domingo, 17 de outubro de 2010

Seriados ajudam a divulgar a ciência e rediimir os nerds



Eu continuo achando The Big Bang Theory uma delícia. Tenho a impressão, no entanto, que ela não pode durar muito, especialmente se os episódios começarem a se centrar pesadamente no Sheldon e na Penny usando os demais como escada. O Leonard era o protagonista... ou, pelo menos, eu achava isso. Mas enquanto existir, estou lá. O quarto episódio da temporada atual já deixou um pouquinho a “sheldoncentria”. Enfim, mas se a série serve para divulgar a ciência e mostrar que ela pode ser legal, já está ganhando pontos. Eu queria um seriado pelo menos em que quando alguém dissesse “Sou historiador”, logo não viesse à cabeça “Lá vem o babaca e/ou mala do episódio.”. Em Jornada nas Estrelas era de dar desespero. A matéria a seguir veio da Folha de São Paulo.

Físicos aprovam "séries nerds" de TV

Para eles, programas como "The Big Bang Theory", "The Mentalist" e "Numb3rs" são cientificamente precisos. Para físico que colabora com roteiros de "The Big Bang Theory", uso de estereótipos não deve ser visto como problema.

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

"Todo mundo na faculdade de física adora "The Big Bang Theory", a gente fala "bazinga!" toda hora, pra tudo", diz Luiza Maurutto, 19, aluna de física na USP. "Bazinga!" é a marca registrada de Sheldon Cooper, físico nerd que é protagonista dessa série de televisão. Ele usa a expressão sempre que quer deixar claro que está sendo irônico -físico estereotipado, entre as suas limitações sociais está o fato de ele não compreender o sarcasmo, e por isso achar que ninguém mais consegue.

Impressiona, então, que, em vez de irritar os físicos, a nerdice e a incapacidade de Sheldon de se relacionar com outros seres humanos normalmente tenham feito que ele ganhasse uma vasta legião de fãs nos departamentos de física. Paulo Nussenzveig, professor de física da USP, conta, por exemplo, que é fã da série e já ter até levou cenas para a sala de aula. A admiração pelo personagem e pelo programa de TV, que já vai para a sua quarta temporada nos EUA, tem ao menos dois grandes motivos.

PIADA, MAS COM RIGOR

O primeiro é que os físicos consideram – e eles se importam tremendamente com isso – que a série é cientificamente precisa. Os personagens, dizem, não cometem uma única impropriedade, e mesmo as piadas não perdem o rigor científico. O grande responsável por isso é David Saltzberg, físico da Universidade da Califórnia em Los Angeles e consultor da série. Ele decide quais equações estarão nas lousas, quais livros-texto os personagens vão carregar e quais comentários científicos farão.

"The Big Bang Theory" é a série mais popular, mas outras com temática científica têm consultores semelhantes – e também conquistaram os pesquisadores. Uma delas é "Numb3rs", em que um gênio da matemática usa o seu conhecimento para resolver crimes, mas há várias. "Aprecio "The Mentalist", "House", "CSI" e outras dessa leva de séries no estilo "smart is the new sexy" [algo como "sexy agora é ser inteligente']", diz o professor de física da USP Osame Kinouchi. "É um refresco, depois de décadas de séries como "Buffy, a Caça-Vampiros"."

ABRAÇO DE CIENTISTA

No caso de "The Big Bang Theory", o segundo motivo pelo qual os físicos gostam da série é que, afinal, eles têm mesmo muitos colegas que lembram o Sheldon. "Tenho vários amigos assim, a série é muito verdade. Bem nerds, que só falam de física. Amigos que, quando todos estão almoçando, ficam fazendo conta num papelzinho, que tem dificuldade para se relacionar, para abraçar, até para falar com mulher", diz Maurutto.

Saltzberg, o consultor da série, comentou para a Folha esse fenômeno da onipresença de sheldons nas turmas de físicos pelo mundo. "Todo mundo diz conhecer um Sheldon, mas ninguém diz ser um. A matemática não bate", brinca. "Mas talvez surpreenda que aqui na minha universidade, a UCLA, eu tenho visto muitas jovens mulheres totalmente apaixonadas pelo Sheldon."

FÍSICO NÃO É COITADO

Os físicos apontam, ainda, mais fatores que agradam nessas séries. "Os nerds em "The Big Bang Theory", por exemplo, são arrogantes o suficiente para estarem por cima. É diferente de Friends, em que o cientista, o paleontólogo Ross, era um coitado... embora ele tenha ficado com a Jennifer Aniston", diz Kinouchi. "E acho que os físicos gostam também porque (quase) todos estamos procurando nossa Penny, não?", brinca, em referência à atraente garçonete loira que é personagem da série e acaba se envolvendo com o físico que mora com Sheldon.

Alguns cientistas, porém, até gostam da série, mas fazem algumas ressalvas sobre a criação de estereótipos. Um deles é o colunista da Folha e professor do Dartmouth College (EUA) Marcelo Gleiser, que acha que levar à televisão a imagem do cientista como um ser com dificuldades para se ajustar socialmente pode acabar ridicularizando a carreira. A maioria dos cientistas ouvidos pela Folha, porém, discorda. Estereótipo é parte da comédia. É ele que provê todo o pilar da piada. Eu não levo seu uso tão a ferro e fogo assim", diz Daniel Doro Ferrante, físico brasileiro da Syracuse University (EUA). Saltzberg segue essa linha. "Os físicos de "The Big Bang Theory" mostram uma profunda paixão pelo que eles fazem, a mesma paixão que os melhores cientistas têm."

Professor põe ciência na versão final de roteiro

DE SÃO PAULO

Quando Leonard, físico da série "The Big Bang Theory", começa a se relacionar com uma outra cientista, eles romanticamente definiram um beijo como uma "exploração biossocial com alguma sobreposição neuroquímica". O responsável por esse tipo de piada, engraçada tanto para os cientistas que reconhecem o jargão quanto para o leigo que acha divertido o jeito estranho de encarar a coisa, é David Saltzberg.

O físico da UCLA recebe os roteiros com algumas lacunas. São diálogos como "eu ouvi sobre o seu último [colocar aqui alguma ciência] – 20 mil tentativas e nenhum resultado significativo!". Ele, então, propõe algo científico que faça sentido – e aproveita para corrigir que físicos não gostam muito da palavra "tentativas". "Ouvi sobre o seu último experimento de desintegração de antiprótons – 20 mil tomadas de dados e nenhum resultado significativo" é o que acaba indo para as telas.

Mas ele lembra que os roteiristas da série também amam ciência. Quando Sheldon diz que "essa é uma circunstância que gente pouco familiar com a lei dos grandes números chamaria de coincidência", então, talvez o texto não seja dele. Eles são, diz, fãs de todo o folclore nerd, "de quadrinhos até Star Trek". A parceria funciona: mesmo "Lost" teve menos audiência nos EUA do que a série. Salzberg tem um blog sobre a ciência por trás de cada episódio da série. O endereço é thebigblogtheory.wordpress.com. Há uma versão em português em thebigblogtheorybrpt.wordpress.com. (RM)

2 pessoas comentaram:

Interessante esquecerem Bones, acho que é a série mais nerd do momento ao lado de TBBT.
Não gostei do comentário sobre Buffy, Buffy foi mais uma série idiota por uns 8 episódios, mas depois disso é interessante como além da grande qualidade dos roteiros (que só vão evoluindo com o passar dos episódios) eles usam os problemas sobrenaturais da Buffy para abordar os problemas da adolescência, quando a Bufy começa a namorar o Angel por exemplo, era só mudar a palavra vampiro para drogado, ou marginal que ia dar na mesma, os vampiros e monstros só serviam como alegoria para os problemas ou mesmo para colocar um tempero.

É, esse comentário de Buffy não tem pé nem cabeça. Parece que ele quis dizer "décadas de séries que não me interessavam" e Buffy foi a primeira coisa que veio à sua cabeça.

E sobre Big Bang Theory durar... uma coisa que eu vi em séries de comédia duradouras como Friends é a tendência a banalizar os personagens ao longo do tempo - ou seja, focar apenas nas características básicas dos personagens e buscar o efeito cômico no seu exagero, ao invés de buscar nuances e piadas mais elaboradas. Assim, Joey passou de um rapaz ingênuo em algumas áreas para um completo acéfalo nas últimas temporadas; Monica foi de levemente neurótica a uma insana estridente; Rachel foi de mimada multifacetada a uma chorona boboca e assim por diante.

Mas a diferença de Friends para outras séries é que ela demorou 6 ou 7 anos para cair de qualidade, enquanto outras se banalizam bem mais depressa - e no caso de Big Bang, focar no Sheldon é acelerar o desgaste da personagem e da série.

A principal evidência disso é esse insuportável "Bazinga". Coisa mais chata! Não vi muito da 3a temporada, mas a propaganda da Warner Channel foi um péssimo sinal: de que o humor de Sheldon está se desviando de suas manias e inadequações sociais e indo para bordões bestas a la "Zorra Total".

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