Ontem, depois da prova teórica do Detran, fio ao cinema assistir O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de sus Ojos). Queria assistir este filme antes mesmo do Oscar, apesar de ter apostado em A Fita Branca. Estava com um medo danado que ele saísse de cartaz hoje, mas eis que ele continua por pelo menos mais uma semana. Então, se você mora em Brasília, aproveite!
A história básica do filme é a seguinte: Benjamín Espósito (Ricardo Darín), que é policial ou funcionário da promotoria (*não entendi mesmo, desculpem*) está aposentado. O ano é 1999 e ele decide escrever um romance revisitando um caso de 1974 que ele não pode resolver, o brutal estupro e assassinato de uma professora de 23 anos. O investigador, penalizado pela sorte da moça e pela fidelidade e dor de seu marido, havia jurado resolver o caso e arrasta para a investigação seu subordinado alcoólatra, Pablo Sandoval (Guillermo Francella), além da inteligente, aristocrática e bonita promotora (*é o que eu acho que ela é*) Irene Menéndez-Hastings (Soledad Villamil). Mas as coisas não correram muito bem e o investigador termina frustrado, não somente por não ter cumprido a promessa, com terríveis desdobramentos para si mesmo e Sandoval, mas, também, por não conseguir se declarar para Irene. Mas em 1999 ele tem uma chance de revisitar o passado e resolver os assuntos pendentes.
Eu tenho pouquíssima experiência com o cinema argentino. Na verdade, assisti somente três filmes deste país: A História Oficial, que deu o primeiro Oscar para a Argentina; O Filho da Noiva e o O Segredo de Seus Olhos, esses dois últimos têm a mesma equipe e ator protagonista. É muito pouco e, ao mesmo tempo, eu tenho perfeita noção da altíssima qualidade e da coragem dos roteiristas e argentinos. Porque História Oficial, por exemplo, é um filme de 1985 que fala de uma das piores feridas da ditadura Argentina, as crianças seqüestradas, arrancadas de suas mães que eram mortas, e adotadas ilegalmente. A ditadura tinha terminado no ano anterior (1976-83). Enquanto isso, nós aqui no Brasil pisamos em ovos para falar da nossa, e indicamos filmes insípidos ao Oscar, como Olga e O que é isso Companheiro?, ou coisas caricatas como Tieta, ou filmes com criancinhas e velhinhos, porque a Academia gosta disso, vide O Ano em que meus pais saíram em viagem de Férias. E deixamos Tropa de Elite, vencedor de Berlim, de fora.
Eu assisto muito filme nacional, e sei que tem muita coisa muito melhor, mas, claro, é preciso aprender com os argentinos e sabemos que aqui, ninguém gosta de ouvir ou ler isso. O segredo de Seus Olhos não tem velhinhos, criancinhas, é violento (*mostra o corpo brutalizado da moça, o criminoso colocando as genitais para fora em atitude de intimidação*), é político sem tratar diretamente dos conflitos que conduziram à ditadura Argentina, mostram o que de pior a América Latina tem com os desmandos dos poderosos e a corrupção, e tem muito palavrão. Aliás, todos eles foram censurados. A gente ouvia os palavrões cabeludíssimos e a legenda absolutamente aguada. Aliás, como andam horrorosas as legendas atuais. Enfim, O Segredo dos Seus Olhos é um filme muito corajoso e com interpretações brilhantes. Por que não indicaram nenhum deles? Eu sei que isso só acontece em caso de exceção, mas o trio principal merecia.
E preciso destavar o papel da juíza (*em 1999, ela é juíza*), além da atriz ser ótima, ela é importante na história, pintada como competente lutando por um espaço em um mundo masculino. E, mais, ninguém a desqualifica por ser mulher, seus colegas a respeitam, seus superiores, também, e não parece ser só porque ela é de família rica e poderosa. Eu não sei se havia promotoras no Brasil de 1974, mas juízas as primeiras são de meados dos anos 80. E a moça assassinada era belíssima. Não tinha falas, mas representou bem o seu papel, não sei se é atriz ou modelo, mas muito, muito bonita. O que tornou a visão da sua morte ainda mais horripilante,.
As resenhas de O Segredo dos Seus Olhos me enganaram. Elas me fizeram pensar que o crime nunca foi resolvido, mas ele foi. São os interesses políticos que fizeram o criminoso sair livre. E, caramba, quando Esposito e Hastings confrontam o juiz corrupto e direitista (*os protagonistas não se posicionam politicamente*) meu estômago revirou. Não estou exagerando. Aquela cena, com o juiz dizendo que na promotora ele não poderia tocar, porque ela era filha de gente muito importante, mas que Esposito estava perdido, é tão Brasil, tão nosso país, que a identidade e o nojo foi imediato. E o assassino estuprador saiu livre e logo depois acontece outra tragédia... Mas não vou contar mais.
Se puder, assista O Segredo dos Seus Olhos. As atuações, a história, as reviravoltas na hora certa, a sensação de que o filme estava acabado e ele recomeçando de novo, sem barriga, mas com pleno vigor, foi ótimo. Não passei a acreditar que as pessoas não mudem por causa do filme, mas confirmei o quanto o cinema argentino pode ser mais corajoso que o nosso. E pior, podemos fazer filmes tão bons quanto e temos ótimos filmes, mas ainda somos muito medrosos no confronto com a nossa própria história, defeitos e limitações. Vou atrás de outros filmes argentinos.
A história básica do filme é a seguinte: Benjamín Espósito (Ricardo Darín), que é policial ou funcionário da promotoria (*não entendi mesmo, desculpem*) está aposentado. O ano é 1999 e ele decide escrever um romance revisitando um caso de 1974 que ele não pode resolver, o brutal estupro e assassinato de uma professora de 23 anos. O investigador, penalizado pela sorte da moça e pela fidelidade e dor de seu marido, havia jurado resolver o caso e arrasta para a investigação seu subordinado alcoólatra, Pablo Sandoval (Guillermo Francella), além da inteligente, aristocrática e bonita promotora (*é o que eu acho que ela é*) Irene Menéndez-Hastings (Soledad Villamil). Mas as coisas não correram muito bem e o investigador termina frustrado, não somente por não ter cumprido a promessa, com terríveis desdobramentos para si mesmo e Sandoval, mas, também, por não conseguir se declarar para Irene. Mas em 1999 ele tem uma chance de revisitar o passado e resolver os assuntos pendentes.
Eu tenho pouquíssima experiência com o cinema argentino. Na verdade, assisti somente três filmes deste país: A História Oficial, que deu o primeiro Oscar para a Argentina; O Filho da Noiva e o O Segredo de Seus Olhos, esses dois últimos têm a mesma equipe e ator protagonista. É muito pouco e, ao mesmo tempo, eu tenho perfeita noção da altíssima qualidade e da coragem dos roteiristas e argentinos. Porque História Oficial, por exemplo, é um filme de 1985 que fala de uma das piores feridas da ditadura Argentina, as crianças seqüestradas, arrancadas de suas mães que eram mortas, e adotadas ilegalmente. A ditadura tinha terminado no ano anterior (1976-83). Enquanto isso, nós aqui no Brasil pisamos em ovos para falar da nossa, e indicamos filmes insípidos ao Oscar, como Olga e O que é isso Companheiro?, ou coisas caricatas como Tieta, ou filmes com criancinhas e velhinhos, porque a Academia gosta disso, vide O Ano em que meus pais saíram em viagem de Férias. E deixamos Tropa de Elite, vencedor de Berlim, de fora.
Eu assisto muito filme nacional, e sei que tem muita coisa muito melhor, mas, claro, é preciso aprender com os argentinos e sabemos que aqui, ninguém gosta de ouvir ou ler isso. O segredo de Seus Olhos não tem velhinhos, criancinhas, é violento (*mostra o corpo brutalizado da moça, o criminoso colocando as genitais para fora em atitude de intimidação*), é político sem tratar diretamente dos conflitos que conduziram à ditadura Argentina, mostram o que de pior a América Latina tem com os desmandos dos poderosos e a corrupção, e tem muito palavrão. Aliás, todos eles foram censurados. A gente ouvia os palavrões cabeludíssimos e a legenda absolutamente aguada. Aliás, como andam horrorosas as legendas atuais. Enfim, O Segredo dos Seus Olhos é um filme muito corajoso e com interpretações brilhantes. Por que não indicaram nenhum deles? Eu sei que isso só acontece em caso de exceção, mas o trio principal merecia.
E preciso destavar o papel da juíza (*em 1999, ela é juíza*), além da atriz ser ótima, ela é importante na história, pintada como competente lutando por um espaço em um mundo masculino. E, mais, ninguém a desqualifica por ser mulher, seus colegas a respeitam, seus superiores, também, e não parece ser só porque ela é de família rica e poderosa. Eu não sei se havia promotoras no Brasil de 1974, mas juízas as primeiras são de meados dos anos 80. E a moça assassinada era belíssima. Não tinha falas, mas representou bem o seu papel, não sei se é atriz ou modelo, mas muito, muito bonita. O que tornou a visão da sua morte ainda mais horripilante,.
As resenhas de O Segredo dos Seus Olhos me enganaram. Elas me fizeram pensar que o crime nunca foi resolvido, mas ele foi. São os interesses políticos que fizeram o criminoso sair livre. E, caramba, quando Esposito e Hastings confrontam o juiz corrupto e direitista (*os protagonistas não se posicionam politicamente*) meu estômago revirou. Não estou exagerando. Aquela cena, com o juiz dizendo que na promotora ele não poderia tocar, porque ela era filha de gente muito importante, mas que Esposito estava perdido, é tão Brasil, tão nosso país, que a identidade e o nojo foi imediato. E o assassino estuprador saiu livre e logo depois acontece outra tragédia... Mas não vou contar mais.
Se puder, assista O Segredo dos Seus Olhos. As atuações, a história, as reviravoltas na hora certa, a sensação de que o filme estava acabado e ele recomeçando de novo, sem barriga, mas com pleno vigor, foi ótimo. Não passei a acreditar que as pessoas não mudem por causa do filme, mas confirmei o quanto o cinema argentino pode ser mais corajoso que o nosso. E pior, podemos fazer filmes tão bons quanto e temos ótimos filmes, mas ainda somos muito medrosos no confronto com a nossa própria história, defeitos e limitações. Vou atrás de outros filmes argentinos.
4 pessoas comentaram:
Oi Valéria..
Assisti El Secreto de Sus Ojos esta semana também. Achei um filme meio pesado (não só pelo assunto, senão pelo fato de quando achei que ia acabar, não acabou) mas não por isso ruim. Não vou dizer que amei, mas posso ver pq ganhou o oscar.
Eu também só assisti a 3 filmes argentinos, e a unica diferença da minha lista pra sua é que, além do "El Secreto se sus ojos" e "El Hijo de la Novia", eu assisti "Las Nueve Reinas" (ou As Nove Rainhas... não lembro se foi traduzido assim mesmo). Pra mim é outro exemplo de como o cinema argentino é bom. Se puder, assista! Fica a recomendação.
Abraços
Amanda.
excelente resenha, Valéria!
concordo com vc...o cinema brasileiro despertou, mas ainda não tomou um café da manhã reforçado...precisa de um pouquinho mais de sustância, hehe...mesmo assim amo cinema e amo cinema brasileiro (por isso torço pra seguir melhorando, não estacionar nem regredir)
e acho chatíssima essa mania brasileira de implicar com tudo que vem da argentina...
bjsss
Oi Valéria, ia fazer a mesma recomendação da Amanda, pois Nove Rainhas é exelente! Fizeram um remake nefasto, com o Diego Luna, do jeitinho que só Hollywood sabe estragar um filme. Se puder, veja também "A aura", esse é mais difícil de achar, mas é com o mesmo pessoal do Nove Rainhas. Achei uma das melhores interpretações do Ricardo Darín. Já vi outros filmes com ele, é um dos meus atores prediletos. ^^
Também acho que falta uma certa coragem pro nosso cinema, vamos ver se a dor de cotovelo que o oscar dos hermanos deixou, faz o pessoal daqui se arriscar mais.
Quando assisti o filme a umas semanas atrás, também não entendi o porque das legendas serem censuradas. Isso me faz pensar que assisti um filme incompleto...
Mas de toda forma, achei muito bom, espero ver mais filmes com roteiro e conteúdo decentes do que cheio de efeitos e vazio ganhando prêmios por ai.
Post e blog muito bons como sempre ;D
Até mais
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