Quando soube que Turma da Mônica Jovem tinha recebido o Troféu HQ MIX na categoria “Publicação Infantil/Juvenil” perguntei se a Petra Leão gostaria de falar sobre o seu trabalho como roteirista da série aqui para o Shoujo Café e ela gentilmente aceitou. Muito obrigada! Enfim, todos que lêem o blog sabem que eu não sou fã de TMJ. Eu não sou público da série, mas sei do sucesso, sei que a série encontrou o seu público, que tem qualidade e uma das coisas que eu mais gosto de elogiar é o fato dos roteiristas e desenhistas receberem o crédito. Você abre o editorial e vê o nome de quem fez a história que você tem em mãos. Outra coisa legal é saber que muitas das histórias são escritas por mulheres. Dito isso, segue o depoimento da Petra. Quem sabe um dia ela participa de um Shoujocast conosco?
Nunca vou me esquecer que quando contei pra meu meu primeiro namorado que queria trabalhar com quadrinhos, ele me disse que eu nunca conseguiria. Primeiro, porque não havia um mercado no Brasil, com exceção do Mauricio de Sousa; segundo, porque eu era mulher.
Muitos anos, revistas em quadrinhos e aprendido a escolher companhias melhores depois, estou aqui trabalhando na Mauricio de Sousa Produções. O mais engraçado é que um dos fatores que pesou para integrar o pool de roteiristas foi justamente o fato de eu ser mulher -- apesar da principal personagem do estúdio, Mônica, ser uma garota, há anos roteiristas do sexo feminino não faziam parte da equipe. E não por falta do Mauricio e Alice (sua esposa e diretora de arte do estudio) desejarem -- existe um consenso de que uma das maiores roteiristas que o estúdio já teve foi Rosana Munhoz, que infelizmente não está mais entre nós.
Creio que essa dificuldade de achar mulheres que trabalhem com HQ se deva a um certo preconceito velado que existe com este meio. O fator "super-heróico" de garotas de roupas colantes, poses sexy e violência criou um estigma de que esse meio não é "coisa de menina". E mesmo quando o mangá abriu todo um universo novo de arte seqüencial para mulheres ocidentais com o shoujo, ainda existe o estigma de ser "quadrinho para mulherzinha", e até dúvida de que fora esse estilo, as garotas sejam capazes de fazer "quadrinho de verdade". Que eu o diga; uma vez, ao comprar um livro sobre lobisomens, tive que ouvir o atendente da loja perguntar se era pra presente...
Como me sinto então, com a Turma da Mônica Jovem ganhando o Prêmio HQ Mix de Publicação Infanto-Juvenil?
Felicidade, óbvio. Felicidade por sentir que os esforços de cada mês não são em vão (vou dizer, 120 páginas mensais não são brincadeira...) Alegria pela empresa, pelos meus colegas desenhistas, roteiristas e arte-finalistas. Alegria por encontrar o olhar do Mauricio antes de subir no palco, quando olhou pra cada um de nós ali na plateia. Quando ele recebeu aquela linda estatueta do Astronauta, eu sabia que estávamos com ele.
Noção de responsabilidade. Pois sei que por melhor que a revista esteja indo, sempre há espaço pra melhora. Ainda existem muitos temas a se explorar. E a cada prêmio que ganho, maior é a expectativa em cima da qualidade do título. Ainda existe preconceitos e desconfiança a respeito da revista a serem quebrados, e por isso, fazer menos que o melhor não é aceitável.
Mas principalmente... eu sinto orgulho.
Orgulho porque palmas à parte, sei que muitos não botavam fé de que essa revista teria continuidade; que seria fogo de palha, que o auê em cima do título era mais pela polêmica que pela qualidade e muitos não davam mais que um ano de vida para a TMJ. E dois anos e dois prêmios depois (em 2009 a TMJ ganhou o HQ Mix como Melhor Lançamento) a revista não está só estabelecida no mercado como é uma das mais vendidas do Brasil.
Tenho orgulho da revista ter quebrado paradigmas. As vendagens tem mostrado que o público da TMJ dá preferência às "histórias do cotidiano": histórias sobre relacionamento dos personagens, sobre suas vidas, seu dia a dia e suas expectativas. Ou seja, a temática com pegada mais shoujo, ou "histórias de mulherzinha", que até algum tempo atrás editores e estúdios alegavam "não ser vendável por aqui".
E tenho orgulho por poder fazer parte disso, ainda mais depois do que já escutei por aí ao longo da vida. Sinto que estou fazendo minha parte, contribuindo para o que eu acredito ser necessário para os quadrinhos no meu país; e me sinto realizada, pois sei que é um privilégio poder viver do que se gosta de fazer.
O prêmio é do Mauricio; mas quem se sente presenteada sou eu. Pela confiança, pela oportunidade, e por tudo que ainda há pra ser feito.
Muitos anos, revistas em quadrinhos e aprendido a escolher companhias melhores depois, estou aqui trabalhando na Mauricio de Sousa Produções. O mais engraçado é que um dos fatores que pesou para integrar o pool de roteiristas foi justamente o fato de eu ser mulher -- apesar da principal personagem do estúdio, Mônica, ser uma garota, há anos roteiristas do sexo feminino não faziam parte da equipe. E não por falta do Mauricio e Alice (sua esposa e diretora de arte do estudio) desejarem -- existe um consenso de que uma das maiores roteiristas que o estúdio já teve foi Rosana Munhoz, que infelizmente não está mais entre nós.
Creio que essa dificuldade de achar mulheres que trabalhem com HQ se deva a um certo preconceito velado que existe com este meio. O fator "super-heróico" de garotas de roupas colantes, poses sexy e violência criou um estigma de que esse meio não é "coisa de menina". E mesmo quando o mangá abriu todo um universo novo de arte seqüencial para mulheres ocidentais com o shoujo, ainda existe o estigma de ser "quadrinho para mulherzinha", e até dúvida de que fora esse estilo, as garotas sejam capazes de fazer "quadrinho de verdade". Que eu o diga; uma vez, ao comprar um livro sobre lobisomens, tive que ouvir o atendente da loja perguntar se era pra presente...
Como me sinto então, com a Turma da Mônica Jovem ganhando o Prêmio HQ Mix de Publicação Infanto-Juvenil?
Felicidade, óbvio. Felicidade por sentir que os esforços de cada mês não são em vão (vou dizer, 120 páginas mensais não são brincadeira...) Alegria pela empresa, pelos meus colegas desenhistas, roteiristas e arte-finalistas. Alegria por encontrar o olhar do Mauricio antes de subir no palco, quando olhou pra cada um de nós ali na plateia. Quando ele recebeu aquela linda estatueta do Astronauta, eu sabia que estávamos com ele.
Noção de responsabilidade. Pois sei que por melhor que a revista esteja indo, sempre há espaço pra melhora. Ainda existem muitos temas a se explorar. E a cada prêmio que ganho, maior é a expectativa em cima da qualidade do título. Ainda existe preconceitos e desconfiança a respeito da revista a serem quebrados, e por isso, fazer menos que o melhor não é aceitável.
Mas principalmente... eu sinto orgulho.
Orgulho porque palmas à parte, sei que muitos não botavam fé de que essa revista teria continuidade; que seria fogo de palha, que o auê em cima do título era mais pela polêmica que pela qualidade e muitos não davam mais que um ano de vida para a TMJ. E dois anos e dois prêmios depois (em 2009 a TMJ ganhou o HQ Mix como Melhor Lançamento) a revista não está só estabelecida no mercado como é uma das mais vendidas do Brasil.
Tenho orgulho da revista ter quebrado paradigmas. As vendagens tem mostrado que o público da TMJ dá preferência às "histórias do cotidiano": histórias sobre relacionamento dos personagens, sobre suas vidas, seu dia a dia e suas expectativas. Ou seja, a temática com pegada mais shoujo, ou "histórias de mulherzinha", que até algum tempo atrás editores e estúdios alegavam "não ser vendável por aqui".
E tenho orgulho por poder fazer parte disso, ainda mais depois do que já escutei por aí ao longo da vida. Sinto que estou fazendo minha parte, contribuindo para o que eu acredito ser necessário para os quadrinhos no meu país; e me sinto realizada, pois sei que é um privilégio poder viver do que se gosta de fazer.
O prêmio é do Mauricio; mas quem se sente presenteada sou eu. Pela confiança, pela oportunidade, e por tudo que ainda há pra ser feito.
7 pessoas comentaram:
Gostei muito da entrevista dela. Muito legal ela ter feito pro Shoujo Café. Muito bom XD
Valéria, só tenho a agradecer a você pelo espaço e pelo interesse! =) Muito, muito obrigada!
Teria o maior prazer de participar de um shoujocast algum dia! Afinal, sou fã do Shoujo Café ;D
Nossa!! Quando eu fui prestar vestibular, estava dividida entre dois cursos... Um deles era artes plásticas porque eu queria trabalhar com quadrinhos! Agora que vejo que isto é ossível, fico imensamente feliz! [E agora, estou entre duas profissões! Ainda bem que são reconciliáveis!!]
Me sinto tão feliz, orgulhosa e, de certa forma, realizada de ver que quadrinhos nacionais estão ganhando espaço! E há mercado de trabalho para artistas!
Poxa, muito legal esse depoimento da Petra! E bato palmas para a Valéria sempre mostrar através desse blog exemplos de brasileiros que estão se dando bem com quadrinhos no Brasil (como o studio seasons, por exemplo). Eu tenho fé que aos poucos essa realidade vai mudar e um dia os quadrinhos vão fazer estrago no Brasil, assim como turma da Mônica jovem.
Olá. Posso utilizar trecho dessa entrevista em meu blog, citando a fonte, é claro? Grato!
Citando a fonte, Kleiton, sem problema. Mas você pode contactar a Petra com facilidade, caso deseje. ;-)
Não precisa, Valéria. Trata-se apenas do trecho onde ela elogia o trabalho de Susana Munhoz. O conteúdo em seu blog está suficiente. É apenas uma referência.
Fico grato!!! Abraços!
E parabéns pelo excelente espaço, bastante organizado, bonito e com conteúdo útil ao que se destina.
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