Vi esse artigo no Sequential Tart e decidi que tinha que traduzir e trazer para cá. Só por acaso, tinha começado a ler naquele dia o livro do Mike Madrid – The Supergirls: Fashion, Feminism, Fantasy, and the History of Comic Book Heroines – que eu tinah comprado faz uns dois meses e decidi pegar e dar uma olhada por causa do filme do Homem de Ferro. Resumindo: o livro é muito bom e não deixa em nada a dever na sua análise feminista. Eu tinha medo, e não vou disfarçar o motivo, a autoria masculina me deixa com o pé atrás nesses casos. Mas o defeito, o inegociável, do livro é a falta de bibliografia. Ele cita, cita, cita, e não coloca uma nota. Em qual volume tal personagem disse X ou Y? Qual a edição que lançou a personagem W? E a bibliografia dele. Citar de memória tira o peso acadêmico do livro. Mas continua sendo muito interessante.
Da Trina Robbins sou fá há séculos, já falei dela no blog, traduzi entrevista e tudo mais. Tem link para o blog dela no site. Enfim, não vou apresentá-la de novo. O chato é não ter nada dela traduzido no Brasil, pois ela é excelente e estou sentindo que mais cedo ou mais tarde ela vai lançar alguma coisa sobre mangá, talvez até shoujo mangá, nos EUA. Estou cruzando os dedos. Bem, segue a matéria, meus comentários estão entre parênteses. este texto complementa, a meu ver, o anterior sobre heroínas em filmes de ação.
Quadrinhos Feitos Por Mulheres, Quadrinhos para Mulheres
Trina Robbins e Mike Madrid falam sobre História das Mulheres e Quadrinhos
por Kim De Vries
3 de maio, 2010
Em 8 de abril, eu tive o prazer de assistir uma palestra com Trina Robbins e Mike Madrid sobre mulheres e garotas e quadrinhos. A conversa foi mediada por Andrew farago, curador do Cartoon Art Museum de São Francisco. Foi uma exploração particularmente completa, porque Trina é, talvez, a mais importante historiadora das mulheres quadrinistas, tanto ela quando Mike tem profundo conhecimento da forma como as mulheres são representadas nos comics (*Nota da Tradutora: são os “comics” mesmo, quadrinhos americanos*), e Mike tem se mostrado particularmente interessado nas super heroínas. O que se seguiu foi uma rápida análise das mulheres nos comics durante os últimos 100 anos, tanto as criadoras quanto as personagens. Os pontos de vista sobre personagens, séries e editoras são as expressadas por Mike e Trina.(Mas eu concordo completamente!)
Trina começou com a história das mulheres na indústria começando nos primórdios do século XX e terminou nos dias de hoje. Desde o início, as mulheres eram empregadas para desenhar cartuns, e eram muito prolíficas na criação de crianças fofas como era moda por volta de 1900-1910. Mas as mulheres ganharam mais liberdade, o direito de voto e uma maior quantidade de opções, bem cedo as autoras foram capazes de ir além das crianças fofas para as jovens modernas (*NT: “flappers”*) que estavam no mercado de trabalho, fumavam e tinham vidas de verdade.
Durante a II Guerra Mundial, havia maiores oportunidades. A indústria de quadrinhos estava em ascensão, e, ao mesmo tempo, as editoras empregavam mais mulheres assim como outras indústrias, e essas mulheres tendiam a desenhar mulheres muito fortes como personagens. Por exemplo, Lily Renee escapou da Áustria durante a II Guerra. Com a idade de 18 anos Lily foi contratada para desenhar quadrinhos como L. Renee. Ela criou a arrojada Señorita Rio. Dale Messick também começou neste período, e nos deu Brenda Starr, enquanto Tarpe Mills criou uma das primeiras super heroínas, Miss Fury. Uma das mais influentes super heroínas até hoje também surgiu nessa época: a Mulher Maravilha.
Mas depois da guerra, os homens retornaram e as mulheres foram despedidas. Em 1947, as “Love comics” começaram, e algumas autoras foram contratadas para trabalhar nelas. Mas a mensagem era que não importava a situação, a melhor coisa que poderia acontecer a qualquer mulher era encontrar o homem certo e se casar – apoiando a mentalidade do pós-guerra.
Trina então nos transportou para o final da segunda metade do século XX, até atingirmos o meado da década de 1990. Por volta de 1960, as únicas mulheres trabalhando com quadrinhos eram Marie Severin e Ramona Fradon; todos os comic mainstream da época eram títulos sobre super heróis. Em 1972, Wimmen's Comix foi lançada e continuo a ser publicada até 1992. Assim como o Sequential Tart, ela começou como um espaço alternativo para que as mulheres desenhassem e discutissem o que desejavam.
Da meados dos anos 1980 até metade da década seguinte, houve muitas tentativas de fazer quadrinhos para mulheres, mas elas fracassaram porque eles só podiam ser comprados em comic shops, eram armazenados de forma precária, e a atmosfera desses espaços era muito pouco acolhedora (*NT: para as mulheres e meninas*). Então o mangá chegou aos EUA (*NT: E Trina não deixa de falar disso em seus últimos trabalhos, mostrando que ela não é obtusa como outros analistas.*).
As garotas adoraram. A multiplicidade de gêneros atraiu muita gente que não tinha interesse prévio por comics. Trina parece particularmente interessada no impacto do mangá. Eu gosto de mangá, mas realmente não sabia que tinha mudado o perfil dos leitores de quadrinhos antes do início do século XXI. (*NT: Gosta de mangá, mas não acompanha o fenômeno e o processo silenciosos*.)
Graphic novels também começaram a ser publicadas – por exemplo, Maus. Finalmente, havia alguma coisa fora das comic shops que não eram direcionadas somente para os garotos/homens. Muitos desses materiais começaram a ser publicados por grandes editoras, ao invés das editoras de quadrinhos. Talvez, mais importante, as graphic novels e coleções com encadernação barata (*NT: “trade paperbacks”*) começaram a aparecer regularmente nas livrarias e bibliotecas, tornando-os assim mais acessíveis. Trina parou nesse momento, apesar de haver muito mais a dizer sobre como as mulheres estão participando da indústria nos dias de hoje.
Mike Madrid então se focou nos comics com super heroínas, começando com Sheena, Rainha da Selva, que primeiro apareceu em 1937, e precedeu o Super Homem e o Batman em um ano. Sheena era tão corajosa quanto os (*NT: homens*) super heróis, e freqüentemente resgatava o seu amado do perigo, e assim por diante.
Nos anos 1940, as super heroínas assumiram identidades secretas para se livrar dos papéis sociais restritivos e ajudar seus co-cidadãos. Alguns exemplos incluem The Red Tornado, e Madame Fatal, que era na verdade um homem travestido (*NT: OK, Mike, se era homem como chamar de “super heroína”? Trata-se, talvez, do primeiro e, talvez, o único super cross-dresser dos comics. Aliás, segundo a Wikipedia, The Red tornado era uma cross-dresser, também, e a primeira paródia. Há muitas outras que ele poderia ter citado, ou citou e a repórter deu atenção a esses dois.*).
Muitas dessas super heroínas eram muito patrióticas – a mais famosa, claro, era a Mulher Maravilha. Ela não apenas lutava em defesa dos Estados Unidos, mas ela também se posicionava contra a injustiça e se posicionou firmemente em relação à independência das mulheres. Mike chamou particular atenção para a fala a seguir: “Mas se eu casar com você, Steve, eu terei que fingir que sou mais fraca que você para que você seja feliz, e isso, nenhuma mulher deve fazer.” (*NT: Uau! Mas sabe um dos poucos defeitos do livro do Mike Madrid ? ele nunca coloca notas. NUNCA! Então, você não sabe em qual edição as falas que ele cita aparecem. Uma grande falha em um livro que é muito bom.*)
Depois da Guerra, o tom mudou. Muitas revistas de super heróis desapareceram completamente e outros gêneros apareceram nos quais era difícil para as mulheres desempenharem um papel heróico. Ao memso tempo, o código dos quadrinhos foi criado, e os papéis das mulheres foram ainda mais limitados. As personagens femininas receberam muita atenção para descobrir se elas ofereciam papéis positivos modelares. E então a a Mulher Maravilha passou a gastar boa parte do seu tempo tentando manter Steve feliz – eeeew!
As relações de gênero em geral se tornaram motivo de preocupação. As pessoas também se preocupavam se Batman e Robin eram gays, então a Batwoman foi introduzida, mas nunca se tornou popular. Supergirl apareceu também, mas nunca como uma igual do Super Homem, sempre como a figura da filha obediente. Assim, as personagens femininas foram usadas não para explorar como as mulheres poderiam ser fortes e independentes, mas ao contrário para suavizar o medo a respeito da masculinidade e da identidade heterossexual dos super heróis.
A Marvel Comics publicava series de super heróis nas quais as personagens tinham problemas pessoais de verdade, mas nunca houve mulheres fortes. Assim como nos quadrinhos de romance, esses quadrinhos se focavam em tramas nas quais as mulheres deveriam se casar.
De novo, nós fizemos um grande tour pela cronologia, tentando cobrir 100 anos de comics duas vezes em uma única hora – realmente, tempo de duração do evento pareceu ser muito curto. Os anos 1960 viram poucas super heroínas que agiam como mulheres de verdade; Elasti-Girl era uma exceção. Segundo Mike, a Mulher Maravilha era retratada nesse período como se não fosse um ser humano, como se os escritores não pudessem imaginar que uma mulher forte continuasse um ser humano ao invés de alguma espécie de alien sem emoções.
A década de 1970 trouxe alguma mudança – afinal, era a geração de Gloria Steinam, e a Mulher Maravilha se tornou um ícone feminista. Mas os escritores homens não sabiam como escrever para personagens femininas fortes. Muitas eram apresentadas como odiadoras de homens e cheias de fúria e militantes. (*NT: Tá, é preciso “ler” para crer. Afinal, o que estamos chamando de “militantes”?*)
Poucas mulheres apareceram nos anos 1980, como Tempestade. Elas ficaram mais duronas e atormentadas no decorrer dos anos 1990 conforme o mundo se tornava ambíguo. Um exemplo particular é a She Hulk: advogada assertiva e durona durante o dia, super heroína à noite. Ela gostava de ser um super herói, e era também muito livre sexualmente. (*NT: E isso era para agradar as mulheres? Duvido. Prefiro a análise da Lilian Robinson sobre a personagem.*) Na década de 1990, nós vimos a emergência de personagens com uma série de Seios Bizarros que nos lembravam imagens primevas de lactação. Estas eram as super heroínas strippes cujos uniformes sugeriam que os vilões eram primeiramente derrotados pelo sexy appeal. Felizmente, isso passou em meados dos anos 90.
Finalmente no século XXI, começamos a ver uma real expansão das personagens que eram super heroínas, incluindo uma que era mãe e lésbica, a Batwoman. Finalmente, vimos algumas mulheres que não tentavam se ajustar ao mundo dos homens, mas, ao invés disso, andavam juntas e faziam as coisas ao seu modo. Mais adiante, enquanto os super heróis homens se tornavam cada vez mais moralmente ambíguos, as mulheres retornavam aos ideais originais e, talvez, se tornando mais fiéis à idéia de super herói.
No geral, foi uma discussão muito informativa que resumiu o conhecimento histórico que tanto Trina quanto Mike construíram. Minha única reclamação é que uma hora simplesmente não era tempo suficiente para cobrir a discussão. Foi uma pena porque muitas das idéias mais interessantes surgiram nesse momento, mas receberam pouca atenção. Uma conclusão particular merecia muito mais tempo que era a alegação de Mike de que o grande obstáculo para que as leitoras fosse atraídas e tivéssemos mulheres como personagens fortes é simplesmente o roteiro ruim. (*NT: Perfeito!! Roteiros ruins são achave de tudo.*)
Trina concordou com isso, e todos nós falamos brevemente sobre a emergência do selo Vertigo e a forma como o trabalho de Neil Gaiman em particular atraiu muitas mulheres. Infelizmente, neste ponto o tempo acabou, e não pudemos conversar de verdade sobre como as personagens femininas são escritas, uma questão que era o coração de toda a discussão. Mas foi uma apresentação interessante. Eu espero que no futuro, os organizadores possam considerar uma palestra mais longa ou mesmo uma série de encontros, porque a questão das mulheres nos comics merece muito mais atenção. (*NT: Ufa! Acabei!*)
Da Trina Robbins sou fá há séculos, já falei dela no blog, traduzi entrevista e tudo mais. Tem link para o blog dela no site. Enfim, não vou apresentá-la de novo. O chato é não ter nada dela traduzido no Brasil, pois ela é excelente e estou sentindo que mais cedo ou mais tarde ela vai lançar alguma coisa sobre mangá, talvez até shoujo mangá, nos EUA. Estou cruzando os dedos. Bem, segue a matéria, meus comentários estão entre parênteses. este texto complementa, a meu ver, o anterior sobre heroínas em filmes de ação.
Quadrinhos Feitos Por Mulheres, Quadrinhos para Mulheres
Trina Robbins e Mike Madrid falam sobre História das Mulheres e Quadrinhos
por Kim De Vries
3 de maio, 2010
Em 8 de abril, eu tive o prazer de assistir uma palestra com Trina Robbins e Mike Madrid sobre mulheres e garotas e quadrinhos. A conversa foi mediada por Andrew farago, curador do Cartoon Art Museum de São Francisco. Foi uma exploração particularmente completa, porque Trina é, talvez, a mais importante historiadora das mulheres quadrinistas, tanto ela quando Mike tem profundo conhecimento da forma como as mulheres são representadas nos comics (*Nota da Tradutora: são os “comics” mesmo, quadrinhos americanos*), e Mike tem se mostrado particularmente interessado nas super heroínas. O que se seguiu foi uma rápida análise das mulheres nos comics durante os últimos 100 anos, tanto as criadoras quanto as personagens. Os pontos de vista sobre personagens, séries e editoras são as expressadas por Mike e Trina.(Mas eu concordo completamente!)
Trina começou com a história das mulheres na indústria começando nos primórdios do século XX e terminou nos dias de hoje. Desde o início, as mulheres eram empregadas para desenhar cartuns, e eram muito prolíficas na criação de crianças fofas como era moda por volta de 1900-1910. Mas as mulheres ganharam mais liberdade, o direito de voto e uma maior quantidade de opções, bem cedo as autoras foram capazes de ir além das crianças fofas para as jovens modernas (*NT: “flappers”*) que estavam no mercado de trabalho, fumavam e tinham vidas de verdade.
Durante a II Guerra Mundial, havia maiores oportunidades. A indústria de quadrinhos estava em ascensão, e, ao mesmo tempo, as editoras empregavam mais mulheres assim como outras indústrias, e essas mulheres tendiam a desenhar mulheres muito fortes como personagens. Por exemplo, Lily Renee escapou da Áustria durante a II Guerra. Com a idade de 18 anos Lily foi contratada para desenhar quadrinhos como L. Renee. Ela criou a arrojada Señorita Rio. Dale Messick também começou neste período, e nos deu Brenda Starr, enquanto Tarpe Mills criou uma das primeiras super heroínas, Miss Fury. Uma das mais influentes super heroínas até hoje também surgiu nessa época: a Mulher Maravilha.
Mas depois da guerra, os homens retornaram e as mulheres foram despedidas. Em 1947, as “Love comics” começaram, e algumas autoras foram contratadas para trabalhar nelas. Mas a mensagem era que não importava a situação, a melhor coisa que poderia acontecer a qualquer mulher era encontrar o homem certo e se casar – apoiando a mentalidade do pós-guerra.
Trina então nos transportou para o final da segunda metade do século XX, até atingirmos o meado da década de 1990. Por volta de 1960, as únicas mulheres trabalhando com quadrinhos eram Marie Severin e Ramona Fradon; todos os comic mainstream da época eram títulos sobre super heróis. Em 1972, Wimmen's Comix foi lançada e continuo a ser publicada até 1992. Assim como o Sequential Tart, ela começou como um espaço alternativo para que as mulheres desenhassem e discutissem o que desejavam.
Da meados dos anos 1980 até metade da década seguinte, houve muitas tentativas de fazer quadrinhos para mulheres, mas elas fracassaram porque eles só podiam ser comprados em comic shops, eram armazenados de forma precária, e a atmosfera desses espaços era muito pouco acolhedora (*NT: para as mulheres e meninas*). Então o mangá chegou aos EUA (*NT: E Trina não deixa de falar disso em seus últimos trabalhos, mostrando que ela não é obtusa como outros analistas.*).
As garotas adoraram. A multiplicidade de gêneros atraiu muita gente que não tinha interesse prévio por comics. Trina parece particularmente interessada no impacto do mangá. Eu gosto de mangá, mas realmente não sabia que tinha mudado o perfil dos leitores de quadrinhos antes do início do século XXI. (*NT: Gosta de mangá, mas não acompanha o fenômeno e o processo silenciosos*.)
Graphic novels também começaram a ser publicadas – por exemplo, Maus. Finalmente, havia alguma coisa fora das comic shops que não eram direcionadas somente para os garotos/homens. Muitos desses materiais começaram a ser publicados por grandes editoras, ao invés das editoras de quadrinhos. Talvez, mais importante, as graphic novels e coleções com encadernação barata (*NT: “trade paperbacks”*) começaram a aparecer regularmente nas livrarias e bibliotecas, tornando-os assim mais acessíveis. Trina parou nesse momento, apesar de haver muito mais a dizer sobre como as mulheres estão participando da indústria nos dias de hoje.
Mike Madrid então se focou nos comics com super heroínas, começando com Sheena, Rainha da Selva, que primeiro apareceu em 1937, e precedeu o Super Homem e o Batman em um ano. Sheena era tão corajosa quanto os (*NT: homens*) super heróis, e freqüentemente resgatava o seu amado do perigo, e assim por diante.
Nos anos 1940, as super heroínas assumiram identidades secretas para se livrar dos papéis sociais restritivos e ajudar seus co-cidadãos. Alguns exemplos incluem The Red Tornado, e Madame Fatal, que era na verdade um homem travestido (*NT: OK, Mike, se era homem como chamar de “super heroína”? Trata-se, talvez, do primeiro e, talvez, o único super cross-dresser dos comics. Aliás, segundo a Wikipedia, The Red tornado era uma cross-dresser, também, e a primeira paródia. Há muitas outras que ele poderia ter citado, ou citou e a repórter deu atenção a esses dois.*).
Muitas dessas super heroínas eram muito patrióticas – a mais famosa, claro, era a Mulher Maravilha. Ela não apenas lutava em defesa dos Estados Unidos, mas ela também se posicionava contra a injustiça e se posicionou firmemente em relação à independência das mulheres. Mike chamou particular atenção para a fala a seguir: “Mas se eu casar com você, Steve, eu terei que fingir que sou mais fraca que você para que você seja feliz, e isso, nenhuma mulher deve fazer.” (*NT: Uau! Mas sabe um dos poucos defeitos do livro do Mike Madrid ? ele nunca coloca notas. NUNCA! Então, você não sabe em qual edição as falas que ele cita aparecem. Uma grande falha em um livro que é muito bom.*)
Depois da Guerra, o tom mudou. Muitas revistas de super heróis desapareceram completamente e outros gêneros apareceram nos quais era difícil para as mulheres desempenharem um papel heróico. Ao memso tempo, o código dos quadrinhos foi criado, e os papéis das mulheres foram ainda mais limitados. As personagens femininas receberam muita atenção para descobrir se elas ofereciam papéis positivos modelares. E então a a Mulher Maravilha passou a gastar boa parte do seu tempo tentando manter Steve feliz – eeeew!
As relações de gênero em geral se tornaram motivo de preocupação. As pessoas também se preocupavam se Batman e Robin eram gays, então a Batwoman foi introduzida, mas nunca se tornou popular. Supergirl apareceu também, mas nunca como uma igual do Super Homem, sempre como a figura da filha obediente. Assim, as personagens femininas foram usadas não para explorar como as mulheres poderiam ser fortes e independentes, mas ao contrário para suavizar o medo a respeito da masculinidade e da identidade heterossexual dos super heróis.
A Marvel Comics publicava series de super heróis nas quais as personagens tinham problemas pessoais de verdade, mas nunca houve mulheres fortes. Assim como nos quadrinhos de romance, esses quadrinhos se focavam em tramas nas quais as mulheres deveriam se casar.
De novo, nós fizemos um grande tour pela cronologia, tentando cobrir 100 anos de comics duas vezes em uma única hora – realmente, tempo de duração do evento pareceu ser muito curto. Os anos 1960 viram poucas super heroínas que agiam como mulheres de verdade; Elasti-Girl era uma exceção. Segundo Mike, a Mulher Maravilha era retratada nesse período como se não fosse um ser humano, como se os escritores não pudessem imaginar que uma mulher forte continuasse um ser humano ao invés de alguma espécie de alien sem emoções.
A década de 1970 trouxe alguma mudança – afinal, era a geração de Gloria Steinam, e a Mulher Maravilha se tornou um ícone feminista. Mas os escritores homens não sabiam como escrever para personagens femininas fortes. Muitas eram apresentadas como odiadoras de homens e cheias de fúria e militantes. (*NT: Tá, é preciso “ler” para crer. Afinal, o que estamos chamando de “militantes”?*)
Poucas mulheres apareceram nos anos 1980, como Tempestade. Elas ficaram mais duronas e atormentadas no decorrer dos anos 1990 conforme o mundo se tornava ambíguo. Um exemplo particular é a She Hulk: advogada assertiva e durona durante o dia, super heroína à noite. Ela gostava de ser um super herói, e era também muito livre sexualmente. (*NT: E isso era para agradar as mulheres? Duvido. Prefiro a análise da Lilian Robinson sobre a personagem.*) Na década de 1990, nós vimos a emergência de personagens com uma série de Seios Bizarros que nos lembravam imagens primevas de lactação. Estas eram as super heroínas strippes cujos uniformes sugeriam que os vilões eram primeiramente derrotados pelo sexy appeal. Felizmente, isso passou em meados dos anos 90.
Finalmente no século XXI, começamos a ver uma real expansão das personagens que eram super heroínas, incluindo uma que era mãe e lésbica, a Batwoman. Finalmente, vimos algumas mulheres que não tentavam se ajustar ao mundo dos homens, mas, ao invés disso, andavam juntas e faziam as coisas ao seu modo. Mais adiante, enquanto os super heróis homens se tornavam cada vez mais moralmente ambíguos, as mulheres retornavam aos ideais originais e, talvez, se tornando mais fiéis à idéia de super herói.
No geral, foi uma discussão muito informativa que resumiu o conhecimento histórico que tanto Trina quanto Mike construíram. Minha única reclamação é que uma hora simplesmente não era tempo suficiente para cobrir a discussão. Foi uma pena porque muitas das idéias mais interessantes surgiram nesse momento, mas receberam pouca atenção. Uma conclusão particular merecia muito mais tempo que era a alegação de Mike de que o grande obstáculo para que as leitoras fosse atraídas e tivéssemos mulheres como personagens fortes é simplesmente o roteiro ruim. (*NT: Perfeito!! Roteiros ruins são achave de tudo.*)
Trina concordou com isso, e todos nós falamos brevemente sobre a emergência do selo Vertigo e a forma como o trabalho de Neil Gaiman em particular atraiu muitas mulheres. Infelizmente, neste ponto o tempo acabou, e não pudemos conversar de verdade sobre como as personagens femininas são escritas, uma questão que era o coração de toda a discussão. Mas foi uma apresentação interessante. Eu espero que no futuro, os organizadores possam considerar uma palestra mais longa ou mesmo uma série de encontros, porque a questão das mulheres nos comics merece muito mais atenção. (*NT: Ufa! Acabei!*)
4 pessoas comentaram:
Ah, ranhetice. Mulher Hulk era muito legal. :)
http://is.gd/bZcSW
Único travesti dos quadrinhos? Pode ter sido a primeira essa tal Madame Fatal, mas eu poderia contar mais de 10 que eu conheço. Chamo atenção para a personagem de Os Invisíveis Lord Fanny, que é travesti, negra, carioca e além de tudo mãe de santo.
Super-heroínas eu realmente conheço poucas, mas quadrinhos feitos por mulheres e para mulheres teve um bocado nesse período da Guerra, inclusive tem um livro no meu trabalho que cobre praticamente todos os quadrinhos publicados no Brasil em que muitos vários desses quadrinhos são citados.
BTW eu pensava que a Batgirl original era lésbica, não sabia que era a Batwoman.
BTW é interessante notar que a Batgirl cresceu, se tornou delegada (ou era política?), ficou paraplégica e depois foi assassinada, tudo isso nos anos 60.
Kadu, sobre as mulheres produzirem quadrinhos de herói, isso está no texto, na parte da Trina Robbins e ela tem um livro inteiro sobre hheroínas, outro sobre mulheres quadrinistas americanas, e outro sobre quadrinhos para mulheres nos EUA que cobre isso muito bem. E, não somente, claro, em um parágrafo. Mas ela fala das heroínas. Quadrinhos de mulheres para mulheres nos EUA nunca foram muitos em época alguma. Já que muitas revistas para meninas e mulheres eram desenhadas por homens. E a especialista na área é a Trina Robbins.
Quanto aos travestis eu coloquei "talvez". Está escrito na frase, já que eu mesma não tenho leituras suficientes para saber quem foi o/a primeiro e quem mais se travestia.
Já a Batgirl e a Batwoman são personagens diferentes. Mas usar "girl" era quase obrigatório. A Batwoman foi uma interessante exceção junto com outras poucas.
Essas coisas que vocês descreveu acontecendo com a Batgirl não são da década de 1960, você digitou errado. Essas coisas começaram a acontecer com ela na segunda metade dos anos 1980. Qualquer coisa, veja a wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Batgir).
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