sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Comentando A Princesa e o Sapo



Assisti A Princesa e o Sapo hoje, na primeira sessão aqui pertinho de casa. Primeira coisa a falar: não há cópias legendadas em Brasília, ou, pelo menos, elas não vieram listadas no jornal. Acho um grande desrespeito que nem a última sessão seja com legendas. É uma questão de escolha e não me deram. Era ver dublado – e normalmente as dublagens da Disney têm qualidade excelente – ou esperar o DVD, ou ainda baixar da net. Agora, a segunda coisa a falar: pouco importa se a “princesa” é negra, ou não, o filme é sobre um casal de sapos. A princesa negra é somente desculpa para parecer que a Disney está comprometida em mostrar a diversidade racial em seus desenhos (*nos seriados adolescentes ela faz isso há muito tempo*).

Enfim, gostei bastante da Princesa e o Sapo e precisava assistir na estréia, era questão de honra, pois eu amo animação 2D, amo desenhos musicais da Disney. Aliás, as músicas são boas e os bichinhos são simpáticos. O vaga-lume caipira, em especial, é tão adorável na sua ingenuidade que chega a comover. E o amor dele por Evangeline, a estrela no céu, foi um dos pontos altos do filme. Não quero dar spoilers, mas o desfecho da história do vaga-lume foi poética. A abertura com o bonde passando por Nova Orleans, as mansões dos brancos ficando para trás até chegarmos ao bairro negro pobre foi um deslumbre. Não se falou em racismo, mas o apartheid social ficou claro.

O príncipe, como humano no início do filme, é um fiasco. Primeiro, porque um príncipe mestiço (*negro só para os americanos, claro*), de um reino inventado, mas que volta e meia soltava expressões em italiano é, no mínimo, ridículo. Eu já tinha falado aqui que preferia que filmassem uma fábula africana, ou se Tiana não tivesse príncipe mesmo. O lógico, aliás, é que Naveen fosse branco, mas aí a comunidade negra norte americana rejeitaria o produto, com certeza. Agora, quando o Naveen, o príncipe chatinho, vira sapo, que simpatia! Óbvio, que eu fiquei com um pouco de má vontade, mas logo isso foi diluído. E com dois sapos tão simpáticos, a gente até os prefere assim... E veja que este é o grande problema do filme!

Tanto o vilão quanto a fada-boa eram ambos feiticeiros vodoo. Jogavam dentro do mesmo time, com as mesmas referências, só que o vilão, Dr. Facilier , usava sua magia somente para o mal. Não me surpreenderá se fanáticos religiosos não pedirem boicote do filme. Houve sangue, houve morte, o relacionamento entre os sapinhos teve um bem ar sensual, e as atitudes da amiga de Tiana, Charlotte, eram bem ousadas. Vai ter gente reclamando, eu suspeito. Enfim, a transformação dos dois em humanos no final foi muito bem bolada e com direito a uma grande beijação... O Príncipe é bem mulherengo e não queria largar a Tiana. E uma curiosidade, ele foi dublado no original por um brasileiro. Lembram do chatíssimo Quatrilho (*que eu também assisti no cinema*)? Pois é, o Bruno de Campos atua nos EUA e foi a voz do Príncipe Naveen no original. Aqui, quem dublou foi o Raj... quer dizer o Rodrigo Lombardi. ;)

Agora vamos ao importante. Tiana é a primeira heroína negra da Disney, OK. A moça talvez seja a mais valente e assertiva de todas as princesas do Estúdio até agora. E ela não sonha com príncipes, ela sonha em ter o seu próprio restaurante. Nesse sentido, ela é um modelo interessante, bem mais moderna e realista. Pressões no início da produção (*basta procurar na net*) fizeram com que a idéia originald e fazê-la empregada doméstica fosse abandonada. Óbvio, que ser garçonete ainda é colocá-la na classe operária. Mas ela é inteligente e talentosa, não submissa e acomodada. Sua compulsão por trabalho pode ser um defeito, mas é balanceada pelo seu senso ético e, claro, a descoberta de que o amor também é importante. Só que ela passa mais da metade do filme como um sapo. Então, qual a diferença de Tiana ser negra se o filme é sobre bichinhos?

Será que não fizeram isso exatamente para diluir a questão étnica? E olhe que o casal de sapinhos tem quase tanto tempo junto quanto a Bela e o Fera. Mas como humanos eles convivem pouco e Naveen é tão absurdo como príncipe que sei lá... Mas eles ficam juntos e Tiana não abre mão do seu sonho, que é ter um restaurante, por causa dele. Vejam bem, é o rapaz que decide ficar com ela e levar uma vida de trabalho. Diferente da Pequena Sereia, por exemplo, que deixa pai e irmãs para trás, larga tudo pelo seu príncipe.

Tiana também tem mãe viva. É seu pai que morreu. E, claro, ela o tem como modelo maior, mas a mãe está lá. Tem profissão, tem personalidade, lhe dá conselhos. Outro ponto para a Princesa e o Sapo, já que, na maioria das vezes, a mãe das heroínas é uma defunta ou nem é citada. Agora, uma coisa que me deixou feliz. Vendo os trailers eu acreditava que Charlote, a moça rica e loura, amiga de Tiana, seria sua rival pelo Príncipe. Sim e não. A amizade das duas está acima de tudo. E Charlote abre mão do Príncipe por causa de sua amizade por Tiana. Pouco usual no cinema americano.

Quando em um desenho Disney tivemos quatro personagens femininas importantes e positivas? Logo, independente de Tiana ficar rã por boa parte do filme, as mensagens para as meninas foram acima da média: vale a pena trabalhar, é preciso lutar pelos seus ideais, mães podem ser aliadas, assim como as outras mulheres. Dito isso, eu recomendo A Princesa e o Sapo. Há problemas? Sim, claro, mas é um filme com uma mensagem bem feminista para o padrão Disney. Saí de lá sorrindo. E a seqüência final, o confronto com o vilão e o desfecho antes do "e viveram felizes para sempre", foi muito boa. Que ótimo ver uma animação 2D no cinema outra vez... Fazia tempo.

7 pessoas comentaram:

Ver um musical só dublado é triste. Mas no dvd ao menos acho que não há perigo.

Aliais eu prefiro ver musicais sozinho pq as vezes não resisto e começo a cantar junto. ^^

Gostei da resenha e dos pontos que vc levantou. Parece que a Disney conseguiu inovar sem fugir muito do seu molde.

É uma pena a questão dela ficar pouco como menina, mas espero que esse filme se torne marcante p/ as novas gerações como as antigas são p/a nossa.

Noooooosssa, que emoção! Eu não pude deixar de lembrar de mim msm na infância vendo "Mulan" ( minha animação da disney preferida) qdo li este post sobre "A princesa e o sapo"...Tenho q ver antes que estreie "avatar"!

Muito obrigada pelo post, porque me deixou com mais vontade de ver esse filme. Estou desejando que chegue fevereiro pra poder ver (é... chegará tarde aqui na Espanha T_T, como sempre ¬¬).

Muita vontade de ver esse filme, aliás, saudades mesmo dos bons tempos da animação 2D.

Valéria, eu me surpreenderia se houvessem sessões legendadas, isso sim. Porque de uns anos pra cá nenhum desenho animado (ou filme infantil) tem essa opção. Mesmo. Sei que uns anos atrás um conhecido meu conseguiu achar uma sessão de AEra do Gelo (pra vc ver como faz tempo) legendada em Sampa, mas pra isso teve q ir num cinema bem longe.

Não vou comentar sobre a sua resenha porque não li, eu prefiro ver o filme primeiro^^

Parece que o filme o Increvel Senhor Raposão será apenas legendado, mas pelo visto isso foi mais pq o filme teve pouca divulgação e poucas produtoras brasileiras acreditaram que ele atrairia crianças.

Estava ansiosa assim que vi os comentários aqui no seu blog dizendo sobre a produção do filme. E assim que o filme saiu corri pro cinema e adorei!
Tiana passa uma imagem bem mais atual para as meninas, moças, mulheres! Concordo com os comentários!
Só não tinha pensado mt sobre o Príncipe. Reparei no fato de ser mestiço e a sair de sua posição pra ajudar a mulher que ama a realizar seu sonho.
Mas realmente seus comentários me fizeram pensar...

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