Segue a última parte da entrevista com as artistas do Studio Seasons. A primeira parte está aqui. Lembro para vocês que elas concordaram em responder outras perguntas que os leitores e leitoras queiram fazer. Alguém pediu o deviantart, o da Simone Beatriz é este aqui. De novo, deixo aqui o meu agradecimento à Montserrat, Simone Beatriz e Syvia pela gentileza.
SC: Zucker é a nova série de vocês. Eu percebo uma clara influência do shoujo mais clássico, dos anos 70, na arte e na estrutura. Inclusive, até cheguei a pensar que a história se passava nos anos 30 ou 40 do século XX (* a mala da protagonista, me fez suspeitar que eu estivesse errada*) Estou certa? Se, sim, quais séries/autoras inspiraram vocês?
STUDIO SEASONS: Pôxa... ainda bem que você olhou a mala! (risos)
De verdade, não. Esse é o traço shoujo da Simone mesmo! Ela costuma observar o trabalho de uma mangaká ou outra, mas é mais para ver a técnica aplicada. Simone não costuma usar as mangakás dos anos 70 como referência. Achamos que parte dessa impressão se deve ao fato de todo mundo se vestir de um modo muito clássico, mas a roupa do Edgar, por exemplo, é a roupa que muitos gerentes de loja usam, ainda mais numa cidade do interior no Sul. Já a Dora, por incrível que pareça, está super moderna! Essa roupa que ela está usando é a última moda nas vitrines de São Paulo para o inverno. Acreditamos que as pessoas não precisam usar roupas mirabolantes para serem especiais. Zucker é uma história de pessoas comuns em uma situação incomum que faz com que tenham de mostrar outro aspecto delas. À medida que a história correr isso ficará mais claro e o visual clássico foi escolhido justamente pelo conteúdo final da história.
SC: Zucker se passa no Brasil. Alguns acreditam que os consumidores de mangá não gostam de ler material brasileiro, especialmente quando ele se passa em seu próprio país. Isso procede?Vocês receberam críticas?
STUDIO SEASONS: Na verdade não procede. O que ocorre é que temos um mercado muito mal estruturado no quesito produção. Todo mundo compra pronto, mas não sabe coordenar na hora de produzir aqui. Foi publicado muito material cru e isso prejudicou muito a imagem de gente séria. Os jovens que se propõem a escrever e desenhar hoje estão muito mal preparados e acabam virando “saco de pancadas” do público quando se arriscam a estrear no mercado antes da hora. Eles têm de estar cientes de que estão concorrendo com pessoal gabaritado de fora e, quer queiram, quer não, serão sempre comparados. Felizmente, o pessoal que lê o nosso material e acompanha o nosso trabalho sabe que não viemos para brincar ou seguir modas. Zucker só recebeu elogios e apoio, e isso foi muito bom.
SC: Vocês têm algum trabalho favorito?Algo que tenham feito e que ocupe um lugar especial no coração?
MONTSERRAT: Sou suspeita! Escrevi todos os roteiros! Gosto de todos... mas confesso que tenho um carinho especial pela minha série Dragons, por Voguel, que ainda estou escrevendo e gosto muito de Kimura Fushigi, o personagem principal da série Oiran.
SYLVIA: Nossa! Gosto de tudo que a Montserrat escreveu para mim. Gosto de Lótus e o Olho do Tigre porque foi o primeiro roteiro que ela fez e tenho um carinho especial com Alesh porque foi um presente de aniversário (já viu alguém ganhar trabalho de presente?).
SIMONE: Gosto muito de Contos de Amor e de Honra que estou desenhando e gosto de Oiran, mas confesso que este é cansativo de fazer por causa das retículas!
SC: O mercado brasileiro de quadrinhos hoje está mais receptivo ao produto nacional? Ser em estilo mangá faz diferença?
STUDIO SEASONS: Está mais receptivo mesmo. Tivemos um momento assim em 2001, mas a onda de mangás que entraram no mercado, fez frear esse movimento. Todo mundo achava que poderia trazer mangá do Japão e ficar rico. Obviamente, levou um tempo para cair a ficha que a coisa não era tão simples assim e licenciar títulos é um processo complexo e fora de questão para salvar editoras a beira da falência, como algumas tentaram fazer. Hoje estamos tendo uma retomada e o mercado está novamente mais receptivo. Sobre o estilo mangá houve um tempo bem ruim para os quadrinhos nacionais dentro deste estilo adotado. Foi uma febre de publicar coisas como se fosse mangá e não tinha nem um traço de técnica. Isso prejudicou muito a imagem de quem queria fazer um trabalho sério. Até hoje lemos pessoas falando num geral que os desenhistas usam os recursos de produção de mangá porque é moda. Em parte isso é verdade, no tocante a algumas editoras que lançaram muita coisa sem nem saber o que era mangá, mas em parte isso é errado, pois muita gente começou a desenhar muito antes de mangá virar febre por aqui. Acho que a técnica só é válida se você consegue desenvolver um traço e um processo de diagramação com os mesmos recursos de linguagem que os japoneses usam e incrementá-lo com recursos de linguagem do ocidente, caso contrário, a pessoa só vai desenhar gente com olho grande em quadros tortos, mas sem ter a mínima idéia do porquê esta fazendo isso. E importante: você tem de ter uma história para contar.
SC: Agora, quero saber um pouquinho das influências de vocês, os autores e autoras que admiram. Vocês poderiam falas dos/as escritores/as, mangakás, quadrinistas, cineastas que mais apreciam? Tiveram alguma influência na carreira de vocês e como trabalham?
MONTSERRAT: Puxa... tanta coisa. Li e vi muitas obras. Não daria para fazer uma lista completa e acho que tudo que vi me influenciou para produzir as histórias que faço. Gosto de Clamp, Kei Nakamura, Naomi Yamauchi, Chiho Saito, Takuhito Kusanagi, Suezen, Jet, Travis Charest, Bill Watterson, Will Eisner e um monte de gente que não lembro o nome. De autores gosto de Bram Stoker, Machado de Assis, Jane Austen, Georgette Heyer, JJ. Benitez, Alan Dean Foster, etc. Adoro cinema, mas nunca me ligo nos cineastas, me fixo mais nas histórias.
SYLVIA: Bom, entre os que eu gosto tem Bill Watterson, Will Eisner, Guido Guidi, Jim Lee, Chiho Saito, Rumiko Takahashi, Yoshida Sunao, Clamp, etc. De escritores eu gosto do Luís Fernando Veríssimo e Tolkien.
SIMONE: Eu gosto do trabalho de Fuyumi Soryo, Motoka Murakami, Keith Giffen, Travis Charest e Guido Guidi. São eles que me chamaram atenção e me influenciaram algumas vezes.
SC: Hora de aconselhar: o que vocês recomendam para aqueles que desejam seguir carreira como quadrinista (roteirista, desenhista, ou mesmo fazendo todo o trabalho) aqui no Brasil?
STUDIO SEASONS: Bom, todas nós costumamos dar os mesmos conselhos: estudar, pesquisar, ter bom português, não ter preguiça, ser disciplinado, estar sempre lendo e se informando. Se quiser fazer uma história busque as fontes originais, nada de jogos ou revistas. No caso do estilo mangá, não se faz quadrinhos, lendo mangá, mas lendo livros e revistas especializadas, material de qualidade. O mangá em si só serve como exemplo de técnica aplicada, não como base para nenhuma outra história original. Ter idéias originais é a base para se contar e se fazer boas histórias.
STUDIO SEASONS: Pôxa... ainda bem que você olhou a mala! (risos)
De verdade, não. Esse é o traço shoujo da Simone mesmo! Ela costuma observar o trabalho de uma mangaká ou outra, mas é mais para ver a técnica aplicada. Simone não costuma usar as mangakás dos anos 70 como referência. Achamos que parte dessa impressão se deve ao fato de todo mundo se vestir de um modo muito clássico, mas a roupa do Edgar, por exemplo, é a roupa que muitos gerentes de loja usam, ainda mais numa cidade do interior no Sul. Já a Dora, por incrível que pareça, está super moderna! Essa roupa que ela está usando é a última moda nas vitrines de São Paulo para o inverno. Acreditamos que as pessoas não precisam usar roupas mirabolantes para serem especiais. Zucker é uma história de pessoas comuns em uma situação incomum que faz com que tenham de mostrar outro aspecto delas. À medida que a história correr isso ficará mais claro e o visual clássico foi escolhido justamente pelo conteúdo final da história.
SC: Zucker se passa no Brasil. Alguns acreditam que os consumidores de mangá não gostam de ler material brasileiro, especialmente quando ele se passa em seu próprio país. Isso procede?Vocês receberam críticas?
STUDIO SEASONS: Na verdade não procede. O que ocorre é que temos um mercado muito mal estruturado no quesito produção. Todo mundo compra pronto, mas não sabe coordenar na hora de produzir aqui. Foi publicado muito material cru e isso prejudicou muito a imagem de gente séria. Os jovens que se propõem a escrever e desenhar hoje estão muito mal preparados e acabam virando “saco de pancadas” do público quando se arriscam a estrear no mercado antes da hora. Eles têm de estar cientes de que estão concorrendo com pessoal gabaritado de fora e, quer queiram, quer não, serão sempre comparados. Felizmente, o pessoal que lê o nosso material e acompanha o nosso trabalho sabe que não viemos para brincar ou seguir modas. Zucker só recebeu elogios e apoio, e isso foi muito bom.
SC: Vocês têm algum trabalho favorito?Algo que tenham feito e que ocupe um lugar especial no coração?
MONTSERRAT: Sou suspeita! Escrevi todos os roteiros! Gosto de todos... mas confesso que tenho um carinho especial pela minha série Dragons, por Voguel, que ainda estou escrevendo e gosto muito de Kimura Fushigi, o personagem principal da série Oiran.
SYLVIA: Nossa! Gosto de tudo que a Montserrat escreveu para mim. Gosto de Lótus e o Olho do Tigre porque foi o primeiro roteiro que ela fez e tenho um carinho especial com Alesh porque foi um presente de aniversário (já viu alguém ganhar trabalho de presente?).
SIMONE: Gosto muito de Contos de Amor e de Honra que estou desenhando e gosto de Oiran, mas confesso que este é cansativo de fazer por causa das retículas!
SC: O mercado brasileiro de quadrinhos hoje está mais receptivo ao produto nacional? Ser em estilo mangá faz diferença?
STUDIO SEASONS: Está mais receptivo mesmo. Tivemos um momento assim em 2001, mas a onda de mangás que entraram no mercado, fez frear esse movimento. Todo mundo achava que poderia trazer mangá do Japão e ficar rico. Obviamente, levou um tempo para cair a ficha que a coisa não era tão simples assim e licenciar títulos é um processo complexo e fora de questão para salvar editoras a beira da falência, como algumas tentaram fazer. Hoje estamos tendo uma retomada e o mercado está novamente mais receptivo. Sobre o estilo mangá houve um tempo bem ruim para os quadrinhos nacionais dentro deste estilo adotado. Foi uma febre de publicar coisas como se fosse mangá e não tinha nem um traço de técnica. Isso prejudicou muito a imagem de quem queria fazer um trabalho sério. Até hoje lemos pessoas falando num geral que os desenhistas usam os recursos de produção de mangá porque é moda. Em parte isso é verdade, no tocante a algumas editoras que lançaram muita coisa sem nem saber o que era mangá, mas em parte isso é errado, pois muita gente começou a desenhar muito antes de mangá virar febre por aqui. Acho que a técnica só é válida se você consegue desenvolver um traço e um processo de diagramação com os mesmos recursos de linguagem que os japoneses usam e incrementá-lo com recursos de linguagem do ocidente, caso contrário, a pessoa só vai desenhar gente com olho grande em quadros tortos, mas sem ter a mínima idéia do porquê esta fazendo isso. E importante: você tem de ter uma história para contar.
SC: Agora, quero saber um pouquinho das influências de vocês, os autores e autoras que admiram. Vocês poderiam falas dos/as escritores/as, mangakás, quadrinistas, cineastas que mais apreciam? Tiveram alguma influência na carreira de vocês e como trabalham?
MONTSERRAT: Puxa... tanta coisa. Li e vi muitas obras. Não daria para fazer uma lista completa e acho que tudo que vi me influenciou para produzir as histórias que faço. Gosto de Clamp, Kei Nakamura, Naomi Yamauchi, Chiho Saito, Takuhito Kusanagi, Suezen, Jet, Travis Charest, Bill Watterson, Will Eisner e um monte de gente que não lembro o nome. De autores gosto de Bram Stoker, Machado de Assis, Jane Austen, Georgette Heyer, JJ. Benitez, Alan Dean Foster, etc. Adoro cinema, mas nunca me ligo nos cineastas, me fixo mais nas histórias.
SYLVIA: Bom, entre os que eu gosto tem Bill Watterson, Will Eisner, Guido Guidi, Jim Lee, Chiho Saito, Rumiko Takahashi, Yoshida Sunao, Clamp, etc. De escritores eu gosto do Luís Fernando Veríssimo e Tolkien.
SIMONE: Eu gosto do trabalho de Fuyumi Soryo, Motoka Murakami, Keith Giffen, Travis Charest e Guido Guidi. São eles que me chamaram atenção e me influenciaram algumas vezes.
SC: Hora de aconselhar: o que vocês recomendam para aqueles que desejam seguir carreira como quadrinista (roteirista, desenhista, ou mesmo fazendo todo o trabalho) aqui no Brasil?
STUDIO SEASONS: Bom, todas nós costumamos dar os mesmos conselhos: estudar, pesquisar, ter bom português, não ter preguiça, ser disciplinado, estar sempre lendo e se informando. Se quiser fazer uma história busque as fontes originais, nada de jogos ou revistas. No caso do estilo mangá, não se faz quadrinhos, lendo mangá, mas lendo livros e revistas especializadas, material de qualidade. O mangá em si só serve como exemplo de técnica aplicada, não como base para nenhuma outra história original. Ter idéias originais é a base para se contar e se fazer boas histórias.
1 pessoas comentaram:
Gostei muito da entrevista.As descobri justamente graças ao seu blog.Tomara que elas consigam ajudar a criar um mercado de quadrinhos nacional.
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