quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Jovens Mulheres disputam Emprego Antes Desprezado



Esta matéria estava anunciada em um dos sites sobre o Japão que eu visito e decidi traduzi-la. Faz belo par com o texto sobre os rapazes que se tornam hosts que coloquei no blog semana passada. Nem preciso dizer que é lamentável que um dos empregos que melhor remuneram as mulheres no Japão esteja no limite da prostituição. Alguém nos comentários do New York Times escreveu que há uma grande tradição na cultura japonesa de mulheres “que servem” os homens, exemplo disso, seriam as gueixas. Todos sabem que eu considero as gueixas o topo de uma hierarquia de prostitutas, algo muito típico da sociedade japonesa, e, portanto, difícil de ser compreendido como tal por muita gente, ainda que essas mesmas pessoas usem o termo cortesã como se não tivesse o mesmo significado. Mas não vou falar disso, até porque não quero me repetir.

Como bem coloca o analista lá no final, se houvesse um maior número de empregos bem pagos para mulheres, se elas não fossem hostilizadas nos ambientes de trabalho formais, se não fossem as primeiras demitidas, esse tipo de emprego não seria vendido como “o dos sonhos” para menininhas de primário. Mas, assim como temos as mulheres fruta, o Japão tem suas similares, ainda que muito mais simpáticas, ou assim me parecem.

Mesmo que o texto tente mostrar o ponto de vista das hostesses bem sucedidas, não deixa de falar da discriminação de gênero e dos males de um emprego boêmio (*bebida, cigarro, noites em claro, etc.*). Por isso, eu traduzi. E outra coisa, hoje boa parte dos blogs do mundo otaku noticiou que uma dessas moças rejeitou o pedido de namoro de um cliente e o desgraçado foi até sua casa, matou sua avó e a feriu gravemente. Mulheres não podem dizer não, ainda mais quando estão envolvidas neste universo.

Jovens Mulheres disputam Emprego Antes Desprezado
By HIROKO TABUCHI
Published: July 27, 2009


TOKYO — As mulheres que servem drinques nos brilhantes clubes para cavalheiros no Japão eram desprezadas porque suas tarefas eram consideradas indecorosas: mostrar adoração e atenção (ainda que de forma não-sexual) por homens em troca de uma taxa generosa.

Mas com esse tipo de trabalho, chamado de hostessing, entre os empregos mais lucrativos para as mulheres e com o país afundado na recessão, as posições de hostess são cobiçadas, e as próprias hostesses ganham respeitabilidade e mesmo aprovação. A pior recessão no Japão desde a II Guerra está mudando os costumes.

“Cada vez mais mulheres, das mais diferentes origens, estão procurando emprego como hostess,” diz Kentaro Miura, que ajuda a gerenciar sete clubes em Kabuki-cho, o brilhante distrito da luz vermelha. “Há menos resistência em se tornar hostess. Na verdade, o emprego é visto como um emprego glamoroso.”

Mas por trás desta tendência há uma muito menos glamurosa realidade. Oportunidades de emprego para mulheres jovens, especialmente aquelas sem curso universitário, são freqüentemente limitadas a baixos salários, sem perspectiva de carreira ou de caráter temporário.

Mesmo antes da crise econômica, quase 70% das mulheres entre 20 e 24 anos trabalhavam em empregos com poucos benefícios e pouca seguridade social, de acordo com pesquisa do ministério do trabalho. A situação piorou com a recessão.

Por esta razão, um crescente número de mulheres japonesas parece acreditar que empregos como o de hostess, que podem facilmente pagar U$100.000 (*cerca de R$ 184.000) por ano, e tanto quanto U$300.000 (*cerca de R$552.000*) para as grandes estrelas, faz sentido economicamente.

Em 2009, uma pesquisa com 1154 colegiais, feita pelo Instituto de Estudos Culturais de Tokyo, o emprego como hostess ficou em 12º entre as profissões mais populares, na frente de funcionária pública (18º) e enfermeira (22º). “É somente quando você é jovem que pode ganhar dinheiro bebendo com homens,” diz Mari Hamada, 17 anos.

Muitos desses clubes cabarés, ou kyabakura, são estabelecimentos elegantes de madeira escura e com almofadas de veludo, onde garçons de gravata borboleta e hostesses em vestidos de gala esvoaçam em torno dos clientes provando vinhos fantasticamente caros.

Algumas hostesses trabalham para pagar os custos de um curso universitário ou em uma escola profissionalizante ou para economizar e abrir o seu próprio negócio. Hostessing não envolve prostituição, apesar de religiosos e grupos de direitos das mulheres apontarem que as hostesses podem ser pressionadas para terem sexo com os clientes, e que esta ocupação pode ser a porta de entrada para a extensa indústria underground do sexo no Japão. Hostesses dizem que coisas assim raramente acontecem, e que a exaustão de uma vida de festas é a ameaça mais comum de sua profissão.

Entretanto, mulheres são atraídas por histórias de Cinderella como a de Eri Momoka, uma mão solteira que se tornou hostess e conseguiu vencer a penúria e começar uma carreira na TV e sua própria linha de roupas e acessórios. “Eu recebo freqüentemente cartas de fãs (fan mail) de meninas do primário que dizem que querem ser como eu,” diz Momoka-san [1] , 27, entrevistada entrevista vestindo a sua marca registrada um salto alto de sete polegadas. “Para uma menininha, uma hostess é como uma princesa dos dias atuais.”

Mesmo um membro do parlamento japonês, Kazumi Ota, foi uma hostess. Esta revelação antigamente iria iniciar um grande escândalo, mas não aconteceu isso. Ela vai concorrer a reeleição no partido de oposição mais importante, o Partido Democrático do Japão, em uma eleição mundial no mês que vem, e há expectativas que a legenda desaloje o partido do governo.

Não há números precisos de quantas hostesses trabalham no Japão. Somente em Tokyo, 13 mil estabelecimentos oferecem estes serviços de entretenimento noturnos com hostesses (e alguns com hosts do sexo masculino), incluindo clubes exclusivos para membros freqüentados por políticos e executivos de grandes companhias, assim como clubes cabarés baratos.

Hostesses servem drinques, mantém uma conversação cortês e acompanham homens em encontros, mas geralmente não fazem sexo em troca de dinheiro. (Homens que desejam esse tipo de serviço, podem recorrer à prostitutas, apesar da prostituição ser ilegal.)

Hostesses são classificadas de acordo com a sua popularidade entre os clientes, com a nº1 de cada clube assumindo o status de estrela. Mineri Hayashi alcançou o topo no seu clube, Celux, seis anos depois de vir do Norte do Japão para Tokyo. Em uma noite recente, ela se preparou para uma elaborada festa de aniversário, evento promovido pelo clube em sua homenagem.

Do lado de for a, pôsteres enormes de Hayashi-san enfeitavam a rua. No clube, uma dúzia de homens penduraram balões e arrumaram garrafas de champagne. A clientele do clube é diversificada, incluindo salarymen, empresários e outros homens que querem relaxar depois do trabalho. Celux espera ganhar mais de U$60.000 na festa de aniversário de Hayashi-san, que será freqüentada por muitos clientes habituais.

“A vida tem sido divertida, e eu quero continuar me divertindo,” diz Hayashi-san, colocando uma tiara no cabelo. Ela fala de planos de se aposentar no próximo ano e viajar para o exterior. Sua irmã de 17 anos deseja ser uma hostess também, e pode vir a sucedê-la. Hayashi-san dá seu apoio. “Eu apenas quero que ela seja feliz,” ela disse.

A cultura popular alimenta a popularidade do hostessing. Seriados começam a colocar cabaré hostesses como mulheres que estão construindo uma carreira bem sucedida. Hostesses também estão escrevendo bestsellers, sejam eles sobre gerenciamento de capital ou sobre a arte da conversação. Uma revista que mostra a moda entre as hostess se tornou terrivelmente popular entre mulheres fora do negócio, que imitam a pesada maquiagem nos olhos e os penteados cheios.

Mas Serina Hoshino, 24, outra hostess de Tokyo, está exausta por causa das longas noites e da bebida em excesso. Desmoronada em sua cadeira no salão M.A.C., ela fala dos intermináveis encontros depois do expediente com os clientes. Arrastando-se para casa ao nascer do sol, ela dorme o resto do dia. Nos seus dias de folga ela mal deixa o seu apartamento.

Sua remuneração de U$16.000 (*cerca de R$ 29.000*) por mês, é quase dez vezes maior que o salário de muitas mulheres da sua idade. “É ótimo ser independente, mas é também muito estressante,” Hoshino-san diz, falando do meio de uma nuvem de spray de cabelo e fumaça de cigarro.

Nos últimos meses, os clubes têm começado a sentir o toque da recessão econômica. Os salários das hostesses estão caindo para tão baixo quanto U$16 a hora. Ainda assim, este valor continua acima da maioria dos trabalhos diurnos do país.

Assim, as mulheres jovens continuam chegando. O distrito de Kabuki-cho está cheia de olheiros recrutando mulheres. Um dos olheiros disse que algumas mulheres aparecem nas entrevistas acompanhadas das mães, o que nunca aconteceria quando o emprego era menos respeitável.

“As mulheres estão sendo despedidas dos empregos diurnos e então procuram empregos conosco,” diz Hana Nakagawa, que dirige uma agência de emrpegos voltada para clubes de elite em Tokyo. Ela recebe cerca de 40 questionários por semanas de mulheres procurando emprego como hostess, duas vezes mais que antes da crise econômica.

Atsushi Miura, um especialista no assunto, que o trabalho de hostess continuará popular entre as mulheres japonesas enquanto outros trabalhos bem pagos continuarem escassos. “Algumas pessoas dizem que as hostesses estão jogando a sua vida fora,” ele diz. “mas ao invés de criticá-las, o Japão deveria criar mais empregos para as mulheres jovens.”
[1] Ela é chamada de “Ms.” e não existe correspondente em português, pois em inglês se refere a uma mulher que pode ser casada, solteira ou viúva, mas não se pauta pelo referente masculino de ter ou não “um homem para chamar de seu”. Por isso, optei por usar o honorífico “san”

1 pessoas comentaram:

Otima materia.

Traz luz sobre um assunto que só conhecemos atravez de filtro de embelezamento.

É sempre importante lembrar das pessoas e das dificuldades reais que enfrentam.

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