domingo, 13 de dezembro de 2009

Comentando A Duquesa e Orquestra dos Meninos



Fazia tempo que não alugava filmes na locadora e tenho muita coisa que preciso assistir. Hoje sentei para ver A Duquesa e Orquestra dos Meninos, e acho que preciso comentar os dois.

A Duquesa conta a história de Georgiana, casada com o 5º Duque de Devonshire e seu drama para gerar um herdeiro. O marido é insensível e ela acaba se refugiando em uma intensa atividade política, na moda e no jogo. Arruma uma grande amiga, Lady Bess Foster, e a leva para morar em sua casa. O marido acaba fazendo de Bess sua amante e obriga Georgiana a aceitarr a situação. Magoada, ela começa a desejar ter um caso com Charles Grey, um jovem político promissor, e isso se concretiza quando ela finalmente dá o herdeiro ao marido. O Duque, no entanto, a obriga a escolher entre os filhos e o amante, e, posteriormente, entre a filha que carrega do amante e seus filhos no matrimônio. Ela escolhe os quatro filhos do marido e Bess parece ser o seu único apoio, sua amiga, apesar de dividirem o mesmo marido.

Não sei se gostei de A Duquesa até agora; sei que amei o figurino e só. O Oscar, aliás, foi merecido. Achei uma bruta forçação de barra a insistência em ligar o drama de Georgiana, Duquesa de Devonshire, e o de sua parente Diana, Princesa de Gales. Não acho que Keira Knightley seja essa atriz toda, mas o problema não é seu desempenho. Ela consegue se sair bem, especialmente levando em conta que ela está no centro de tudo sempre e foi um papel muito exigente. Só que o filme peca ao não dar a devida dimensão ao envolvimento da Duquesa na política, aspecto que a tornou famosa, se bem confio na Wikipedia e outras fontes. O drama da maternidade concentra toda a atenção e a relação entre Georgiana e Antonieta é muito mais evidente a meu ver – casamento infeliz, cobrança para gerar um filho homem, a moda e o jogo como fuga para a frustração – do que a dela com Diana.

Ralph Fiennes está ótimo como sempre, mas o colocam como um marido tão detestável que, por mais que eu saiba que eles existem, parece simplesmente ser uma caricatura para reforçar a posição da personagem de Keira Knightley. Ele parece odiar duas coisas somente, a política e a esposa. As amantes, ou a amante principal Bess, ele trata bem, as crianças todas ele trata bem, os cachorros ele trata bem, só o ódio à esposa parece ser gratuito. A cena de Georgiana com o cabelo em chamas e ele nem aí, foi o auge dessa construção do homem sem coração que merece os chifres da esposa. Ah, sim, e o colocam muito mais velho do que ela, quando a diferença entre os dois era mínima para os padrões da época. E realmente não acho que o arranjo a três com amante e esposa na mesma casa e amigas daria certo se o cara fosse essa peste toda. As duas, que eram mui amigas, iriam envenená-los e ficariam como amantes, até porque, Bess já tinha bolinado a Duquesa em um determinado momento do filme.

Pontos muito baixos: Dominic Cooper não é, nem nunca será, galã ou mesmo um grande ator. Querem empurrar o cara como empurraram o Jonathan Rhys Meyers, este, sim, um ótimo ator, e acho melhor investirem no James McAvoy, pois ele é bom ator e convence como galã. Olho para o Dominic Cooper e só me passa uma palavra pela cabeça “queer”. Outro aspecto são os dados omitidos que tiram a força da própria história, afinal, se a amante oficial e residente teve um filho homem antes da esposa, isso aumentaria a tensão do filme. Cortaram este “pequeno” detalhe por qual motivo? Agora, o pior de tudo, e algo que já virou hábito é a cronologia truncada. Passam-se muitos anos e as crianças nunca crescem. Os anos se embaralham. Eu sei que é preciso fazer concessões, mas essa mania de negligenciar a temporalidade tem cansado muito.

Li críticas que elogiaram o filme por algumas tiradas feministas. Bem, duas ou três frases encaixadas para dar a entender que as mulheres sofriam (*e sofrem*) e que a personagem da Duquesa era o que era, porque não tinha alternativa, não salvam o filme. Ela tem minha simpatia? Em alguns momentos. Mas acho que deturparam a personagem de Ralph Fiennes e não deram o devido espaço para Bess, que deveria ser uma maquinadora de primeira linha. E mais, aquela conversa na mesa com Georgiana propondo ao marido um arranjo a quatro, ele com Bess, e ela com a personagem do Dominic Cooper, foi non sense. Se desde o início era evidente que ela e o marido não estavam no mesmo nível, aliás, mulheres e homens não estão no mesmo nível até hoje, como ela teria a tranqüilidade de fazer a proposta quando nem o herdeiro ela tinha parido ainda? O barraco do Dominic Cooper na casa do Duque, idem. E tentar pintar o cara como pobre, quando ele era tão nobre quanto a Duquesa e seu marido, em mais uma tentativa de atrair a simpatia do público.

Assistam os extras. Valem a pena. Especialmente quando msotram as cartas da verdadeira Duquesa e de como elas foram censuradas por Bess, sua amiga e sócia no casamento e, depois, segunda esposa do Duque, provavelmente cortando coisas que poderiam iluminar um pouco melhor o drama que foi a vida da Duquesa. E essa prática, a censura das cartas de pessoas “ilustres” para limpar sua própria imagem ou a do/a autor/a era muito, muito comum.


Já Orquestra dos Meninos, que eu queria tanto assistir, me decepcionou mais. A sinopse, na página da Globo filmes é a seguinte: “O filme conta a história real de Mozart Vieira, que desde cedo sentia forte vocação para música. Imbuído deste sentimento, Mozart encontra na música, a saída para sua ação artística social criando a Orquestra dos Meninos, apesar da grave seca que assola o nordeste. Sua fundação ganha grande repercussão e os holofotes despertam o ódio dos coronéis locais. Surgem ameaças e ataques. A sede da Fundação é invadida e o menino Erinaldo é seqüestrado, caso que acaba transformando-se em escândalo nacional, mas o delegado da cidade de Olinda afirma que foi armado por Mozart para promover sua Orquestra. Um movimento de artistas liderados por Ivan Lins, Fagner, Gilberto Gil e outros faz um abaixo-assinado a favor de Mozart e através de ação na Justiça, a Orquestra recupera o prédio da Fundação. O maestro e sua Orquestra voltam a São Caetano nos braços da multidão e tocam na praça da cidade.”

Não sei se foi o roteiro, a direção, ou mesmo as atuações do elenco. Mesmo Murilo Rosa que sempre atua muito bem me parecia aquém do que pode fazer. Priscila Fantin tentando fazer uma nordestina do agreste foi de doer. Sei que a Globo a vende como grande atriz, mas custava escalar uma atriz nordestina de verdade, ou uma atriz com maiores possibilidades dramáticas? Aliás, quando é que vão valorizar atores e atrizes nordestinas lhes entregando os papéis que os representam. É muito interessante assistir Ó Pai, Ó, especialemnte o filme, porque ele coloca baianos para fazer baianos. Mas, claro, se já colocassem nordestinos fazendo nordestinos o resultado poderia ser muito mais interessante.

A trama, como foi conduzida, me pareceu forçada, sonolenta. Ela deveria comover, mas não conseguiu me tocar. E ficou pior quando chegamos ao momento em que o Maestro é injustamente acusado de abusar dos alunos. O delegado e outras personagens me pareceram, também, caricaturas unidimensionais. Os maus, assim como o Ralph Fiennes na Duquesa, eram muito maus mesmo.

E olha, que com o material, poderia ser um ótimo filme. Eu não consegui ver tudo sem cochilar, aliás, vou tentar pegar a primeira meia hora e ver de novo. Talvez, meu cochilo tenha me privado de entender e sentir a história como devia, mas desconfio que não é o caso. Fazia tempo que não me decepcionava com um filme nacional e queria muito ver a atuação do Murilo Rosa. Achar que ele está lindo como quase sempre não é suficiente para tornar o filme bom. Enfim, Orquestra não funciona como diversão ou drama, Orquestra não atingiu o objetivo. O DVD tem making of, mas não assisti. É o único extra de verdade.

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