Ontem foi o Dia da Amizade (*para mim foi um dia de estresse na Secretaria de Educação do Rio, mas esbarrei com um dos meus melhores amigos por acaso. Acho que isso salvou o dia.*) e eu não postei nada sobre isso. Enfim, fui vasculhar o site do Anime-Pró e busquei o texto a minha coluna 47. Acho que deve ser lá de 2003 ou 2004... Eu realmente não sei. Texto muito antigo, mas acho que está valendo ainda. :)
Amigo é coisa pra se guardar...
Hoje, 20 de julho, é Dia da Amizade. A data que não foi ainda descoberta pelo mercado (imagina como pode se tornar lucrativa) só tem gerado, na sua maioria, troca de cartões, envio de e-mails e telefonemas para aquelas pessoas que nos são queridas. Eu particularmente gosto muito de fazer isso, embora não tenha condições de contemplar a todas as pessoas a quem eu chamo de amigas, nos mais diferentes graus. ^_^ Enfim, foi essa data e o e-mail de um leitor (Diego Moura), que sempre me escreve, embora eu demore muito a responder.
Lendo um dos e-mails dele antes de viajar (Estou no Rio de Janeiro agora), eu tive a idéia da coluna, que por coincidência vai ao ar exatamente no dia 20 de julho, á que o sentimento de amizade é algo muito presente em animes e mangas. Nas histórias japonesas que mais circulam os laços de solidariedade entre as pessoas são muito explorados e levados, às vezes, até as últimas conseqüências.
É possível dar mais atenção às intermináveis seqüências de lutas e aos torneios que se arrastam porque eles chamam a atenção, sendo o prato principal na concepção de muitos. Entretanto, para quem quiser ver, Yu Yu Hakushô, Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, oferecem também bons exemplos de como amizades são construídas apesar das adversidades e que amizades verdadeiras podem mesmo nascer de uma péssima impressão inicial (Ikki tentou matar Seya e Cia, não foi?). Nada que não possa acontecer na vida real. Quem nunca virou de ponta a cabeça aquele ditado “a primeira impressão é a que fica”? Eu já, para bem ou para mal.
^_^
Verdade que os animes mais antigos podiam carregar bem mais no drama quando queriam. Acho que ninguém que tenha assistido Pirata do Espaço é capaz de esquecer da morte do velhinho (Sabu ou Baku) que se lamentava por não ter conseguido morrer como kamikaze mas depois conclui que valeria mais a pena dar a vida pelos amigos e, por isso, talvez tenha sobrevivido à Guerra. Ele joga seu aviãozinho na frente do Pirata do Espaço e impede que os gailarianos seqüestrem a nave com Joe, Rita e os outros dentro. Hoje, talvez, com essa onda de limpar as “situações de conflito moral” e “violência” dos desenhos animados, não tivéssemos visto tamanha prova de amizade e honra.
Hiei e Kurama são ótimos para ilustrar a questão, e apesar de alimentarem a imaginação dos autores e autoras de yaoi, ninguém que acompanhe a série pode dizer que a relação dos dois não é uma das mais belas amizades de anime que já aportaram aqui no Brasil. Outros exemplos, de ontem e de hoje poderiam ser citados. Afinal, o que os japoneses mais sabem mostrar em suas histórias é como a união faz a força, como os sacrifícios individuais podem reverter em benefício coletivo, e de que vale, sim, tentar transformar inimigos em amigos do peito. Aliás, tentar vender animes como programas que estimulam o trabalho de grupo e a amizade talvez desse menos dor de cabeça aos licenciadores do que enfatizar a venda de bugigangas, a violência e a ação.
Obviamente, já vi gente dizendo que amizade de verdade só mesmo em shounen anime e manga, já que no material feito para o público feminino, as personagens só estariam preocupadas em passar uma a perna na outra para agarrarem um namorado e a partir daí em dedicarem sua vida a manter o cara bem amarrado à seus pés... ou a protagonista aos pés do sujeito, sei lá (Lembram do clipe de abertura do filme “O Casamento do Meu Melhor Amigo”?).
Enfim, nada mais preconceituoso e injusto. E primeiro lugar, porque mostra o quão pouco de shoujo manga e anime, quem fez o comentário conhece. Em segundo lugar, porque repete uma mentira (que por ter sido repetida milhões de vezes em benefício masculino...) que é a de que as mulheres não conseguem serem amigas umas das outras, porque são falsas, invejosas e traidoras. Resumindo: como só tem significado do lado de um homem, é atrás deste homem que elas devem correr, porque é somente o que importa na vida. Nada de dar mole para uma competidora, certo? Tenho pena de quem acredita nisso, mais ainda se for mulher.
Sem entrar na discussão sobre a possibilidade, ou não, da amizade real entre mulheres (que não é assunto da coluna), é possível encontrá-la muito bem ilustrada dentro dos animes e mangás. Um dos melhores exemplos, sem dúvida, seria Karekano, manga ou anime. Para quem não lembra ou conhece essa história muito legal, faço um resumo: Miyzawa Yukino é uma garota perfeita, filha exemplar, aluna nota dez, sempre cordial, mas tudo isso é uma máscara que esconde um monstro de vaidade e competitividade, além, claro, de uma menina solitária e sem amigos. Miyazawa conhece Souchiro Arima, menino rico, lindo, excelente aluno, melhor do que a protagonista, talvez, o que faz com que ela morra de inveja, apesar de manter a face cordial. Só que Arima também usa máscara. Rapidamente, as máscaras caem, a competição se acirra, os dois se apaixonam e em um volume de manga ou 5 episódios de anime, o romance está instalado. Seria uma história de amor muito bem costuradinha se terminasse ali, mas o que mais me agrada em Karekano, para além do romance central é como as relações entre as personagens crescem e se consolidam.
Ora, se Miyazawa só tivesse o namorado, ela continuaria sem amigos, ou no máximo, com um só amigo. Só que a escola é muito maior que Arima, e nossas necessidades afetivas não podem ser satisfeitas por uma só pessoa (ou, pelo menos, não deveriam). Por isso mesmo, os amigos de Arima, após uma primeira rejeição, acabam se aproximando de Miyazawa, uma inimiga e competidora (Maho) acaba sendo transformada em amiga, e, aí, não temos mais duas pessoas se amando, mas um grupo sólido de amigos que se ajuda, apóia, estuda junto, vai para festas, divide experiências. É maravilhosa a seqüência na qual as três antigas colegas de escola de Arima, se tornam amigas de Miyazawa, passam a chamá-la pelo nome – e não Yukino-san – e tratá-la com grande intimidade. A alegria da menina, que sempre fora só é imensa, e a nossa também.
Eu, particularmente, que fui durante muito tempo uma pessoa extremamente tímida e travada para amizades, não deixei de me reconhecer na situação. E melhor de tudo é que o manga (que continua até hoje) não decepciona e mostra o quanto amigos são importante, que mulheres podem ser solidárias entre si, que quem namora não precisa esquecer que existem outras pessoas no mundo. E mais, que meninos e meninas podem sim ser amigos de verdade, sem que se estabeleça o que se vê muito em alguns seriados americanos (com atores) nos quais todo mundo acaba namorando todo mundo... ou quase isso... num interminável rodízio.
Outro bom exemplo de amizades bem construídas em shoujo manga/anime é Hana Yori Dango (algo como “Prefiro Garotos às Flores”). Nesta história, que rendeu 35 volumes de manga e 51 episódios de anime, temos uma protagonista também solitária, mas não sem amigos, pois o problema de Tsukushi Makino é que sua mãe a obrigou a freqüentar uma escola de elite – mesmo que eles sejam muito pobres – e ela teve que ficar longe de seus amigos e amigas de ginásio.
Não passei por uma situação assim, mas chegar nova em uma escola – ou cidade, como é meu caso agora – sem amigos ou amigas, quando se tinha tantos antes é uma barra. Se a escola é muito diferente da sua antiga, então, nem se fala... Só mesmo se você for aquele garoto ou garota bem descolada, ou for escolhid@ como amig@ por alguém muito popular a passagem vai ser tranqüila. Logo, a situação da protagonista, não é de todo absurda.
Makino não se encaixa no novo colégio, não consegue se dar bem em um mundo de aparências e ostentação, fora isso, ainda acaba desagradando o badboy-mor da escola, Doumiouji, que passa a persegui-la. Ora, depois de um bom jogo de gato e rato (onde o rato não se deixa apanhar), os dois se apaixonam, o que é dizer o óbvio, mas para além do romance principal cheio de vindas e idas, Makino faz amigos onde menos espera, consegue ver que riqueza e pobreza não são barreiras intransponíveis quando as pessoas se respeitam e admiram, que as aparências enganam (afinal, ela odiava mais do que todos Doumiouji e seus amigos) e que inimigos podem, sim, se tornar amigos se a gente for um pouco flexível e não esconder quem realmente somos.
Hana Yori Dango oferece bons momentos quando o assunto é amizade e o quanto vale se sacrificar pelas pessoas que tornam nossas vidas tão interessantes. Apesar do título que pode sugerir que a protagonista seja volúvel, não é nada disso, ela consegue é ficar amiga dos quatro rapazes mais cobiçados da escola, sendo que um deles (somente e sem grandes dúvidas da parte de ambos), se torna seu namorado.
Atualmente, uma das séries que desenvolve com mais delicadeza a amizade entre mulheres é Maria-sama Ga Miteru (agora com a sua continuação Haru/Primavera). E não pensem que eu estou insinuando qualquer coisa, já que a série é uma das campeãs em fanarts com conteúdo shoujo-ai e yuri (romances entre mulheres com menor ou maior conteúdo sexual) porque caiu no gosto tanto de homens quanto mulheres. Maria-sama ga Miteru (A Virgem Maria nos Observa) celebra a adolescência, o período que antecede as responsabilidades da vida adulta, e mostra o dia-a-dia de um punhado de meninas que freqüentam um tradicional colégio de freiras.
Com folhas de ginko – e não de sakura – sempre as acompanhando, vamos sendo apresentadas as personagens, os laços que as ligam (amizade, parentesco, admiração) e como as formalidades e hierarquias japonesas (tratar alguém por “–san” ou “–sama”, por exemplo) vão sendo vencidas e elas se tornam cada vez mais unidas. A presença masculina é rara e sua falta parece não ser sentida.
A série não dá muito espaço para competições ou discórdias ou mesmo, até o momento, romance, afinal, o ambiente é de paz e solidariedade muito mais sonhada do que real. Mesmo sabendo que amig@s se desentendem às vezes, eu adoraria viver amizades tão belas e tranqüilas como as de Maria-sama Ga Miteru, obviamente, desejaria que elas durassem pela vida toda, também, e não somente até o fim do colégio.
Para contrapor a isso tudo, temos um dos exemplos mais negativos de “amigas” de shoujo manga sendo publicado aqui no Brasil: a Sae de Peach Girl. Quem gostaria de ter essa figura por perto? Quem ousaria chamar essa cobra de amiga? Mas mesmo assim, a convivência com a Sae é um bom exercício para a Momo, afinal, ela tem pode aprender a ser previdente e, ao mesmo tempo, exercitar boas virtudes. Afinal, a sua atitude em relação à Sae pode muito bem ajudar a viborazinha a repensar os seus próprios atos... Só não posso comentar mais, porque posso soltar algum “spoiler”...
De qualquer forma, animes e mangas estão cheios de inimigos e competidores que conseguem mudar de lado graças à heróis e heroínas que se dispõem a tentar de novo, tendo atitudes firmes, honestas e cheias de bondade, sem necessariamente “dar a outra face” no sentido piegas que muita gente associa ao Cristianismo. Afinal, quem poderia esperar que Maho e Miyazawa se tornassem amigas tão próximas e ligadas? Geralmente, as produções ocidentais (nossas novelas inclusas) não são capazes de mostrar transformações tão humanamente possíveis, mas somente punições maniqueístas e ex-antagonistas que mais parecem que mudaram não de vida, mas de personalidade.
Voltando ao ponto principal: Desejo um feliz dia da amizade para todos os leitores e leitoras. Desejo que vocês nunca estejam sozinh@s na sua caminhada, porque não existe nada mais recompensador do que poder dividir os bons e os maus momentos com pessoas que nos amam e respeitam. Aproveite para fazer uma visita, uma ligação rápida, mandar um cartão, afinal, esse tipo de investimento costuma sempre gerar bons frutos. E que os animes e mangas possam servir de inspiração também nessas horas, pois eles geralmente celebram a amizade, a solidariedade, o respeito pelo próximo, e um posicionamento menos egoísta diante da vida.
Amigo é coisa pra se guardar...
Hoje, 20 de julho, é Dia da Amizade. A data que não foi ainda descoberta pelo mercado (imagina como pode se tornar lucrativa) só tem gerado, na sua maioria, troca de cartões, envio de e-mails e telefonemas para aquelas pessoas que nos são queridas. Eu particularmente gosto muito de fazer isso, embora não tenha condições de contemplar a todas as pessoas a quem eu chamo de amigas, nos mais diferentes graus. ^_^ Enfim, foi essa data e o e-mail de um leitor (Diego Moura), que sempre me escreve, embora eu demore muito a responder.
Lendo um dos e-mails dele antes de viajar (Estou no Rio de Janeiro agora), eu tive a idéia da coluna, que por coincidência vai ao ar exatamente no dia 20 de julho, á que o sentimento de amizade é algo muito presente em animes e mangas. Nas histórias japonesas que mais circulam os laços de solidariedade entre as pessoas são muito explorados e levados, às vezes, até as últimas conseqüências.
É possível dar mais atenção às intermináveis seqüências de lutas e aos torneios que se arrastam porque eles chamam a atenção, sendo o prato principal na concepção de muitos. Entretanto, para quem quiser ver, Yu Yu Hakushô, Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, oferecem também bons exemplos de como amizades são construídas apesar das adversidades e que amizades verdadeiras podem mesmo nascer de uma péssima impressão inicial (Ikki tentou matar Seya e Cia, não foi?). Nada que não possa acontecer na vida real. Quem nunca virou de ponta a cabeça aquele ditado “a primeira impressão é a que fica”? Eu já, para bem ou para mal.
^_^
Verdade que os animes mais antigos podiam carregar bem mais no drama quando queriam. Acho que ninguém que tenha assistido Pirata do Espaço é capaz de esquecer da morte do velhinho (Sabu ou Baku) que se lamentava por não ter conseguido morrer como kamikaze mas depois conclui que valeria mais a pena dar a vida pelos amigos e, por isso, talvez tenha sobrevivido à Guerra. Ele joga seu aviãozinho na frente do Pirata do Espaço e impede que os gailarianos seqüestrem a nave com Joe, Rita e os outros dentro. Hoje, talvez, com essa onda de limpar as “situações de conflito moral” e “violência” dos desenhos animados, não tivéssemos visto tamanha prova de amizade e honra.
Hiei e Kurama são ótimos para ilustrar a questão, e apesar de alimentarem a imaginação dos autores e autoras de yaoi, ninguém que acompanhe a série pode dizer que a relação dos dois não é uma das mais belas amizades de anime que já aportaram aqui no Brasil. Outros exemplos, de ontem e de hoje poderiam ser citados. Afinal, o que os japoneses mais sabem mostrar em suas histórias é como a união faz a força, como os sacrifícios individuais podem reverter em benefício coletivo, e de que vale, sim, tentar transformar inimigos em amigos do peito. Aliás, tentar vender animes como programas que estimulam o trabalho de grupo e a amizade talvez desse menos dor de cabeça aos licenciadores do que enfatizar a venda de bugigangas, a violência e a ação.
Obviamente, já vi gente dizendo que amizade de verdade só mesmo em shounen anime e manga, já que no material feito para o público feminino, as personagens só estariam preocupadas em passar uma a perna na outra para agarrarem um namorado e a partir daí em dedicarem sua vida a manter o cara bem amarrado à seus pés... ou a protagonista aos pés do sujeito, sei lá (Lembram do clipe de abertura do filme “O Casamento do Meu Melhor Amigo”?).
Enfim, nada mais preconceituoso e injusto. E primeiro lugar, porque mostra o quão pouco de shoujo manga e anime, quem fez o comentário conhece. Em segundo lugar, porque repete uma mentira (que por ter sido repetida milhões de vezes em benefício masculino...) que é a de que as mulheres não conseguem serem amigas umas das outras, porque são falsas, invejosas e traidoras. Resumindo: como só tem significado do lado de um homem, é atrás deste homem que elas devem correr, porque é somente o que importa na vida. Nada de dar mole para uma competidora, certo? Tenho pena de quem acredita nisso, mais ainda se for mulher.
Sem entrar na discussão sobre a possibilidade, ou não, da amizade real entre mulheres (que não é assunto da coluna), é possível encontrá-la muito bem ilustrada dentro dos animes e mangás. Um dos melhores exemplos, sem dúvida, seria Karekano, manga ou anime. Para quem não lembra ou conhece essa história muito legal, faço um resumo: Miyzawa Yukino é uma garota perfeita, filha exemplar, aluna nota dez, sempre cordial, mas tudo isso é uma máscara que esconde um monstro de vaidade e competitividade, além, claro, de uma menina solitária e sem amigos. Miyazawa conhece Souchiro Arima, menino rico, lindo, excelente aluno, melhor do que a protagonista, talvez, o que faz com que ela morra de inveja, apesar de manter a face cordial. Só que Arima também usa máscara. Rapidamente, as máscaras caem, a competição se acirra, os dois se apaixonam e em um volume de manga ou 5 episódios de anime, o romance está instalado. Seria uma história de amor muito bem costuradinha se terminasse ali, mas o que mais me agrada em Karekano, para além do romance central é como as relações entre as personagens crescem e se consolidam.
Ora, se Miyazawa só tivesse o namorado, ela continuaria sem amigos, ou no máximo, com um só amigo. Só que a escola é muito maior que Arima, e nossas necessidades afetivas não podem ser satisfeitas por uma só pessoa (ou, pelo menos, não deveriam). Por isso mesmo, os amigos de Arima, após uma primeira rejeição, acabam se aproximando de Miyazawa, uma inimiga e competidora (Maho) acaba sendo transformada em amiga, e, aí, não temos mais duas pessoas se amando, mas um grupo sólido de amigos que se ajuda, apóia, estuda junto, vai para festas, divide experiências. É maravilhosa a seqüência na qual as três antigas colegas de escola de Arima, se tornam amigas de Miyazawa, passam a chamá-la pelo nome – e não Yukino-san – e tratá-la com grande intimidade. A alegria da menina, que sempre fora só é imensa, e a nossa também.
Eu, particularmente, que fui durante muito tempo uma pessoa extremamente tímida e travada para amizades, não deixei de me reconhecer na situação. E melhor de tudo é que o manga (que continua até hoje) não decepciona e mostra o quanto amigos são importante, que mulheres podem ser solidárias entre si, que quem namora não precisa esquecer que existem outras pessoas no mundo. E mais, que meninos e meninas podem sim ser amigos de verdade, sem que se estabeleça o que se vê muito em alguns seriados americanos (com atores) nos quais todo mundo acaba namorando todo mundo... ou quase isso... num interminável rodízio.
Outro bom exemplo de amizades bem construídas em shoujo manga/anime é Hana Yori Dango (algo como “Prefiro Garotos às Flores”). Nesta história, que rendeu 35 volumes de manga e 51 episódios de anime, temos uma protagonista também solitária, mas não sem amigos, pois o problema de Tsukushi Makino é que sua mãe a obrigou a freqüentar uma escola de elite – mesmo que eles sejam muito pobres – e ela teve que ficar longe de seus amigos e amigas de ginásio.
Não passei por uma situação assim, mas chegar nova em uma escola – ou cidade, como é meu caso agora – sem amigos ou amigas, quando se tinha tantos antes é uma barra. Se a escola é muito diferente da sua antiga, então, nem se fala... Só mesmo se você for aquele garoto ou garota bem descolada, ou for escolhid@ como amig@ por alguém muito popular a passagem vai ser tranqüila. Logo, a situação da protagonista, não é de todo absurda.
Makino não se encaixa no novo colégio, não consegue se dar bem em um mundo de aparências e ostentação, fora isso, ainda acaba desagradando o badboy-mor da escola, Doumiouji, que passa a persegui-la. Ora, depois de um bom jogo de gato e rato (onde o rato não se deixa apanhar), os dois se apaixonam, o que é dizer o óbvio, mas para além do romance principal cheio de vindas e idas, Makino faz amigos onde menos espera, consegue ver que riqueza e pobreza não são barreiras intransponíveis quando as pessoas se respeitam e admiram, que as aparências enganam (afinal, ela odiava mais do que todos Doumiouji e seus amigos) e que inimigos podem, sim, se tornar amigos se a gente for um pouco flexível e não esconder quem realmente somos.
Hana Yori Dango oferece bons momentos quando o assunto é amizade e o quanto vale se sacrificar pelas pessoas que tornam nossas vidas tão interessantes. Apesar do título que pode sugerir que a protagonista seja volúvel, não é nada disso, ela consegue é ficar amiga dos quatro rapazes mais cobiçados da escola, sendo que um deles (somente e sem grandes dúvidas da parte de ambos), se torna seu namorado.
Atualmente, uma das séries que desenvolve com mais delicadeza a amizade entre mulheres é Maria-sama Ga Miteru (agora com a sua continuação Haru/Primavera). E não pensem que eu estou insinuando qualquer coisa, já que a série é uma das campeãs em fanarts com conteúdo shoujo-ai e yuri (romances entre mulheres com menor ou maior conteúdo sexual) porque caiu no gosto tanto de homens quanto mulheres. Maria-sama ga Miteru (A Virgem Maria nos Observa) celebra a adolescência, o período que antecede as responsabilidades da vida adulta, e mostra o dia-a-dia de um punhado de meninas que freqüentam um tradicional colégio de freiras.
Com folhas de ginko – e não de sakura – sempre as acompanhando, vamos sendo apresentadas as personagens, os laços que as ligam (amizade, parentesco, admiração) e como as formalidades e hierarquias japonesas (tratar alguém por “–san” ou “–sama”, por exemplo) vão sendo vencidas e elas se tornam cada vez mais unidas. A presença masculina é rara e sua falta parece não ser sentida.
A série não dá muito espaço para competições ou discórdias ou mesmo, até o momento, romance, afinal, o ambiente é de paz e solidariedade muito mais sonhada do que real. Mesmo sabendo que amig@s se desentendem às vezes, eu adoraria viver amizades tão belas e tranqüilas como as de Maria-sama Ga Miteru, obviamente, desejaria que elas durassem pela vida toda, também, e não somente até o fim do colégio.
Para contrapor a isso tudo, temos um dos exemplos mais negativos de “amigas” de shoujo manga sendo publicado aqui no Brasil: a Sae de Peach Girl. Quem gostaria de ter essa figura por perto? Quem ousaria chamar essa cobra de amiga? Mas mesmo assim, a convivência com a Sae é um bom exercício para a Momo, afinal, ela tem pode aprender a ser previdente e, ao mesmo tempo, exercitar boas virtudes. Afinal, a sua atitude em relação à Sae pode muito bem ajudar a viborazinha a repensar os seus próprios atos... Só não posso comentar mais, porque posso soltar algum “spoiler”...
De qualquer forma, animes e mangas estão cheios de inimigos e competidores que conseguem mudar de lado graças à heróis e heroínas que se dispõem a tentar de novo, tendo atitudes firmes, honestas e cheias de bondade, sem necessariamente “dar a outra face” no sentido piegas que muita gente associa ao Cristianismo. Afinal, quem poderia esperar que Maho e Miyazawa se tornassem amigas tão próximas e ligadas? Geralmente, as produções ocidentais (nossas novelas inclusas) não são capazes de mostrar transformações tão humanamente possíveis, mas somente punições maniqueístas e ex-antagonistas que mais parecem que mudaram não de vida, mas de personalidade.
Voltando ao ponto principal: Desejo um feliz dia da amizade para todos os leitores e leitoras. Desejo que vocês nunca estejam sozinh@s na sua caminhada, porque não existe nada mais recompensador do que poder dividir os bons e os maus momentos com pessoas que nos amam e respeitam. Aproveite para fazer uma visita, uma ligação rápida, mandar um cartão, afinal, esse tipo de investimento costuma sempre gerar bons frutos. E que os animes e mangas possam servir de inspiração também nessas horas, pois eles geralmente celebram a amizade, a solidariedade, o respeito pelo próximo, e um posicionamento menos egoísta diante da vida.
2 pessoas comentaram:
Com certeza seu texto ainda está valendo... Feliz dia da Amizade atrasado...
^^
De todos os anos na mesma escola, não guardo nenhuma boa lembrança de qualquer colega daqueles tempos. Mas, os amigos de infância e os amigos que conheci por cartas, eles sim, eu digo que salvaram minha vida. Às vezes até reclamo, digo que intimidade é uma merda, hueaheuhae, mas é o que me faz feliz. =)
Feliz dia da Amizade atrasado também, aliás, amizade sua que me é muito cara. =)
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