domingo, 5 de setembro de 2010

Uma escrava sem alforria - "Mulheres do Conforto" continuam sem reparação



As “mulheres do conforto” são uma das vergonhas de guerra japonesas. Mulheres de várias nacionalidades – coreanas, chinesas, filipinas, e mesmo japonesas – foram transformadas em escravas sexuais. Acredito que a primeira vez que ouvi falar dessa situação foi em um filme com a Glenn Close, chamado Paradise Road, e que mostrava mulheres brancas, inglesas e australianas, sendo transformadas em “mulheres do conforto”. Elas devem ter sido a minoria da minoria. Enfim, a Folha de São Paulo entrevistou uma das coreanas sobreviventes, Gill Won Ok, que aos 13 anos foi obrigada a se tornar escrava sexual das tropas japonesas. Ela acusa o governo da Coréia do Sul de negligência, e, claro, o governo japonês também se nega a reconhecer o crime e indenizar essas mulheres sobreviventes. quando falam do seqüestro de japoneses por norte coreanos (*1 - 2*), esquecem de apontar que o governo japonês fechou os olhos exatamente por causa dos seus crimes de guerra. Os seqüestrados eram inocentes, mas o governo nipônico tem um histórico de insensibilidade que não pode deixar de ser apontado. Enfim, no final há parte de um documentário chamado “Rape, Sex Slaves, Comfort Women” que é sobre o “Estupro de Nanquim” e sobre as “mulheres do conforto”. O documentário é visivelmente anti-nipônico, mas a informação geral é verdadeira. Espero que a senhora Gill Won Ok posse estar viva para ver alguma justiça sendo feita. Por enquanto, não vejo esperanças, não. A matéria saiu na Folha de São Paulo.

MINHA HISTÓRIA GILL WON OK, 83

Uma escrava sem alforria


Todos os dias, tinha de manter relações sexuais com até 15 soldados, durante quatro anos

Era uma criança, não sabia nada Talvez o Japão esteja esperando que morramos, porque somos testemunhas vivas

RESUMO Desde 1992, todas as quartas-feiras, ao meio-dia, Gill Won Ok, 83, e outras idosas se revezam diante da Embaixada do Japão na Coreia do Sul. Protestam contra o uso de quase 200 mil coreanas como escravas sexuais durante o período de ocupação (1910-1945). Já foram 940 atos exigindo desculpas formais e reparação.

(...)Depoimento a

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO A SEUL (COREIA DO SUL)


Nasci em Pyongyang, que hoje é a capital da Coreia do Norte. Vivia com dois irmãos mais velhos e uma irmã mais nova. A minha mãe vendia peixe, e o meu pai era comerciante de chapéus e roupas. Em 1941, quando tinha 13 anos, estava brincando com outras amigas quando coreanos pró-japoneses e soldados japoneses nos disseram que, se fossemos trabalhar em fábricas no Japão, ganharíamos muito dinheiro. Era uma criança, não sabia nada, e simplesmente segui os soldados. Fui sem falar com os meus pais e meus irmãos. Nunca mais os vi. Na viagem, um soldado tentou me violar, mas eu não permiti, então ele me empurrou e me esmurrou [mostra uma cicatriz na cabeça]. Sangrei muito e desmaiei. Em vez de ir ao Japão, fomos parar na China [também ocupada]. Vivíamos numa casa pertencente a uma senhora coreana onde apenas soldados japoneses podiam entrar. Todos os dias, tinha de manter relações sexuais com até 15 soldados, durante quatro anos. Era uma criança, não sabia nada. Éramos constantemente espancadas. Todo fim de semana, nos examinavam para ver se tínhamos alguma doença venérea. Eles nos davam injeções de mercúrio; por causa disso, ficamos estéreis.

A PARTIDA

Um dia, os soldados desapareceram. Uma amiga me avisou que um navio partiria para a Coreia. Descemos em Incheon, um porto que fica na atual Coreia do Sul. Quando chegamos, em 1945, o governo coreano deu algum dinheiro e comida. Não tinha como voltar para casa, as minhas amigas e eu nos escondíamos da sociedade, estávamos assustadas. Tinha vergonha de mim mesma por ter sido escrava sexual dos japoneses, mesmo que não tenha sido minha culpa. Depois da Guerra da Coreia [1950-1953], ficou impossível voltar. Não voltei a estudar. Para sobreviver, passei a vender ovos, milho e roupas em Incheon. Como não podia ter filhos, adotei uma criança. Hoje, ele tem 52 anos, é um pastor e tem dois filhos, também adotados. Vivi em Incheon por 40 anos, depois me mudei para Seul.

COMPENSAÇÃO

Há seis anos, moro neste abrigo com outras três "mulheres de conforto" [como os japoneses chamavam eufemisticamente as escravas sexuais]. Desde então, vou toda semana ao protesto diante da embaixada japonesa. Vou porque não quero que a história se repita, não quero que ninguém passe pelo que eu passei. O governo da Coreia do Sul não se interessa por nós, eles nem sequer mencionam uma reparação. Na verdade, são pró-japoneses. Eu fui esterilizada, nunca me casei, sou muito solitária, mas o governo nunca fez nada por nós. O governo japonês não pede desculpas oficialmente porque eles acham que o governo sul-coreano é um escravo, que não somos uma grande nação. Acho que tenho direito a ser compensada. Se o governo japonês se desculpar primeiro, a reparação virá. Mas sou velha e morrerei em breve, somos apenas 83 agora. Talvez o Japão esteja esperando que nós todas morramos, porque somos testemunhas vivas.

OCUPAÇÃO JAPONESA É FERIDA ABERTA

Os abusos cometidos durante 35 anos de ocupação da Coreia por tropas japonesas ainda são um tema que provoca indignação no país. Um pedido de desculpas foi feito no mês passado à Coreia do Sul pelo premiê japonês Naoto Kan. A questão das escravas sexuais não foi citada.

6 pessoas comentaram:

Eu não tinha a menor ideia de que isso acontecera... Nojo. Muito nojo me dão os países asiáticos agora mesmo. Agora e durante muito tempo, e não só por isso.
Espero que as senhoras consigam finalmente o que devem ter por direito u_u.

Primeiro, a ONU não se mete "em problemas alheios", ela tem o dever de interferir e orientar quando os países em questão são seus membros. Caso das Coréias e do Japão. Mas este e tantos outros, não é caso de intervenção, embora não saiba bem a qual tipo de intervenção você se refira.

Segundo, as atrocidades japonesas são suficientemente documentadas. Não é ficção ou picuinha. Os japoneses, aliás, invadiram a Coréia unificada em 1910, chacinaram a família imperial e passaram a tratar o país como colônia. O caso do massacre de Nanquin (e outros tantos) são igualmente documentados.

Terceiro, um pedido de desculpas formal ajudaria, sim, pois o Japão sequer reconhece o problema dessas mulheres. E uma indenização ajudaria muito. Apagar, não apagaria, mas serviria de algum alento.

Isso é uma vergonha, já tinha escutado falar disso antes, mas muito pouco. É triste que raramente se escute falar dessas assuntos cabeludos, acho que um filme comercial por parte de um grande diretor de cinema ajudaria muito a discutir sobre esse tema.

Espero que essas mulheres escutem um pedido de desculpas formal por parte do Japão, vai ser bem difícil já que são só 83, ainda mais por causa das condições de vida a que elas foram submetidas.

Acabei de ler Desonrrada, que é o relto de uma mulher que foi condenada a um estupro coletivo e logo após li "Uma mulher em Berlim" que é um diário que conta os estupros sofridos pelas berlinenses após a tomada da capital pelos russos...

As mulheres sempre sofrem!

Eu naõ consigo conceber isso... e isso sempre aconteceu, desde quando o primeiro povo invadiu a cidade do outro...

Eu nem gosto de ler sobre isso, porque me faz passar muito mal só de pensar naquelas pessoas, principalmente as mulheres e em como elas sofreram. Sinto pena, nojo e raiva.

Ainda hoje a gente ouve versões do "estupra mas não mata", eu não acho que seja uma perspectiva TÃO MAIS reconfortante para qualquer pessoa. E no caso,o destino de muitas destas mulheres foi o estupro repetido, seguido por tortura até a morte. Não consigo imaginar muitas outras formas piores para alguém morrer, sinceramente.

Não é de se admirar que os coreanos ainda tenham raiva dos japoneses, se eles não puderam nem ao menos pedir desculpas pelos estupros, que seria o mínimo a se fazer.

O reconhecimento dos erros do passado é importante para que as gerações futuras não olhem para crimes como estes como "perdoáveis" ou "normais".

Que coisa horrível! Só não acho que seja exclusividade dos países asiáticos, estupros acontecem em todo lugar do mundo infelizmente e com frequência muito maior do que podemos imaginar. Fiquei realmente tocada... As marcas psicológicas vão ficaram para sempre. Realmente lamentável :/

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