Pessoal, fazia tempo que eu queria entrevistar as artistas do Studio Seasons. Lembro de ter enviado, muitos meses atrás, um pedido para a Simone Beatriz via Deviantart. Mas eu mesma não mandei as perguntas e ficou por isso mesmo. Agora, contatei a Montserrat e ela foi mais que gentil ao aceitar responder a entrevista e enviar rapidamente as respostas. Acredito que não demorou nem três dias. Como a entrevista é grande, ela será partida em duas partes. Publicarei a segunda parte amanhã, na quarta-feira.
Então, vamos lá. Toda vez que não houver identificação de quem está respondendo – talvez Simone, Montserrat e Sylvia tenham respondido em conjunto, expressando uma opinião de grupo – colocarei Studio Seasons. Eu sou muito grata por esta oportunidade de publicar a entrevista aqui e pela prontidão e gentileza das artistas. Como a Montserrat disse que eu poderia enviar outras perguntas, vou ser um pouco abusada e repassarei perguntas pertinentes que algum leitor ou leitora queira fazer (*deixe nos comentários*). Se você quiser conversar diretamente com elas, algo bem mais aconselhável, basta entrar na comunidade do Studio Seasons no Orkut. :) É isso! Boa leitura.
Então, vamos lá. Toda vez que não houver identificação de quem está respondendo – talvez Simone, Montserrat e Sylvia tenham respondido em conjunto, expressando uma opinião de grupo – colocarei Studio Seasons. Eu sou muito grata por esta oportunidade de publicar a entrevista aqui e pela prontidão e gentileza das artistas. Como a Montserrat disse que eu poderia enviar outras perguntas, vou ser um pouco abusada e repassarei perguntas pertinentes que algum leitor ou leitora queira fazer (*deixe nos comentários*). Se você quiser conversar diretamente com elas, algo bem mais aconselhável, basta entrar na comunidade do Studio Seasons no Orkut. :) É isso! Boa leitura.
SHOUJO CAFÉ: Como vocês se conheceram? Como começaram a trabalhar juntas?
MONTSERRAT: Bom, foi em 1995. Primeiro eu conheci Sylvia Feer num curso de mangá da Abrademi, começamos a nos corresponder e tivemos a idéia de fazer histórias juntas. Já sabíamos que trabalhar com o estilo mangá seria algo muito interessante, mas como eu escrevia vários roteiros, precisávamos de mais uma desenhista, pelo menos. Um tempo depois conhecemos a Simone Beatriz que tinha ganhado um concurso de mangá e a convidamos a participar do projeto. De lá para cá desenvolvemos muitas histórias as quais os roteiros estão prontos e temos de fazer aos poucos esse material. Trabalhamos muitos anos à distância, nos reunindo de tempos em tempos, pois morávamos em estados diferentes. Hoje Simone mora na mesma cidade que eu e só a Sylvia ainda mora em Niterói.
SC: Como foi a escolha de carreira de vocês? Vocês contaram com o apoio das famílias? Qual a formação (acadêmica) de vocês?
MONTSERRAT: Foi algo natural. Eu sempre trabalhei com textos e ilustrações desde jovem e usar o estilo mangá como uma forma de contar histórias foi só mais uma opção. Eu já era adulta e independente para fazer minhas escolhas e minha família sempre gostou de literatura e arte, então não houve atrito. Não tenho formação superior, mas fiz técnico de design gráfico, hardware e falo espanhol fluente por ser filha de espanhóis.
SYLVIA: Eu sempre gostei de desenho, então optei por essa carreira na hora de fazer uma faculdade e, bem, estou aqui trabalhando com elas. Minha família também me apoiou e ajudou no meu tempo de estudante. Sou formada em design e comunicação visual pela PUC/RIO.
SIMONE: Sempre tive muito contato com a cultura japonesa e essa escolha foi algo que surgiu em meu caminho, naturalmente. Gostava muito de pintura, mas não pude fazer a faculdade na época. Tenho curso técnico de desenho de moda pelo SENAC e curso de Fechamento de arquivos pelo SENAI.
SC: É possível viver de quadrinhos no Brasil ou vocês mantém outras atividades profissionais?
MONTSERRAT: É difícil! (risos). Você até pode optar por trabalhar com desenho no Brasil, mas tem de ter apoio financeiro da família para o caso do trabalho “sumir” e tem de se submeter a muita coisa! Esse não é o nosso caso, saímos de casa há um bom tempo e temos nossas contas para pagar como qualquer adulto. Não podemos nos dar ao luxo de viver dessa maneira, além do mais, fazemos trabalhos autorais e não pegamos todo tipo de proposta que nos ofertam por questões de tempo e qualidade, principalmente. Eu sou funcionária da rede de Bibliotecas do Município de Guarulhos (minha outra paixão são os livros). Sylvia é professora de desenho e Simone é designer de estampas, numa empresa que trabalha com moda e decoração.
SC: Vocês são todas mulheres e no ocidente ainda é meio tabu ver mulheres como quadrinistas ou mesmo consumidoras de quadrinhos. Vocês já foram discriminadas por causa disso?
STUDIO SEASONS: Sem dúvida. Muitas vezes e de diversas maneiras, algumas de forma mais velada outras de forma direta, mas esse tipo de discriminação não nos enfraquece, ao contrário, nos dá mais força para seguirmos em frente. Toda vez que alguém tenta nos diminuir de alguma forma, aí é que insistimos mais em fazer. Acho que o mais vergonhoso é ver homens e profissionais da área nos discriminar: soa como um medo infantil de competição, vergonha de perder terreno para uma mulher. É realmente lamentável ver homens, que deveriam ser adultos, agirem de modo tão tolo.
SC: Alguma de vocês somente desenha ou escreve ou todas se alternam nessas duas posições?
MONTSERRAT: Eu faço todos os roteiros e textos que se relacionam ao Studio Seasons, além de desenhar também.
SYLVIA: Eu desenho.
SIMONE: Eu desenho e sou responsável pelo site do estúdio.
SC: Eu conheci o trabalho de vocês na revista Mangá Booken e desde lá, especialmente depois da internet, venho acompanhando a carreira de vocês. Vocês gostariam de falar alguma coisa sobre este momento da carreira?
STUDIO SEASONS: Bem... falta tempo! (risos) Gostaríamos, antes de tudo, agradecer a todas as pessoas que tem acompanhado o nosso trabalho por todos estes anos. Quero dizer que temos dedicado todo o tempo que podemos ao nosso trabalho e que, muitas vezes, passamos por situações muito difíceis para concilia-lo com a nossa vida. O que estamos fazendo hoje é uma verdadeira jornada dupla... tripla se formos considerar que temos nossas casas para cuidar. Mas sabemos que esse esforço é pago com o respeito e a admiração que as pessoas têm pelo nosso trabalho. Obrigada de verdade. Sobre esse momento. Temos muita coisa para fazer. Temos séries para desenhar como Alesh, Baloon, Oiran e outras, que intercalamos com projetos menores como Zucker e mais coisas que vem por aí. É uma rotina cansativa e, mesmo quando as pessoas não entendem o quando isso é complicado, somos gratas pelo fato de podermos estar contando histórias para as pessoas e fazendo-as acreditar que também podem fazer isso.
SC: Muita gente teve contato com o trabalho de vocês através de Sete Dias em Alesh e Oiran. Como foi a recepção desses trabalhos? Vocês recebiam cartas e e-mails dos leitores e leitoras? Há possibilidade de continuarem essas séries?
STUDIO SEASONS: A recepção foi ótima. As pessoas gostaram muito e nos mandaram muitos e-mails. Até hoje fazem isso! Sabemos a força que essas séries têm e elas estão sendo feitas. Tivemos de fazer uma revisão nas histórias desde aquela época, mas hoje o trabalho está melhor e mais completo. Silvia está desenhando Alesh e Simone recomeçou Oiran, mas como está fazendo Zucker, teve de parar um pouco. Queremos sim e pretendemos relançar estar séries.
SC: A internet é importante para a divulgação do trabalho de vocês?
STUDIO SEASONS: Muito importante. Foi a primeira coisa que colocamos na cabeça ao fundar o estúdio: fazer um site. Graças a isso, temos uma grande visitação e sabemos o que as pessoas estão procurando. É uma vitrine, um portfólio para o nosso trabalho, além de um excelente meio de pesquisa e comunicação, quando bem utilizado.
SC: Vocês têm publicado na revista Neo Tokyo. Como tem sido essa experiência? Há boa receptividade dos leitores?
STUDIO SEASONS: Está sendo uma experiência muito boa, pois estamos tendo um espaço muito interessante para trabalhar. O público tem sido gentil e quem lê o material gosta do trabalho. O mais importante para nós é a oportunidade de fazer algo nos moldes da Newtype, mostrar que isso também pode ser feito aqui. A idéia é publicar primeiro na revista para depois relançar num volume fechado, ou seja iniciar esse mesmo mecanismo de publicação no Brasil.
Continua...
MONTSERRAT: Bom, foi em 1995. Primeiro eu conheci Sylvia Feer num curso de mangá da Abrademi, começamos a nos corresponder e tivemos a idéia de fazer histórias juntas. Já sabíamos que trabalhar com o estilo mangá seria algo muito interessante, mas como eu escrevia vários roteiros, precisávamos de mais uma desenhista, pelo menos. Um tempo depois conhecemos a Simone Beatriz que tinha ganhado um concurso de mangá e a convidamos a participar do projeto. De lá para cá desenvolvemos muitas histórias as quais os roteiros estão prontos e temos de fazer aos poucos esse material. Trabalhamos muitos anos à distância, nos reunindo de tempos em tempos, pois morávamos em estados diferentes. Hoje Simone mora na mesma cidade que eu e só a Sylvia ainda mora em Niterói.
SC: Como foi a escolha de carreira de vocês? Vocês contaram com o apoio das famílias? Qual a formação (acadêmica) de vocês?
MONTSERRAT: Foi algo natural. Eu sempre trabalhei com textos e ilustrações desde jovem e usar o estilo mangá como uma forma de contar histórias foi só mais uma opção. Eu já era adulta e independente para fazer minhas escolhas e minha família sempre gostou de literatura e arte, então não houve atrito. Não tenho formação superior, mas fiz técnico de design gráfico, hardware e falo espanhol fluente por ser filha de espanhóis.
SYLVIA: Eu sempre gostei de desenho, então optei por essa carreira na hora de fazer uma faculdade e, bem, estou aqui trabalhando com elas. Minha família também me apoiou e ajudou no meu tempo de estudante. Sou formada em design e comunicação visual pela PUC/RIO.
SIMONE: Sempre tive muito contato com a cultura japonesa e essa escolha foi algo que surgiu em meu caminho, naturalmente. Gostava muito de pintura, mas não pude fazer a faculdade na época. Tenho curso técnico de desenho de moda pelo SENAC e curso de Fechamento de arquivos pelo SENAI.
SC: É possível viver de quadrinhos no Brasil ou vocês mantém outras atividades profissionais?
MONTSERRAT: É difícil! (risos). Você até pode optar por trabalhar com desenho no Brasil, mas tem de ter apoio financeiro da família para o caso do trabalho “sumir” e tem de se submeter a muita coisa! Esse não é o nosso caso, saímos de casa há um bom tempo e temos nossas contas para pagar como qualquer adulto. Não podemos nos dar ao luxo de viver dessa maneira, além do mais, fazemos trabalhos autorais e não pegamos todo tipo de proposta que nos ofertam por questões de tempo e qualidade, principalmente. Eu sou funcionária da rede de Bibliotecas do Município de Guarulhos (minha outra paixão são os livros). Sylvia é professora de desenho e Simone é designer de estampas, numa empresa que trabalha com moda e decoração.
SC: Vocês são todas mulheres e no ocidente ainda é meio tabu ver mulheres como quadrinistas ou mesmo consumidoras de quadrinhos. Vocês já foram discriminadas por causa disso?
STUDIO SEASONS: Sem dúvida. Muitas vezes e de diversas maneiras, algumas de forma mais velada outras de forma direta, mas esse tipo de discriminação não nos enfraquece, ao contrário, nos dá mais força para seguirmos em frente. Toda vez que alguém tenta nos diminuir de alguma forma, aí é que insistimos mais em fazer. Acho que o mais vergonhoso é ver homens e profissionais da área nos discriminar: soa como um medo infantil de competição, vergonha de perder terreno para uma mulher. É realmente lamentável ver homens, que deveriam ser adultos, agirem de modo tão tolo.
SC: Alguma de vocês somente desenha ou escreve ou todas se alternam nessas duas posições?
MONTSERRAT: Eu faço todos os roteiros e textos que se relacionam ao Studio Seasons, além de desenhar também.
SYLVIA: Eu desenho.
SIMONE: Eu desenho e sou responsável pelo site do estúdio.
SC: Eu conheci o trabalho de vocês na revista Mangá Booken e desde lá, especialmente depois da internet, venho acompanhando a carreira de vocês. Vocês gostariam de falar alguma coisa sobre este momento da carreira?
STUDIO SEASONS: Bem... falta tempo! (risos) Gostaríamos, antes de tudo, agradecer a todas as pessoas que tem acompanhado o nosso trabalho por todos estes anos. Quero dizer que temos dedicado todo o tempo que podemos ao nosso trabalho e que, muitas vezes, passamos por situações muito difíceis para concilia-lo com a nossa vida. O que estamos fazendo hoje é uma verdadeira jornada dupla... tripla se formos considerar que temos nossas casas para cuidar. Mas sabemos que esse esforço é pago com o respeito e a admiração que as pessoas têm pelo nosso trabalho. Obrigada de verdade. Sobre esse momento. Temos muita coisa para fazer. Temos séries para desenhar como Alesh, Baloon, Oiran e outras, que intercalamos com projetos menores como Zucker e mais coisas que vem por aí. É uma rotina cansativa e, mesmo quando as pessoas não entendem o quando isso é complicado, somos gratas pelo fato de podermos estar contando histórias para as pessoas e fazendo-as acreditar que também podem fazer isso.
SC: Muita gente teve contato com o trabalho de vocês através de Sete Dias em Alesh e Oiran. Como foi a recepção desses trabalhos? Vocês recebiam cartas e e-mails dos leitores e leitoras? Há possibilidade de continuarem essas séries?
STUDIO SEASONS: A recepção foi ótima. As pessoas gostaram muito e nos mandaram muitos e-mails. Até hoje fazem isso! Sabemos a força que essas séries têm e elas estão sendo feitas. Tivemos de fazer uma revisão nas histórias desde aquela época, mas hoje o trabalho está melhor e mais completo. Silvia está desenhando Alesh e Simone recomeçou Oiran, mas como está fazendo Zucker, teve de parar um pouco. Queremos sim e pretendemos relançar estar séries.
SC: A internet é importante para a divulgação do trabalho de vocês?
STUDIO SEASONS: Muito importante. Foi a primeira coisa que colocamos na cabeça ao fundar o estúdio: fazer um site. Graças a isso, temos uma grande visitação e sabemos o que as pessoas estão procurando. É uma vitrine, um portfólio para o nosso trabalho, além de um excelente meio de pesquisa e comunicação, quando bem utilizado.
SC: Vocês têm publicado na revista Neo Tokyo. Como tem sido essa experiência? Há boa receptividade dos leitores?
STUDIO SEASONS: Está sendo uma experiência muito boa, pois estamos tendo um espaço muito interessante para trabalhar. O público tem sido gentil e quem lê o material gosta do trabalho. O mais importante para nós é a oportunidade de fazer algo nos moldes da Newtype, mostrar que isso também pode ser feito aqui. A idéia é publicar primeiro na revista para depois relançar num volume fechado, ou seja iniciar esse mesmo mecanismo de publicação no Brasil.
Continua...
5 pessoas comentaram:
Ah, Valéria. Coloque o deviantArt delas para que possamos acompanhar também!
E a pergunta que eu queria fazer já foi feita, que bom! Entrevista interessante!! <3
adorei a entrevista, muito completa!!! esses dias eu tava mesmo querendo saber mais sobre os studio seasons, então essa entrevista matou minha curiosidade =D
Muito legal a entrevista, aguardo a segunda parte. Venho aqui fazer propaganda da minha entrevista com a Erica Awano, que finalmente vai sair na Ilustrada (amanhã, imagino que na página 8). Beijos
Se eu pudesse fazer uma pergunta a elas seria se elas já receberam proposta ou pensaram em escrever o roteiro, ou até mesmo fazer a arte também de alguma saga da Turma da Mônica Jovem. Já tivemos o marcelo Cassaro (que cá entre nós fez o único trabalho decente apresentado na TMJ até hoje), será que teríamos o prazer de ver o Studio Season trabalhando em uma franquia tão popular?
Aliás, ótima entrevista (ainda não achei a Neotokyo), tomara que algum dia a Newpop lance algum material delas em "tankohon" =D.
Kadu, eu vou repassar essa pergunta. A Montserrat até já avisou que poderia passar quantas perguntas fossem feitas. Se for somente a sua, mais fácil para elas. ;)
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