sábado, 20 de fevereiro de 2010

Comentando o filme Educação


Educação (An Education) é um filme interessante, dirigido por uma mulher, Lone Scherfig, estrelado (*ela leva o filme nas costas*) por uma mulher, Carey Mulligan, e baseado em um ensaio escrito por uma mulher, Lynn Barber, que posteriormente virou livro, fora isso, ganhou três indicações ao Oscar 2010. Isso bastaria para chamar a minha atenção, mas eu esperava mais de Educação, a sensação ao chegar ao final é que o filme foi quase bom, quando tinha elementos para ser no mínimo muito bom. Mas vamos lá!

Estamos em 1961, Jenny (Carey Mulligan) é uma aluna brilhante e está prestes a completar 17 anos. Ela sonha em ir para Oxford, e seus pais alimentam esse objetivo de forma quase doentia. Tudo o que ela faz deve ter como objetivo conseguir entrar para a universidade e seu pai (Alfred Molina) se encarrega de fiscalizar isso e lembrar o quão cara e a sua educação. Filha única, seu pai a pressiona de forma quase insuportável, despreza seu gosto pelo francês e pala língua francesa, somente suporta o seu Cello, porque isso pode contar pontos para entrar na faculdade. As professoras a elogiam, mas tudo na escola parece uma grande chatice, mas ela acredita que na faculdade as coisas serão diferentes.


Um belo dia, a suburbana Jenny está na chuva esperando o ônibus com seu violoncelo, quando um homem bem mais velho que ela para seu carrão, flerta com ela e oferece uma carona para casa. David (Peter Sarsgaard) é o nome do sujeito e rapidamente ele seduz não só a menina, mas, também, seus pais. Ele é rico, sofisticado e vive uma vida emocionante e nem sempre dentro da legalidade. Tudo o que a jovem Jenny nunca imaginava ser possível para ela. Oxford começa a ficar esquecida, mesmo a voz da professora favorita (Olivia Williams) da menina fica esquecida, e para o casamento parece ser uma carreira muito interessante para uma menina como ela, ainda mais com o apoio dos pais. Só que é o próprio futuro de Jenny que está em perigo.

Educação fala de uma série de coisas, da revolta contra o sistema, da falta de perspectivas de carreira que as mulheres tinham em 1961, fala da fascinação pelo homem mais velho e experiente (*coitadinho do namoradinho colegial da Jenny*), fala de como é aceitável fechar os olhos para uma série de situações para que sua filha arrume um cara rico e “se arrume” na vida, e fala de superação, também. Mas qual o problema com o filme? Ele é morno. Falta drama, falta conflito, especialmente quando a máscara de David cai, e falta, talvez, um grande ator para segurar este papel.


Peter Sarsgaard é dramaticamente fraco, além disso, não encarna bem o papel do trintão sedutor. O melhor ator do filme, que torna valiosa cada pequena cena, é o Alfred Molina, o pai repressor e de mente estreita, mas muito preocupado com o futuro da filha. Eu consegui simpatizar com ele, mesmo detestando-o boa parte do filme. Dominic Cooper, o melhor amigo da personagem de Peter Sarsgaard, também me pareceu mais interessante, mais humano, e faltou investir na tensão entre sua personagem e a de Jenny, porque ele se apaixona por ela e fica preocupado por ela estar jogando sua “educação” fora. Eu não simpatizo com o Dominic Cooper, mas em Educação, ele atuou bem.

Pensando sobre Jenny, ela teve o azar de chegar no limiar da vida adulta antes da Beatlemania e antes da revolução sexual. 1961 ainda faz parte da década anterior em termos de estruturas mentais e culturais, esse poderia ser um charme do filme, claro. O figurino inspirado em Audrey Hepburn é lindíssimo, por exemplo. A atriz, que realmente parece uma menina mesmo, é brilhante e encantadora. Talvez por saber demais do filme, eu estivesse sempre um passo adiante e não tenha aproveitado bem, mas é interessante observar como, aos 16-17 anos, achamos que somos muito maduros, mas ainda não somos. Eu não lamento o final do filme, mas queria que Jenny tivesse sofrido mais pelas suas escolhas.


Algumas frases da menina dão a dimensão de como sua vida aprecia vazia antes de David e tudo que ele podia lhe oferecer. Sim, ela é movida por interesse, e isso não pode ser deixado de lado. “Todo esse estúpido país é entediante.”. Tadinha, espera um pouco que lá vem os Beatles. “Na faculdade eu vou ler os livros que eu quiser.” Sonhe, a faculdade é só um pouco diferente da escola. Ainda assim, ter o pai controlando se o que você está na lista do “vestibular” ou é bobagem, com certeza é um saco. “Ninguém faz nada de interessante com um diploma. Nenhuma mulher faz, de qualquer forma.” Sim, o horizonte da menina era bem limitado. Ser professora ou, como a diretora Emma Thompson – a pessoa mais fria e cruel do filme – diz servidora pública. Olha, a idéia que o pessoal na Baixada Fluminense tinha (*ou tem, sei lá*) era bem esse, seja professora, pois se você não casar, pelo menos vai ter um emprego. Quase me obrigaram a fazer o curso normal. Compreendo bem a angústia da Jenny.

Só que é difícil me convencer que David é um cara interessante, bonito, empolgante, não com a cara e interpretação do Peter Sarsgaard. É difícil acreditar que a menina se apaixonou tão rápido por ele, é difícil acreditar que os pais delas caíram tão rápido pelas mentiras dele antes que ele mostrasse o quão rico ele era. Foi forçado, foi fácil demais. No entanto, como já coloquei, é muito compreensível que os pais de classe média baixa vissem nele um bom partido para a filha a ponto de facilitar as coisas para precipitar um casamento.


O filme fala de educação formal, de escola da vida (*aquela que David diz ter freqüentado*), e educação sexual. Fala de amadurecimento, e outra frase de Jenny é emblemática “Sinto-me mais velha, mas não mais sábia.”. E é aí que o filme perde força. A furada em que Jenny se meteu pedia um drama maior antes que ela conseguisse se levantar. Eu não estou pedindo uma tragédia, longe disso, mas queria mais 15 minutos de filme – ele tem 1:35 – para que Jenny fosse provada e Carey Mulligan brilhasse ainda mais. Foi fácil superar David e ele saiu muito rápido da vida da menina. Faltou drama, o filme perde boa parte da sua graça exatamente no momento que deveria crescer. Mas se salva o Alfred Molina, pois é aí que ele mostra que é pai, apesar dos erros cometidos.

Gostei do filme, com todas as críticas. Não merece o Oscar de melhor filme mesmo e Carey Mulligan não vai ganhar o prêmio ainda, mas ela tem futuro. O filme é conservador como o acusaram? É, mas como professora eu não posso deixar de admirar o fato de a educação formal ter sido apresentada como a saída para a menina, sua libertação, sua possibilidade de crescimento. A personagem loira consumista burra namorada do Dominic Cooper era um estereótipo, mas contrastava bem com a menina que estava, sim, jogando tudo pelo que tinha lutado fora e fazendo as escolhas erradas. E tinha a professora...


Emma Thompson, a diretora, é a carrasca da menina. Ela personifica toda a chatice do sistema educacional, é antissemita (*David é judeu*), e virou as costas para Jenny quando ela mais precisava, afinal, ela largou a escola e merece se ferrar. Só que a professora de literatura que acreditava tanto na menina, a grande, porém discreta, atriz Olivia Williams (*que foi Jane Fairfax na minha versão favorita de Emma*) acolhe a menina e lhe estende a mão, desde que ela se esforce para retomar o caminho correto.

É uma mensagem reconfortante para mim, que sou professora. Quando a professora diz, no auge da empolgação de Jenny por David, “Se você não for para a faculdade, vai cortar o meu coração”, eu me lembrei dos alunos e alunas que tive e que cortaram ou não meu coração, porque fizeram as escolhas certas ou erradas. Aos 15, 16, 17 anos, quando estamos testando as asas, é muito fácil fazer as escolhas erradas como Jenny fez. Mas é possível, também, dar a volta por cima. E colocar uma mulher no papel de quem acolhe e não acusa, fez com que Educação ganhasse alguns pontos.


Enfim, faltou um David à altura da Jenny de Carey Mulligan. Faltou sofrimento antes da redenção final. Faltou mais espaço para a personagem de Dominic Cooper (*nunca me imaginei escrevendo isso*), porque ele poderia ser a chave para uma tensão dramática maior durante o idílio com David. Foi um filme morno que não me fez ter vontade de ler o livro original, mas pelo menos mostrou a solidariedade entre as mulheres e revelou para o mundo uma atriz promissora. Quem venham mais trabalhos com Carey Mulligan, ela está cotada para ser a Eliza em possível refilmagem de My Fair Lady. Eu iria ao cinema para ver o resultado.

2 pessoas comentaram:

Não tinha lido a resenha, guardei pra quando visse o filme. Assisti ontem e achei uma graça, embora realmente tivesse mais potencial e isso fica bem claro no final, pra mim. Mas a amiga com quem fui assistir se apaixonoooooou pelo David, o que acabou me fazendo gostar um pouco mais dele... e não achar que a Jenny se apaixonou assim tão rápido.

(Ela realmente leva o filme nas costas, apesar de eu também gostar muito da figura do pai e da professora. É uma atriz muito boa e bonitinha, fui ver o filme realmente por causa dela: ela protagoniza (muito mais que o Doctor!) o episódio-favorito-meu-e-de-todo-mundo de Doctor Who, o Blink, E10S3. Fiquei feliz pela indicação dela ao Oscar - não acho que ganhe, mas fiquei feliz assim mesmo)

Eu larguei os estudos no meio do ensino médio, por uma série de coisas. Acho que por isso, mais que por qualquer coisa, o filme me tocou particularmente, e acho que vou levá-lo comigo por um bom tempo, ainda.

encontrar uma fã de doctor who num site aleatório dd critica a um filme foi a coisa mais legal que me aconteceu esse ano E SIM ELA ESSA ATRIZ EH OTIMA queria ve-la como companion ;-;

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