sábado, 7 de novembro de 2009

Caso UNIBAN... Pronto, falei!



Eu iria deixar para o podcast que já está gravado, mas a última notícia sobre o caso UNIBAN me força a trazer para cá. Primeiro, quando ouvi falar da história, imaginei que raios de tamanho de saia moça estaria usando. Imaginei que decote teria o tal vestido. Afinal, 700 pessoas entraram em êxtase por conta da tal roupa... Quando vi o vestido, fiquei pasma: "O quê?! O escândalo foi por causa disso? Esse pessoal nunca viu uma mulher de minissaia? E o vestido ainda é de mangas compridas e sem decote!".

Meu marido e eu começamos a imaginar mil teorias para o ocorrido e ainda acho que o caso pode ter um "antes" mal explicado. Mas, quando vi os vídeos, as matérias, os depoimentos hipócritas, o disse-me-disse, as mocinhas dizendo que minissaia não é roupa adequada ao ambiente acadêmico e que ela "estava pedindo" para ser assediada-agredida-estuprada, minha indignação foi crescendo, o nojo, a aversão, a sensação de que realmente a barbárie impera, só que agora, foi a última gota, pois a UNIBAN expulsou a moça!

O site R7 reproduziu o absurdo comunicado da universidade que tem partes como: “Depoimentos de colegas indicam que, no interior do toalete feminino, a aluna se negou a complementar sua vestimenta para desfazer o clima que se havia criado.” e “Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.”

Quer dizer que antes a universidade não tinha o que relatar, agora, segundo o comunicado “advertiu a moça várias vezes”. E, claro, em cima de boatos e fofocas (*com tanta filmagem, cadê alguma que mostra a menina levantando o vestido ou o que seja?*), a considera culpada. E, pior, diz que aquele vexame digno de botequim ou de prisão em rebelião é “reação coletiva de defesa do ambiente escolar”? Pergunto-me que tipo de "escola" é aquele campus da UNIBAN.

Sinceramente? Eu freqüento o ambiente universitário desde 1993, no Rio e, depois, em Brasília, fora minhas andanças em seminários, congressos e outros eventos em todo o país. Cansei de ver minissaias, vestidos transparentes, shortinhos (*para meninos e meninas*), gente com aquele visual "I'm goin' to to the beach" e até sujeitos sem camisa, fora outros exemplos que nem vou relatar. O pessoal acredita piamente que dentro de um campus universitário é liberou geral, ainda que a maioria fique dentro do campo do convencional jeans-camiseta-tênis. Nunca vi, no entanto, nenhuma moça sendo agredida por causa disso, ou sendo advertida. O mesmo valendo para os rapazes neste último caso. Obviamente, a universidade seria muito mais inteligente – embora isso não apagasse sua negligência – se apresentasse o manual do/a estudante com um código de vestimentas que proibisse, por exemplo, o uso de minissaias, porque em São Paulo, ao que parece, isso não é roupa para ir à universidade. Me engana...

O que aconteceu na UNIBAN lembra muito a caça às bruxas. Elegeu-se um alvo, uma mulher (*Que novidade!*), que, só para completar, ainda é pobre. Ela é agredida, cercada, ameaçada de estupro (*relatado pela vítima e colegas de sala*), o pessoal da universidade quer que ela vá para casa sem apoio. A polícia é chamada, usa spray de pimenta e a garota (*eu tenho 33, moças e rapazes de 20 são garotos*) sai aos gritos sonoros de "Puta! Puta!". Coisa de dar arrepios. Depois, se inicia uma difamação de que ela seria garota de programa. De novo, ainda que verdade, isso não justifica a agressão, tampouco qualquer mulher deveria ser excluída do ambiente universitário por ser prostituta. Aliás, são os usuários de prostitutas que geralmente apontam os dedinhos... Elas não são boas o bastante para sentarem com eles nos bancos de escola, só servem como latrina.

E algo que se destaca neste caso, além da misoginia, é a homofobia. A misoginia usa das mulheres. A mídia se esmera em entrevistar “boas moças” que não usam minissaia na universidade, porque elas não são como Geisy. Questão de gênero, é preciso marcar quem são as “santas” e quem são as “putas”, essas meninas precisam marcar quem elas são queimando a outra na fogueira, porque, se não, vão estar "pedindo", também. E tudo isso para o consumo de quem? Dos machos que desejam e aterrorizam uma Geisy. O machismo não se sustenta se nós, mulheres, não formos convencidas a reproduzi-lo em maior ou menor grau. E homofobia, porque querem dizer que os tetosterônicos rapazes, prontos a estuprar a moça de minissaia, seriam gays, porque esse tipo de atitude é “coisa de gay”. Legal, né?

Enfim, Geisy é pobre, mostrou-se absolutamente despolitizada e desconhecedora dos seus direitos (*acha que parte da culpa é sua, afirma que gosta de ser olhada, cantada, assediada*). Que pelo menos o advogado que apresentou-se para assumir seu caso realmente o faça bem asua. E que a UNIBAN tenha que pagar uma indenização monstruosa para essa moça que está sendo lesada. Aliás, não acredito nas bravatas de que ninguém vai contratar formandos da UNIBAN (*isso foi comentado no Twitter*), mas eu teria vergonha de estudar nessa universidade que seleciona tão mal seus alunos e alunas e considera reações criminosas como a do dia 22 de outubro como “defesa do ambiente escolar”.

E eu não compararia ao Taleban, porque eles quando cometem atitudes bárbaras contra as mulheres se ancoram em um conjunto “coerente” de valores, já o caso UNIBAN reflete o descontrole, a falta de cidadania e respeito com o próximo, especialmente quando se trata de uma mulher. E não pensem que somente uma Geisy corre risco, qualquer mulher corre, qualquer uma de nós (*feia ou bonita, gorda ou magra, jovem ou velha, coberta ou descoberta*), está aí apra ser assediada, apropriada. Se ninguém fizer nada, se a UNIBAN sair ilesa, isso só será reforçado. E a UNIBAN, ou pelo menos o campus em questão (*culpar todos os alunos e alunas, de todos os campus, e mesmo daquele, é profundamente injusto*), deveria ser chamado de tudo, menos de ambiente escolar.

Outra coisa: há quem diga que a universidade deve ensinar cidadania. Não! Discordo! Cidadania se ensina em casa e na escola. Quando você vai apra a universidade já é adulto, na maioria das vezes maior de idade, e está em busca de formação profissional e científica. Deve saber quais são os seus limites. E os alunos e alunas daquele campus da UNIBAN ultrapassaram qualquer limite. E devem ser tratados como são, adultos que merecem ser punidos por seus atos, e não serem defendidos pela universidade que decide "queimar a bruxa".

21 pessoas comentaram:

Essa história ainda está MUITO mal contada para mim. Mesmo com essas informações reveladas, ainda tem bastantes buracos nela. Mas independente do jeito que essa garota é (que gosta ou não de chamar a atenção) expulsar ela em vez dos agressores foi o cumulo! Mas não sei porque, estou achando que essa agressão imensa se deve a algum outro fator, não só por esse vestido curto. Porque há tantas garotas por ai vestindo coisa muito mais "curta" do que esse vestido.

Thaís, concordo que a história está muito estranha, mas o vídeo mostra bem o nível da agressão. E mais, as falas hipócritas reforçam a atitude. ao qeu parece, ninguém usa minissaia ou short ou "roupas provocantes", seja lá o que seja isso, em universidades paulistas. Especialmente, as particulares.

É mperdoável. em qualquer lugar, a UNIBAN iria à falência.

Excelente texto, nem tenho nada a acrescentar porque está completíssimo. Esse caso realmente mostra como o ser humano pode ser terrivelmente hipócrita. Absurdo o que aconteceu.

Sinceramente, tudo isso é tão absurdo que nem consigo imaginar. Vi pelos jornais como ameaçaram a moça, todo aquele descontrole e selvageria me deram nojo e não consigo compreender como um odio tão grande pode estourar assim. Dá medo, porque não era um "grupo" formado (como os neonazistas), foram pessoas diferentes que explodiram numa descriminação de gênero de uma hora pra outra. Me questiono nesse momento como a violencia a mulher está incubada dentro da sociedade.

Olá professora. Sou estudante do 2° ano de história da UNICAstelo aqui em São Paulo e concordo com tudo o que você disse. Inclusive escrevi no meu blog que nós que estamos na área de história precisamos aprender muito com esse episódio e quando estivermos frente a uma sala de aula procurar ensinar história de forma que os alunos entendam que atops bárbaros do passado não podem se repetir. Como você é especialista em idade média, deve saber bem o mal que as mulheres sofreram naqueles tempos.

Olha, Robson, eu sou medievalista e exatamente por causa disso eu sei que o problema não está ligado a este período ou quaque rperíodo específico da História, mas á intolerância e às representações a respeito da smulheres.

Aliás, queimaram-se (literalmente) mais bruxas na Idade Moderna do que no período anterior.

E os bárbaros não tem nacionalidade certa, eles estão presentes em todos os lugares... Parece ser um estilo de vida. :)

Disse tudo! Assino em baixo!
Se rolar abaixo assinado me chamem!

o/

Realmente isso dá muita revolta... e a (falta de) atitude da Geisy me lembrou aquele caso da professora q foi filmada dançando mostrando a calcinha... ambas n tinham a menor noção dos seus direitos e assumiram a culpa imagino a pressão q elas sofreram :(

Sim, as coisas estão muito mal contadas, e parece que a mente das pessoas ali regrediram várias décadas. Eu mesmo, jamais estudaria num lugar como aquele, cheio de cabeças mal-formadas, e ainda com supervisores com preconceitos da época medieval.

Realmente, 2012 chegando, e os mais FRACOS regredindo mentalmente! é a vida! ^^"

Alguns acreditam que é o ano do fim do mundo.

acho horrivel o que aconteceu! sou estudande e gosto de me vestir bem mas pra ser sincera não aprovo a vestimenta dessas meninas isso tbm é uma forma de depreciar a mulher, cada roupa no seu devido lugar não to só falando dela, e esse vestido tenho um parecido mas uso com leg pq ele sobe quando vc anda. Nunca ando com roupas provocativas(só se quero chamar a atenção de alguem) principalmentes com moleques por perto acho que ela penso que não iam longe demais. Gosto de me vestir sensual não vulgar.

Dauliene, duas coisas:

1. Nada justifica. Na universidade não estudam ou deveriam estudar moleques (e molecas).
2. Você é capaz de afirmar que somente mulheres com roupas provocativas (*entenda-se como quiser*) são assediadas, estupradas, desrespeitadas? Acredito que não.

As universidades, caso queiram que seus alunos e alunas tenham um código de vestimenta, devem criá-lo e torná-lo claro antes do início das aulas. Não foi o caso da UNIBAN.

E de novo, não se engane, a partir desse caso, qualquer mulher poderá ser culpada de "reação coletiva de defesa do ambiente escolar". Bastará ser mulher. Usando leggizinha, roupinha larga ou qualquer coisa que se ache "normal" para se ir até a universidade.

Ah eh, verdade, que o mundo irá acabar em 2012, de acordo com o calendario maya. Tinha me esquecido de que poderia ser isso.

Gostei muito da sua descrição dos acontecimentos, foi a melhor até hoje.
Essas faculdades particulares são uma zona. Eu estudo em uma universidade pública e vejo exatamente o que vc diz, vou com a roupa que eu quiser, vai gente de short, bermuda, sem camisa, roupa de dormir...o que for...
Niguém vai regular e botar pra fora...
O ambiente unviversitário é livre e deveria ser, mas como sempre digo aqui, isso aí não é uma universidade é uma faculdadezinha de quinta, assim como tem Igrejas e Igrejas, tem universidades e faculdades...
:P

Nada justifica esse ato, me lembrou a história das bruxas espancadas na índia recentemente.
A UNIBAN tem que ser punida e todos os alunos que colaboraram com isso também, bando de ignorantes

Caso vergonhoso esse, viu?
Uma dita universidade não deveria permitir um absurdo desses, tampouco colaborar com a expulsão da moça.

E como você disse, o machismo impera forte no Brasil. Acreditam que moças foram feitas para serem assediadas, despidas de sua dignidade porque os "machos" assim desejam e "têm o direito" de querer isso.

O mais triste é ver que há mulheres que concordam com o que aconteceu. Que dizem que a culpa é da Geisy, por se vestir assim. Assim como? Ela não cometeu nenhum crime, não violou os direitos de ninguém. Mas sofreu uma violência que deixaria inquisitores abismados.

O caso já está na mídia internacional. Ponto negativo para o Brasil, claro. Só espero que a Uniban e toda sua "gangue" sejam processadas e que paguem indenizações pesadas. E isso, frente ao que foi feito, ainda seria pouco.

O texto ficou excelente, Valéria. Se me permite, eu gostaria de pôr o link no twitter.

Kotsuki, pode linkr sem problema. Aliás, é preciso botar a boc ano mundo.

Desde já, obrigada.

Eu achei isso tão idiota, sinceramente não entendi a reação dessas pessoas, parecia um bando de xenófobos, ou um bando de gays enlouquecidos.

"uii, tem uma mulher com roupas 'curtas', vamos agredí-la, bem."

E na TV eu não vi o nome da universidade, só fui saber aqui.

Tunico, ficou feliz que você tenha sabido o nome da Universidade aqui. Mas esteja atento, gays não agridiriam mulheres por serem gays, quem fez essa bagunça toda foram homens heterossexuais que, por algum motivo, se sentiram esnobados ou estimulados pelo vestido. Era desejo que os movia e a violência foi proporcional à falta de cidadania e frustração.

Culpar os gays é resumir a coisa, como sempre, a um problema: a culpa é das mulheres. Por que o que moveria gays e mulheres, na cabeça de muitos, a reagir contra outra mulher? Inveja.

De uma próxima vez, repense o comentário. Esse blog não compactua com a homofobia.

lendo seus posts realmente meu ponto de vista mudou! pq no começo culpava os dois lados, vc está certa. Mas cá entre nos ela não usa mais roupa provocatica rsrsrsrsrr.

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