sábado, 27 de junho de 2009

GIRL POWER: Um Olhar sobre o Shoujo Manga nos EUA



Esta matéria foi publicada no Nichi Bay Times e tenta passar em revista a evolução do mercado de shoujo mangá nos EUA. Apesar de esquemática e contraditória ao explicar o que é shoujo e josei, mesmo tendo deixado de falar de seinen (*é como se tudo fosse shounen*) e sendo muito pessimista (*se as editoras cancelarem os shoujo estarão sendo burras e eu duvido que cometam o mesmo erro que os comics cometeram ao alienarem o público feminino por quase meio século*), achei que valia a pena traduzir. Só cortei as explicações sobre os títulos sugeridos. Todos muito bons, por sinal.

GIRL POWER: Um Olhar sobre o Shoujo Manga nos EUA

Por EMILY SNODGRASS

Passei dentro qualquer uma das maiores livrarias nos dias de hoje, e você provavelmente encontrará prateleiras de mangás traduzidos para o inglês por inglês por meia dúzia de companhias. Onde uma vez havia uma estantezinha em um canto lá longe perto dos livros de ficção científica e de fantasia, agora há, em muitos casos, um corredor inteiro de opções. Nos últimos seis anos, a popularidade dos mangás nos EUA explodiu. Livrarias vendem volumes de mangá, bibliotecas estão montando coleções de mangá, e bancas de jornal estão vendendo antologias de mangá.

Mas que tipo de histórias, exatamente, você encontrará nessas revistas? Em sua maioria, os mangás licenciados nos Estados Unidos têm sido direcionados para os garotos. Nós recebemos shounen mangá cheiois de histórias com samurais heróicos, comédias de artes marciais, space operas com temática séria, e séries estreladas por adolescentes de cabelos espetados com poderes mágicos e que explodiam demônios em pedacinhos.

Isto tudo é muito bom e legal, mas e o público feminino? No meio dos anos 1990 as coisas começaram a mudar lentamente quando uma companhia sediada em São Francisco, VIZ Media, LLC arriscou-se no território do shoujo e josei mangá. Shoujo literalmente significa “garota”, e no Japão, há toda uma variedade de mangás criados para garotas em mente. Shoujo na verdade não é um gênero, mas uma audiência alvo que abrange uma ampla variedade de gêneros. As histórias vão do simples romance escolar idealizado, até o horror gótico, e inclui o espaço para dramas densos e estimulantes, também.

Da mesma forma, josei é um tipo de mangá criado para uma audiência feminina mais velha – mulheres no final da adolescência e na casa dos 20 – que são parte da força de trabalho ou estão em casa cuidando da família. As histórias abordam temas e conteúdos mais maduros, e se passam com freqüência ou em casa ou no local de trabalho. As tramas são realistas, mais complexas, e geralmente giram em torno de trabalho, amor, casamento, sexo, família e crianças.

O estilo do shoujo e do josei mangá diferem do shounen mangá tanto visualmente quanto nas temáticas. A arte geralmente é mais detalhada e delicada. As personagens são mais esguias e graciosas. As cenas são enriquecidas com brilho, flores e outros efeitos estilizados. As tramas se centram nas personagens e relacionamentos, e podem ser mais intrincadas, enquanto os cenários são tão amplos e variados quanto os dos shounen mangá. Dos corredores da mais comum das escolas até as colinas de um distante país europeu, o mundo do shoujo e do josei mangá é vasto e surpreendente. Há comédias, romances, tragédias, histórias de esporte, épicos de ficção científica, dramas trabalhistas, aventuras históricas e muito mais.

Com Four Shoujo Stories, de 1996, a VIZ testou experimentou a aceitação do shoujo mainstream nos EUA. Este volume incluía a história curta, They Were Eleven, uma ficção científica carregada de tensão e suspense de autoria de Hagio Moto, uma das mais influentes e respeitadas autoras do Japão. “Four Shoujo Stories” permitiu vislumbrar a complexidade e os plots que eram a marca registrada do shoujo e do josei mangá.

Entretanto, como os pontos de venda mais comuns para os quadrinhos nos EUA eram as comic shops, a VIZ tentou vender seus mangas ali, fazendo todo o possível para conformar os mangás ao estilo dos quadrinhos americanos. A maioria dos títulos lançados eram shounen, mas tanto para os shounen quanto os shoujo, eles seguiram a mesma estratégia, publicando mangás em capítulos, formato brochura para parecerem comics, e colorizando algumas das páginas preto e brancas. Muitos dos primeiros esforços da VIZ no terreno do shoujo manga vinham junto com material que não era shoujo na Animerica Extra, uma antologia que teve vida curta.

Infelizmente, os fãs do sexo masculino eram os principais freqüentadores das comic shop independentes dos Estados Unidos da época. Encontrar o público feminino lá era difícil.

No final dos anos 90, a Mixx (agora, Tokyopop) entrou em atividade, começando a MixxZine e a posterior Smile, visando especificamente o publico feminino adolescente, desta vez colocando o produto nas bancas de jornal ao invés das comic shops. O lançamento de Sailor Moon, um dos mais populares títulos de anime e mangá de todos os tempos, abriu o mundo do shoujo mangá para uma audiência mais ampla.

Sailor Moon fez um grande sucesso, mas não foi até a Tokyopop lançasse Fruits Basket, um conto bem humorado sobre uma garota vivendo com uma família que pode se transformar em vários animais do horóscopo chinês, que o shoujo mangá realmente conquistou o seu lugar no mercado americano.

Um fator fundamental que ajudou no sucesso de Fruits Basket foi que ao invés de ser serializada simplesmente em uma revista de mangá, a série e outros títulos que apareceram por esta época estavam começando a aparecer nas livrarias. O público médio feminino era muito mais propenso a entrar nas livrarias do que nas comic shop, e isto tornou os mangás mais acessíveis. Fruits Basket foi capaz de atrair um grande público, tanto masculino quanto feminino. Este apelo para ambos os públicos, ajudou o mangá a aparecer repetidamente na lista das 20 graphic novels mais vendidas.

Em junho de 2005, a VIZ lançou a Shojo beat, uma antologia que abrigava muitos títulos shoujo e alguns josei, também. Alguns títulos apareceram por um curto espaço de tempo na revista, antes que fossem retirados e publicados em volumes encadernados, abrindo espaço para novos títulos. A VIZ lançou o selo Shojo Beat no qual eles publicam muitos outros títulos que não apareceram na revista.

Subitamente, os Estados Unidos se tornaram um Mercado viável para os títulos shoujo. Em pouco tempo, a Tokyopop e a VIZ eram capazes de lançar um volume saudável de títulos shoujo junto com seus usuais shounen blockbusters. Outras editoras entraram no barco, também, e não temos um fluxo constante de séries da VIZ, Tokyopop, Dark Horse, CMX, Aurora, Del Rey, Vertical, DMP, Go! Comic, Yen Press, entre outras.

Por onde alguém interessado em explorer o mundo do shoujo e josei mangá pode começar?

Clássicos: “Swan” (by Kyoko Ariyoshi – CMX – January 1, 2005) e “From Eroica With Love” (by Yasuko Aoike – CMX – November 1, 2004)

Contemporâneos: “High School Debut” (by Kazune Kawahara – VIZ Media – January 1, 2008), “Boys Over Flowers” (by Yoko Kamio – VIZ Media – August 6, 2003) e “Honey and Clover” (by Chika Umino – VIZ Media – March 4, 2008)

Fantasia: “Red River” (by Chie Shinohara – VIZ Media – June 23, 2004) e “Basara” (by Yumi Tamura – VIZ Media – August 13, 2003)

Incomuns (Nada da história de amor tradicional): “Nodame Cantabile” (by Tomoko Ninomiya – Del Rey – April 26, 2005), “Skip Beat” (by Yoshiko Nakamura – VIZ Media – July 5, 2006), “Kitchen Princess” (by Natsumi Ando and Miyuki Kobayashi – Del Rey – January 30, 2007) e “Walkin’ Butterfly” (by Chihiro Tamaki – Aurora Publishing – August 22, 2007)

O que o futuro guarda para os shoujo mangpa nos EUA? O panorama é incerto. Com a recente crise econômica, as companhias americanas de manga estão reduzindo o número de títulos licenciados, se agarrando à sucessos garantidos e séries mainstreams de sólida popularidade. Infelizmente, para os fãs de shoujo isto significa que os títulos shounen já consagrados serão aqueles a sobreviver, com os títulos shoujo manos rentáveis sendo cancelados primeiro.

Em maio de 2009, a VIZ anunciou que sua revista Shojo Beat não seria mais vendida, com sua edição final chegando às lojas em julho. Em agosto, os assinantes receberão um exemplar grátis da Shonen Jump com informações sobre a restituição da assinatura e outras opções disponíveis. Felizmente, o selo Shojo Beat sobreviverá, mas agora ficamos sem uma revista especializada em shoujo mangá. No entanto, shoujo manga tem enfrentado obstáculos no passado e ainda sobreviveu, por isso espero que os fãs shoujo continuem a apoiar a indústria, comprando shoujo mangá e ajudando o gênero a sobreviver até que os ventos da economia mudem para melhor.

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