sábado, 19 de junho de 2010

O Legado da Caça-Vampira: Primeiras Impressões



Tinha comentado no Twitter que iria comprar O Legado da Caça-Vampiro de Colleen Gleason, porque parecia misturar Jane Austen e vampiros, com uma puxada para Buffy que poderia ser divetida. Estou começando o capítulo 3 agora, página 53, mas dei uma zapeada pelo final do livro. Sim, este é um mau hábito que eu tenho, e decidi comentar. Já descobri que este livro é parte de uma séire de 5, o The Gardella Vampire Chronicles, e dada a empolgação em relação à vampiros, talvez essa série também acabe virando filme ou seriado. A heroína é uma moça de 19 anos, então, está dentro da média dos seriados adolescentes. Mas segue o resuminho que vem na contra-capa do volume nacional:
Vitória Gardella é jovem, linda e usa piercing no umbigo. Ela vive na Inglaterra do século XIX e herdou um legado: matar vampiros. Londres, 1810. Num ambiente que lembra os romances de Jane Austen, como Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade, uma jovem linda e sensual, Vitória Gardella, debuta na sociedade e precisa arrumar um marido rico. Mas Vitória parece viver 200 anos adiante de seu tempo. Quer levar vida independente. Usa piercing no umbigo. E herdou um terrível Legado – o de ser uma Venadora, ou caça-vampiro. Você não precisa esquecer tudo o que leu sobre vampiros, de Bram Stocker a Stephenie Meyer, mas vai se surpreender e se arrepiar com esse novo jeito elegante, erótico, sangrento e eletrizante de contar uma história.
O nome “Stephenie Meyer” é capaz de me afastar de qualquer material sobre vampiros, mas eu tenho que ter em mente que se trata de estratégia de marketing. Não vejo o The Gardella Vampire Chronicles como material propriamente juvenil, e certamente não é nada parecido com a série da Meyer, até porque, temos muito erotismo e sem muita culpa. Só para citar um exemplo, a mocinha do livro, Victoria Gardella se embola lá bem na frente do volume com um vampirão de nome Sebastian. O sujeito me lembra *MUITO* o Eric de True Blood. E ela tem um noivo muito simpático... acho que o sujeito vai tomar uns chifres antes dessa série terminar. Podem tirar a coisa por aí. Ao invés de “Stephenie Meyer” na descrição tinham que ter colocado “Charlaine Harris”, só que o pessoal conhece True Blood pelo seriado de TV e desconhece a autora... Enfim, O Legado da Caça-Vampiro parece The Southern Vampire Mysteries, menos erotizado.

Mas tenho que ser sincera, até agora, o livro não me impressionou ainda. Não que a autora não tenha talento para construir a trama. Os Gardella são caça-vampiros, ou Venadores, nem todos da família são chamados para isso, e mesmo os que são convocados por sonhos e visões podem declinar o chamado. Victoria, a protagonista, aceita o chamado que sua mãe não aceitou. Gostei da autora ter incorporado um detalhe que eu uso em minha história: até que um vampiro beba o sangue de um humano, ele pode ser salvo. Os vampiros seriam descendentes de Judas Iscariotes, mas a tia de Victoria, a última Venadora Gardella, diz que não tem certeza. Neste livro #1 a inimiga é Lilith, filha de Judas. Até o momento, ainda não apareceu na história, mas já tivemos uma vampira morta por Victoria em seu teste de iniciação. O outro Venador presente no livro é Maximiliano, um italiano que decidiu ser Venador. Isso também é legal, não são somente as mulheres a serem chamadas dentro da família Gardella, e indivíduos comuns podem se tornar caça-vampiro. Passam por duras provas e se vencerem, recebem seu amuleto, o vis bulla, que lhes dá força sobre-humana, reflexos mais apurados, e capacidade de cura mais rápida. Entretanto, os venadores não são imortais. E das últimas três Venadoras Gardella, somente a tia de Victoria escapou da morte para chegar à velhice.

OK, e o que me incomodou então? Em primeiro lugar, o clima “regência” parece forçado. Para piorar, ela escolhe alta a nobreza, aquele grupo que aparece mais em romance Harlequin e que não dá muito as caras nos romances de Jane Austen. Mas, enfim, não sei se é tudo culpa da autora ou da tradução. Aliás, o texto em português usa expressões modernas demais, além de fazer umas escolhas estranhas. Parece que a pessoa que traduziu não está muito familiarizada com os livros de Jane Austen, inspiração imediata da autora. Maximiliano, por exemplo, é descrito tal como Darcy e a relação dele com a mocinha é bem chupada de “Orgulho & Preconceito”. Não sei até agora se isso é bom ou ruim. Ele é bem mais velho que Victoria. Em alguns momentos, o texto em língua portuguesa parece rimado, a escolha das palavras não foi feliz.

Só que eu não sei se posso isentar a autora. Ela tenta efetivamente entrar no clima do período de Jane Austen, mas parece não ter muito talento para isso. E, para piorar, ela quer ser moderninha. O treinamento da mocinha parece o descrito em “Pride & Prejuice & Zombies”, o que me traz péssimas recordações da graphic novel que ainda não tive forças para terminar de ler, mas deixo claro que os livros dela vieram antes. Mas o que me deixou de cabelo em pé foi exatamente na tal seqüência de quase sexo da mocinha com o vampiro em que aparece escrito “calcinha de algodão”. Olha, “calcinha” já seria uma palavra muito estranha antes dos anos 1940 e poucos do século passado, e na época do livro, 1820, a maioria das mulheres sequer usava essa peça de roupa íntima. Ceroulas e calções só se tornaram populares no final da década seguinte. Se quiser uma discussão sobre isso, veja o segundo episódio de Sex and the Austen Girl. Ou foi dito em algum lugar que eu não li (*eu dei um salto para o quase final do livro*) que “calcinhas de algodão” fazem parte da indumentária da Venadora? Será? Se a autora não explicou é uma das piores bolas fora que eu já li.

Enfim, vou continuar a leitura. Não fosse essa tradução truncada, talvez já tivesse me adiantado mais. É um livro fácil de ler e eu agora quero ver como aparece o vampirão Sebastian, e se rola alguma coisa entre o Maximiliano “Darcy” e a Victoria, além, claro, de como ela vai burlar as regras da sociedade para conseguir matar seus vampiros. E a vilã, Lilith, como ela é? Até agora, a personagem mais curiosa é a tia de Victoria, Eustácia, não me surpreenderia se a vilã matasse a velhinha. Mas é só uma aposta minha. Depois eu volto a comentar.
P.S.1: Continuei a leitura até a página 100 e descobri que alguém teve a infeliz idéia de colocar os empregados ingleses (*e de uma casa da mais alta nobreza*) falando como os escravos e agregados de novelas de época do Brasil. Só faltou a criada chamar a mocinha de "sinhazinha" ou "sinhá moça". Exemplo: “(...) E cumé que a sinhora acabou sendo murdida? Eu achava que os Venadô num era murdido.” Está difícil, e a personagem, a criada Verbena, parece ser uma figura bem interessante.
P.S.2: "Calcinha de algodão" não é invenção da autora. Ela não tem culpa, foi mais uma opção escrota da tradução. Para quem se interessar, é possível baixar o primeiro livro em inglês aqui.

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