Eu não vou traduzir, até porque a discussão é grande e continua crescendo, mas achei interessante o post do Japan Probe comentando um artigo do The Times que tinha como título As mulheres japonesas estão ansiosas por namorar com os homens brutais da História (Japanese ladies long for date with brutal men of history). Segundo o autor, Richard Lloyd Parry (*que parece ser odiado por muita gente*), as japonesas parecem preferir homens brutais, violentos, assassinos em massa e tudo mais, homens que povoam a história japonesa, como Masamune Date. O autor do The Times constrói o artigo para mostrar o quão doentias as japonesas parecem ser. Obviamente, ele nunca parou para a analisar a literatura romântica ocidental voltada para as mulheres e o tipo de herói que é vendido em muitos livros. Ou mesmo para os grandes guerreiros da História do Ocidente. Qeur dizer que eles não eram brutais e assassinos em massa, também?
De qualquer forma, a discussão está bem interessante no Japan Probe. Primeiro, porque o autor desceu a lenha no artigo do The Times mostrando que o samurai típico dos doramas é tudo menos o “sanguinário e brutal” Senhor da Guerra, e que muitas vezes a imagem do samurai é construída pelos animes, mangás e games (*a maioria shounen, diga-se de passagem*) que apresentam grandes samurais e outros “sanguinários” (*segundo o The Times*) como bishounens lindos, com a carinha lisinha, coisa que esses homens "do passado" não deveriam ser. A imagem do post veio do Japan Probe e mostra o samurai Masamune Date como é representado em Sengoku Basara. E de qualquer forma, e isso escapou ao autor do Japan Probe, pelas convenções dos romances românticos, uma cicatriz discreta no rosto, um tapa olho, um corpo marcado, não desqualifica o herói, muito pelo contrário. Só nunca vi sujeito sem orelha, sem nariz, sem lábio... essas coisas...
Mas o fato é que o próprio Japan Probe já tinha falado do crescimento do número de fãs mulheres dos samurais do Período Azuchi-Momoyama (1568–1600). Mas como o próprio site pontua, a maioria raramente lê livros de História, se alimenta de cultura pop. E eu diria que a apreciação pelos samurais de mangá, anime, dorama e games vêm de longe, pois boa parte do fandom de Rurouni Kenshi é feminino, e quem sustenta um mangá shoujo de samurai como Kaze Hikaru, que já está batendo nos 30 volumes, são mulheres.
De qualquer forma, o Japan Probe publicou também uma matéria mostrando como algumas mulheres, em um momento de crise econômica e de valores, talvez, idealizam esses homens do passado, contrapondo aos japoneses atuais. Os samurais eram fortes, destemidos, disciplinados, e gostavam de mulheres (*há incontáveis exceções*), enquanto hoje os herbívoros estão em ascensão. E é preciso lembrar que esses Senhores da Guerra, ou pelo menos os mais insensados, eram ricos, assim como todos os príncipes da Disney e os heróis dos romances Harlequin.
Mas lendo os comentários no Japan Probe, é possível ler alguns japoneses/as ponderando o quanto a tal onda dos herbívoros e a das fãs de samurais é uma criação midiática, não correspondendo ao mundo real. De qualquer forma, já postei muita coisa aqui que aponta para esse descompasso entre homens e mulheres japonesas e o quanto isso repercute visivelmente na demografia do país. Os herbívoros podem não ser representativos dentro da população masculina japonesa, mas a queda da natalidade é real e mensurável.
Só para fechar, eu realmente acredito que os samurais que essas mulheres desejam sejam idealizados, mas essas idealizações apontam para alguma coisa, as representações sociais de virilidade, de feminino e masculino. O que é um homem desejável? Ou melhor, como a literatura romântica (*ou os mangás, animes, doramas, etc.*) constrói esse homem ideal? Porque a idéia do Senhor da Guerra bruto, viril, às vezes violento, mesmo, mas honrado e de bom coração (*ou pelo menos justo*) é a coisa mais comum nos romances Harlequin. Só que eles são cavaleiros medievais, vikings, sheiks, legionários romanos, piratas. No Japão, esses livros vendem bastante, tanto que são convertidos para mangá, mas não me espanta que a imaginação feminina seja povoada por samurais.
Como eu disse, são imagens, mas eu acredito que o nosso imaginário diga muito sobre nós mesmos. Nossos desejos e sonhos. E isso não é natural, é construído no social, alimentado de várias formas. No caso da paixão das japonesas pelos samurais, ela gera lucro, produtos, dinheiro em tempo de crise. Só espero que – caso não seja uma criação midiática – ela não produza maior descompasso entre o real e o imaginado. Fora, claro, que reforça a idéia de que as mulheres precisam ser protegidas e sustentadas, que o homem ideal é o provedor, de preferência com armadura. Enfim, a fantasia (ou o humor) que uma sociedade produz pode não dizer tudo sobre ela, mas sempre diz alguma coisa sobre ela.
De qualquer forma, a discussão está bem interessante no Japan Probe. Primeiro, porque o autor desceu a lenha no artigo do The Times mostrando que o samurai típico dos doramas é tudo menos o “sanguinário e brutal” Senhor da Guerra, e que muitas vezes a imagem do samurai é construída pelos animes, mangás e games (*a maioria shounen, diga-se de passagem*) que apresentam grandes samurais e outros “sanguinários” (*segundo o The Times*) como bishounens lindos, com a carinha lisinha, coisa que esses homens "do passado" não deveriam ser. A imagem do post veio do Japan Probe e mostra o samurai Masamune Date como é representado em Sengoku Basara. E de qualquer forma, e isso escapou ao autor do Japan Probe, pelas convenções dos romances românticos, uma cicatriz discreta no rosto, um tapa olho, um corpo marcado, não desqualifica o herói, muito pelo contrário. Só nunca vi sujeito sem orelha, sem nariz, sem lábio... essas coisas...
Mas o fato é que o próprio Japan Probe já tinha falado do crescimento do número de fãs mulheres dos samurais do Período Azuchi-Momoyama (1568–1600). Mas como o próprio site pontua, a maioria raramente lê livros de História, se alimenta de cultura pop. E eu diria que a apreciação pelos samurais de mangá, anime, dorama e games vêm de longe, pois boa parte do fandom de Rurouni Kenshi é feminino, e quem sustenta um mangá shoujo de samurai como Kaze Hikaru, que já está batendo nos 30 volumes, são mulheres.
De qualquer forma, o Japan Probe publicou também uma matéria mostrando como algumas mulheres, em um momento de crise econômica e de valores, talvez, idealizam esses homens do passado, contrapondo aos japoneses atuais. Os samurais eram fortes, destemidos, disciplinados, e gostavam de mulheres (*há incontáveis exceções*), enquanto hoje os herbívoros estão em ascensão. E é preciso lembrar que esses Senhores da Guerra, ou pelo menos os mais insensados, eram ricos, assim como todos os príncipes da Disney e os heróis dos romances Harlequin.
Mas lendo os comentários no Japan Probe, é possível ler alguns japoneses/as ponderando o quanto a tal onda dos herbívoros e a das fãs de samurais é uma criação midiática, não correspondendo ao mundo real. De qualquer forma, já postei muita coisa aqui que aponta para esse descompasso entre homens e mulheres japonesas e o quanto isso repercute visivelmente na demografia do país. Os herbívoros podem não ser representativos dentro da população masculina japonesa, mas a queda da natalidade é real e mensurável.
Só para fechar, eu realmente acredito que os samurais que essas mulheres desejam sejam idealizados, mas essas idealizações apontam para alguma coisa, as representações sociais de virilidade, de feminino e masculino. O que é um homem desejável? Ou melhor, como a literatura romântica (*ou os mangás, animes, doramas, etc.*) constrói esse homem ideal? Porque a idéia do Senhor da Guerra bruto, viril, às vezes violento, mesmo, mas honrado e de bom coração (*ou pelo menos justo*) é a coisa mais comum nos romances Harlequin. Só que eles são cavaleiros medievais, vikings, sheiks, legionários romanos, piratas. No Japão, esses livros vendem bastante, tanto que são convertidos para mangá, mas não me espanta que a imaginação feminina seja povoada por samurais.
Como eu disse, são imagens, mas eu acredito que o nosso imaginário diga muito sobre nós mesmos. Nossos desejos e sonhos. E isso não é natural, é construído no social, alimentado de várias formas. No caso da paixão das japonesas pelos samurais, ela gera lucro, produtos, dinheiro em tempo de crise. Só espero que – caso não seja uma criação midiática – ela não produza maior descompasso entre o real e o imaginado. Fora, claro, que reforça a idéia de que as mulheres precisam ser protegidas e sustentadas, que o homem ideal é o provedor, de preferência com armadura. Enfim, a fantasia (ou o humor) que uma sociedade produz pode não dizer tudo sobre ela, mas sempre diz alguma coisa sobre ela.
1 pessoas comentaram:
Bem, eu acredito mais que elas curtem os samurais devido aos bishonen e biseinen de manga, anime, e outras mídias encontradas por aí, não exatamente porque são brutos ou algo assim. Dá pra reparar que até em séries menos violentas, elas possuem admiração pelos considerados belos.
Ou seja, coo a própria matéria falou, elas não se ligam muito na história original, sóestão vendo pelos rostinhos bonitos. Até porque se elas vissem as caras dos samurais nas pinturas antigas, duvido que ficariam suspirando.
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