Eis a segunda parte da entrevista com Hagio Moto feita pelo ANN. Ainda não sei quem fez as perguntas, mas a criatura não conhece shoujo. Primeiro, afirma que o shoujo de hoje não trata tanto de ficção científica como no passado preferindo o cotidiano. Isso já mostra que não conehce shoujo, porque o cotidiano, a escola, sempre foi dominante dentro dos shoujo mangá. Depois, mostra desconhecer uma séria shoujo de FC, a mais importante da atualidade, e que teve anime, passando atestado de ignorância total. Mas Hagio Moto é sempre muito simpática e conseguiu contornar a questão mmuito bem. Para quem não viu, a primeira aprte está aqui. Segue a tradução:
Muitos dos seus mangás são recheados de temas de ficção científica, e hoje em dia FC não é tão comum quanto costumava ser. Os shoujo atuais são freqüentemente sobre o cotidiano, ou vida escolar – por que você acha que isso mudou ao longo dos anos?
Em qualquer geração, há somente poucos autores que podem trabalhar bem com ficção científica. O grande desafio em se trabalhar com ficção científica é que, como não é baseado na realidade... para conseguir atrair os leitores, você precisa ter criatividade suficiente para construir uma história atrativa. Os leitores também tendem a preferir histórias que estão próximas da sua vida normal, do seu dia-a-dia. Entretanto, há várias artistas que estão fazendo boa ficção científica, como a CLAMP. Outra boa mangá-ka de ficção científica é Reiko Shimizu, que fez duas obras longas como Moon Child e Kaguya Hime. Recentemente, ela está trabalhando em uma série chamada Himitsu - Top Secret. É uma história sobre uma organização que examina os cérebros de pessoas mortas para descobrir o que elas viveram, tudo o que fizeram. Porque seus cérebros estão cheios de todo o tipo de segredos. [risos]
Isso parece bem interessante.
Vamos falar do seu processo de criação. Quando você começou, que tipo de ferramentas usava como canetas, papel e outros equipamentos?
Quando eu comecei a desenhar mangá... hmm. Bem, hoje em dia você pode conseguir papel B4 que é pré-impresso especificamente para mangá. Mas quando eu comecei, não se vendia “papel mangá” em tamanho B4. Então, você tinha que comprar esta grande folha, tipo 1X1 metro, e cortá-la você mesma.
Isso deve ter sido muito desafiador para você.
O único lugar onde se podia comprar grandes folhas de papel era em grandes cidades.
E que tipo de canetas e penas você usava? Elas eram todas diferente do que nós temos hoje?
Eu tenho usado uma G-pen [uma caneta com um G na pena, usada apra fazer linhas de diferentes espessuras] e uma Maru-Pen [uma caneta de ponta arredondada para linhas finas]. Foi o que eu comecei usando e não mudei até hoje. Uma das grandes mudanças, entretanto, é que eu costumava preencher os espaços pretos com um pincel e tinta indiana (*India ink*), mas hoje é mais fácil usas um cockpit—
Copic? (Matt Thorn)
[risos] Oh, certo! Copic [marcadores].
Você já tentou usas ferramentas digitais, como computadores ou um tablet?
Atualmente eu estou praticando, mas não sou muito boa ainda. Eu fiz alguma scolorizações no computador, mas eu somente usei um tablet muito recentemente. Eu estou tendo muita dificuldade em conseguir o tipo certo de linha.
Acontece comigo, também, e muito diferente de fazer usando papel.
Você também desenha? (Matt Thorn)
Um pouco.
[Usar tablet] é difícil, não é?
Sim.
Olhando para o estilo de arte do modern shoujo mangá, qual seria a grande diferença – de uma perspectiva visual – entre o estilo de hoje e o que você fazia no passado?
A proporção das personagens. Quando eu comecei, era comum que a cabeça fosse muito maior do que ela deveria ser em prorção ao corpo. Talvez seja porque o japonês tem cabeças grandes. [risos] Hoje, as cabeças são muito menores e os corpos mais longos e magros.
Você acha que isso reflete uma mudança nos padrões ideais de beleza entre os japoneses?
Bem… no passado, quando eu era jovem, shoujo mangá era leitura voltada somente para meninas pequenas, então era esperado que as persoangens parecessem com menininhas, o que justifica os corpos pequenos e comparação com as cabeças. Conforme a idade das leitoras foi crescendo, de meninas de primários para ginasiais para colegiais e mesmo universitárias, as leitoras passaram a preferir personagens mais próximas do seu próprio corpo.
Olhando o seu trabalho – eu li A Drunken Dream, a sua coleção de histórias curtas – eu percebi que havia muita morte. Ou as personagens morrem na história, ou elas já estão mortas. O que na morte interessa para você?
Desde quando eu era criança, eu tenho refletido sobre o fato de todos os humanos eventualmente morrerem. Particularmente quando eu estava no ginásio, hoje em dia em me pego pensando: aqui estou eu viva, mas por tudo que sei eu posso ter um ataque cardíaco hoje a noite e estar morta amanhã. [risos] Quando estava crescendo, era difícil imaginar como seria a minha própria morte. Então, enquanto lia o trabalho de outras pessoas, eu me tornei interessada em como as pessoas em volta de alguém que morre reagiam ao fato.
Você acha que a morte é algo do que as pessoas devem ter medo? Que tipo de percepção devemos ter desse fato?
A morte súbita é difícil de aceitar, mas quando você morre, é em ultima instância algo decidido por Deus. Não há nada a fazer a respeito – você tem que aceitar. Há essa história da CLAMP sobre uma cidade onde todos vivem para sempre, e o que acontece é, porque todos vivem para sempre, nenhuma criança nasce. Eu acho que o cérebro humano é programado para que uma vida de 100 anos possa ser considerada satisfatória.
Percebo! Este é um ponto de vista bem interessante.
Na sua coleção A Drunken Dream, como você escolheu as histórias?
Matt, por favor explique como você escolheu as histórias. [risos]
Fui eu que escolhi. Eu escolhi usando critérios – realmente, é bem interessante, eu acho – você conhece o mixi, a rede social japonesa da internet? Há uma comunidade de Hagio lá, feita por fãs. Eu a visitei e comecei uma pesquisa, dizendo, “Se você tivesse um volume de 200-300 páginas de histórias curtas, com menos de 50 páginas cada, que histórias você escolheria para apresentar aos leitores de língua inglesa o trabalho de Hagio Moto?” Eu obtive todo o tipo de resposta, mas alguns títulos apareciam com freqüência, então – combinado com as minhas próprias idéias do que é representativo no trabalho dela – e por conta dos meus próprios gostos, também, foi como... [Matt Thorn]
Entendo, este foi o processo de seleção?
Certo, então, depois que tudo estava decidido e o livro foi anunciado, eu confessei na comunidade que a pesquisa era de verdade, e não somente um experimento. [Matt Thorn]
Então você tem, pela primeira vez na América, uma coleção com suas histórias curtas. Se nós pudéssemos trazer uma das suas séries longas para a América, qual você escolheria?
Isso… bem, é difícil, mas se ficasse sob a responsabilidade do Matt escolher seria O Coração de Thomas.
Recentemente tem havido muita controvérsia sobre scanlations, onde as pessoas fazem scans de mangá, traduzem para o inglês, e colocam online onde qualquer um pode ler sem pagar por eles. Qual a sua opinião sobre a questão, e o que você sugeriria como solução?
Eu acho que a melhor coisa para as editoras é encontrar essas pessoas, e exigir direitos autorais!
Como você se sentiria se o seu trabalho estivesse disponível digiralmente, de tal forma que leitores ao redor do mundo pudessem ter acesso a eles?
Eu acho que seria ótimo, e eu desejo que eu pudesse ler todos os quadrinhos do mundo digitalmente, também, porque nem sempre é fácil comprar o livro físico.
Em qualquer geração, há somente poucos autores que podem trabalhar bem com ficção científica. O grande desafio em se trabalhar com ficção científica é que, como não é baseado na realidade... para conseguir atrair os leitores, você precisa ter criatividade suficiente para construir uma história atrativa. Os leitores também tendem a preferir histórias que estão próximas da sua vida normal, do seu dia-a-dia. Entretanto, há várias artistas que estão fazendo boa ficção científica, como a CLAMP. Outra boa mangá-ka de ficção científica é Reiko Shimizu, que fez duas obras longas como Moon Child e Kaguya Hime. Recentemente, ela está trabalhando em uma série chamada Himitsu - Top Secret. É uma história sobre uma organização que examina os cérebros de pessoas mortas para descobrir o que elas viveram, tudo o que fizeram. Porque seus cérebros estão cheios de todo o tipo de segredos. [risos]
Isso parece bem interessante.
Vamos falar do seu processo de criação. Quando você começou, que tipo de ferramentas usava como canetas, papel e outros equipamentos?
Quando eu comecei a desenhar mangá... hmm. Bem, hoje em dia você pode conseguir papel B4 que é pré-impresso especificamente para mangá. Mas quando eu comecei, não se vendia “papel mangá” em tamanho B4. Então, você tinha que comprar esta grande folha, tipo 1X1 metro, e cortá-la você mesma.
Isso deve ter sido muito desafiador para você.
O único lugar onde se podia comprar grandes folhas de papel era em grandes cidades.
E que tipo de canetas e penas você usava? Elas eram todas diferente do que nós temos hoje?
Eu tenho usado uma G-pen [uma caneta com um G na pena, usada apra fazer linhas de diferentes espessuras] e uma Maru-Pen [uma caneta de ponta arredondada para linhas finas]. Foi o que eu comecei usando e não mudei até hoje. Uma das grandes mudanças, entretanto, é que eu costumava preencher os espaços pretos com um pincel e tinta indiana (*India ink*), mas hoje é mais fácil usas um cockpit—
Copic? (Matt Thorn)
[risos] Oh, certo! Copic [marcadores].
Você já tentou usas ferramentas digitais, como computadores ou um tablet?
Atualmente eu estou praticando, mas não sou muito boa ainda. Eu fiz alguma scolorizações no computador, mas eu somente usei um tablet muito recentemente. Eu estou tendo muita dificuldade em conseguir o tipo certo de linha.
Acontece comigo, também, e muito diferente de fazer usando papel.
Você também desenha? (Matt Thorn)
Um pouco.
[Usar tablet] é difícil, não é?
Sim.
Olhando para o estilo de arte do modern shoujo mangá, qual seria a grande diferença – de uma perspectiva visual – entre o estilo de hoje e o que você fazia no passado?
A proporção das personagens. Quando eu comecei, era comum que a cabeça fosse muito maior do que ela deveria ser em prorção ao corpo. Talvez seja porque o japonês tem cabeças grandes. [risos] Hoje, as cabeças são muito menores e os corpos mais longos e magros.
Você acha que isso reflete uma mudança nos padrões ideais de beleza entre os japoneses?
Bem… no passado, quando eu era jovem, shoujo mangá era leitura voltada somente para meninas pequenas, então era esperado que as persoangens parecessem com menininhas, o que justifica os corpos pequenos e comparação com as cabeças. Conforme a idade das leitoras foi crescendo, de meninas de primários para ginasiais para colegiais e mesmo universitárias, as leitoras passaram a preferir personagens mais próximas do seu próprio corpo.
Olhando o seu trabalho – eu li A Drunken Dream, a sua coleção de histórias curtas – eu percebi que havia muita morte. Ou as personagens morrem na história, ou elas já estão mortas. O que na morte interessa para você?
Desde quando eu era criança, eu tenho refletido sobre o fato de todos os humanos eventualmente morrerem. Particularmente quando eu estava no ginásio, hoje em dia em me pego pensando: aqui estou eu viva, mas por tudo que sei eu posso ter um ataque cardíaco hoje a noite e estar morta amanhã. [risos] Quando estava crescendo, era difícil imaginar como seria a minha própria morte. Então, enquanto lia o trabalho de outras pessoas, eu me tornei interessada em como as pessoas em volta de alguém que morre reagiam ao fato.
Você acha que a morte é algo do que as pessoas devem ter medo? Que tipo de percepção devemos ter desse fato?
A morte súbita é difícil de aceitar, mas quando você morre, é em ultima instância algo decidido por Deus. Não há nada a fazer a respeito – você tem que aceitar. Há essa história da CLAMP sobre uma cidade onde todos vivem para sempre, e o que acontece é, porque todos vivem para sempre, nenhuma criança nasce. Eu acho que o cérebro humano é programado para que uma vida de 100 anos possa ser considerada satisfatória.
Percebo! Este é um ponto de vista bem interessante.
Na sua coleção A Drunken Dream, como você escolheu as histórias?
Matt, por favor explique como você escolheu as histórias. [risos]
Fui eu que escolhi. Eu escolhi usando critérios – realmente, é bem interessante, eu acho – você conhece o mixi, a rede social japonesa da internet? Há uma comunidade de Hagio lá, feita por fãs. Eu a visitei e comecei uma pesquisa, dizendo, “Se você tivesse um volume de 200-300 páginas de histórias curtas, com menos de 50 páginas cada, que histórias você escolheria para apresentar aos leitores de língua inglesa o trabalho de Hagio Moto?” Eu obtive todo o tipo de resposta, mas alguns títulos apareciam com freqüência, então – combinado com as minhas próprias idéias do que é representativo no trabalho dela – e por conta dos meus próprios gostos, também, foi como... [Matt Thorn]
Entendo, este foi o processo de seleção?
Certo, então, depois que tudo estava decidido e o livro foi anunciado, eu confessei na comunidade que a pesquisa era de verdade, e não somente um experimento. [Matt Thorn]
Então você tem, pela primeira vez na América, uma coleção com suas histórias curtas. Se nós pudéssemos trazer uma das suas séries longas para a América, qual você escolheria?
Isso… bem, é difícil, mas se ficasse sob a responsabilidade do Matt escolher seria O Coração de Thomas.
Recentemente tem havido muita controvérsia sobre scanlations, onde as pessoas fazem scans de mangá, traduzem para o inglês, e colocam online onde qualquer um pode ler sem pagar por eles. Qual a sua opinião sobre a questão, e o que você sugeriria como solução?
Eu acho que a melhor coisa para as editoras é encontrar essas pessoas, e exigir direitos autorais!
Como você se sentiria se o seu trabalho estivesse disponível digiralmente, de tal forma que leitores ao redor do mundo pudessem ter acesso a eles?
Eu acho que seria ótimo, e eu desejo que eu pudesse ler todos os quadrinhos do mundo digitalmente, também, porque nem sempre é fácil comprar o livro físico.
2 pessoas comentaram:
Hahahahaha! Eu ri da saidinha estratégica da Hagio-san passando a peteca pro Matt. Ela é um charme. =)
Pois é, a Hagio Moto foi de uma elegância só com o entrevistador ignorante e mais uma vez ela citou o clamp o que me deixa felizão.
E o tema morte me surpreendeu nessa entrevista, talvez por não conhecer muito da autora...
Um mangá que fala sobre morte muito interessante é battle royale. Muita gente acha que é só violência gratuita mas eu não acho que seja o caso. E nos momentos pré-morte de cada personagem que nós conhecemos o íntimo deles e acreditem, se torna até algo belo em alguns momentos.
Postar um comentário