Como o dia foi fraco acho que fechar o dia postando a matéria da Época sobre o lançamento de Branca de Neve não vai mal. Eu não sou particularmente fã dessa versão da Disney, minha leitura favorita do conto é Branca de Neve na Floresta Negra, mas é obrigatório e vou comprar o meu exemplar. Primeiro longa metragem animado, restaurado e cheio de maravilhosos extras. Segue a matéria, para as imagens e boxes, é só baixar do 4shared. A original é só para assinantes.
Branca de Neve: a maior de todas as princesas
O filme que originou o império Disney é lançado em alta definição – e inaugura o retorno do desenho animado à mão
Luís Antônio Giron, de Los Angeles
A menina desce uma escada, rodopia sobre a ponta dos pés, sorri, flexiona as pernas e faz uma mesura. Essa cena é um dos testes iniciais para selecionar a modelo da heroína do primeiro longa-metragem de animação da história, Branca de Neve e os sete anões. A escolhida foi Marge Champion. Ela tinha 14 anos em setembro de 1934, quando foi contratada pelos estúdios Hyperion, de Walt Disney, para trabalhar com os animadores na futura produção. A cena do teste de Marge faz parte do material inédito da Edição Diamante de Branca de Neve e os sete anões, que está sendo lançada mundialmente nesta semana. Ela traz pela primeira vez o filme remasterizado em alta definição, em DVD e Blu-Ray, além de um DVD com três horas de extras, como jogos, passeios virtuais, fotografias e cenas históricas.
Além da novidade tecnológica, o produto possui um significado simbólico. Ele marca a volta da Disney a seus fundamentos: a animação manual em duas dimensões. Depois de quatro anos do fechamento do departamento de animação e de ter mandado para a sucata até as pranchetas dos desenhistas, o estúdio voltou a recontratar profissionais que sabem trabalhar com lápis, caneta, pincel e papel. A primeira produção do “novo” processo entrará em cartaz em novembro: o longa A princesa e o sapo. “A Disney está regressando a sua essência, sem renunciar à inovação”, diz a ÉPOCA o animador John Lasseter, de 52 anos, presidente da Disney/Pixar, o primeiro artista à frente dos estúdios desde a morte de Disney, em 1966. “Foi Branca de Neve que tornou a Disney um grande estúdio e revolucionou o método de animação.”
A Disney iniciou suas pesquisas desenvolvendo a técnica de desenhar em cima de filmes com modelos vivos. O recurso fornecia mais realismo ao movimento dos personagens. “O processo da animação digital é regido pelo mesmo pensamento”, diz Lasseter. “É preciso estudar a natureza para obter bons resultados.”
O primeiro modelo foi Marge. Uma das sequências exibidas nos extras de Branca de Neve mostra o teste que ela fez. “Eu não entendia nada”, diz. Ela recebeu meia centena de jornalistas na segunda-feira, no bangalô de madeira que fez parte dos estúdios Hyperion e hoje figura como relíquia na sede da Disney, em Burbank, zona suburbana a norte de Hollywood. “Só sabia dançar. Eu ajudava os animadores a fazer os movimentos que eles desejavam para construir Branca de Neve. Dançava porque meu pai era coreógrafo. Fiz o teste sem que ele soubesse. Fiquei três anos e meio atuando como Branca de Neve. Foi meu começo.” Marge continua a dançar... aos 90 anos. Nas décadas de 40 e 50, ela se tornou uma das maiores estrelas do musical de Hollywood, ao lado do marido e parceiro de dança, Gower Champion. Atuou em musicais como Show boat e vários outros sucessos hoje esquecidos. Na Disney, foi modelo para a bailarina hipopótamo de Fantasia, de 1940, e para a fada Sininho de Peter Pan, de 1953. “Depois de 75 anos, sou mais conhecida como a modelo da Branca de Neve”, diz, lembrando que a voz da personagem foi fornecida pela soprano Adriana Caselotti. “Não é minha voz, porque não sabia cantar, nem são meus olhos, eles preferiram substituir meus olhos pelos de Betty Boop, mais redondos.”
Marge atuou como consultora do projeto de restauração de Branca de Neve, que durou quatro anos e envolveu todos os departamentos da Disney. O responsável pelo arquivo, Dave Smith, descobriu um roteiro intitulado A volta de Branca de Neve (Snow White returns). O projeto, de 1939, tinha como objetivo um curta-metragem para aproveitar o sucesso do filme. Contaria a história de uma visita de Branca de Neve aos anões. Duas cenas cortadas do longa – a da sopa e a da construção da cama para a princesa – seriam recolocadas nesse filme e agora constam do DVD. “Nos divertimos fazendo essas duas sequências”, diz Marge. “Ela nos ajudou muito, pois lembra de todos os detalhes”, diz Andreas Deja, coordenador do projeto e o único animador “clássico” a ter permanecido no estúdio. Marge chamou a atenção para alguns erros cometidos pelos realizadores do filme em 1937, agora corrigidos pela primeira vez, como a cena do primeiro beijo entre Branca de Neve e o príncipe. No original, a cabeça dela tremia quase imperceptivelmente. “Walt notou a falha quando o filme ia entrar em cartaz e não pensou mais no assunto”, diz.
Além de ter se envolvido com os estúdios em muitas produções, ela é a única remanescente entre os 300 integrantes da equipe de Branca de Neve que trabalharam no Hyperion, cuja locação original foi recuperada em simulação digital e ganhou um passeio virtual. É possível “entrar” em vários recintos, como a famosa “caixa do suadouro” (“sweat box”), um quartinho apertado e quente onde os jovens animadores examinavam na moviola o resultado do dia de filmagem. Nessa excursão digital, surgem os depoimentos e as fotos dos animadores pioneiros. Não muito depois, esse grupo seria chamado de “os nove velhos”, em uma brincadeira com o apelido que o presidente Franklin D. Roosevelt deu a um bando de políticos corruptos. “Os animadores eram brincalhões e viviam eufóricos, até porque, durante a Grande Depressão, Disney era o único empresário de cinema que dava emprego”, afirma Marge.
O último dos “nove velhos”, Ollie Johnston, morreu em abril de 2008, com 96 anos. Até então, a Disney costumava restaurar os filmes consultando os antigos realizadores. Em 1993, Johnston e seus colegas Ward Kimball e Marc Davis prestaram consultoria na restauração digital de Branca de Neve, a primeira feita para um desenho animado. Naquele ano, o filme voltou a ser exibido em salas de cinema. Foi a nona vez desde sua estreia, em 21 de dezembro de 1937. Uma das curiosidades de Branca de Neve é que o filme é relançado a cada sete anos, em homenagem aos sete anões. E eles decoram a fachada atual do prédio principal dos estúdios, representados como atlas do edifício. A primeira arrecadação do filme – US$ 8,5 milhões para um orçamento de US$ 3,5 milhões, o maior da indústria cinematográfica até então – permitiu que Disney instalasse os estúdios em uma grande área na Rua Buena Vista, em Burbank, onde continua até hoje. O filme virou um amuleto. “O sucesso da Disney deve tudo a ela”, diz Lasseter.
Branca de Neve é a animação fundadora. Ela desencadeou a corrida tecnológica no mundo da fantasia. Em 1937, em plena produção do desenho, a Disney patenteou a câmera multiplano, que hoje está exposta como antiguidade em um dos corredores da empresa. O aparelho permitia que fossem filmadas cenas em até sete planos simultâneos, com movimento de câmera. O processo funcionou até Oliver & companhia, de 1988. Aí os estúdios adotaram o computador para colaborar na animação manual. Em 2005, foi a vez de os desenhistas serem refugados, em nome da animação por computador. Agora, Branca de Neve retorna e reinaugura as duas dimensões no desenho animado.
“Branca de Neve voltou para restituir o lugar de honra aos artistas”, diz Marge Champion. “A restauração só reforçou aquilo que eu sabia: a mão humana infunde vida e magia às histórias.”Ao assistir à nova versão com netos e bisnetos, diz ter se emocionado. “São meus gestos. Estou inteira lá.”
O filme que originou o império Disney é lançado em alta definição – e inaugura o retorno do desenho animado à mão
Luís Antônio Giron, de Los Angeles
A menina desce uma escada, rodopia sobre a ponta dos pés, sorri, flexiona as pernas e faz uma mesura. Essa cena é um dos testes iniciais para selecionar a modelo da heroína do primeiro longa-metragem de animação da história, Branca de Neve e os sete anões. A escolhida foi Marge Champion. Ela tinha 14 anos em setembro de 1934, quando foi contratada pelos estúdios Hyperion, de Walt Disney, para trabalhar com os animadores na futura produção. A cena do teste de Marge faz parte do material inédito da Edição Diamante de Branca de Neve e os sete anões, que está sendo lançada mundialmente nesta semana. Ela traz pela primeira vez o filme remasterizado em alta definição, em DVD e Blu-Ray, além de um DVD com três horas de extras, como jogos, passeios virtuais, fotografias e cenas históricas.
Além da novidade tecnológica, o produto possui um significado simbólico. Ele marca a volta da Disney a seus fundamentos: a animação manual em duas dimensões. Depois de quatro anos do fechamento do departamento de animação e de ter mandado para a sucata até as pranchetas dos desenhistas, o estúdio voltou a recontratar profissionais que sabem trabalhar com lápis, caneta, pincel e papel. A primeira produção do “novo” processo entrará em cartaz em novembro: o longa A princesa e o sapo. “A Disney está regressando a sua essência, sem renunciar à inovação”, diz a ÉPOCA o animador John Lasseter, de 52 anos, presidente da Disney/Pixar, o primeiro artista à frente dos estúdios desde a morte de Disney, em 1966. “Foi Branca de Neve que tornou a Disney um grande estúdio e revolucionou o método de animação.”
A Disney iniciou suas pesquisas desenvolvendo a técnica de desenhar em cima de filmes com modelos vivos. O recurso fornecia mais realismo ao movimento dos personagens. “O processo da animação digital é regido pelo mesmo pensamento”, diz Lasseter. “É preciso estudar a natureza para obter bons resultados.”
O primeiro modelo foi Marge. Uma das sequências exibidas nos extras de Branca de Neve mostra o teste que ela fez. “Eu não entendia nada”, diz. Ela recebeu meia centena de jornalistas na segunda-feira, no bangalô de madeira que fez parte dos estúdios Hyperion e hoje figura como relíquia na sede da Disney, em Burbank, zona suburbana a norte de Hollywood. “Só sabia dançar. Eu ajudava os animadores a fazer os movimentos que eles desejavam para construir Branca de Neve. Dançava porque meu pai era coreógrafo. Fiz o teste sem que ele soubesse. Fiquei três anos e meio atuando como Branca de Neve. Foi meu começo.” Marge continua a dançar... aos 90 anos. Nas décadas de 40 e 50, ela se tornou uma das maiores estrelas do musical de Hollywood, ao lado do marido e parceiro de dança, Gower Champion. Atuou em musicais como Show boat e vários outros sucessos hoje esquecidos. Na Disney, foi modelo para a bailarina hipopótamo de Fantasia, de 1940, e para a fada Sininho de Peter Pan, de 1953. “Depois de 75 anos, sou mais conhecida como a modelo da Branca de Neve”, diz, lembrando que a voz da personagem foi fornecida pela soprano Adriana Caselotti. “Não é minha voz, porque não sabia cantar, nem são meus olhos, eles preferiram substituir meus olhos pelos de Betty Boop, mais redondos.”
Marge atuou como consultora do projeto de restauração de Branca de Neve, que durou quatro anos e envolveu todos os departamentos da Disney. O responsável pelo arquivo, Dave Smith, descobriu um roteiro intitulado A volta de Branca de Neve (Snow White returns). O projeto, de 1939, tinha como objetivo um curta-metragem para aproveitar o sucesso do filme. Contaria a história de uma visita de Branca de Neve aos anões. Duas cenas cortadas do longa – a da sopa e a da construção da cama para a princesa – seriam recolocadas nesse filme e agora constam do DVD. “Nos divertimos fazendo essas duas sequências”, diz Marge. “Ela nos ajudou muito, pois lembra de todos os detalhes”, diz Andreas Deja, coordenador do projeto e o único animador “clássico” a ter permanecido no estúdio. Marge chamou a atenção para alguns erros cometidos pelos realizadores do filme em 1937, agora corrigidos pela primeira vez, como a cena do primeiro beijo entre Branca de Neve e o príncipe. No original, a cabeça dela tremia quase imperceptivelmente. “Walt notou a falha quando o filme ia entrar em cartaz e não pensou mais no assunto”, diz.
Além de ter se envolvido com os estúdios em muitas produções, ela é a única remanescente entre os 300 integrantes da equipe de Branca de Neve que trabalharam no Hyperion, cuja locação original foi recuperada em simulação digital e ganhou um passeio virtual. É possível “entrar” em vários recintos, como a famosa “caixa do suadouro” (“sweat box”), um quartinho apertado e quente onde os jovens animadores examinavam na moviola o resultado do dia de filmagem. Nessa excursão digital, surgem os depoimentos e as fotos dos animadores pioneiros. Não muito depois, esse grupo seria chamado de “os nove velhos”, em uma brincadeira com o apelido que o presidente Franklin D. Roosevelt deu a um bando de políticos corruptos. “Os animadores eram brincalhões e viviam eufóricos, até porque, durante a Grande Depressão, Disney era o único empresário de cinema que dava emprego”, afirma Marge.
O último dos “nove velhos”, Ollie Johnston, morreu em abril de 2008, com 96 anos. Até então, a Disney costumava restaurar os filmes consultando os antigos realizadores. Em 1993, Johnston e seus colegas Ward Kimball e Marc Davis prestaram consultoria na restauração digital de Branca de Neve, a primeira feita para um desenho animado. Naquele ano, o filme voltou a ser exibido em salas de cinema. Foi a nona vez desde sua estreia, em 21 de dezembro de 1937. Uma das curiosidades de Branca de Neve é que o filme é relançado a cada sete anos, em homenagem aos sete anões. E eles decoram a fachada atual do prédio principal dos estúdios, representados como atlas do edifício. A primeira arrecadação do filme – US$ 8,5 milhões para um orçamento de US$ 3,5 milhões, o maior da indústria cinematográfica até então – permitiu que Disney instalasse os estúdios em uma grande área na Rua Buena Vista, em Burbank, onde continua até hoje. O filme virou um amuleto. “O sucesso da Disney deve tudo a ela”, diz Lasseter.
Branca de Neve é a animação fundadora. Ela desencadeou a corrida tecnológica no mundo da fantasia. Em 1937, em plena produção do desenho, a Disney patenteou a câmera multiplano, que hoje está exposta como antiguidade em um dos corredores da empresa. O aparelho permitia que fossem filmadas cenas em até sete planos simultâneos, com movimento de câmera. O processo funcionou até Oliver & companhia, de 1988. Aí os estúdios adotaram o computador para colaborar na animação manual. Em 2005, foi a vez de os desenhistas serem refugados, em nome da animação por computador. Agora, Branca de Neve retorna e reinaugura as duas dimensões no desenho animado.
“Branca de Neve voltou para restituir o lugar de honra aos artistas”, diz Marge Champion. “A restauração só reforçou aquilo que eu sabia: a mão humana infunde vida e magia às histórias.”Ao assistir à nova versão com netos e bisnetos, diz ter se emocionado. “São meus gestos. Estou inteira lá.”
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário