domingo, 16 de agosto de 2009

Vampiros invadem a literatura



A Folha trouxe uma matéria sobre o lançamento pela editora Rocco do livro Noturno de Chuck Hogan e Ghilhermo del Toro. Em inglês, se chamava Strain e, claro, já tem filme ou filmes encaminhados. Eu sempre acho meio suspeito essa história de genialidade, especialmente associada a autores do sexo masculino no meio de um boom do tema marcado por autoras mulheres de diferentes vertentes. Aliás, a fala do Del Toro "Devolvemos os seres ao seu lugar de quem dorme na poeira, é sujo e muito, muito perigoso", mostra bem que ele está imbuído da idéia de que está salvando a pátria dos vampiros... Salvando de quem? De Meyers? Charlaine Harris? Anne Rice? Sei... sei... a própria resenha começa dizendo que "Vampiro não é coisa de mulherzinha." É brincadeira, sabemos, mas quem já não excluiu ou ridicularizou mulhers ou algo que é feminino assim? Vampiro é coisa de macho, portanto.

Enfim, se me sentir tentada, devo dar uma chance ao livro. Aliás, a resenha críotica detona com a obra logo em seguida. Consegue um mísero "regular" e custa quase 50 reais. Para quem se interessar, está com quase 10 reais de desconto nas Americanas.

Livro "Noturno" mostra vampiros longe de clichês
Escritor Chuck Hogan, que assina trilogia com o cineasta Guillermo del Toro, diz que não quis "fazer parte de uma moda"

Romance, idealizado antes da febre de sanguessugas, foge do glamour do gênero ao "devolver os seres ao seu lugar de quem é sujo"

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

"Pense num homem de capa preta. Com caninos grandes. E um sotaque engraçado", diz, numa cela de Nova York, em 2010, um velho que durante a Segunda Guerra teve a mão esmigalhada por um vampiro. "Agora esqueça a capa, os caninos e o sotaque engraçado. Esqueça tudo o que é engraçado."

Dadas as variações de tramas vampirescas que têm rondado telas e livrarias, a sugestão soa promissora. Ela é feita por um personagem de "Noturno", primeiro romance em parceria do cineasta Guillermo del Toro e do autor de thrillers Chuck Hogan, e dá pista de que não haverá ali nada do que livros do gênero costumam mostrar.

Primeira parte de uma trilogia imaginada em 2005 por Del Toro, "Noturno" saiu há dois meses nos EUA, onde frequentou listas de mais vendidos, e chega agora ao Brasil em meio a uma "epidemia" indesejada.

"Posso dizer que não seria a minha escolha fazer parte de uma moda", desdenha Hogan, 42, falando por telefone à Folha, de Nova York, sobre "True Blood" e "Crepúsculo" -que a mulher dele, aliás, adora. O autor, best-seller nos EUA e premiado por "Prince of Thieves" (que será levado ao cinema por Ben Affleck), iniciou conversas com Del Toro em 2006, quando essa febre não era tão evidente.

"Nosso livro fica longe desses outros, como você notou, como qualquer um nota, e me sinto ótimo com isso", ele diz. "Devolvemos os seres ao seu lugar de quem dorme na poeira, é sujo e muito, muito perigoso".

Em texto para o "New York Times", Del Toro e Hogan explicam sua versão da história. Contam que, quando John William Polidori juntou "folclore, ressentimento e ansiedades eróticas" em "O Vampiro", no século 19, criou a base de todas as tramas do gênero. Mas o mito no qual ele se baseou, escrevem, era "tão velho quanto a Babilônia". E "tratava de bestas primitivas que se alimentavam do sangue dos vivos".

A trilogia introduz as criaturas como uma espécie de vírus que infecta os ocupantes de um Boeing 777 assim que ele aterrissa, para, em seguida, alastrar-se por Nova York. São como parasitas que, aos poucos, tomam o corpo dos humanos.

A trama segue vários personagens e envolve descrições minuciosas de astronomia, biologia, anatomia. A certa altura, explica-se por que vampiros devem ser quentes, e não gelados. E como se desenvolvem, na garganta, as glândulas que serão misto de aparelho circulatório e digestivo nesses seres.

O preciosismo resultou num processo de criação -com textos enviados e reescritos por e-mail- muito extenso. O que, além de levar os vampiros de Del Toro e Hogan a chegarem com atraso em relação à mania mundial, os fez perder a vez para "Fringe", série de TV, de J.J. Abrams, de início muito similar -com um avião que aterrissa "morto" em Nova York.

Questionado sobre a coincidência, Hogan diz que a intenção de Del Toro era fazer de "Noturno" uma série de TV, e que o cineasta chegou a sugeri-la a um canal, com a cena do avião. "Só que queriam algo meio humorístico, e não era a vontade dele", diz o autor. "Não dá para dizer que foi dali que "Fringe" veio, mas ... Ah, você sabe. Ideias. Elas estão por aí."

A dupla agora finaliza a segunda parte da trilogia, a sair em 2010. "É uma nova experiência escrever sabendo que há tanta expectativa. Talvez isso faça eu me empenhar para não decepcionar ninguém", diz, e em seguida se corrige: "Mas, ok, o segundo livro vai ainda mais fundo que o primeiro. Não tenho com que me preocupar".

Crítica/"Noturno"

Trama violenta funcionaria melhor na tela
SANTIAGO NAZARIAN
ESPECIAL PARA A FOLHA


Vampiro não é coisa de mulherzinha. Devolver às criaturas da noite sua carga escabrosa parece ser a premissa de "Noturno", escrito numa parceria de fôlego entre Guillermo del Toro (cineasta de filmografia irregular, com filmes como "Labirinto do Fauno", "Hellboy" e "A Espinha do Diabo") e Chuck Hogan (autor de best-sellers de suspense pouco conhecidos no Brasil).

Começa de forma brilhante. Um avião pousa em Nova York e permanece em silêncio, com as luzes apagadas, sem que nenhum passageiro ou tripulante saia. Logo chegam equipes de segurança para checar o que se passa: sequestro, epidemia, pegadinha do Mallandro? (OK, a última opção não é cogitada). A narrativa é lenta, fermentando o suspense e as expectativas pela revelação do que, já sabemos, será uma história de vampiros. Ao aparecerem, os sanguessugas continuam surpreendendo. Passam longe da elegância gótica do gênero, estando mais próximos de um misto de invasores de corpos alienígenas e zumbis. Não é uma releitura inédita -é próxima, por exemplo, dos vampiros de "Cem Dias de Noite" (a HQ e o filme)-, mas é interessante como o romance explica e disseca, literalmente, os dentuços, trazendo descrições anatômicas e analisando o processo de contágio.

O texto retrata a invasão em diversos lares, numa estrutura fragmentada, que pode ter facilitado a escrita a quatro mãos. Ainda assim, os autores mesclam de forma homogênea contos de fadas, catástrofe aérea, thriller epidemiológico, ficção científica, mitologia lovecraftiana e, claro, histórias clássicas de vampiros. (Impossível não ver a chegada do avião como uma versão atualizada da viagem de navio de Drácula, no romance de Bram Stoker.)

Mas a falta de personagens tangíveis tira boa parte do carisma do texto (note que, aqui, não foi necessário dar o nome de um único personagem). Não há ninguém para torcer, nem mesmo a personificação do mal num vilão instigante – o mestre dos vampiros surge no terço final, sem personalidade definida. E, após a revelação da epidemia dos vampiros, o romance descamba para descrições de violência que podem funcionar na tela, mas que têm poder de assombro reduzido em texto.

Primeiro de uma trilogia, o livro ainda tem o desfecho brutalmente postergado, o que é frustrante após percorrer mais de 460 páginas e ter só uma vaga idéia de quem é o vilão e quais são seus planos. "Noturno" se mostra um belo projeto.

Pode gerar ótimo filme ou série, mas despreza as armas mais fortes da literatura: identificação e aprofundamento.

NOTURNO
Autores: Guillermo del Toro e Chuck Hogan
Tradução: Sérgio Moraes Rego e Paulo Reis
Editora: Rocco
Quanto: R$ 46,50 (464 págs.)
Avaliação: regular

15 pessoas comentaram:

Pior que esse é o primeiro dessa nova safra de livros sobre vampiros que me parece realmente interessante de ler. E quem tem no currículo "Labirinto do Fauno", e "A Espinha do Diabo" para mim tem alto crédito e merece uma chance.

Além do mais há uma boa chance da resenhista preferir a abordagem que vem sendo feita nos últimos anos. Senti isso no começo da crítica. E qualquer coisa que rompa com isso para mim pode ser uma boa. Foi Anne Rice quem me fez odiar vampiros.

Eu sempre desconfio de quem canta e berra que vai salvar o mundo ou que é gênio. Da mesma maneira que desci a lenha na Meyer porque ela disse que "sonhou" e 'nunca leu ninguém", quem vem com este papo de vou salvar os vampiros, também não merece crédito para mim.

No mais, há espaço para todo o tipo de vampiro, até porque há todo o tipo de gente: andróginos, gays, sádicos, lascivos, vegetarianos, etc. E quem está trazendo a diversidade para o tema neste momento são as mulheres. Deve ter dado inveja, mas como vampiro vende, cabe todo mundo.

Eu acho que tem menos a ver com "inveja" do que a perda do fator terror. E realmente, o pessoal investe tanto em querer humanizar o vampiro que o fator "medo" se perde. E isso não é de agora. Periodicamente surge alguma reação, como "Um Drink no Inferno". Você pode detestar o filme, mas o próprio Tarantino – que escreveu o roteiro – disse tê-lo feito por estar saturado de vampiros com dramas existenciais e quis escrever um filme de vampiro que o divertisse ao assistir.

E Del Toro é bom e como eu disse, tem currículo respeitável como cineasta de horror. Mas nunca li nada escrito por ele como literatura. Se houve trombada nesse sentido, pode ter acontecido, mas quero ler e ter uma opinião. :P

Fator terror? Então que deixasse a coisa clara, pois o que parece é um "tudo estava perdido, mas agora eu cheguei para salvar os vampiros". E terror se faz de várias maneiras. Aliás, vampiros nunca me assustaram, há algo de muito cômico, trash e homoerótico em todos eles para me assustar.

Transformar em ETs sem rosto ou doentes, não vai ter melhor efeito sobre mim. Fantasia é fantasia.

Fator terror? Então que deixasse a coisa clara, pois o que parece é um "tudo estava perdido, mas agora eu cheguei para salvar os vampiros". E terror se faz de várias maneiras. Aliás, vampiros nunca me assustaram, há algo de muito cômico, trash e homoerótico em todos eles para me assustar.

Transformar em ETs sem rosto ou doentes, não vai ter melhor efeito sobre mim. Fantasia é fantasia.

A HQ mencionada se chama na verdade "30 dias de noite" e é muito boa pra quem gosta de vampiros bestiais (o filme também).

Del Toro já provou com "A Espinha do Diabo" que sabe como poucos lidar e transmitir esse terror.

"O Labirinto do Fauno" fechou (ou abriu) este ponto, com chave de ouro!

Li o 1º cap. de NOTURNO no site e comprei o livro ontem, começo a ler o restante na segunda e comprova o que a mídia da obra vende: é um CSI com vampiros.

Há toda uma investigação, uma forma de se explicar os fenômenos através da Ciência, mas o Terror não se perde para isto -- os contos da vovó no começo do livro transmitem magistralmente (com o gigante da vila, só lendo pra sacar, lógico) aquele medo antigo, o terror ancestral, que arrepia qualquer leitor mais acostumado a tramas do gênero (e imagina aos que não estão).

A série "Crepúsculo" se mostra um porre em poucas páginas do primeiro livro. E sinceramente, colocar um vampiro BRILHAR em contato com o sol, não é "querer inovar o conceito" e sim RIDICULARIZÁ-LO e isto, Meyer soube fazer bem!

O vampiro (assim como qualquer outra criatura sobrenatural ou mítica -- ainda que não supere os espíritos =P) são possíveis SIM de colocar medo, se BEM feitos, bem idealizados.
Não que esta obra de Del Toro e Hogan possa fazê-lo (só ao término do livro saberei), mas eles tem essa proposta.

Na real, se querem usar um Rapaz belo, forte e capaz de tudo (Crepúsculo, Moon Light etc), que usem um Príncipe Encantado e não deturpem o mito.

Vampiro BOM é vampiro MORTO:
http://3.bp.blogspot.com/_qV9rF3srn1E/SmheRLMoZeI/AAAAAAAAETg/doWxVaGvrE8/s400/final_crepusculo_blade.jpg
(a melhor imagem do ano, fato!)

;)

Na real, se querem usar um Rapaz belo, forte e capaz de tudo (Crepúsculo, Moon Light etc), que usem um Príncipe Encantado e não deturpem o mito.

Todo o resto que você escreveu e argumentou está OK. É questão de concordar ou discordar, mas aqui, não há como relevar o que foi escrito.

Não existe O MITO do vampiro, existe uma diversidade de mitos espqalhados pelo mundo inteiro. Deturpar o que então? Há direitos autorais?

Recomendo, aliás, o excelente Drácula que foi feito aqui no Brasil, em quadrinhos, e que já comentei várias vezes. Baseado em Bram Stocker, com vampiro bonito, sim, porque O MAL, se é que este é o caso, não rpecisa ser repulsivo ou assustador, ter chifres e rabo. O que torna algo daninho são os atos.

E mais, espero que a comparação entre Moonlight e Crepúsculo, os ETC não sei o que é, não passe do "rapaz bonito". Porque de resto, Moon Light era uma excelente série, com uma mitologia consistente e umas sacadas muito, mas muito geniais (*como a da Revolução francesa*). Pena que foi encerrado antes que pudessem deslanchar a coisa. adoraria ler em livro.

Chegando atrasado a discrussão, mas ainda querendo dar palpites.

Sou fã do trabalho e Del Toro no Labirinto de Fauno, mas ja não gostei tanto de o Orfanato.

Mesmo assim nunca li nada dele, portanto não sei como é sua qualidade como escritor.

Vampiros p/ mim sempre tiveram possibilidade de terror sim, as outras abordagens vieram depois, mas concordo com a ideia central da Valeria, não existe um unico mito CORRETO sobre os vampiros (embora eu tenhas os meus preferidos), mas uma das vantagens do genero é justamente a amplas possibilidades de abordagem p/ eles.

Há vampiros p/ todos os gostos, dependendo apenas do talento do escritor p/ torna-lo mais atrativo.

Como sou alguem de gosto variados
vou dar uma lida no livro, mas os detalhes apresentados não me empolgaram muito.

Mas este é o ponto, preferências todos temos. Eu tenho as minhas, há algumas opções de vampiros que não me descem, mas daí a clamar por respeitem O MITO, é outra história. Parece mais fundamentalismo religioso de certos grupos ortodoxos que acham que somente uma leitura é possível. E aqui, olha que graça, uma leitura, de um único mito (*provavelmente via outra rreleitura cinema, RPG, literatura*) é possível.

quanto ao Orfanato, ainda não vi ninguém que tenha gostado. E, claro, estranhamente, ele é omitido pelos fãs do Del Toro em suas defesas...

No caso do Orfanato deve ser até por desconhecimento. Eu só descobri esse filme a pouco.

Mas é chato mesmo essa questão de limitação. Se ninguem tivesse pensado em "trair' o mito, nós não teriamos nem Dracula.

Mas aí é que está, Anderson, qual mito? Temos um emaranhado de mitos no Ocidente e no Oriente que remetem à seres que se alimentam de sangue. Alguns estão mortos, alguns são não-mortos, outros mortos-vivos, outros sombras do morto, sem falar em divindades e semi-divindades. Não há mito.

E quem quer inoivar ainda convoca ETs e vírus...

Isso que eu digo.

Dracula, que muitos usam como parametro, era ele mesmo uma releitura dos varios mitos que assolaram a Europa.

Imagina que na epoca, alguem reclama-se de ele se tornar morcego, ou andar durante o dia, ou ser afetado por alho, etc.

Se o autor não tivesse criado a sua verssão do mito, é provavel que os vampiros não teriam se tornado um elemento literario tão recorrente.

Engraçado é imaginar: O que é um morto-vivo afinal de contas?

Se for falar dos vampiros há relatos egípcios de homens-morcegos comedores de frutas, será q isso é deturpar o "mito"?

Gosto da Anne Rice, de como ela misturou histórias de vampiros com história, de como ela criou esses anti-heróis, de como foi algo novo criar histórias a partir do ponto de vista do vampiro com vampiros de todos os lugares do mundo e de todas as religiões e épocas.

Falar em vampirismo como um vírus não é novidade nenhuma, o tal vírus vampírico já é uma ideia velha em Blade e Anjos da noite (odeio), misturar vampiros com zumbis é ok mas acho uma palhaçada criar um livro que leva 100 páginas para aparecer um "zumbiro" e ica enrolandopor mais 400 páginas só para poder criar um "clímax" e mostrar o chefão para vc comprar um próximo livro da "trilogia" (estou com nojo de trilogias, tudo hoje em dia é desculpa para trilogias, é a nova fórmula mágica de vendas) que já é feito propositalmente para causar furor para uma subsequente adaptação para cinemas.

Não me simpatizei muito com o livro, e me arriscando a tomar umas pedradas, acho que o Del Toro é superestimado (fiquei bem decepcionada quando assisti Labirinto do Fauno, esperava bem mais).

Agora se o livro é como um CSI de vampiros, aí eu passo longe mesmo. Não gosto do estilão do seriado.

Também tenho antipatia dessa idéia de "sou o salvador do estilo, que está sendo maltratado". Acho que há espaço pra todo mundo.

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