domingo, 7 de junho de 2009

Já que falei em Moyoco Anno...



Esta semana, eu falei dos vinte anos de carreira Moyoco Anno. Sakuran é um filme baseado em um de seus mangás seinen, mas que poderia ser josei sem problemas. Sakuran mangá é muito bom, já o filme segue muito perto o quadrinho e usa uma palheta de cores belíssima.

Não gosto muito do final do filme, mas a trajetória de Kyora, a menina cabeça dura vendida para um bordel, e que se torna uma oiran, o que na hierarquia das cortesãs acredito que só está abaixo das gueixas (*desculpe quem acredita que gueixas não são prostitutas, mas elas são. Um tipo muito refinado, dentro de uma sociedade marcada pelas hierarquias, mas ainda assim prostitutas, que no passado poderiam chegar à profissão sendo vendidas por suas famílias, e que depois de receberem uma educação refinada tinham e tem a sua virgindade leiloada, e que ao serem sustentadas por um patrono só não diferem essencialmente das outras colegas menos afortunadas de trabalho.*). Acho Sakuran um filme muito interessante e recomendo.

12 pessoas comentaram:

Concordo com você, mas se formos avaliar por esta ótica praticamente todas as mulheres e principalmente as nobres do ocidentes eram prostitutas, uma vez que eram criadas para o casamento sem direito de escolha dos seus maridos e que eram usadas como moeda de troca para selar acordos de família, alianças de reino etc.

Só se você considerar o casamento como uma forma particular de prostituição. Pois o que você falou para o ocidente vale para as mulheres japonesas, muçulmanas, indianas. As mulheres eram usadas como moeda de troca. Mas não pense que os homens tinham muito mais escolha. Casamento era negócio, não contrato amoroso.

Quando falo em prostituição, falo em comércio de corpos femininos ou masculinos. No Japão - e se você assistiu ou leu Sakuran ou outros mangás você sabe - existia desde a prostituta que era exposta em uma jaula na beira do Rio, até a gueixa. Prostitutas, mas em situações muito diferentes.

O mesmo vale quando se analisa a escravidão no mundo antigo. Um abismo separa o escravo da mina do escravo médico ou secretário particular do senhor. Mas isso não anula o fato de todos serem escravos.

O que eu vejo é as pessoas utilizando de forma equivocada o termo cortesão, como se não fosse sinônimo de prostituta e tentando excluir as gueixas do comércio de corpos.

Casamento e prostituição só podem ser colcoados lado a lado em termos de análise teórica dentro de uma visão feminista bem radical, comum entre as marxistas dos anos 70. A prostituta pode ser apropriada por todos, a esposa é apropriada por um só. Só que valeria para qualquer parte do mundo, não somente para o Ocidente.

Acredito que fui clara na explanação.

Olá Valéria. Gostaria de fazer um "data venia" ao seu comentário e esclarecer três coisas.
Primeiro: tayuus e oirans são cortesãs que se colocam no topo da estirpe do mundo flutuante. Seu ranking variou por muitos séculos em graus diversos e a prostituta comum, como conhecemos, se encontra sempre abaixo delas. A cortesã de alto escalão escolhe seus clientes e não é qualquer uma que pode ser uma delas. Eram necessários o domínio de dezessete artes, inclusive estudos clássicos para vir a ser uma. Sim, a prática sexual fazia parte de suas atividades, mas não obrigatoriamente.A concepção de sexualidade no Japão era bem diferente da nossa e algumas cortesãs se tornavam isso por escolha (muitas eram princesas e filhas de samurais), embora fosse comum comprar crianças com o intuito de educá-las para tal.
Segundo: gueixas não são prostitutas, são artistas de entretenimento (não atendem apenas a homens, mas a mulheres que iam com os maridos e os filhos para vê-las atuar). Elas, de fato, sairam historicamente desse grupo, mas as associações responsáveis pelo ukiyo, logo criaram leis rígidas para separá-las desse grupo. Gueixas são artistas e o tal leilão se referia a uma prática antiga que depois caiu em desuso.Elas possuiam um danna, sim, mas só ele tinha o direito de ter um relacionamento com elas. Muitas coisas que se vê em filmes e certos livros estão erradas e misturadas, inclusive em obras japonesas (porque até os japoneses não sabem mais fazer essa distinção). Para saber um pouco sobre a vida e rotina de uma gueixa pode-se ler o livro, Minha vida como Gueixa de Mineko Iwasaki onde existe uma explicação minuciosa da profissão.
Terceiro: Sakuran é uma obra com muitas "licenças poéticas" onde a artista retrata uma casa de prostituição no fim do período Edo que tenta manter uma oiran a todo o custo.Definitivamente, oirans não eram selecionadas daquela forma e nem recebiam os hóspedes daquele jeito. Aquilo é uma fantasia da autora. Detalhe: as padronagens e combinações de cores do filme estão errados em sua grande maioria. Não existe a chamada "harmonia estética" tão exigida e existente até hoje nesses casos.
Para saber mais sobre tayus, oirans e gueixas pode-se acessar o site www.immortalgeisha.com/ onde gente séria fala sobre o assunto com registro histórico.
Outro livre interessante para conhecer as concepções de sexualidade no Japão antigo e feudal é Costumes Sexuais do Oriente de Howard Levy (embora ele use o termo gueixa erroneamente, mania de americano!)

Murasaki, não li somente Sakuran. Li outras coisas. E não mudo o qeu eu disse. Gueixas são artistas. Concordo. Mas também tinham ou tem sua virgindade vendida e eram mantida spor um patrono. É uma forma de prostituição. Refinada, sem paralelo com o ocidente, mas ainda assim prostituição.

Isso não torna a arte de ser gueixa menos interessante. Mas não posso ignorar que elas também eram vendidas e compradas. Esse é o critério. Uma sociedade com muitas hierarquias admite, obviamente, um tipo de prostituta que está muito longe da base da pirâmide. Gueixas não podiam simplesmente cismar de ir embora ou decidir não tomar parte em rituais. Fazia parte da sua função.

Mas eu sei que a coisa pode se estender. Estou cansada, não quero mesmo ter que remoer coisas que já disse. Quem quiser pode visitar o site que você citou e tirar as próprias conclusões. As minhas são essas.

E só apra fechar, ter um só cliente (danna) não torna a coisa menos compra e venda ou prostituição.

Concordo com você, Valéria. É um assunto muito longo e cada situação que envolvia essas mulheres exigiam muitos padrões de etiqueta que, ora beiravam uma aceitação obrigatória, ora eram feitas por escolhas delas, muitas vezes de boa vontade, muitas vezes calculadas. Embora as gueixas hoje não tenham mais te passar por tais processos de leilão, ainda assim é um assunto espinhoso.Ficam as dicas para quem quiser se aprofundar um pouquinho mais e conhecer detalhes dessa sociedade.

Um abraço e boa noite. ^___^

discussão muito interessante aqui nos comentários. Vou procurar conhecer mais sobre essa parte.

E tb gostei da indicação do filme. Valeu Valéria!

LayneCris

Toda minha experiência sobre o assunto gueixas se resume ao livromemórias de uma gueixa e pesquisas básicas no google. Também li alguma coisa pesquisando sobre a vida de Lisa Dalby, a "única gueixa ocidental" que escreveu "A lenda de Murasaki", aliás recomendo esse livro. Eu não me interesso muito pela história do Japão.

Mas voltando ao assunto prostituição, sim eu considero o casamento uma forma de prostituição, assim como quando a gente cala a boca diante de alguma exigência absurda de um chefe para se manter em um emprego estável, mas esse é um outro assunto.

Mas não vejo a situação das gueixas submetidas a um danna diferente da situação das mulheres ocidentais submetidas a um marido antes da libertação feminina.
Basicamente a diferença delas é que se o Patrono de uma gueixa falisse ela poderia encontrar outro para ocupar o cargo, uma mulher ocidental estaria comprometida ao seu provedor até o fim da vida.

Discordo, patrono não é marido. Não se pode comparar a relação da gueixa com o patrono com casamento, nem mesmo com concubinato. Ela é uma artista e trabalhadora do sexo.

Compare casamento com casamento e verá que no Ocidente ou no Oriente a questão não era tratada de forma muito diferente. Mas desfazer um casamento era desfazer um acordo entre famílias e não um acordo de proteção e troca de favores pessoais. Uma noiva vinha com um dote em boa parte da ssociedades patriarcais. A gueixa só tem sua arte e seu corpo.

E o danna não necessariamente é o deflorador. Aliás, já li sobre um velho - e acho que foi no livro da Murasaki - que comprava a primeira noite de várias maikos. comprava de quem? Do dono ou dona do estabelecimento. Isso caracteriza prostituição, ainda que a gueixa esteja em uma posição de cortesão que não tenha apralelo no Ocidente.

Nesse assunto de prostituição e casamento eu recomendo a você os livros da Princesa Sultana, você com certeza deve ter escutado falar. Apesar da escritora ser uma completa idiota e moralista no pior sentido, tem muitíssimos fatos interessantes sobre a vida cotidiana sobre a vida das mulheres no Oriente. Acho que no livro dois ela narra sobre o costume de árabes fazerem casamentos temporários com meninas de origem beduína, essas meninas têm cerca de 9 anos e o casamento se mantém até ela chegar a uma idade que não agrade mais ao marido/violentador que a devolve para a família que já lucrou(uma mixaria, geralmente comida) com a venda da filha. São tantos, mas tantos absurdos que as mulheres passam que esse casamento/programa acaba sem parecer tão chocante no meio de tantas coisas horríveis.

Eu já li a série Princesa. Mas a prática do casamento temporário - que é xiita e não sunita, mas tolerada porque admitida pelo Profeta - ainda assim não se equivale a prostituição stricto senso, embora seja uma forma de exploração.

No mais, é interessante como os iranianos e iranianas usam isso a seu favor. Namorar à ocidental é um crime. Casamento temporário. Pode durar simplesmente um dia, mas é perfeitamente legal.

Mas, se bem me lembro, a menina que o sujeito lá casou, era iemenita. Procure notícias de casamentos de crianças no Iêmen, especialmente da menina que fugiu e foi até a corte gereando um escêndlao internacional.

Ainda assim, casamentos de crianças são perfeitamente aceitáveis em muitos países islâmicos. Maomé deu o exemplo, ainda que muitos teólogos e juristas muçulmanos rebolem para desmentir, está lá. E a prática ortodoxa corrobora a tradição.

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