Uma das coisas mais legais que podem acontecer é quando você vai assistir a um filme sem esperar coisa alguma e sai plenamente satisfeita. Foi assim com Centurião (Centurion), só sabia que o filme se passava na época do Império Romano, que era inglês e muito violento. E eu até pensei que podia ser uma comédia involuntária, tipo A Última Legião, mas, na verdade, é um filme de ação com um roteiro simples, bem articulado, boas interpretações, e muitas cabeças espatifadas, membros decepados, mortos aos montes. O típico filme do gênero “para assistir com meu pai”. Sim, eu criei essa categoria desde que vi Sherlock Holmes sem janeiro. O tempo inteiro eu imaginava as reações e comentários dele. Saindo em DVD, compro só para levar para o Rio e assistirmos juntos. É um filme pipoca sincero e que, por não ter grandes pretensões, convence e empolga.
A história do filme é a seguinte: Bretanha, 117 d.C., os romanos lutam desesperadamente para submeter os pictos e ocupar toda a ilha, mas a tarefa se tornou um inferno e a ilha um cemitério para os legionários. Quintus Dias, protagonista do filme, tem sua guarnição massacrada e é levado como prisioneiro pelo inimigo, porque sabe a língua dos pictos. Mesmo depois de torturado, ele consegue fugir e acaba sendo salvo pela lendária 9ª Legião, que foi enviada, contra a vontade de seu general, o popular Titus Flavius Virilus, para massacrar os pictos e levar seu rei cativo para o governado romano. O problema é que a guerreira bárbara, chamada Etain, que o próprio governador enviou como rastreadora conduziu a Legião para uma armadilha. A Nona é massacrada, o general capturado, e um punhado de sobreviventes liderados por Quintus parte para o norte com o objetivo de resgatar seu comendante... Mas a missão não será nada fácil!
A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi procurar informações na internet sobre a tal 9ª Legião. Ela foi personagem e deu título ao filme A Última Legião, ela é central em Centurião, e será central em outro filme que sai em 2011. Afinal, qual a origem dessa história da Nona ter desaparecido na Bretanha? Pois bem, pelo que descobri, a “lenda” a respeito da 9ª Legião tem como base o fato de o último registro sobre ela ter sido feito na Bretanha, no momento em que os romanos estão tendo muito problema com os pictos e outras tribos, até que recuam e constroem a Muralha de Adriano. No entanto, segundo a Wikipedia, oficiais da Nona aparecem em outros registros posteriores, seja em posições de comando, seja integrando outras legiões. Então, apesar da Nona ter sumido dos anais romanos, ela provavelmente não foi engolida pelas brumas do norte da Inglaterra. Mas isso importa no filme? Não, porque tudo foi muito bem amarradinho.
Assistindo Centurião, depois que passa o massacre da Nona, só pude lembrar de filmes tipo Os 12 Condenados, com os sujeitos metidos em uma missão impossível com a plena consciência de que não vão conseguir sair todos vivos dela. Fora isso, desde o primeiro momento não consegui escolher um lado. Quintus pode ser o herói, o sujeito honrado, fiel e destemido, mas os pictos têm todo o direito de lutar por sua terra e sua liberdade. Isso faz com que eles sejam igualmente simpáticos. Para se ter uma idéia, Etain é muda, porque teve sua língua arrancada pelos romanos. Quando menina, ela viu o seu povoado ser destruído, seu pai ser torturado e morto, sua mãe ser estuprada por vários sujeitos e depois assassinada, e, em seguida, ela mesma foi estuprada e mutilada. Alguém em sã consciência acha que ela não deveria odiar os romanos? Já o rei dos pictos, Gorlacon, era um agricultor e teve suas terras queimadas e esposa assassinada. É por causa disso que ele lidera a resistência que vai minando o poder romano. Já os romanos, tiram na moedinha (*sim, cara ou coroa*) para ver quem vai matar um inimigo desarmado. Ou seja, ninguém é bonzinho ou inocente. E isso fez com que o filme ganhasse pontos comigo.
Outro detalhe do filme é que ele é sujo. Os atores e atrizes – que fazem os bárbaros e os soldados – são cheios de cicatrizes, inclusive no rosto. Suas roupas são gastas, as condições da campanha são mostradas em toda a extensão da sua adversidade. Não existem sujeitos bonitinhos, arrumadinhos, são homens e mulheres marcados pela guerra. Eu gosto disso, os homens, especialmente, passam a virilidade necessária a legionários romanos e não parecem versões humanas do Ken, namorado da Barbie. Claro que a cena da taverna no início é colocada só para acentuar o quão machos eles são... mas a gente releva, já que mais adiante uma guerreira solitária vai ferrar com todos eles e em grande estilo! A única exceção na sujeira coletiva, embora ela tenha a sua cicatriz, também, é Imogen Poots, que faz Arianne. Seu cabelo é tão arrumadinho que ela parece que veio do salão. E ela é muito, muito bonita mesmo, ou está muito bonita no filme.
Um aspecto interessante de Centurião é o excesso de violência. E a censura é 16 anos. Confesso que estou cansada de ver filmes que deveriam ser violentos até como uma forma de serem didáticos, sendo limpos do sangue e absolutamente esterilizados, para conseguirem o selinho americano PG13. Ainda bem que Centurião é inglês, e não entrou nesse joguinho. Não é filme para criança, ou melhor dizendo, não é filme para criança assistir no cinema. Enfim, todo o excesso de violência é proposital, e usado como atrativo, mas condiz, a meu ver, com o que seria um campo de batalha de verdade. Esta semana passada, meu marido e eu estávamos discutindo batalhas medievais por causa de Ivanhoé. E uma das questões era o estrago que um machado de combate poderia causar. Enfim, Centurião mostra isso muito bem. Assistir as lutas e batalhas do filme, especialmente o massacre da Nona, me fez imaginar como seria a carnificina de verdade. Sei que vai ter moleque vendo aquilo e vibrando, achando que é videogame, mas achei a coisa toda muito didática. É sangue, urina, vômito, membros mutilados, crânios esfacelados, tortura, enfim, cardápio completo. Acho que a maioria das pessoas não curte muito isso, não acha “legal” estar no campo de batalha. As reações do público só reforçaram a minha opinião. Já o duelo de Etain com o general é emocionante, assim como o agora ou nunca dos sobreviventes contra os batedores pictos. Mas não vou comentar essa parte, porque seria um grande spoiler.
Falando agora do elenco. Uma das coisas interessantes foi ver algumas figuras dos seriados da BBC e filmes da ITV em Centurião, começando com David Morrissey, que fez o Coronel Brandon em Razão e Sensibilidade (2008), e JJ Feild, que foi o fofinho do Mr. Tilney em Northanger Abbey (2007). Aliás, vou chamar a personagem dele de Mr. Tilney quando comentar sobre ela. Já o ator que faz Quintus Dias, Michael Fassbender, será Mr. Rochester na versão de Jane Eyre que estréia ano que vem. Como gostei da atuação dele, estou mais curiosa ainda para vê-lo encarnando uma das minhas personagens favoritas da literatura, ainda que eu ache o sujeito muito novinho para o papel. Imogen Poots também estará em Jane Eyre fazendo uma Blanche Ingram morena (*isso é curioso, sempre colocam a personagem loura, e acho que a atriz é loura*). Já Dominic West, Titus Flavius Virilus, estava em O Sorriso de Monalisa. Era o professor canalha.
Talvez, pelo tom do meu texto vocês estejam achando que se trata de uma obra-prima, mas não é esse o ponto. Centurião é um filme barato, mas que usou muito bem os recursos. Não tem uma história brilhante, profunda, nada disso, mas convence colocando as peças nos seus devidos lugares. É um filme sobre sete sujeitos com uma missão impossível e pronto. Colocaram a história no século II d.C., mas poderiam deslocar para outro momento da história sem grandes problemas. Ou mesmo um ambiente de ficção científica. Etain é tão terrível quanto o Predador. Mas é a sinceridade o que conta mais. Detesto filmes que se vendem como mais do que são, como material profundo ou “a verdadeira história”, como foi o caso de Rei Arthur. Centurião é low profile e, exatamente por isso, me satisfez e convenceu. Achei o final do filme, os últimos sete minutos um pouco confusos e eles poderiam ter acabado com parte da minha boa impressão do filme, mas conseguiram salvar. Ali, foi o momento em que os romanos se mostraram mais vis, criando a lenda da 9ª Legião, e o herói se viu sozinho contra o mundo novamente. Mas, talvez a minha confusão no final tivesse como fonte o fato de estar um tanto enervada com o Mr. Tilney. E é melhor explicar.
Um dos pontos fracos do filme, talvez o único, seja o Mr. Tilney... Eu estou deixando o nome da personagem simpática de Jane Austen, porque “Thax”, ainda que apelido, não soa romano nem aqui, nem na Muralha de Adriano. Aliás, os nomes/apelidos dos caras eram um primor de nonsense, mas deixa para lá. Enfim, desde o início, Mr. Tilney é meio engraçadinho, e fui levada a pensar que ele era somente o babaca do grupo. Mas, depois, ele se mostra um traidor. O problema é que ele não precisava trair, afinal, por que os romanos iriam ficar com a consciência pesada por ele ter matado o filho do chefe picto? E isso, depois do massacre da Nona e de não conseguirem resgatar o general... Ou seja, ele não tinha parte no fiasco. Fora, claro, que eles seriam caçados de qualquer forma por invadirem o acampamento dos pictos. O assassinato do menino foi somente um pretexto capenga. Mas, a partir daí, Mr. Tilney começa a querer ferrar com todo o grupo, com seus companheiros de anos de campo de batalha. Com Quintus Dias, ele não tinha afinidade, mas e os outros seis? E tudo isso para encobrir um “crime” que nem a sensibilidade moderna teria consenso a respeito, quanto mais os romanos que passavam feito um trator em cima de tribos, povos e nações. E ele mata o legionário negro (*sim, é preciso cumprir cotas, temos o legionário negro e o cozinheiro árabe*) a troco de nada. Por que? Só para mostrar o queão vil era a personagem? Se há um vilão no filme, é o Mr. Tilney, mas é um vilão fraco, sem consistência, que destoa do realismo e do bom senso da trama.
Enfim, para um filme do qual não esperava nada, Centurião foi um bom divertimento. E que fique claro que ele não é risível em nenhum momento. Não consegui dar um sorriso e ninguém riu no cinema, as reações eram de apreensão, piedade e nojo (*estômagos sensíveis...*). Gostei de ver uma guerreira convincente como oponente dos valorosos romanos. Não é sempre que isso acontece. A personagem de Imogen Poots também é inteligente, corajosa, e ainda que não pegue em armas, salva a vida de Quintus e do que sobrou do seu grupo. O filme não cumpre a Bechdel Rule, porque apesar de ter quatro personagens femininas, duas delas com nomes (*Etain e Arianne*), elas não conversam entre si (*Etain não poderia mesmo*). De qualquer forma, em um filme que é masculino até a medula, ter mulheres com papéis importantes e decisivos para a trama é um bônus inesperado. Dou oito para Centurião, superou as minhas expectativas como filme pipoca, manteve a coerência histórica mínima necessária a esse tipo de produto, e foi muito melhor como divertimento do que, por exemplo, Gladiador, com sua chatice e erros históricos bem grosseiros.
A história do filme é a seguinte: Bretanha, 117 d.C., os romanos lutam desesperadamente para submeter os pictos e ocupar toda a ilha, mas a tarefa se tornou um inferno e a ilha um cemitério para os legionários. Quintus Dias, protagonista do filme, tem sua guarnição massacrada e é levado como prisioneiro pelo inimigo, porque sabe a língua dos pictos. Mesmo depois de torturado, ele consegue fugir e acaba sendo salvo pela lendária 9ª Legião, que foi enviada, contra a vontade de seu general, o popular Titus Flavius Virilus, para massacrar os pictos e levar seu rei cativo para o governado romano. O problema é que a guerreira bárbara, chamada Etain, que o próprio governador enviou como rastreadora conduziu a Legião para uma armadilha. A Nona é massacrada, o general capturado, e um punhado de sobreviventes liderados por Quintus parte para o norte com o objetivo de resgatar seu comendante... Mas a missão não será nada fácil!
A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi procurar informações na internet sobre a tal 9ª Legião. Ela foi personagem e deu título ao filme A Última Legião, ela é central em Centurião, e será central em outro filme que sai em 2011. Afinal, qual a origem dessa história da Nona ter desaparecido na Bretanha? Pois bem, pelo que descobri, a “lenda” a respeito da 9ª Legião tem como base o fato de o último registro sobre ela ter sido feito na Bretanha, no momento em que os romanos estão tendo muito problema com os pictos e outras tribos, até que recuam e constroem a Muralha de Adriano. No entanto, segundo a Wikipedia, oficiais da Nona aparecem em outros registros posteriores, seja em posições de comando, seja integrando outras legiões. Então, apesar da Nona ter sumido dos anais romanos, ela provavelmente não foi engolida pelas brumas do norte da Inglaterra. Mas isso importa no filme? Não, porque tudo foi muito bem amarradinho.
Assistindo Centurião, depois que passa o massacre da Nona, só pude lembrar de filmes tipo Os 12 Condenados, com os sujeitos metidos em uma missão impossível com a plena consciência de que não vão conseguir sair todos vivos dela. Fora isso, desde o primeiro momento não consegui escolher um lado. Quintus pode ser o herói, o sujeito honrado, fiel e destemido, mas os pictos têm todo o direito de lutar por sua terra e sua liberdade. Isso faz com que eles sejam igualmente simpáticos. Para se ter uma idéia, Etain é muda, porque teve sua língua arrancada pelos romanos. Quando menina, ela viu o seu povoado ser destruído, seu pai ser torturado e morto, sua mãe ser estuprada por vários sujeitos e depois assassinada, e, em seguida, ela mesma foi estuprada e mutilada. Alguém em sã consciência acha que ela não deveria odiar os romanos? Já o rei dos pictos, Gorlacon, era um agricultor e teve suas terras queimadas e esposa assassinada. É por causa disso que ele lidera a resistência que vai minando o poder romano. Já os romanos, tiram na moedinha (*sim, cara ou coroa*) para ver quem vai matar um inimigo desarmado. Ou seja, ninguém é bonzinho ou inocente. E isso fez com que o filme ganhasse pontos comigo.
Outro detalhe do filme é que ele é sujo. Os atores e atrizes – que fazem os bárbaros e os soldados – são cheios de cicatrizes, inclusive no rosto. Suas roupas são gastas, as condições da campanha são mostradas em toda a extensão da sua adversidade. Não existem sujeitos bonitinhos, arrumadinhos, são homens e mulheres marcados pela guerra. Eu gosto disso, os homens, especialmente, passam a virilidade necessária a legionários romanos e não parecem versões humanas do Ken, namorado da Barbie. Claro que a cena da taverna no início é colocada só para acentuar o quão machos eles são... mas a gente releva, já que mais adiante uma guerreira solitária vai ferrar com todos eles e em grande estilo! A única exceção na sujeira coletiva, embora ela tenha a sua cicatriz, também, é Imogen Poots, que faz Arianne. Seu cabelo é tão arrumadinho que ela parece que veio do salão. E ela é muito, muito bonita mesmo, ou está muito bonita no filme.
Um aspecto interessante de Centurião é o excesso de violência. E a censura é 16 anos. Confesso que estou cansada de ver filmes que deveriam ser violentos até como uma forma de serem didáticos, sendo limpos do sangue e absolutamente esterilizados, para conseguirem o selinho americano PG13. Ainda bem que Centurião é inglês, e não entrou nesse joguinho. Não é filme para criança, ou melhor dizendo, não é filme para criança assistir no cinema. Enfim, todo o excesso de violência é proposital, e usado como atrativo, mas condiz, a meu ver, com o que seria um campo de batalha de verdade. Esta semana passada, meu marido e eu estávamos discutindo batalhas medievais por causa de Ivanhoé. E uma das questões era o estrago que um machado de combate poderia causar. Enfim, Centurião mostra isso muito bem. Assistir as lutas e batalhas do filme, especialmente o massacre da Nona, me fez imaginar como seria a carnificina de verdade. Sei que vai ter moleque vendo aquilo e vibrando, achando que é videogame, mas achei a coisa toda muito didática. É sangue, urina, vômito, membros mutilados, crânios esfacelados, tortura, enfim, cardápio completo. Acho que a maioria das pessoas não curte muito isso, não acha “legal” estar no campo de batalha. As reações do público só reforçaram a minha opinião. Já o duelo de Etain com o general é emocionante, assim como o agora ou nunca dos sobreviventes contra os batedores pictos. Mas não vou comentar essa parte, porque seria um grande spoiler.
Falando agora do elenco. Uma das coisas interessantes foi ver algumas figuras dos seriados da BBC e filmes da ITV em Centurião, começando com David Morrissey, que fez o Coronel Brandon em Razão e Sensibilidade (2008), e JJ Feild, que foi o fofinho do Mr. Tilney em Northanger Abbey (2007). Aliás, vou chamar a personagem dele de Mr. Tilney quando comentar sobre ela. Já o ator que faz Quintus Dias, Michael Fassbender, será Mr. Rochester na versão de Jane Eyre que estréia ano que vem. Como gostei da atuação dele, estou mais curiosa ainda para vê-lo encarnando uma das minhas personagens favoritas da literatura, ainda que eu ache o sujeito muito novinho para o papel. Imogen Poots também estará em Jane Eyre fazendo uma Blanche Ingram morena (*isso é curioso, sempre colocam a personagem loura, e acho que a atriz é loura*). Já Dominic West, Titus Flavius Virilus, estava em O Sorriso de Monalisa. Era o professor canalha.
Talvez, pelo tom do meu texto vocês estejam achando que se trata de uma obra-prima, mas não é esse o ponto. Centurião é um filme barato, mas que usou muito bem os recursos. Não tem uma história brilhante, profunda, nada disso, mas convence colocando as peças nos seus devidos lugares. É um filme sobre sete sujeitos com uma missão impossível e pronto. Colocaram a história no século II d.C., mas poderiam deslocar para outro momento da história sem grandes problemas. Ou mesmo um ambiente de ficção científica. Etain é tão terrível quanto o Predador. Mas é a sinceridade o que conta mais. Detesto filmes que se vendem como mais do que são, como material profundo ou “a verdadeira história”, como foi o caso de Rei Arthur. Centurião é low profile e, exatamente por isso, me satisfez e convenceu. Achei o final do filme, os últimos sete minutos um pouco confusos e eles poderiam ter acabado com parte da minha boa impressão do filme, mas conseguiram salvar. Ali, foi o momento em que os romanos se mostraram mais vis, criando a lenda da 9ª Legião, e o herói se viu sozinho contra o mundo novamente. Mas, talvez a minha confusão no final tivesse como fonte o fato de estar um tanto enervada com o Mr. Tilney. E é melhor explicar.
Um dos pontos fracos do filme, talvez o único, seja o Mr. Tilney... Eu estou deixando o nome da personagem simpática de Jane Austen, porque “Thax”, ainda que apelido, não soa romano nem aqui, nem na Muralha de Adriano. Aliás, os nomes/apelidos dos caras eram um primor de nonsense, mas deixa para lá. Enfim, desde o início, Mr. Tilney é meio engraçadinho, e fui levada a pensar que ele era somente o babaca do grupo. Mas, depois, ele se mostra um traidor. O problema é que ele não precisava trair, afinal, por que os romanos iriam ficar com a consciência pesada por ele ter matado o filho do chefe picto? E isso, depois do massacre da Nona e de não conseguirem resgatar o general... Ou seja, ele não tinha parte no fiasco. Fora, claro, que eles seriam caçados de qualquer forma por invadirem o acampamento dos pictos. O assassinato do menino foi somente um pretexto capenga. Mas, a partir daí, Mr. Tilney começa a querer ferrar com todo o grupo, com seus companheiros de anos de campo de batalha. Com Quintus Dias, ele não tinha afinidade, mas e os outros seis? E tudo isso para encobrir um “crime” que nem a sensibilidade moderna teria consenso a respeito, quanto mais os romanos que passavam feito um trator em cima de tribos, povos e nações. E ele mata o legionário negro (*sim, é preciso cumprir cotas, temos o legionário negro e o cozinheiro árabe*) a troco de nada. Por que? Só para mostrar o queão vil era a personagem? Se há um vilão no filme, é o Mr. Tilney, mas é um vilão fraco, sem consistência, que destoa do realismo e do bom senso da trama.
Enfim, para um filme do qual não esperava nada, Centurião foi um bom divertimento. E que fique claro que ele não é risível em nenhum momento. Não consegui dar um sorriso e ninguém riu no cinema, as reações eram de apreensão, piedade e nojo (*estômagos sensíveis...*). Gostei de ver uma guerreira convincente como oponente dos valorosos romanos. Não é sempre que isso acontece. A personagem de Imogen Poots também é inteligente, corajosa, e ainda que não pegue em armas, salva a vida de Quintus e do que sobrou do seu grupo. O filme não cumpre a Bechdel Rule, porque apesar de ter quatro personagens femininas, duas delas com nomes (*Etain e Arianne*), elas não conversam entre si (*Etain não poderia mesmo*). De qualquer forma, em um filme que é masculino até a medula, ter mulheres com papéis importantes e decisivos para a trama é um bônus inesperado. Dou oito para Centurião, superou as minhas expectativas como filme pipoca, manteve a coerência histórica mínima necessária a esse tipo de produto, e foi muito melhor como divertimento do que, por exemplo, Gladiador, com sua chatice e erros históricos bem grosseiros.
7 pessoas comentaram:
Valéria, obrigada pela crítica!
Eu vi neste trailer, muito rapidinho, antes do JJ aparecer, o Wikipedia founder Jimmy Wales
Liam Cunningham (que faz o papel do General Tilney - no caso pai do Henry Tilney)!!
Adriana, eu acho que o ator que fez o general (Liam Cunningham) está no filme, também. Ele faz o soldado mais velho, o "Brick" (*vê se isso é apelido de romano...*). Sem a peruca e todo brutalizado ficou difícil reconhecer. ^_^
Esse filme está em cartaz?
Preciso ve-lo.
Tem um tempo que não assisto um bom filme sobre era medieval ou Antiguidade.
Ótima crítica, Valéria. Só uma dica, o diretor, Neil Marshall é mais conhecido por filmes B com algum conteúdo – comparado com a safra americana, diria que verdadeiras obras de autor –, sempre lembrado por Dog Soldiers (lobisomens contra militares) e Abismo do Medo. Esse último é interessantíssimo, acredito que há muita coisa legal a ser discutida no filme – grupo de mulheres entra em uma caverna e acaba sendo perseguidas por seres estranhos. Achei uma das leituras mais interessantes da “luta homem x mulher”. Não sei se você gosta do gênero, mas dá uma olhada no trailer. Outra coisa, em todos os filmes Neil Marshall cria personagens femininos fortes, algo parecido com o que James Cameron faz o que é uma evolução em filmes de terror atualmente.
Abraços!
Olha o trailer para você dar uma olhada>
http://www.youtube.com/watch?v=SuyKiHoBiuA
"Olha o trailer para você dar uma olhada" foi ótimo!!! :P
Parabéns pela crítica.
Eu assisti O Centurião mas não gostei.Achei o filme bem fraco. Claro que foi melhor do que A Última Legião que foi um fiasco de tão ruim, mas assim mesmo não me apeteceu apesar dos bons atores. Achei muito sanguinolento, apesar que naquela época devia ser até pior que isso, e acho que a estória se perde num determinado ponto. Mas vai mesmo pelo gosto de cada um.
Eu esperava mais do filme p/ser sincera
Bem, Madalena, eu não vejo A Última Legião como um fiasco. Acho, sim, um filme muito divertido. :)
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