Esta semana foi publicado o ranking do Banco Mundial sobre desigualdade de gênero. O Brasil, como vocês devem desconfiar, não está lá muito bem, mas o Japão consegue ser o pior colocado dentre os países desenvolvidos. Se o Brasil está em um desconfortável 85º lugar, tendo caído quatro posições, o Japão está em 94º lugar. Subiu algumas posições, verdade, mas está rankeado entre os países mais pobres e os islâmicos, ou seja, aqueles nos quais as mulheres são cidadãs de segunda classe. Motivo? Leis que não favorecem as mulheres, baixa participação em cargos de poder (*políticos, administrativos*), baixa participação das mulheres casadas no mercado de trabalho, etc. E, aqui é importante enfatizar, porque culturalmente muitos japoneses esperam que as esposas fiquem em casa e as próprias empresas fazem questão de despachar as mulheres casadas. Com a crise econômica, primeiro foram os empregos dos estrangeiros, depois os empregos das mulheres. E isso contra o discurso dos economistas, que advogam a necessidade das mulheres contribuírem com a força produtiva e o sustento da casa, e das feministas que defendem que a equidade de gênero só poderá ser alcançada com uma maior participação das mulheres no espaço público. Enfim, eu nem ia comentar de novo este ano sobre o Ranking, mas a Sahra, que participou conosco do Shoujocast sobre Hanadan, me passou uma notícia interessante do Mainichi Daily News.
Pois bem, o Japão além de patriarcal, ainda é gerontocrático, isto é, os homens velhos estão nos postos de maior poder e esperam ficar lá. Como a expectativa de vida no Japão é alta, vão ficando mesmo, independente de terem ou não contato com o “mundo real” lá fora. E este mundo real significa, um número cada vez menor de nascimentos, mulheres que não querem se casar ou retardam ao máximo a idade de casamento, porque querem ter uma profissão, ou, pelo menos, independência. Daí, eis que acontece um seminário internacional com mulheres empresárias, mais de 300 de 21 países do fórum de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, fora americanas e outras convidadas. Chamam para falar o vice-ministro da economia, indústria e comércio japonesa, Yoshikatsu Nakayama, um senhor até jovem, com seus 65 anos. E o que ele diz? “As mulheres japonesas encontram prazer no trabalho doméstico e isto tem sido parte da cultura japonesa”. Sei, sei... as pobres camponesas que o digam! A questão é que nem sempre o trabalho feminino foi remunerado – e isso vale para o Japão, a Europa, ou a América – mas apropriado pela família como se fosse uma “dádiva”.
Mas o sábio político foi além dizendo que isto é “Algo que deveria receber mais crédito através do aumento (dos salários dos maridos), mas isso se tornou impossível conforme a situação (econômica) em torno dos homens se tornou mais severa”. A terceira autoridade do país na pasta de economia ainda acrescentou que as donas de casa é que exercem o poder “por trás do trono” e que é parte da cultura japonesa que as mulheres fiquem em casa. Como as afirmativas iam contra o próprio objetivo da conferência, segundo a notícia do Mainichi Daily News, o “Twitter bombou” e o movimento nas redes sociais, passando o discurso absurdo adiante, foi intenso. “Eu fiquei envergonhada, porque as afirmações dele mnostram o quanto o Japão é atrasado,” disse uma empresária japonesa que atendia à conferência. Uma participante americana disse que ninguém diria isso em público nos EUA, por mais sexista que fosse. Olha que eu não garantiria isso, não, talvez nenhuma autoridade dissesse, mas movimentos ultra-conservadores pululam nos EUA.
Ainda segundo a notícia, um grupo de mulheres se reuniu em 7 de outubro e exigiu que Nakayama, membro da Dieta japonesa e do partido do governo, se retrata-se e se desculpasse. Algumas delas se disseram decepcionadas com o Partido Democrático, pois acreditavam que ele via como positiva a promoção da participação social das mulheres. O político já declarou para o Kyodo News na última quinta-feira que “lamenta” e que faria todo o possível, ainda que pouco, para que as mulheres pudessem ter maior participação no mundo dos negócios. Segundo a reitora da Universidade Feminina de Showa, Mariko Bando, “Encorajar as mulheres a ficarem em casa é uma política do século XX (*só se for no Japão*). O Japão pontua baixo (*no ranking de igualdade de gênero*), porque muitos políticos não prestam atenção a realidade do mundo”. Eu fico muito feliz com a reação dessas mulheres e com a saia justa em que este político ficou.
Pois bem, o Japão além de patriarcal, ainda é gerontocrático, isto é, os homens velhos estão nos postos de maior poder e esperam ficar lá. Como a expectativa de vida no Japão é alta, vão ficando mesmo, independente de terem ou não contato com o “mundo real” lá fora. E este mundo real significa, um número cada vez menor de nascimentos, mulheres que não querem se casar ou retardam ao máximo a idade de casamento, porque querem ter uma profissão, ou, pelo menos, independência. Daí, eis que acontece um seminário internacional com mulheres empresárias, mais de 300 de 21 países do fórum de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, fora americanas e outras convidadas. Chamam para falar o vice-ministro da economia, indústria e comércio japonesa, Yoshikatsu Nakayama, um senhor até jovem, com seus 65 anos. E o que ele diz? “As mulheres japonesas encontram prazer no trabalho doméstico e isto tem sido parte da cultura japonesa”. Sei, sei... as pobres camponesas que o digam! A questão é que nem sempre o trabalho feminino foi remunerado – e isso vale para o Japão, a Europa, ou a América – mas apropriado pela família como se fosse uma “dádiva”.
Mas o sábio político foi além dizendo que isto é “Algo que deveria receber mais crédito através do aumento (dos salários dos maridos), mas isso se tornou impossível conforme a situação (econômica) em torno dos homens se tornou mais severa”. A terceira autoridade do país na pasta de economia ainda acrescentou que as donas de casa é que exercem o poder “por trás do trono” e que é parte da cultura japonesa que as mulheres fiquem em casa. Como as afirmativas iam contra o próprio objetivo da conferência, segundo a notícia do Mainichi Daily News, o “Twitter bombou” e o movimento nas redes sociais, passando o discurso absurdo adiante, foi intenso. “Eu fiquei envergonhada, porque as afirmações dele mnostram o quanto o Japão é atrasado,” disse uma empresária japonesa que atendia à conferência. Uma participante americana disse que ninguém diria isso em público nos EUA, por mais sexista que fosse. Olha que eu não garantiria isso, não, talvez nenhuma autoridade dissesse, mas movimentos ultra-conservadores pululam nos EUA.
Ainda segundo a notícia, um grupo de mulheres se reuniu em 7 de outubro e exigiu que Nakayama, membro da Dieta japonesa e do partido do governo, se retrata-se e se desculpasse. Algumas delas se disseram decepcionadas com o Partido Democrático, pois acreditavam que ele via como positiva a promoção da participação social das mulheres. O político já declarou para o Kyodo News na última quinta-feira que “lamenta” e que faria todo o possível, ainda que pouco, para que as mulheres pudessem ter maior participação no mundo dos negócios. Segundo a reitora da Universidade Feminina de Showa, Mariko Bando, “Encorajar as mulheres a ficarem em casa é uma política do século XX (*só se for no Japão*). O Japão pontua baixo (*no ranking de igualdade de gênero*), porque muitos políticos não prestam atenção a realidade do mundo”. Eu fico muito feliz com a reação dessas mulheres e com a saia justa em que este político ficou.
P.S.1: Eu acho o ranking de desigualdade de gênero muito válido, no entanto, ninguém me convence que é melhor ser mulher na África do Sul – com seu altíssimo índice de estupros e poligamia – do que em vários países da Europa Ocidental. Tem algum “problema” nessa análise de dados.
P.S.2: Para ilustrar que as mulheres japonesas sempre trabalharam fora e que este ideal da esposa de classe média dona de casa foiimposta por uma articulação de vários discursos, especialmente no pós-guerra, como parte de um projeto de recuperação econômica e de construção de uma sociedade burguesa, peguei essas fotos antigas. Duas vieram do excelente site Old Photos of Japan e a última veio deste outro aqui.
P.S.2: Para ilustrar que as mulheres japonesas sempre trabalharam fora e que este ideal da esposa de classe média dona de casa foiimposta por uma articulação de vários discursos, especialmente no pós-guerra, como parte de um projeto de recuperação econômica e de construção de uma sociedade burguesa, peguei essas fotos antigas. Duas vieram do excelente site Old Photos of Japan e a última veio deste outro aqui.
3 pessoas comentaram:
Oi!
estou passando um link em que mostra o mudo em dados estatícos.Istto tem a ver com a partição feminina na política, já que mostra a porcente das mulheres no parlamento no indidice "politics".O Japão tem 54, e o Brasil 45.
Bom, não posso especificar mais pois o meu inglês é péssimo.
http://show.mappingworlds.com/world/
Esse post é interessantíssimo e fascinante.
Pessoalmente, me interessei demais pelo assunto e vou aprofundar meu conhecimento nesse campo de trabalho feminino no Japão.
Muito obrigada.
(Desculpa estar sendo chato Valéria-san, mas tem um errinho de digitação no titulo, e outro no texto [o do texto ta na terceira estrofe na segunda parte citada em vermelho] não é nada grave e não muda o sentido de nenhuma maneira mais se quiser corrigir... [se tu já sabe me desculpa não quero apontar erro nenhum só avisar >.<])
Mas agora ao assunto... ^_^
Eis uma pauta para melhora social no nosso querido Japão '-' essa visão distorcida do papel da mulher na sociedade e na família não esta só ultrapassada quanto desqualificada.
Acho que as mulheres por lá podem tomar posição sobre o assunto para, que haja pelo menos um esclarecimento da situação, pq uma resolução e solução com certeza vai levar um tempo...
(PS* realmente desculpa se por estar sendo chato falando do texto >.< se não achar apropriado pode excluir o post, dai eu faço outro depois ^_^)
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