domingo, 24 de outubro de 2010

Elas cansaram de ser fãs... Época fala de jovens escritoras



Posto a matéria por curiosidade somente, já que fala de mulheres (jovens) escritoras. Agora, o curioso é que no infográfico só se fala de autores e personagens do sexo masculino. Eu conheço dezenas de livors criados por fás de Jane Austen, por exemplo, com mulheres e inspirados nas personagens da autora... e não somente no Mr. Darcy, que fique claro! Mas a matéria é somente silêncio sobre isso, não toca nem no Infográfico. Fora, claro, que as tais escritoras, se inspiraram em autoras, como J.K.Rowling e a Stephanie Meyer. Segue a notícia da Época.

Elas cansaram de ser fãs

Depois de ler todos os best-sellers, jovens autoras resolvem criar seus próprios romances
Danilo Venticinque

Com 18 anos recém-completados, a australiana Alexandra Adornetto tinha tudo para ser uma típica fã de romances juvenis, daquelas que dividem seu tempo entre as aulas, as amigas e as páginas de Crepúsculo e Harry Potter. Mas dois detalhes a tornam muito diferente: um lugar na lista de mais vendidos do The New York Times e um contrato invejável com a MacMillan, uma das maiores editoras do mundo. Autora do best-seller juvenil Halo (Agir, 472 páginas, R$ 39,90), Alexandra é um exemplo de uma nova estratégia no mercado editorial: recrutar fãs de autoras cultuadas para escrever livros sobre assuntos da moda. E fazer sucesso.

Basta ler as primeiras páginas de Halo para perceber que cada detalhe do livro foi pensado para agradar aos fãs de Crepúsculo. Os paralelos entre as duas obras são evidentes: há presença constante de seres fantásticos, detalhes do cotidiano de adolescentes no colégio, uma paixão proibida e a descoberta da sexualidade. Seguindo a moda dos anjos, que parecem ter substituído os vampiros no topo da lista de preferências das leitoras, o livro narra a história de Bethany, a caçula de uma família angelical que se vê dividida entre Xavier, o capitão do time de futebol americano, e Jake, um jovem misterioso cujas intenções ela é incapaz de desvendar. “Eu queria fazer um livro que tivesse o mesmo apelo de Crepúsculo, mas fosse um pouco diferente”, diz Alexandra. Antes mesmo de publicar Halo, ela assinou um contrato para escrever mais dois livros para a série.

No Brasil, pelo menos duas escritoras são candidatas a seguir os passos de Alexandra. Nascida em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a estudante Gabriela Diehl, de 17 anos, também pode ser considerada um sucesso, ainda que em proporções muito menores. Embora ainda seja aluna do ensino médio, Gabriela conseguiu publicar seu primeiro livro, As bruxas de Westfield (Giz, 139 páginas, R$ 29,90), e já faz planos para completar uma trilogia. Levemente inspirado nas histórias de Harry Potter, o livro conta a aventura de um grupo de garotas que tenta desvendar uma série de assassinatos envolvendo magia negra. “Quando comecei a criar o livro, estava de férias e lia muito Harry Potter”, diz Gabriela. A história agradou aos fãs do bruxo e venceu um prêmio para jovens escritores.

A trajetória de Gabriela é semelhante à de Carolina Munhóz, de 22 anos. Fanática por Paulo Coelho e J.K. Rowling, a estudante trabalhava em um site de fãs de Harry Potter quando decidiu misturar suas duas paixões. O resultado foi o livro A fada (Arte Escrita, 141páginas, R$ 36): uma história repleta de magia e espiritualidade, em que a adolescente Melanie descobre ter poderes mágicos e parte para uma aventura em Londres, na Inglaterra. O contato direto com as fãs de Harry Potter a ajudou a divulgar o livro. “Várias pessoas que liam meus textos sobre Harry Potter ficaram curiosas e procuraram meu livro”, diz Carolina. Assim como suas colegas, ela está escrevendo uma trilogia. Também passou a usar a internet para manter contato com outros autores, como Eduardo Spohr e seu ídolo Paulo Coelho.

Até agora, a madrinha das fãs que se tornaram escritoras é a americana Cassandra Clare, autora de Cidade dos ossos (Galera Record, 462 páginas, R$ 39,90), o primeiro livro de – adivinhe – uma trilogia sobre anjos. Nos Estados Unidos, o livro chegou ao primeiro lugar na lista de livros juvenis mais vendidos do The New York Times, à frente de escritores consagrados. Aos 37 anos, Cassandra é a mais velha da nova geração de autoras, e também a mais bem-sucedida. Antes de criar seus próprios personagens, tornou-se conhecida como autora de fanfiction: histórias criadas por fãs envolvendo seus personagens favoritos (leia no quadro abaixo) . Sua carreira resume o lema das autoras fãs: imitar seus ídolos até ter confiança para criar suas próprias histórias, mas manter-se fiel ao estilo de suas escritoras favoritas.

O estudo da imitação é um dos temas recorrentes na história da crítica literária. Uma das teorias mais célebres sobre o assunto é a da angústia da influência, forjada pelo crítico americano Harold Bloom. Segundo ele, desde a Antiguidade a relação de escritores com os livros escritos no passado é fruto de constante inquietação: é inevitável se deixar influenciar, mas o grau de influência do passado pode comprometer o valor da obra. O assunto também foi abordado pelo poeta e crítico Ezra Pound, que criou categorias de escritores com base em sua originalidade. No topo estão os inventores – autores que estão à frente de seu tempo e subvertem a tradição. Na categoria mais baixa estão os diluidores – escritores que se contentam em imitar os grandes mestres, sem criar suas próprias fórmulas.

Se para os críticos os diluidores são autores com pouco valor, para as editoras eles são uma grande fonte de dinheiro. Quando se estabelece uma nova moda, como os romances juvenis de fantasia, a demanda dos leitores por histórias do tipo supera muito a velocidade de produção dos autores consagrados. Para suprir essa demanda (e vender mais livros), as editoras recorrem a romances semelhantes, mas de menor qualidade. Normalmente, o papel de escrevê-los cabe a autores caça-níqueis – um exemplo clássico são os imitadores de Dan Brown, autor de O código Da Vinci.

No caso dos livros juvenis, porém, a tarefa é mais complicada: são poucos os escritores que conhecem com profundidade o cotidiano e o comportamento dos adolescentes. “Já li livros juvenis em que um garoto de 18 anos tem o vocabulário de um senhor de 50”, diz Alexandra. Transformar as fãs em escritoras parece resolver esse problema: além de ter acesso direto ao universo jovem, elas sabem exatamente o que lhes agrada – e, ao menos em tese, o que vai agradar a outros fãs. Talvez por isso, também parecem ter menos medo de arriscar e introduzir elementos novos no gênero. Ao contrário de um autor caça-níqueis, uma boa autora fã tem potencial para se tornar uma nova best-seller, como fizeram Alexandra e Cassandra. Para as fãs, é a realização de um sonho. Para o mercado editorial, um excelente negócio.

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