Mais uma parte da entrevista com Riyoko Ikeda, destavez do volume 4. da edição italiana Como é enorme, cortei em duas partes, talvez três. Aqui ela fala de como começou a desenhar an sua cabeça a história da Rosa de Versalhes e dá suas impressões sobre personagens históricas. Concordo com ela em relação à Maria Antonieta, especialmente depois de ler a biografia escrita pela Antonia Fraser. Ela nunca foi notável como pessoa, mas estava muito longe de ser "a culpada' de toda a miséria dos franceses. Não vejo Jeanne como um monstro, mas uma personagem densa, consciente, que apostou alto (*como Ana Bolena*) e perdeu... ou, não! Então, acho muito ridículo quererem transformá-la em pobre coitada, como foi no filme com a Hillary Swank. O fiasco foi merecido.
Acho que ela julga com dureza o Fersen, e eu mesma - por conta da Antonia Fraser - tenho cá minhas dúvidas do caráter sexual da relação entre ele e a Rainha. O Fersen era de uma fidelidade extrema à rainha e isso nada tem a ver com pular de cama em cama. Afinal, eles não poderiam jamais ficar juntos como casal. No mais, Fersen deu tudo o que pode. Já a opinião dela sobre Luís XVI... Marido perfeito? Rico, importante, gentil, fiel, certo, e sem nenhum apetite sexual ou senso de oportunidade, já que procriar era o dever número 1 de um rei. Mas o que conta é ser rico e importante! Tá certo... Mas vamos lá! Para as outras partes da entrevista, é só clicar: 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6.
Acho que ela julga com dureza o Fersen, e eu mesma - por conta da Antonia Fraser - tenho cá minhas dúvidas do caráter sexual da relação entre ele e a Rainha. O Fersen era de uma fidelidade extrema à rainha e isso nada tem a ver com pular de cama em cama. Afinal, eles não poderiam jamais ficar juntos como casal. No mais, Fersen deu tudo o que pode. Já a opinião dela sobre Luís XVI... Marido perfeito? Rico, importante, gentil, fiel, certo, e sem nenhum apetite sexual ou senso de oportunidade, já que procriar era o dever número 1 de um rei. Mas o que conta é ser rico e importante! Tá certo... Mas vamos lá! Para as outras partes da entrevista, é só clicar: 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6.
ENTREVISTADORA: Que lembranças você tem das diversas personagens e o que pode contar sobre o seu nascimento?
RIYOKO IKEDA: A inspiração principal desta obra é a biografia de Maria Antonieta escrita por Stefan Zweig, que li quando estava no colégio. A rainha é uma pessoa que, ao longo da história, é julgada e apresentada de formas muito diferentes, mas neste livro é apresentada como uma mocinha simples e ingênua que se vê obrigada a assumir uma responsabilidade acima das suas capacidades; uma mulher que, apesar de ser chamada a exercer o papel de rainha da França, continua a escrever para a mãe cartas infantis, cheias de erros de ortografia e de gramática! Naquela época, eu não desenhava quadrinhos ainda, mas a inspiração para Berusaiyu no Bara nasce da leitura do livro de Zweig.
Maria Antonieta tornou-s euma figura histórica muito odiada pelos franceses, mas nos últimos tempos estão reavaliando o seu papel e personalidade. Muitos me perguntam o que penso realmente dela, mas eu respondo que leiam meu quadrinho, porque a represento como a percebo.
Que pessoa teria se tornado se não tivesse amado Fersen? Provavelmente, morreria sem ter experimentado o amor. Na sua vida não aparecem de fato outras pessoas que a tenham encantado, e depois do nascimento de seus filhos, sabemos que se tronou uma boa mãe de família. Ainda que a corte fosse normalmente tolerante com os amantes, se esperava que a rainha, como mãe do delfim, mantivesse a sua pureza, e Maria Antonieta, não obstante tudo o que insinuaram os numerosos panfletos difamatórios, não traiu esta expectativa.
ENTREVISTADORA: O seu interesse por Maria Antonieta superou o âmbito do mangá: por exemplo, gravou um disco com canções compostas pela rainha...
RIYOKO IKEDA: Maria Antonieta era uma grande amante dos espetáculos teatrais e da música; ela mesma atuava no pequeno teatro que mandou construir no Petit Trianon e compunha também árias, aquelas que eu cantei. Não a considero um gênio da música. Não a vejo como muito dotada artisticamente e é também fácil imaginar que estivesse circundada pelos melhores mestres; porque provavelmente as árias que deixou foram retocadas por estas pessoas e não consegui ser convencida de nenhuma forma de sua habilidade pessoal. A minha escolha de cantá-las se fez, sobretudo como uma forma de homenagem histórica.
ENTREVISTADORA: Que outras personagens da Rosa de Versalhes nasceram ao fim da sua primeira leitura de Zweig?
RIYOKO IKEDA: Todas aquelas que existiram realmente. Junto com Maria Antonieta, queria oferecer um papel central à Rosalie, mas também para Jeanne. Rosalie é a mulher que oferece uma assistência cheia da compaixão à rainha nos seus últimos dias de vida na prisão, e queria dar a esta figura tão sensível e cheia de misericórdia um papel mais importante, fazendo-a irmã de Jeanne e a filha secreta da Polignac.
As reações dos leitores à sua personagem são as mais variadas: muitos a amam por sua simplicidade, outros a odeiam porque vêem nela uma adversária espécie de sua adversária pelo amor de Oscar. [risos] [Nota da tradutora: Será que entendi direito? Ciúmes da Rosalie?!] Quis condensar este tipo de sentimento dos leitores, expressos através de muitas cartas que recebi, na figura de Carolina, personagem dos episódios especiais da Rosa de Versalhes.
Quanto à Jeanne é impulsionada por uma ânsia incontrolável por riqueza e poder. As suas razões, e as formas como se expressa apontam para uma natureza um tanto instável e extravagante que a tornam quase infantil: assim algumas vezes a vemos chorar pela morte da mãe, em outras, expulsa sua irmã de forma brutal. Em alguns filmes recentes ela foi apresentada com uma certa indulgência, mas eu tenho uma visão muito negativa dela, do seu caráter e papel histórico.
Rosalie e Jeanne são duas pessoas que realmente existiram e estavam presentes desde o primeiríssimo projeto do mangá – são então muito anteriores ao nascimento da figura de Oscar – em torno das quais construi episódios imaginários. Outras personagens foram desenhadas de forma muito fiel à realidade, com, por exemplo, Fersen. Uma coisa que omiti, e que faz com que tenha dele um julgamento muito mais severo daquele da maioria do público, é o fato de que quando estava em Versalhes, se encontrava com Maria Antonieta e lhe declarava todo o seu amor incorruptível, e em Paris mantinha encontros com um grande número de amantes. Alcançou a baixeza de organizar o plano de fuga da família real da casa de uma de suas mulheres! Ainda assim, é preciso enquadrar a prática na ótica da época: ter muitas amantes era comum para os nobres, e o próprio Fersen declarou várias vezes que a rainha era a única mulher com quem ele teria se casado. Eu creio na sinceridade deste seu sentimento, confirmado no fato de não ter se casado com nenhuma outra.
Como homem, do meu ponto de vista, é muito mais agradável Luís XVI: rico, importante, gentil, fiel... Que mais se pode desejar de um marido?! Os amores insaciáveis, como aquele entre Maria Antonieta e Fersen, depois de alguns anos perdem toda a sua intensidade deixando somente a monotonia da rotina cotidiana. Entendo que uma pessoa com a personalidade de Maria Antonieta poderia não ficar satisfeita com o seu consorte, mas para uma mulher normal creio que um homem como Luís XVI seria um marido ideal!
RIYOKO IKEDA: A inspiração principal desta obra é a biografia de Maria Antonieta escrita por Stefan Zweig, que li quando estava no colégio. A rainha é uma pessoa que, ao longo da história, é julgada e apresentada de formas muito diferentes, mas neste livro é apresentada como uma mocinha simples e ingênua que se vê obrigada a assumir uma responsabilidade acima das suas capacidades; uma mulher que, apesar de ser chamada a exercer o papel de rainha da França, continua a escrever para a mãe cartas infantis, cheias de erros de ortografia e de gramática! Naquela época, eu não desenhava quadrinhos ainda, mas a inspiração para Berusaiyu no Bara nasce da leitura do livro de Zweig.
Maria Antonieta tornou-s euma figura histórica muito odiada pelos franceses, mas nos últimos tempos estão reavaliando o seu papel e personalidade. Muitos me perguntam o que penso realmente dela, mas eu respondo que leiam meu quadrinho, porque a represento como a percebo.
Que pessoa teria se tornado se não tivesse amado Fersen? Provavelmente, morreria sem ter experimentado o amor. Na sua vida não aparecem de fato outras pessoas que a tenham encantado, e depois do nascimento de seus filhos, sabemos que se tronou uma boa mãe de família. Ainda que a corte fosse normalmente tolerante com os amantes, se esperava que a rainha, como mãe do delfim, mantivesse a sua pureza, e Maria Antonieta, não obstante tudo o que insinuaram os numerosos panfletos difamatórios, não traiu esta expectativa.
ENTREVISTADORA: O seu interesse por Maria Antonieta superou o âmbito do mangá: por exemplo, gravou um disco com canções compostas pela rainha...
RIYOKO IKEDA: Maria Antonieta era uma grande amante dos espetáculos teatrais e da música; ela mesma atuava no pequeno teatro que mandou construir no Petit Trianon e compunha também árias, aquelas que eu cantei. Não a considero um gênio da música. Não a vejo como muito dotada artisticamente e é também fácil imaginar que estivesse circundada pelos melhores mestres; porque provavelmente as árias que deixou foram retocadas por estas pessoas e não consegui ser convencida de nenhuma forma de sua habilidade pessoal. A minha escolha de cantá-las se fez, sobretudo como uma forma de homenagem histórica.
ENTREVISTADORA: Que outras personagens da Rosa de Versalhes nasceram ao fim da sua primeira leitura de Zweig?
RIYOKO IKEDA: Todas aquelas que existiram realmente. Junto com Maria Antonieta, queria oferecer um papel central à Rosalie, mas também para Jeanne. Rosalie é a mulher que oferece uma assistência cheia da compaixão à rainha nos seus últimos dias de vida na prisão, e queria dar a esta figura tão sensível e cheia de misericórdia um papel mais importante, fazendo-a irmã de Jeanne e a filha secreta da Polignac.
As reações dos leitores à sua personagem são as mais variadas: muitos a amam por sua simplicidade, outros a odeiam porque vêem nela uma adversária espécie de sua adversária pelo amor de Oscar. [risos] [Nota da tradutora: Será que entendi direito? Ciúmes da Rosalie?!] Quis condensar este tipo de sentimento dos leitores, expressos através de muitas cartas que recebi, na figura de Carolina, personagem dos episódios especiais da Rosa de Versalhes.
Quanto à Jeanne é impulsionada por uma ânsia incontrolável por riqueza e poder. As suas razões, e as formas como se expressa apontam para uma natureza um tanto instável e extravagante que a tornam quase infantil: assim algumas vezes a vemos chorar pela morte da mãe, em outras, expulsa sua irmã de forma brutal. Em alguns filmes recentes ela foi apresentada com uma certa indulgência, mas eu tenho uma visão muito negativa dela, do seu caráter e papel histórico.
Rosalie e Jeanne são duas pessoas que realmente existiram e estavam presentes desde o primeiríssimo projeto do mangá – são então muito anteriores ao nascimento da figura de Oscar – em torno das quais construi episódios imaginários. Outras personagens foram desenhadas de forma muito fiel à realidade, com, por exemplo, Fersen. Uma coisa que omiti, e que faz com que tenha dele um julgamento muito mais severo daquele da maioria do público, é o fato de que quando estava em Versalhes, se encontrava com Maria Antonieta e lhe declarava todo o seu amor incorruptível, e em Paris mantinha encontros com um grande número de amantes. Alcançou a baixeza de organizar o plano de fuga da família real da casa de uma de suas mulheres! Ainda assim, é preciso enquadrar a prática na ótica da época: ter muitas amantes era comum para os nobres, e o próprio Fersen declarou várias vezes que a rainha era a única mulher com quem ele teria se casado. Eu creio na sinceridade deste seu sentimento, confirmado no fato de não ter se casado com nenhuma outra.
Como homem, do meu ponto de vista, é muito mais agradável Luís XVI: rico, importante, gentil, fiel... Que mais se pode desejar de um marido?! Os amores insaciáveis, como aquele entre Maria Antonieta e Fersen, depois de alguns anos perdem toda a sua intensidade deixando somente a monotonia da rotina cotidiana. Entendo que uma pessoa com a personalidade de Maria Antonieta poderia não ficar satisfeita com o seu consorte, mas para uma mulher normal creio que um homem como Luís XVI seria um marido ideal!
2 pessoas comentaram:
Muito interessante!
Obrigada pela tradução!
Engraçado que na primeira vez que assisti a versão animada eu lembrava da Rosalie como "a moça que sempre era atropelada por uma carruagem". Besteira, mas dou risada quando lembro disso.
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