Já que a copa começou, decidi escrever um post recomendando dois filmes que gosto bastante e tratam do tema “futebol” (*anime, só conheço shounen, então que outros falem*), ou melhor dizendo, o que as pessoas ao capazes de fazer por conta da paixão pelo esporte. O primeiro é Fever Pitch – não sei se tem nome em português – e o segundo é Driblando o Destino (Bending it Like Beckham). Os dois são filmes ingleses, afinal, a paixão pelo futebol é compartilhada por eles, também.
O filme é bem divertido, embora eu, se fosse a namorada, talvez desse uns sopapos no Paul Ashworth. Ele compra ingresso para todos os jogos do Arsenal, e, como todo professor, não tem muito dinheiro, daí, é no que parece ser a similar inglesa da “geral”, e a pobre da moça passa um perrengue danado no meio da multidão se acotovelando freneticamente (*fever pitch*). E era a época daqueles incidentes com os hooligans ingleses, e acho que ela assiste pela televisão o desastre de Hillsborough, que teve quase de 100 mortos.
Enfim, eles brigam e fazem as pazes, mas, para Paul, o Arsenal está sempre em primeiro lugar. Antológica a cena final na qual a moça vai atrás dele, grávida, no dia do jogo final e ele, que realizou o sonho de comprar um apartamento na frente do estádio do Arsenal, não a atende, e é bem grosseiro já que nem percebe que é ela, porque o Arsenal precisava de mais um golzinho e ele só sai no último momento...
Mas, enfim, uma das coisas interessantes do filme é que ele tem uns lances que parecem documentário, uso de imagens de época, além de mostrar que foi através do futebol que se manteve o vínculo entre Paul e o pai, quando acontece o divórcio que separa a família. O pai o levava toda a semana para ver os jogos do arsenal, longe ou perto. Ele acaba mantendo o costume, mesmo sem o pai. Agora, veja, o machismo da coisa, a irmã é excluída, ela não é levada para os jogos, afinal, menina não gosta de futebol. Infelizmente, apesar de divertido, essa é um pouco a mensagem que Fever Pitch passa, se bem que, o Colin Firth no filme é um fã que está no nível “doente” mesmo, sem concessão.
Jules e Jess se tornam amigas, sonham em seguir carreira e o filme – que é dirigido por uma mulher – expõe o fato de, mesmo na Europa, o futebol feminino pagar muito pouco e ser discriminado. Somente nos EUA o futebol feminino “dá futuro”, segundo o filme. A amizade das duas fica abalada, porque Jess se apaixona por Joe e o rapaz corresponde, ainda que timidamente. Outros imbróglios acontecem, como os sogros da irmã de Jess acusarem a moça de estar “namorando” um inglês, porque a vêem abraçando Jules, que tem cabelos curtos (*e a Keira Knightley é uma tábua*), e fazendo as pazes. Daí, fica "pior", ela pode ser lésbica!!!!
A verdade é ainda pior, pois eles rompem o noivado e Jess é proibida de jogar pelos pais e confinada a ficar em casa “aprendendo as prendas domésticas”. Ela arruma um jeito de continuar jogando às escondidas e Joe vai falar com o pai dela. Mas, quando tudo parecia ir bem, eis que o jogo final do time da moça é no dia do casamento da irmã. E há outras questões a resolver, claro, como a futura carreira da moça, e os olheiros americanos estariam neste jogo, e seu romance com Joe.
Driblando o Destino foca em uma comunidade de imigrantes e trabalha com questões culturais importantes, como o fato da maioria dos indianos ainda verem com restrições mulheres muito queimadas de sol (*se está queimada de sol é porque é pobre e trabalha pesado*), ou usar roupas curtas, ou ainda não ver no casamento o “seu destino”. O pai até queria que ela estudasse, mas não que fosse para longe, e ainda temia o racismo, já que ele mesmo foi colocado para fora de um time de críquete por causa disso. Mas ele fica deslumbrado quando descobre o quanto a filha joga bem e cede. Detalhe é que, mesmo nesse filme, os apoiadores são os pais, as mães, quase que até o fim, são as opositoras.
E um toque, se você assistir ao filme, veja as cenas deletadas, porque uma cena que não entrou no filme ajudaria muito a dar alguma humanidade para a fútil irmã da Jess, Pinky. Nela, a moça coloca para fora todo o seu medo em uma conversa com sua irmã, pois agora que o noivado foi rompido, ela provavelmente não encontrará um outro marido. Motivo? Ela não é mais virgem! Mas o importante, é que ela começa acusando a irmã, e termina mostrando que, acima de tudo, a ama. É um filme que pontua muito alto em alguns momentos.
Fiquem atentos, no entanto, para o fato de a descriminação em relação às mulheres que jogam futebol, não se restringir à comunidades fechadas, ela está presente em todo o lugar. Essa semana estava ouvindo a conversa entre dois colegas de trabalho e um deles reclamando que só tinha filhas e que, por isso, não poderia vesti-las com o uniforme (*do Vasco da Gama*) e levá-las ao estádio, porque isso é “muito esquisito”. Ontem também ouvi de uma aluna que ela proíbe a filha de dois ou três anos de jogar futebol. Motivo? “Não gosto.”.
Estava sem tempo de me meter e discutir, queria muito que as coisas estivessem mudando. Já vi uma menininha apanhar quando era adolescente, porque chutou uma bola de futebol, e minha mãe apanhava da minha avó sempre que ela descobria que ela tinha “brincado de bola”. É muito ridículo que, no país do futebol, as mulheres devam ser somente expectadoras, que mesmo indo muito bem na Copa ou nas Olimpíadas continuem sem apoio e que tantas meninas sejam castradas assim. Por isso, filmes como Driblando o destino são tão animadores, pelo menos para mim. Se puder, assista.
1 pessoas comentaram:
Eu sempre joguei futebol, mesmo quando não dava time com as meninas eu jogava com os meninos, isso desde sei lá uns 8 anos... e sempre me diverti muito jogando!
a única coisa que sempre me irritou no ensino fundamental era que as meninas tinham que ficar meses ensaiando as dancinhas bobas das apresentações e inventando elas, enquanto os meninos podiam continuar jogando bola e só ensaiar no final, a maioria das meninas até que gostava, mas eu achava insuportável.
Até um tempo atrás eu ainda jogava com os meninos do meu ensino médio, eu só parei de jogar há uns dois anos atrás porque eu tinha entrado no time de futsal feminino da faculdade e me machuquei feio num treino, e rompi parcialmente os ligamentos do meu dedão do pé. Sabe como é complicado ligamento, ainda não está bom e o meu médico me proibiu de jogar... mas um dia eu volto!
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