Hoje é 8 de março, data que merece e precisa ser lembrada. Quer saber por que ela existe? Veja o post do ano passado. Assim, eu economizo a longa explicação, já que meu cansaço pode fazer falhar a minha redação.
Pois bem, amanheci sabendo que um dos motivos de comemoração hoje é que, pela primeira vez, uma mulher ganhou o oscar de melhor diretora por Guerra ao Terror, que faturou também melhor filme (*coisa que eu já tinha "previsto" que aconteceria. Ouça o podcast.*), além de roteiro original. Três dos prêmios principais. Como eu gosto muito de cinema, ver esse tipo de coisa acontecer é realmente deprimente. Óbvio, que seria forçar a barra de dessem melhor ator para o pereba que era protagonista do filme, e, claro, o filme não poderia se qualificar para melhor atriz, já que não há mulheres nele. E, para fechar, a diretora agradeceu “aos homens e mulheres do Exército Americano” que devem estar defendendo o mundo do tal terror. Putz! Isso seria coisa a esperar na Era Bush, não no segundo ano do Governo Obama.
Se eu fosse dada a xingar palavrões, seria agora! Um filme sobre invasão do Iraque que não se posiciona criticamente sobre o papelão feito pelos americanos por lá. E, pior, filme feito por uma mulher e que não tem mulheres, embora o exército americano esteja cheio delas. (*Recruta Benjamin é de 1980! Fora outros filmes americanos mais recentes, como Coragem sob Fogo.*) Foi o Oscar backlash: para ganhar melhor direção, uma mulher teve que fazer filme “de homem”, isto é, falar de guerra, invisibilizando as mulheres soldado. E querem que a gente dê pulinhos de felicidade.
Daí, vale recordar “The Bechdel Rule” que foi criada pela quadrinista Alison Bechdel em sua série Dykes to Watch Out For. O que deveria tornar um filme assistível? Três coisinhas: 1) Ter pelo menos duas personagens femininas; 2) Que conversem entre si; 3) E que não seja sobre homem. Guerra ao Terror falha desde a primeira. E não é por falta de mulheres no exército americano, eu repito, ainda que elas não façam parte de esquadrões anti-bomba, no entanto, elas não estão no filme nem como figurantes. A única mulher que me lembro de ter mais de duas linhas de diálogo é a esposa do protagonista. Que existe exatamente assim, ela é esposa e mãe e fica para trás, claro, pois a frente de batalha é para os homens. Legal! Kathyrin Bigelow tornou meu 8 de março inesquecível.
Alguns estão comemorando dizendo que foi a vitória “da arte” sobre o cinema comercial. Tem base um negócio desses?! Guerra ao Terror é “arte” e só Avatar é “comercial”? E o que há de problemático em ser comercial? Enquanto isso, no mundo real temos essas matérias: “Mulheres com nível superior ganham ainda menos do que os homens, diz IBGE” ou Estudo relembra como é duro ser mulher (e negra) no Brasil ou “Ex-marido mata mulher a tiros em salão de beleza” ou ainda “Homem tenta incendiar ex-mulher”. Na verdade, os dados da violência contra as mulheres aqui no Brasil, e no resto do mundo continuam assustadores, coisa que o oscar de melhor direção para a Bigelow não vai mudar.
Olha, eu realmente queria ver uma mulher ganhando o oscar de melhor direção, mas com um filme realmente excelente, que fizesse diferença na vida das mulheres que o assistissem (*e, talvez, na História do Cinema*) e, não, com uma obra que qualquer homem-diretor medíocre poderia fazer. E mais, daqui dez anos talvez os americanos consigam fazer um bom filme sobre a Invasão do Iraque, e duvido que o filme da Bigelow fique eternizado, salvo por ter sido o primeiro – depois de tantas outras diretoras que mereceriam ganhar – a dar para uma mulher o oscar de direção.
Ah, sim, e aturei as rosinhas, os cartões e as felicitações (*desconto nos livros que comprei, não deram, isso, sim, me faria muito feliz*), afinal, nós mulheres somos muito felizes, porque temos um diazinho só para nós. Realmente, o 8 de março é cada vez mais difícil de aturar.
P.S.: O The Guardian comentou Guerra ao Terror em um artigo chamado The Hurt Locker is empty. Não fala das mulheres, mas aponta muito bem a falta de espírito crítico do filme: "A grande falha em Guerra ao Terror é que ele não tem nada a dizer sobre o Iraque. Este é, afinal das contas, um filme contemporâneo que se passaria no Iraque. Ainda assim, a sensação é curiosamente de distanciamento. Ele poderia facilmente se passar em qualquer teatro moderno de guerra, da Alemanha da II Grande Guerra até a Coréia, Vietnã ou Afaganistão. O fato é que ser no Iraque é tornado irrelevante – e essa neutralidade política [Nota: eu chamaria falta de senso crítico.] deve ter contado para o sucesso no Oscar, no qual filmes “políticos” tendem a ser mal recebidos pelos membros da Academia." Não vou traduzir tudo, mas aviso que vale a leitura.
Pois bem, amanheci sabendo que um dos motivos de comemoração hoje é que, pela primeira vez, uma mulher ganhou o oscar de melhor diretora por Guerra ao Terror, que faturou também melhor filme (*coisa que eu já tinha "previsto" que aconteceria. Ouça o podcast.*), além de roteiro original. Três dos prêmios principais. Como eu gosto muito de cinema, ver esse tipo de coisa acontecer é realmente deprimente. Óbvio, que seria forçar a barra de dessem melhor ator para o pereba que era protagonista do filme, e, claro, o filme não poderia se qualificar para melhor atriz, já que não há mulheres nele. E, para fechar, a diretora agradeceu “aos homens e mulheres do Exército Americano” que devem estar defendendo o mundo do tal terror. Putz! Isso seria coisa a esperar na Era Bush, não no segundo ano do Governo Obama.
Se eu fosse dada a xingar palavrões, seria agora! Um filme sobre invasão do Iraque que não se posiciona criticamente sobre o papelão feito pelos americanos por lá. E, pior, filme feito por uma mulher e que não tem mulheres, embora o exército americano esteja cheio delas. (*Recruta Benjamin é de 1980! Fora outros filmes americanos mais recentes, como Coragem sob Fogo.*) Foi o Oscar backlash: para ganhar melhor direção, uma mulher teve que fazer filme “de homem”, isto é, falar de guerra, invisibilizando as mulheres soldado. E querem que a gente dê pulinhos de felicidade.
Daí, vale recordar “The Bechdel Rule” que foi criada pela quadrinista Alison Bechdel em sua série Dykes to Watch Out For. O que deveria tornar um filme assistível? Três coisinhas: 1) Ter pelo menos duas personagens femininas; 2) Que conversem entre si; 3) E que não seja sobre homem. Guerra ao Terror falha desde a primeira. E não é por falta de mulheres no exército americano, eu repito, ainda que elas não façam parte de esquadrões anti-bomba, no entanto, elas não estão no filme nem como figurantes. A única mulher que me lembro de ter mais de duas linhas de diálogo é a esposa do protagonista. Que existe exatamente assim, ela é esposa e mãe e fica para trás, claro, pois a frente de batalha é para os homens. Legal! Kathyrin Bigelow tornou meu 8 de março inesquecível.
Alguns estão comemorando dizendo que foi a vitória “da arte” sobre o cinema comercial. Tem base um negócio desses?! Guerra ao Terror é “arte” e só Avatar é “comercial”? E o que há de problemático em ser comercial? Enquanto isso, no mundo real temos essas matérias: “Mulheres com nível superior ganham ainda menos do que os homens, diz IBGE” ou Estudo relembra como é duro ser mulher (e negra) no Brasil ou “Ex-marido mata mulher a tiros em salão de beleza” ou ainda “Homem tenta incendiar ex-mulher”. Na verdade, os dados da violência contra as mulheres aqui no Brasil, e no resto do mundo continuam assustadores, coisa que o oscar de melhor direção para a Bigelow não vai mudar.
Olha, eu realmente queria ver uma mulher ganhando o oscar de melhor direção, mas com um filme realmente excelente, que fizesse diferença na vida das mulheres que o assistissem (*e, talvez, na História do Cinema*) e, não, com uma obra que qualquer homem-diretor medíocre poderia fazer. E mais, daqui dez anos talvez os americanos consigam fazer um bom filme sobre a Invasão do Iraque, e duvido que o filme da Bigelow fique eternizado, salvo por ter sido o primeiro – depois de tantas outras diretoras que mereceriam ganhar – a dar para uma mulher o oscar de direção.
Ah, sim, e aturei as rosinhas, os cartões e as felicitações (*desconto nos livros que comprei, não deram, isso, sim, me faria muito feliz*), afinal, nós mulheres somos muito felizes, porque temos um diazinho só para nós. Realmente, o 8 de março é cada vez mais difícil de aturar.
P.S.: O The Guardian comentou Guerra ao Terror em um artigo chamado The Hurt Locker is empty. Não fala das mulheres, mas aponta muito bem a falta de espírito crítico do filme: "A grande falha em Guerra ao Terror é que ele não tem nada a dizer sobre o Iraque. Este é, afinal das contas, um filme contemporâneo que se passaria no Iraque. Ainda assim, a sensação é curiosamente de distanciamento. Ele poderia facilmente se passar em qualquer teatro moderno de guerra, da Alemanha da II Grande Guerra até a Coréia, Vietnã ou Afaganistão. O fato é que ser no Iraque é tornado irrelevante – e essa neutralidade política [Nota: eu chamaria falta de senso crítico.] deve ter contado para o sucesso no Oscar, no qual filmes “políticos” tendem a ser mal recebidos pelos membros da Academia." Não vou traduzir tudo, mas aviso que vale a leitura.
12 pessoas comentaram:
Adorei o texto valeria! melhor q o do ano passado! curtinho mais cheio d reflexoes! bjos
Eu sou mais as mulheres de Avatar. Me identifiquei com a doutora, interpretada pela MARAVILHOSA Sigourney Weaver (vc precisa ver essa mulher em Prayers for Bob, que interpretação! eu chorei), com a piloto e até com a Neytiri.
Muito bom esse post, Valeria. Concordo com tudo que foi dito, já imaginei que Bigelow levasse a estatueta de melhor diretora por causa da data.
Ao meu ver as três categorias mais importantes que Guerra ao Terror levou deveriam ter ido para Bastardos Inglorios, talvez direção ficasse melhor com James Cameron, por ser um filme bem mais empolgante e com atuações melhores que o primeiro.
A falta de critica ante a guerra no Iraque e as ações do protagonista tornou assistir Guerra ao Terror uma tarefa árdua.
Também sou mto mais as mulheres de Avatar.
Tbm não fiquei mto contente com esse resultado. Tentam dar tanto valor a ele, mas no fundo não foi tão significativo assim.
É engraçado, pq esses dias eu vi um drama que tem a melhor personagem feminina que já vi (City Hall).
Nenna ^^
www.hitsuzen-br.blogspot.com
Sinceramente, eu queria que fosse Bastardos Inglórios o grande vencedor da noite. Escolher Avatar e Guerra ao Terror pra mim é seis por meia dúzia. Um é filme de "apoio moral" a guerra do Iraque, mostrando "olha como os americanos são humanos, eles não são os vilões da história", como mostrou o agradecimento da diretora no palco (e acho que para mim esse foi o motivo da vitória do filme). O outro é praticamente uma propaganda política em prol de uma futura invasão da amazônia para proteger as pobres nações indígenas do terrível governo brasileiro (não por acaso o filme é "inspirado" no "brincando nos campos do senhor" do Hector Babenco – o argentino de piada que encontrou a profissão dos sonhos de um argentino de piada: ser cineasta brasileiro. O próprio Cameron disse Em que outra profissão alguém pode xingar o Brasil, dizer o tempo todo mundo afora que ele é podre, e ainda por cima ser aplaudido por um bando de gente estúpida?) Leiam a resposta da segunda pergunta inclusive.
http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,1969722,00.html
Sinceramente, quero que tanto Bigelow quanto Cameron morram com câncer aonde o sol não brilha. Mesmo.
As pessoas falam mal e mal de Avatar, e sinceramente, pelo que você nos falou, apesar de ser "fantasia", o roteiro de Avatar consegue ser muito mais "revolucionário" do que Guerra ao Terror: diferente do que se pensa quando se compara o enredo com Pocahontas, em Avatar o soldado americano se sensibiliza com os nativos, e ao contrário de John Smith, toma partido claramente dos aborígenes e os americanos são expulsos mesmo. Não é uma crítica ao imperialismo/colonialismo?!
Além da doutora, que tenta driblar o poder cheio de testorsterona do exército que ela sabe que é quem mantém os recursos financeiros de sua pesquisa; temos toda a força de uma fêmea feroz e ao mesmo tempo sensível líder de sua tribo, Neitrih(que deixa seu par romântico parecendo um banana), a relação dela com a própria mãe, que é a matriarca/xamã da tribo. Tem também a piloto que se rebela contra as ordens do comandante. As mulheres fazem toda a diferença na trama!
Pena que o jeito que o Cameron desenvolve a coisa é sem pretensões: parece aquelas típicas soluções de filmes de RPG como Final Fantasy, e acaba se confiando demais nos efeitos gráficos.
CONCORDO FIELMENTE COM CADA PALAVRA!!!
sinceramente eu já não sou fã de filme de guerra, raros me dão vontade de assistir, claro, sendo histórico e olhe lá! Mas esse aê sinceramente é uma vergonha.
Tantos livros bons, escritos por mulheres, que dariam excelentes filmes, mas é isso aê. 'SHOUJO' não deve ser apreciado porque o que conta é o 'shounen', o que quero dizer é simples. O que merece ser aplaudido é a guerra (pra trazer 'paz' =.=), a violência física e moral, isso que é ação, emocionante!!!
O personagem não se desenvolve porcaria nenhuma no psiquê, mas td mundo aplaude...
E pra variar... é apenas mais um filme sobre, advinha o quê... A DISTORÇÃO NORTE-AMERICANA SOBRE A GUERRA. Marketing, é isso aê. Vamos dar oscar mesmo... Palhaçada...
Nunca vi um filme norte-americano sobre guerra que seja verídico... desculpem o desabafo ¬¬
Dammy, o problema do filme da Bigelow não é ser filme de guerra, mas a forma como ele foi exacutado. A-crítico, babando em cima do americano médio tetosterônico, e, claro, sem as mulehres soldado.
Alexandre, sinceramente? Acho que você está exagerando muito em relação a Avatar.
De resto, certamente Avatar era mais justo com as mulheres. E eu não vou louvar a vitória da Bigelow, não.
Quanto à Bastardos, não vi. Mas não gosto do tarantino e não vejo culhões em americano que decide "zoar" com os nazistas. Parece lugar comum. Mas devo assistir em DVD. Já prometi a mim mesma e aí, avalio outros fundamentos do filme.
Valéria!!
Eu não falei nada porque não tinha assistido Guerra ao Terror, mas tava com esta péssima impressão: de que o filme deveria ser uma droga, idolatrando os pobres e coitados soldados lá no Iraque!
Realmente isto é um absurdo!
...na verdade, fiquei decepcionada que nem você...
E ainda fiquei frustrada porque Sandra Bullock ganhou de melhor atriz (e, poxa, ela não é melhor que a Meryl Streep ou Sidibe)...
Ótima análise, Valéria! Não vi Guerra ao Terror, mas confio no seu taco. E tento seguir a Bedchel Rule o máximo possível, mas, pra mim, não dá pra desqualificar uma obra só porque ela não tem mulheres. Sei lá, eu não deixaria de ler e amar O Senhor das Moscas porque todos os personagens são meninos. E, no caso do cinema, existe Cães de Aluguel. Só tem homem (e Taranta foi muito criticado por isso), mas é um filmaço, né?
Mas bem lembrado pelas suas leitoras que Avatar é, sem sombra de dúvida, um filme feminista! E de esquerda. E aí perde o Oscar prum filme sem mulheres e, pelo que vc diz, no mínimo acrítico na questão da guerra...
Olha, Lola, mas se uma diretora mulher, falando da Invasão do Iraque, onde, infelizmente, já apareceram mulheres envolvidas inclusive em casos de tortura (*e era uma general a responsável pela tal prisão*), não mostra mulheres soldado nem como figurantes, é realmente muito decepcionante.
Eu poderia lamentar somente se fosse um filme feito por um homem, mas feito por uma mulher é muito complicado.
Mas eu não dispenso um filme por causa da Bedchel Rule, mas Guerra ao Terror é um caso de polícia... ou de política, como disse lá o articulista do The Guardian.
A diretora na certa ficou com medo de por uma mulher no filme por causa de julgamentos precipitados de que ela estaria fazendo um filme de moçinha, ai na certa ela resolveu filmar uma história o mais testosteronica possivel...
O post do ano passado me lembrou o prof de Geografia dizendo que no Dia Internacional da Mulher ele levou rosas pra escola para os garotos darem às garotas. Ele disse (com a melhor das inrenções) que as mulheres podem ser isso ou aquilo (não lembro dreito, mas o adjetivo "gastadeiras" estava no meio) mas nós não podiamos viver sem elas...
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