Como o Junior Fonseca me enviou uma carta comentando "a polêmica" em torno do mangá Kanpai de Maki Murakami, estou publicando a carta na íntegra. Agradeço a preocupação da editora. Meu comentário vem no final:
Fico muito feliz com a preocupação da editora em comentar a questão e tentar dissipar qualquer mal entendido. No entanto, em frases como "É uma pena que sofremos um mal no mundo em que as minorias, aquelas que desejam ser iguais aos outros, sempre enxergam ofensa em tudo que olham.", transparece a incompreensão em relação às críticas. O problema não é o que foi dito, mas como foi dito. Eu sugeri nos comentários uma outra possibilidade de texto explicativo que seria “Maki Muramaki mostra toda a sua versatilidade em Kanpai, pois se afasta do gênero que a consagrou, o yaoi, mantendo a qualidade.”. Não ofendi ninguém, e enchi a bola do produto novo.
Outro ponto é a tentativa de reafirmar que nenhum erro foi cometido, o que pode de fato ser argumentado sob certo ponto de vista, atirando a culpa no outro, afinal, racismo, machismo, homofobia e outros "ismos" são coisa de gente recalcada e de mal com a vida. São as minorias que vêem problema em tudo. Estatísticas de violência, discriminação, salários menores, isso deve ser delírio. Só digo que nada tenho contra Kanpai, mas continuo vendo no texto uma estratégia errada de apresentação do produto. Aliás, vêem a capinha aí em cima? É a da Tokyopop, e tem o selinho "da mesma criadora de Gravitation". Por que aqui a gente tem que fazer malabarismos para tentar tornar o produto (supostamente) vendável? Ou será que eu estou vendo demais?
NewPOP Editora - Resposta
Tendo em vista a polêmica sobre o release de Kanpai, aqui está a posição da editora sobre isso.
Em nenhum momento a editora pensou em ser preconceituosa avisando que o mangá não contém conteúdo homossexual. Na questão de autoria de obras, infelizmente muitos autores ficam marcados por certas características. Quando a Editora Conrad lançou Dr Slump em 2002 ela informou que se tratava de um mangá de Akira Toriyama e avisou que era o mesmo autor de Dragon Ball, mas no release deixaram claro que a série continha apenas a comédia, e não as lutas que consagraram o autor. Assim como Akira Toriyama ficou marcado como autor de séries de luta e Manoel Carlos marcado como autor de novela que só retrata a Classe A residente do Leblon, Maki Murakami ficou conhecida como autora de obras Yaoi.
Por razões mercadológicas, obviamente a NewPOP informou que a autora era famosa e já tinha outro mangá publicado no país. Querendo ou não, é uma publicidade, e os fãs do mangá anterior da autora podem se interessar pelo novo mangá. O que não seria justo seria vendermos Kanpai como um Gravitation 2, coisa que o mangá tá muito longe de ser. O texto do release tenta frisar que o mangá é da mesma autora de Gravitation, mas que o conteúdo é completamente diferente deste.
Durante o Ressaca Friends, em Janeiro, houve o lançamento de Kanpai no estande da NewPOP e diversas situações curiosas aconteceram. Houve gente que reconheceu o traço da autora, mas desistiu de comprar porque não tinha Yaoi, assim como teve pessoas que compraram justamente porque sabiam que lá não haveria uma história de amor entre dois rapazes. Observando assim, que mal há em realçar no release que o mangá não possui conteúdo yaoi, sendo que muitos podem fugir do material por causa do medo de conter algum conteúdo homossexual? E que muitos reclamariam depois, dizendo que agimos de má fé vendendo algo que o mangá não tinha?
É uma pena que sofremos um mal no mundo em que as minorias, aquelas que desejam ser iguais aos outros, sempre enxergam ofensa em tudo que olham. A editora NewPOP não agiu de má fé e muito menos foi preconceituosa ao mostrar a verdade sobre o conteúdo que oferece aos leitores, tanto que optou-se por não colocar um "Da mesma autora de Gravitation" na capa. E, por fim, o release de forma alguma ofende as garotas ou os homossexuais, seja no texto ou na colocação de negrito para o destaque de palavras e idéias do texto.
Agradecemos a atenção e pedimos desculpas por eventuais más interpretações nos textos. Não colocamos nada nas entrelinhas, apenas a sinceridade e a vontade de ser verdadeiro com o público.
NewPOP Editora
Fico muito feliz com a preocupação da editora em comentar a questão e tentar dissipar qualquer mal entendido. No entanto, em frases como "É uma pena que sofremos um mal no mundo em que as minorias, aquelas que desejam ser iguais aos outros, sempre enxergam ofensa em tudo que olham.", transparece a incompreensão em relação às críticas. O problema não é o que foi dito, mas como foi dito. Eu sugeri nos comentários uma outra possibilidade de texto explicativo que seria “Maki Muramaki mostra toda a sua versatilidade em Kanpai, pois se afasta do gênero que a consagrou, o yaoi, mantendo a qualidade.”. Não ofendi ninguém, e enchi a bola do produto novo.
Outro ponto é a tentativa de reafirmar que nenhum erro foi cometido, o que pode de fato ser argumentado sob certo ponto de vista, atirando a culpa no outro, afinal, racismo, machismo, homofobia e outros "ismos" são coisa de gente recalcada e de mal com a vida. São as minorias que vêem problema em tudo. Estatísticas de violência, discriminação, salários menores, isso deve ser delírio. Só digo que nada tenho contra Kanpai, mas continuo vendo no texto uma estratégia errada de apresentação do produto. Aliás, vêem a capinha aí em cima? É a da Tokyopop, e tem o selinho "da mesma criadora de Gravitation". Por que aqui a gente tem que fazer malabarismos para tentar tornar o produto (supostamente) vendável? Ou será que eu estou vendo demais?
15 pessoas comentaram:
Como fui eu quem acabou "criando" a confusão toda, acho bom que eu me manifeste por aqui.
Ao manifestar minha dúvida (), não discordei que seria válido distinguir uma obra da outra, um yaoi de um shounen, como o Lancaster e a editora defendem, é ser sincero com o leitor e cliente, nada demais.
O problema ficou na entonação dada pelo release, dando a entender que por não ter conteúdo homossexual, mas sim "a boa e velha comédia" (um yaoi não pode ter a boa e velha comédia?), seria uma obra melhor e livre. Como eu mesmo afirmei e foi citado aqui, ficou nas entrelinhas algo como Olhem, é daquela autora famosa, de qualidade, mas não é gay, então podem ler sem medo", o que de certa forma é sim preconceituoso, mesmo que de forma não intencional.
Acho louvável a atitude da editora em se posicionar rapidamente sobre o ocorrido quando sabemos o silêncio que reina quase que absoluto nas editoras que publicam mangas no Brasil, mas também me pareceu querer colocar a culpa nos outros, quando de fato aconteceu um deslize, tanto é, que se o fato fosse apenas para informar o leitor, por que o negrito?
Gyabbo!
Bom... Eu não vi nada demais no comentário do J. Fonseca. Quando li essa nota eu entendi "a autora é muito bom fazendo mangás yaoi e mesmo, escrevendo um mangá não yaoi, a qualidade também é boa".
É uma pena que o comentário do Fonseca tenha sido mal interpretado por alguns...
Durante o Ressaca Friends, em Janeiro, houve o lançamento de Kanpai no estande da NewPOP e diversas situações curiosas aconteceram. Houve gente que reconheceu o traço da autora, mas desistiu de comprar porque não tinha Yaoi, assim como teve pessoas que compraram justamente porque sabiam que lá não haveria uma história de amor entre dois rapazes. Observando assim, que mal há em realçar no release que o mangá não possui conteúdo yaoi, sendo que muitos podem fugir do material por causa do medo de conter algum conteúdo homossexual? E que muitos reclamariam depois, dizendo que agimos de má fé vendendo algo que o mangá não tinha?
Sabe o que é engraçado? Quando vi o primeiro anúncio deste mangá eu pensei em comprá-lo por causa da Maki Murakami. Não por ela ser uma "mangaká yaoi", mas pra conferir um novo trabalho dela. Eu sabia que era shonen. Graças a Deus não sou desses tipos imbecis que leem apenas mangás de gênero X, desprezando o Y pr teimosia ou preconceito...
Sim, que ótimo que a editora se pronunciou, mas não acho que resolveu. O problema, como você falou no post anterior, não é dizer que não é yaoi, é dizer de um modo que obviamente glorifica essa "vantagem" do mangá não ser yaoi. É questão de saber escolher as palavras, ser polido.
A tentativa de jogar a culpa nas "minorias" é de dar náuseas. Ouvi a mesma coisa quando houve aquela história de racismo de um determinado comediante no Twitter. A pessoa caga e não quer limpar... Erra e não assume. E a educação, pra onde foi? É incrível como "a maioria" julga a "minoria" como retardada, barulhenta... Bem, se eu acho necessário eu faço barulho, é direito de todos, não?
Sinceramente, eu perdi a vontade de comprar este e qualquer mangá dessa editora. Sabe como é, não apoio empresa que não respeita os leitores, é coisa de minoria...
Bom, só tenho que concordar com você Valéria. To até emocionado...como vc falou é bem legal a preocupação da editora, mas, todo o texto do Junior Fonseca foi uma tentativa de tirar toda a culpa da new pop e jogar para as minorias...Não achei legal, não achei inteligente.
A palavra chave é "polêmica", literalmente.
Achei que o release da Newpop foi um pouco infeliz sim. E a reação da Valéria pode ser considerada desproporcional por alguns também, mas está coerente com a visão dela e as opiniões que sempre expressou no blog.
Oi galera, apenas comentando, não jogamos a culpa em ninguém, a NewPOP deu sua resposta oficial e continua com a mesma opinião.
O que ficou na entrelinhas está na cabeça de quem lê, e já parte de um pré-julgamento que há algum preconceito com o gênero, coisa que não há.
Podem ter certeza, que se (e quando) a NewPOP lançar algo com temática yaoi/boys love, não haverá nenhuma camuflagem disso.
Mas enfim, a resposta foi dada, não quero discutir a opinião de cada um, respeitamos todas, mas por favor, reflitam sobre o que disse no 2º paragráfo.
Abraços e Kanpai 2, saí agora no final de janeiro viu! :P
Claro que a posição da editora continua a mesma, assim como a opinião de que o release é correto. Afinal, não houve reflexão alguma, o que se fez foi a culpabilização daqueles que viram problema no uso de palavras como "polêmica", "boa" e outros que remetiam à Gravitation (*maior sucesso da autora*) e à Kanpai (*o lançamento para toda a família da NewPOP*).
Eu esperava um pouco mais. Talvez seja meu otimismo de início de ano.
Se me permite responder o comentário de "DBM"...
Se a NewPOP lançar algo com temática yaoi eu não vou comprar. Essa situação diz o porquê, não vê quem quer.
E nem se preocupem em lançar algo yaoi só pra aliviar a situação. Não precisa! Continuem com as boas e velhas comédias. ;)
Sendo bem sincera, a contra-resposta me incomodou bem mais do que o release. Uma editora (assim como qualquer outra empresa) _tem_ que saber lidar com críticas e com todo tipo de público que pode ter. Dizer que a culpa é de "minorias que se sentem incomodadas", me parece cuspir no prato que comeu. Essa afirmação foi infeliz e tirou todo crédito que a contra-resposta poderia ter.
Acho que aceitar que há maneiras mais positivas de se usar a linguagem e mudar o release ou futuras propagandas (já que não se pode fazer nada pelo material que já foi imprenso) teria sido uma atitude mais correta. Tratam os consumidores assim e depois reclamam que não compram o suficiente...
Suu, vou colocar aqui o que escrevi no Twitter Se a gente dá linha no carretel a coisa SEMPRE fica pior. E no fim das contas é tão fácil resolver, mas falta boa vontade. Agora, resta descobrir quem é a maioria e torcer para ela comprar Kanpai!
Acho que vocês estão enxergando coisas demais. Não vi nenhum preconceito no release. Ele pode não ter sido bem escrito, mas o único objetivo que vi nele é de dizer que é da mesma autora de Gravitation, mas não se trata de um yaoi. Apenas isso! Nada de homofobia, nada de preconceito!
Concordo também com Júnior que muita coisa vem da "síndrome de perseguição" dos próprios gays. Concordo também que exista muito preconceito, mas aqui vocês estão exagerando, criando polêmica a troco de nada.
Apesar de não gostar de shoujo, acompanho o blog por interesse no mercado e por achar que a Valéria escreve bem. Mas tá parecendo picuinha rancorosa..
Picuinha rancorosa, Leandro? Eu tenho rancor em relação ao Júnior ou à NewPOP, é isso?
E mais, você usou exatamente a palavrinha mágica que provocou tudo "polêmica". Mas o que você considera mal escrito, outros consideram discriminatório. Aliás, eu não achei o release mal escrito, está dizendo exatamente o que desejou dizer. Só que, obviamente, esperavam que ninguém se ofendesse. Sabe por quê? Porque quando você se considera "maioria"acha que os outros não existem. E, agh, porque eles e elas tb não se fingem d emortos nessas horas?
Um pouco de sensibilidade da editora faria toda a diferença.
Ah, e acho que quem freqüenta o blog, já me "leu" com raiva. Eu absolutamente não estou com raiva agora. Estou, sim, decepcionada.
Para finalizar minha participação no tópico.
Diego,
Em nenhum momento, eu licenciaria um yaoi só pra deixar alguém que não gostou de um release contente ok?
A NewPOP apesar de pequena, tem uma organização, pensamento comercial. Não faria um investimento (que não é pouco) para depois alguns acharem que fizemos isso apenas para agradar alguém que por ventura (e que tem TODO O DIREITO) não gostou do release, hehe.
Essa situação chega a ser engraçada... concordo que eu respindendo só dá mais lenha para a fogueira, mas esse é nosso jeito, respondemos aos nossos leitores.
E Kanpai! daqui um mês saberemos os resultados.
Me espanta ver como algumas minorias hoje estão brigando por tudo e qualquer coisa por menor que seja! Se um simples release pode ser interpretado de forma dúbia que possa sugerir uma "possível" discriminação ou preconceito, tome pedrada no infeliz!
Agora temos que ficar vigilantes pra não escrever qualquer coisa que desagrade as minorias que, supostamente, querem igualdade mas que ultimamente vem brigando também por tratamento privilegiado em relação a maioria.
Podem morrer dizendo que eu por ser homem, branco, heterossexual, não teria a menor noção de onde há um foco de preconceito ou discriminação! Mas poxa, temos que dar razão a tudo e qualquer coisa de que um grupo possam vir a reclamar?! Ninguém aqui é adulto pra saber quando uma reclamação procede e quando é tempestade em copo d'água?!
Sei que movimentos de mulheres, grupos GLS e de afro-descendentes tem reinvindicações que merecem ser levadas a sério. Sei também que ainda estamos um pouco longe da tão sonhada igualdade social. Mas não podemos nos esquecer de que nosso mundo é um só. Não é vivável que cada um tente arbitrariamente moldá-lo de acordo com sua conveniência.
Infelizmente vejo que para alguns aqui, falta e muito a maturidade pra saber quando se está brigando por igualdade e quando se está brigando por privilégios de um "intocável".
Luta por igualdade deve existir, mas requer responsabilidade também. Não se trata de passar com sua opinião por cima das maiorias. Afinal, a luta é pela igualdade ou pela dominação?
Não se esqueçam do que todo mundo aprende (ou pelo menos deveria aprender)quando criança: Ninguém é melhor do que ninguém!
E por favor, não venham me dizer que não entendi o porquê de estarem reclamando! O fato de eu estar discordando não faz de mim um burro.
Não perceber quando um texto, comentário, piada, filme, whatever, é preconceituoso não depende de intligência na maioria dos casos, Jáder, depende de sensibilidade ou senso de justiça.
A todo momento, o que você buscou foi dizer que estávamos exagerando, mais do que dizer que discordava de nós; dizer que minorias são um problema, afinal, elas devem compreender que as maiorias (*os tais homens, brancos, heterossexuais, cristãos, etc.*) ainda que não sejam a maioria quantitativa tem o direito de escrever, falar, fazer, o que desejaram, pois estão sempre certos. Se não estiverem, nós, as minorias, temos que esperar que algum herói vindo desse grupo nos defenda, para que, o próprio grupo possa nos acusar de nos calarmos quando temos nossos direitos agredidos. É um joguinho muito velho, mas quem cansa de jogar estraga a graça, certo?
No mais, não me espanta que você não enxergue problema e que ainda venha acusar-nos de querer "mais direitos"quando o que pedimos é, neste caso, um texto sem piadas ou agressões a um gênero que a NewPOP nunca lançou e, provavelmente, não lançará. Salvo, claro, se houver um boom no Brasil... Aí o mercado comanda!
Agora, se você não é burro, é autoritário, pois vem aqui acusar de "falta de maturidade" quem está pedindo respeito. E fala em aprender o preconceito e a injustiça, mas não para para pensar que você aprendeu a achar que o problema dos outros - daquela gentinha que tem que ficar no armário ou no gueto - não existem, é exagero.
Mas as minorias (mulheres heteerossexuais ou não, gays, negros, índios, etc.) - que você acusa de quererem "privilégios" - podem morrer por serem minorias, você está salvo. Só deve temer, no máximo, a violência urbana regular. E, enquanto pensarem como você, leis que previnam crimes de ódio - suponho que sejam os tais "privilégios" - são mais que necessárias. Para os gays, para eu que sou mulher. E olha que eu nem falei em pedofilia, pois este crime, sim, é quase monopólio dos homens brancos, aquela maioria que pode tudo, inclusive vir cobrar a maturidade que não tem em muitos caos.
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