Ontem eu comentei que iria postar as resenhas que fiz para a Neo Tokyo de dois mangás da Erica Sakurazawa. Lembro, que na época em que foram publicados, lá no início da revista (*e ela já está chegando no volume #50*), houve uma figura que me acusou de estar fazendo matéria paga, falando de material desconhecido que já estava licenciado no Brasil. Isso deve te sido em 2006, acho eu. E eis que o tempo passou e nada desta autora apareceu no Brasil. E olha que acho que não seria caro ou difícil, além de ser material josei sem grandes riscos, pois Sakurazawa normalmente faz one-shots. A não ser que a Shodensha ou a Tokyopop (*que publicou muita coisa dela nos EUA*) exija licenciamento de vários títulos ao mesmo tempo.
Enfim, ao que parece, a série Tenshi - e só falo série, por causa do título - tem ainda um terceiro volume de 2005, Tenshi no Sumumachi (天使の棲む街) ou Cidade dos Anjos, que não saiu nos EUA. Não mexi na estrutura do texto, então, desconsiderem o final em que pergunto quando teremos um josei no Brasil. Hoje, já tivemos dois em nossas bancas, Paradise Kiss e Honey & Clover, que está em andamento. Nana não é josei, pois a rigor está em revista shoujo, mas, claro, que por seu recorte poderia ser sem problema. Então, é isso, se nada mais aparecer no domingo, vocês têm a resenha. ;)
TENSHI (天使 - Anjo) e TENSHI NO SU (O Ninho do Anjo - 天使の巣)
AUTORA: Erica Sakurazawa
PUBLICAÇÃO: 1999-2000
VOLUMES: 2 volumes
REVISTA ORIGINAL: Feel Young
SINOPSE: Tudo pode acontecer quando um anjo aparece na sua vida. Em um único volume, temos a chance de ver como a vida de pessoas comuns, mas solitárias, pode ser iluminada pela presença silenciosa e reconfortante de uma garota anjo que poucos podem ver. Tudo começa quando Kato – um jovem balconista que mora sozinho em Tokyo – descobre a bela anjinha em um bar e ela o segue até em casa, sendo alimentada com gin e limão. A partir daí, muita coisa acontece e misteriosamente a vida de várias pessoas começa a mudar para melhor.
RESENHA: Angel é um josei, um mangá feito para mulheres adultas, e tem todos as virtudes e defeitos desse segmento do shoujo mangá. A história é simples, mas em poucas páginas as personagens são bem definidas. Assim, tudo se resolve em um volume só que é feito de pequenos capítulos que poderiam ser lidos como histórias fechadas. Kato, por exemplo, não aparece em todos os capítulos, porque a anjinha visita várias pessoas, ele não monopoliza a história, pois há vários dramas a resolver. Eis o grande mérito de Tenshi, o roteiro bem amarrado. Há também o clima de mistério, afinal, a autora não se preocupa em explicar muita coisa, em dar oferecer respostas absolutas.
Quando vamos para a arte, entretanto, é possível perceber o calcanhar de Aquiles da obra. Lá estão as imensas bocas com lábios grossos que algumas autoras de josei parecem amar, é possível vê-las em Kimi Wa Pet de Ogawa Yayoi e Happy Mania de Moyoco Ano, também, por exemplo. Tem gente que estranha, mas depois a gente se acostuma. Agora, a arte no geral é fraca, tudo parece esboçado... Mas são esboços bem feitos demais para quem não sabe desenhar direito. O que quero dizer com isso? Tenho algumas revistas adultas aqui, sei que muitas autoras apresentam traço descuidado, nada de bonequinhas bonitinhas, a ênfase está na narrativa, no roteiro, na qualidade da história. Mesmo gente que desenhava muito bonito quando estava na Ribon ou em outra coletânea para um público mais jovem, parece relaxar quando faz josei. Nada demais para mim, mas sei que muita gente rejeitaria o mangá só de olhar para ele. Mas voltemos ao geral da história...
Angel – que foi publicado pela Tokyopop nos Estados Unidos – conta a história de um rapaz, Kato, que encontra um anjo em um bar. Sempre que a menina anjo o beija, crescem asas nas suas costas, a sensação é estranha, mas elas desaparecem depois de algum tempo. A anjinha – sim, ela parece uma moça e se veste como tal – é muda e só se alimenta de gin com limão. Ela é chegada em bebidas alcoólicas, e deixar a garrafa e o copo preparado é uma boa isca para tê-la por perto. O rapaz fica intrigado porque somente ele pode vê-la e, também, porque o anjo desaparece às vezes.
Quando a menina anjo some, ela está ajudando outras pessoas e o mangá traz um desfile de tipos solitários presentes que expõe as mazelas da sociedade japonesa contemporânea: o balconista que mora sozinho em uma kitnet; o solteirão gentil que não tem família nem a mínima esperança de construir uma; a moça do interior que vem para a cidade em busca de uma vida melhor, mas se sente perdida; a menina que sofre bullying, não tem a compreensão da família e deseja se matar; a mãe solteira que sofre uma série de pressões; a divorciada infeliz que não dá a devida atenção à sua filhinha; a vizinha cujo marido está longe há meses trabalhando. Uma lista considerável para míseros 9 capítulos.
A Anjinha ainda aparece mais uma vez em um outro volume intitulado Tenshi no Su – O Ninho do Anjo, Angel Nest na edição da Tokyopop. Nesta última história, que me agradou muito, temos duas mulheres, uma madura e outra saindo da adolescência, solitárias – sim, solidão parece ser uma praga no Japão – e traídas pelo mesmo homem, marido da primeira e ex-professor da segunda. Graças à menina anjo, elas se tornam amigas e se ajudam. É um pequeno conto sobre a solidariedade feminina, daqueles que estimulam as pessoas – as mulheres, em especial – a reverem seus conceitos e tomarem posição diante da vida.
Em Tenshi no Su, há outras histórias curtas. A anjinha não mais aparece e as personagens não são tão solitárias, mesmo assim Erica Sakurazawa mantém o encantamento, e continua tecendo o que o site Anime News Network chamou de “contos de fada para adultos”. Sim, os temas não são leves e ela toca em questões dolorosas seja no Japão, ou em outros países. Nas mãos de outros (as) mangá-kas suas histórias poderiam ficar bem cruas, mas Sakurazawa não quer nos deprimir, nem nos dar respostas, nem nos impor um final acabado, ela nos faz refletir e até sonhar.
Em uma das histórias de Tenshi no Su temos um rapaz, outro balconista, que decide “furtar” um carro de luxo que foi deixado com a chave na ignição, há uma moça dormindo no carro. Depois do susto, eles decidem aproveitar o momento. Por que, não? E pensam em uma história para contar aos policiais, caso sejam pegos... Mas acabam acreditando na própria invenção. Não darei spoilers. Em outra, temos dois amigos de infância, dois adultos, um hetero e outro gay, que ajudam uma adolescente que está preste a fazer uma grande tolice só para se vingar do namorado que a traiu. A história que poderia ser dramática vai ganhando leveza conforme o trio interage, se conhece, desenvolve confiança. Nada de romance entre eles, nada de piadinhas bobas, nada de finais carregados de clichês.
Tenshi parece um daqueles filmes intimistas, lentos, feitos com baixo orçamento, mas que receberiam muitos elogios dos críticos por sua ousadia e simplicidade. Há também o sonho, o mistério, a falta de respostas que pode incomodar algumas pessoas. Não é para todos os gostos, aviso, mas as histórias são tocantes, e trazem uma mensagem positiva, pois há esperança para todos, desde que você queira tentar. Eu acredito nisso, então, acabei gostando de Tenshi. Mas eu falei em filme? Pois é há um live action japonês baseado no mangá. Não pude assisti-lo ainda, mas se conseguir, talvez faça alguma resenha sobre ele.
Muita gente diz que a VIZ é que lança os bons mangás, leia-se "sucessos de vendas", mas o pessoal da Tokyopop tem um olho clínico para rastrear material de qualidade, com roteiro e conteúdo. Por isso mesmo, publicaram uma série de trabalhos de Érika Sakurazawa. E no Brasil? Quando é que os leitores de mangá irão poder ler o seu primeiro josei?
AUTORA: Erica Sakurazawa
PUBLICAÇÃO: 1999-2000
VOLUMES: 2 volumes
REVISTA ORIGINAL: Feel Young
SINOPSE: Tudo pode acontecer quando um anjo aparece na sua vida. Em um único volume, temos a chance de ver como a vida de pessoas comuns, mas solitárias, pode ser iluminada pela presença silenciosa e reconfortante de uma garota anjo que poucos podem ver. Tudo começa quando Kato – um jovem balconista que mora sozinho em Tokyo – descobre a bela anjinha em um bar e ela o segue até em casa, sendo alimentada com gin e limão. A partir daí, muita coisa acontece e misteriosamente a vida de várias pessoas começa a mudar para melhor.
RESENHA: Angel é um josei, um mangá feito para mulheres adultas, e tem todos as virtudes e defeitos desse segmento do shoujo mangá. A história é simples, mas em poucas páginas as personagens são bem definidas. Assim, tudo se resolve em um volume só que é feito de pequenos capítulos que poderiam ser lidos como histórias fechadas. Kato, por exemplo, não aparece em todos os capítulos, porque a anjinha visita várias pessoas, ele não monopoliza a história, pois há vários dramas a resolver. Eis o grande mérito de Tenshi, o roteiro bem amarrado. Há também o clima de mistério, afinal, a autora não se preocupa em explicar muita coisa, em dar oferecer respostas absolutas.
Quando vamos para a arte, entretanto, é possível perceber o calcanhar de Aquiles da obra. Lá estão as imensas bocas com lábios grossos que algumas autoras de josei parecem amar, é possível vê-las em Kimi Wa Pet de Ogawa Yayoi e Happy Mania de Moyoco Ano, também, por exemplo. Tem gente que estranha, mas depois a gente se acostuma. Agora, a arte no geral é fraca, tudo parece esboçado... Mas são esboços bem feitos demais para quem não sabe desenhar direito. O que quero dizer com isso? Tenho algumas revistas adultas aqui, sei que muitas autoras apresentam traço descuidado, nada de bonequinhas bonitinhas, a ênfase está na narrativa, no roteiro, na qualidade da história. Mesmo gente que desenhava muito bonito quando estava na Ribon ou em outra coletânea para um público mais jovem, parece relaxar quando faz josei. Nada demais para mim, mas sei que muita gente rejeitaria o mangá só de olhar para ele. Mas voltemos ao geral da história...
Angel – que foi publicado pela Tokyopop nos Estados Unidos – conta a história de um rapaz, Kato, que encontra um anjo em um bar. Sempre que a menina anjo o beija, crescem asas nas suas costas, a sensação é estranha, mas elas desaparecem depois de algum tempo. A anjinha – sim, ela parece uma moça e se veste como tal – é muda e só se alimenta de gin com limão. Ela é chegada em bebidas alcoólicas, e deixar a garrafa e o copo preparado é uma boa isca para tê-la por perto. O rapaz fica intrigado porque somente ele pode vê-la e, também, porque o anjo desaparece às vezes.
Quando a menina anjo some, ela está ajudando outras pessoas e o mangá traz um desfile de tipos solitários presentes que expõe as mazelas da sociedade japonesa contemporânea: o balconista que mora sozinho em uma kitnet; o solteirão gentil que não tem família nem a mínima esperança de construir uma; a moça do interior que vem para a cidade em busca de uma vida melhor, mas se sente perdida; a menina que sofre bullying, não tem a compreensão da família e deseja se matar; a mãe solteira que sofre uma série de pressões; a divorciada infeliz que não dá a devida atenção à sua filhinha; a vizinha cujo marido está longe há meses trabalhando. Uma lista considerável para míseros 9 capítulos.
A Anjinha ainda aparece mais uma vez em um outro volume intitulado Tenshi no Su – O Ninho do Anjo, Angel Nest na edição da Tokyopop. Nesta última história, que me agradou muito, temos duas mulheres, uma madura e outra saindo da adolescência, solitárias – sim, solidão parece ser uma praga no Japão – e traídas pelo mesmo homem, marido da primeira e ex-professor da segunda. Graças à menina anjo, elas se tornam amigas e se ajudam. É um pequeno conto sobre a solidariedade feminina, daqueles que estimulam as pessoas – as mulheres, em especial – a reverem seus conceitos e tomarem posição diante da vida.
Em Tenshi no Su, há outras histórias curtas. A anjinha não mais aparece e as personagens não são tão solitárias, mesmo assim Erica Sakurazawa mantém o encantamento, e continua tecendo o que o site Anime News Network chamou de “contos de fada para adultos”. Sim, os temas não são leves e ela toca em questões dolorosas seja no Japão, ou em outros países. Nas mãos de outros (as) mangá-kas suas histórias poderiam ficar bem cruas, mas Sakurazawa não quer nos deprimir, nem nos dar respostas, nem nos impor um final acabado, ela nos faz refletir e até sonhar.
Em uma das histórias de Tenshi no Su temos um rapaz, outro balconista, que decide “furtar” um carro de luxo que foi deixado com a chave na ignição, há uma moça dormindo no carro. Depois do susto, eles decidem aproveitar o momento. Por que, não? E pensam em uma história para contar aos policiais, caso sejam pegos... Mas acabam acreditando na própria invenção. Não darei spoilers. Em outra, temos dois amigos de infância, dois adultos, um hetero e outro gay, que ajudam uma adolescente que está preste a fazer uma grande tolice só para se vingar do namorado que a traiu. A história que poderia ser dramática vai ganhando leveza conforme o trio interage, se conhece, desenvolve confiança. Nada de romance entre eles, nada de piadinhas bobas, nada de finais carregados de clichês.
Tenshi parece um daqueles filmes intimistas, lentos, feitos com baixo orçamento, mas que receberiam muitos elogios dos críticos por sua ousadia e simplicidade. Há também o sonho, o mistério, a falta de respostas que pode incomodar algumas pessoas. Não é para todos os gostos, aviso, mas as histórias são tocantes, e trazem uma mensagem positiva, pois há esperança para todos, desde que você queira tentar. Eu acredito nisso, então, acabei gostando de Tenshi. Mas eu falei em filme? Pois é há um live action japonês baseado no mangá. Não pude assisti-lo ainda, mas se conseguir, talvez faça alguma resenha sobre ele.
Muita gente diz que a VIZ é que lança os bons mangás, leia-se "sucessos de vendas", mas o pessoal da Tokyopop tem um olho clínico para rastrear material de qualidade, com roteiro e conteúdo. Por isso mesmo, publicaram uma série de trabalhos de Érika Sakurazawa. E no Brasil? Quando é que os leitores de mangá irão poder ler o seu primeiro josei?
3 pessoas comentaram:
Não acredito nessa historia que se sai em uma revista shoujo, é shoujo, numa seinen é seinen e por aí vai. Acredito que Nana é josei ( mesmo que a JBC aponte como a série shoujo mais vendida do mundo).
O critério mais seguroi é este. Mas, claro, se todo mundo diz (*especialistas, editoras, enfim*) e você discorda, muito provavelmente você deve estar certo/a, não é?
Eu uso o critério revista. Como falei, Nana poderia, sem problema, estar em revista josei ou até mesmo seinen. Mas não está. a Cookie é revista shoujo, logo, é shoujo mangá.
É o mesmo com a Petit Cpmics. Para mim, é revista josei, mas eu não sou referência para determinar isso. a revista é catalogada como shoujo no Japão. Eu sempre falo com a ressalva. É preciso coerência e humildade quando colocamos certas coisas.
OMG! Não sabia que Nana não era josei. Mas acho que tem um pouco de Shoujo-Ai, por causa da relação das duas Nanas...
E a matéria foi realmente a mesmíssima coisa que saiu na NT E_E Sim, eu tenho a NT que saiu a matéria de Tenhsi. E fiquei super-feliz de ler de novo *-*
Será que tem chances dos três mangás saírem no Brasil?
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