. O ator que faz o William não me mete medo e a personagem não pode ser reduzida a um sujeito que você acredita poder conter com uma boa surra. Ele é o vilão e precisa passar força. Recusado William, entra em cena Tom Builder e sua família.
William demite o mestre de obras da casa que mandara construir para morar com Aliena. A família de Tom Builder é jogada na estrada, são duas crianças e uma mulher grávida. No livro, as crianças devidamente envelhecidas são uma pré-adolescente, Martha, e um sujeito que já tem cara de 18, Alfred. Mas aqui tudo funcionou. Embora Rufus Sewell não se pareça com a descrição de Tom no livro, ele se apossa da personagem e lhe dá tanta vida que parece que o papel foi escrito para ele. A sensação de vê-lo atuando é a mesma que senti quando vi o Josep Maria Flotats no papel de Filipe, o Longo, na primeira versão dos Reis Malditos. Ele não se parece fisicamente com a personagem do livro, mas tomou posse e mostrou a que veio. E a relação entre os membros da família também é excelente, cumplicidade, uma dose certa de emoção. A Martha do livro era tímida, a da minissérie não é (*talvez fique depois com a tirania do irmão*), mas está muito bem interpretada. As melhores cenas do episódio 1, as mais humanas e interessantes ficaram com a família de Tom Builder. Quando eles encontram Ellen e Jack, fica ainda melhor.
Natalia Wörner é outra que tomou posse de Ellen e deu vida a personagem com grande sucesso. Ela consegue ser um pouco mais alegre que no livro, apesar do sofrimento e de viver sozinha com o filho na floresta. E a interação com Rufus Sewell foi perfeita. Já o sujeito que fez o Jack, bem, ele não disse ainda a que veio. E, no caso dele, ser mais velho, ter a idade do Alfred, faz muita diferença. No livro, Jack tinha 11 anos e Aliena 16. No primeiro encontro, ela olhou para ele como se fosse um bicho exótico, enquanto ele a via como uma princesa. Na minissérie, a diferença de idade, obstáculo para que Aliena pudesse perceber que amava Jack, que se apaixonou por ele, foi anulada. Como vão resolver isso, não sei. Só sei que queria o Jack menino esquisito por pelo menos dois capítulos, como um gênio adolescente mudo e tímido a personagem não me convenceu. O irmão de Aliena, Richard, que deveria ser novinho, também está crescido demais. Daí, o sacrifício da irmã por ele pode ficar meio esquisito... Esperemos o próximo capítulo.
Algumas mudanças foram muito evidentes e me incomodaram. Se bem me lembro do livro, o irmão de Philip encontra o filhinho recém nascido de Tom Builder e o leva para Kingsbridge, depois que Ellen e Jack encontram a criança e a levam para o caminho do mosteiro. Tom tinha abandonado o filho na neve, porque a mãe morrera de parto. Quando volta arrependido, não encontra mais o menino. Toda a seqüência do nascimento, abandono e arrependimento foi ótima. A família de Tom é o ponto alto da série. Na minissérie é o monge meio infantil, Johnny Eightpence, quem acha a criança. Ele também caiu de pára-quedas no mosteiro. Enfim, não lembro se foi o irmão de Philip quem levou a informação de que o pai de Aliena tramava com Maud para tomar o trono. Sim, claro, colocaram Stephen envenenando o rei Henrique I, coisa que não se fala no livro e que ele provavelmente não fez, para tomar o poder. A guerra civil ou anarquia seria mais legítima se não enfiassem essas jogadas. Simplesmente tanto Stephen, quanto Maud se achavam legítimos donos do poder. Para que colocar Stephen como assassino frio?
Enfim, sem olhar o livro de novo, acho que lembro que Philip sem querer foi o responsável pela queda do pai de Aliena e sua desgraça. Só que ele não barganhou sua eleição com o canalha do Waleran. Essa invenção me incomodou. Philip já era abade, embora Waleran ainda não fosse bispo. Mas, de novo, quiseram inventar uma intriga. O Matthew Macfadyen está bem no papel, a culpa não é dele em absoluto, mas Philip era incorruptível e, exatamente por isso, um tanto intolerante. Essa mancha na imagem dele, tendo que participar de uma maracutaia com o Waleran, me deixou decepcionada.
Pois bem, a mãe do William, também está OK, só que a atriz, Sarah Parish, é a mulher mais bonita do elenco, na minha opinião. Regan, a personagem, tinha o rosto deformado por uma cicatriz. Até colocam uma manchinha, mas é muito discreta para o que era no livro. Alison Pill que faz Maud (*ou Matilda*) tenta criar uma mulher forte e capaz de tudo para defender o trono do filho. Ela terá todo o mérito da criação, pois Maud mal aparece no livro. E eu, realmente, não imaginava Maud assim. Na minissérie, parece que ela sempre está na Inglaterra, quando um dos problemas para a aceitação dela por parte da nobreza inglesa era o fato dela ter morado boa parte do tempo no estrangeiro, primeiro casada com o Imperador do Sacro Império, e por isso ela foi chamada de Imperatriz por toda a vida, depois com o Conde D’Anjou, inimigo dos normandos (*i.e., da nobreza inglesa*). Ela teve três filhos e não somente o futuro Henrique II. Na série, ela é somente a filha que deseja cumprir o desejo do pai. Acredito que ela tenha sido muito mais do que isso e era mais velha que o irmão morto e uma mulher feita quando do desastre do White Ship.
Enfim, no primeiro capítulo, o destaque para mim foi a família do Tom, eles agem como família, passam sentimento, dor, preocupação. Eu não gosto do Albert no livro, mas na série ele parece um filho tão dedicado que consigo ver algo de bom nele. Liam Garrigan e a menina que faz a Martha, Skye Bennett, estão de parabéns. Foi simpática a cena entre o Conde de Shiring e a filha, pois assim como Rufus Sewell, Donald Sutherland está ótimo. Aliás, o único diálogo entre esses dois foi excelente, também. O que eu tenho medo – para além das mudanças que já sei que aconteceram (*a idade, os sei lá quantos estupros que William cometeu no livro e que serão cortados, a forma como Aliena e Jack fazem amor pela primeira vez, a morte de William, etc.*) – é que fiquem tempo demais falando da nobreza, das intrigas de Maud e Stephen, quando o importante é mostrar a catedral, o sonho de Tom Builder realizado pelo Jack, de mostrar a coragem e determinação da Aliena em cumprir o juramento feito ao pai ao custo de sua própria felicidade, de mostrar a integridade de Philip em relação aos seus votos monásticos.
Os Pilares da Terra é guiado pela construção da Catedral de Kingsbridge, não, pela intriga palaciana, é a forma como Follet consegue costurar história e ficção, criando personagens tão reais que você acredita que poderiam de fato ter existido que torna a história tão legal de se ler. Sei que Tom encontra Philip (*quero ver a "bruxa" Ellen brigando com o abade*) no próximo episódio e aí a história da catedral começa, mas temo, sim, que o foco tenha sido outro. Se não resistir, assisto o episódio dois ainda hoje. Ainda que tenha muitas ressalvas, se a minissérie saísse no Brasil completa (*não com os cortes que aconteceram nas minisséries baseadas em Jane Austen*), eu comprava.
Acabei assistindo o episódio 2 e preciso fazer algumas considerações. e pode conter spoilers. Cortaram muito da violência que está no livro e, estranhamente, enfiaram um monte de cenas de execução que no livro não são referidas. Aliás, estão inventando muita coisa. Por exemplo, o estupro de Aliena, que era perpetrado por William e seu escudeiro, foi "limpo", por assim dizer, de toda uma sorte de humilhações e violências que são feitas com ela. Nudez ZERO. O escudeiro corta a orelha de Richard, mas, estranhamente, ela parece voltar a crescer... Falha feia da maquiagem.
Uma mudança bem incomoda, porque significou diminuição do drama e da angústia, foi a execução do pai do Jack. Ele não sabia os motivos da sua condenação, ele era absolutamente inocente. E foi condenado à força e ninguém cortou-lhe a língua. Ele cantou belamente antes da execução, porque era menestrel. E deveriam ter colocado a Ellen grávida, como no livro, e jogando a praga com o "galo giratório". Afinal, podem cortar mãos e cabeças, mas não podem sangrar um galo fake? Dessa parte eu realmente não gostei.
A fuga de Aliena e Richard (*que virou um bundão na minissérie*) é dramática, mas as desgraças que enfrentam depois desaparecem, conseguem entrar sem nenhuma dificuldade para ver o pai na prisão. E foi feita uma mudança muito séria: no livro, Aliena é obrigada a jurar pelo pai, na minissérie, ela invoca o juramento. Como então ela poderá se sentir prisioneira do juramento feito? Outra coisa, não há incesto entre William e a mãe no livro, não sei quem decidiu inventar isso e colocar na série. A relação deles era próxima, a mãe o superprotegia, mas não havia qualquer insinuação de sexo. Aliás, todos os problemas do William com sexo estavam ligados a obsessão por Aliena. Enfim, de resto foi um bom capítulo. O menino que faz o Jack começou a mostrar talento, a família do Tom e a Ellen estão ótimos. As cenas do Rufus Sewell com o Matthew Macfadyen foram ótimas. Aliás, o Matthew Macfadyen está bem como Philip, mesmo com as mudanças. Se der, outro dia comento mais dois capítulos.
3 pessoas comentaram:
Eu também fiquei sem entender essa história do incesto do William e da mãe... Qual foi a finalidade de enfiarem isso na história? Ficou meio pointless, parece que colocaram só pra criar polêmica.
O que me deixa mais triste na minissérie é que (até onde eu assisti) eles apagaram demais o Philip. Teoricamente ele é o protagonista da história, acho que ele ficou meio obscurecido pelas tramas políticas.
Quanto ao negócio dele e do Waleran, pelo que eu me lembro do livro, Waleran fez ele prometer que o ajudaria a ser bispo se ele o ajudasse a ser eleito prior e o Philip aceitou, porque não sabia que o bispo tinha morrido e achava que não teria que cumprir a promessa por um bom tempo. Então eu acho que isso procede? (Lembro melhor do livro que da série)
Apesar das modificações gosto bastante da série, preciso sentar pra terminar de assitir.
Ainda não vi nenhum dos episodios e estou meio sem animo.
Mas vamos ver se crio coragem p/ dar uma olhada.
Gosto muito dos livros.
Valéria,
confesso que estava na expectativa de ler os seus comentários sobre a série.
Concordo com vc, que muitas coisas foram mudadas, mas visto que o próprio Ken Follet aprovou o roteiro, então não podemos nem reclamar para o autor.
Também acho que deram muito ênfase as intrigas do Palácio e a Catedral não foi o destaque principal.
O Prior Philip está muito mudado, do Philip do livro, assim como muitos outros personagens.
Mas no geral gostei muito da série.
Estarei aguardando os seus comentários dos próximos episódios.
Bjão.
Luciana
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