Animadores é hora de uma Heroína. Nada de Princesa, por favor!

Passando pelo Feministing hoje, vi que elas estavam comentando sobre uma carta aberta de Linda Holmes, que suponho ser uma jornalista, pedindo que a Pixar finalmente faça um filme com uma mulher ou menina protagonista. Destaco a parte abaixo, que era a que estava no Feministing:

Dos dez filmes que vocês lançaram até agora, dez deles têm como protagonistas personagens que são meninos ou homens, ou que são animais atropomorfizados ou robôs ou insetos que são dublados e imaginados como meninos ou homens. Estes filmes representavam meninas e mulheres em diferentes graus – Os Incríveis, em particular – mas a história nunca é sobre “uma garota e as coisas que acontecem com ela,” da mesma forma que é “sobre um garoto e as coisas que acontecem com ele”.

Eu queria muito que as garotas protagonizassem um filme como Up que é sobre alguém que elas podem usar como fantasia no Halloween, como Anika Noni Rose disse sobre estrelar como dubladora da Princesa Sapo. Não uma garota que é o acompanhamento, mas uma garota que seja o prato principal.

E eu realmente, realmente desejo que não seja uma princesa.

Quem for ler o texto integralmente em inglês, verá que não se trata de uma crítica ao material da Pixar, ela o elogia e diz amar. Quem não ama? Trata-se isso, sim, de um apelo pela melhor representação de gênero, traçando um paralelo com o que a Disney está tentando fazer com a Princesa Sapo, no caso dos afro-americanos. Enfim, os comentários logo embaixo, mostram como os machismos dos americanos não são muito diferentes dos nossos, alguém sugere que a autora vá caçar “um tanque de roupa”, no jargão americano similar. Ou seja, lugar de mulher não é estrelando um desenho que se propõe a ser universal. Ser universal é ser homem, de preferência branco e heterossexual, ainda que travestido de bichinho ou robozinho.

Pois bem, neste sentido, os japoneses estão bem além, pegue o material Ghibli com a presença de personagens feministas co-protagonizando. Se for material de Miyazaki, a possibilidade de uma heroína ou protagonista de ação é ainda maior. E ninguém sai do cinema ou termina o filme com a impressão de que faltou alguma coisa, ou se pergunta porque a Princesa Mononoke não está em casa lavando roupa. Vamos ver o que a Pixar oferece.

Já o caso “Princesa Sapo” é mais cabeludo. Eu assistirei, e sei que vou cantarolar as canções e duvido que não goste bastante. Mas me decepcionei muito quando soube que não seria animado um conto africano e mais ainda quando soube que a Princesa vai passar boa parte do filme não como humana, mas como um animalzinho. Para completar, ela não vai ser mais empregada doméstica, como na concepção original que tomou mil pedradas, mas não está muito longe disso, já que é garçonete.

Os americanos reclamam mais, algumas das lamúrias me parecem injustas, outras, nem tanto. A princesa não é negra o suficiente. Esquecem que há negros de várias cores. O príncipe – que descobri ser dublado por um brasileiro – não é negro. Bem, para mim, ele é mulato ou latino, mas eu me perguntaria “Para que um príncipe?”. As demais reclamações se aproximam da minha e, claro, vão de encontro aos clichês como jazz e vodu associados aos negros e negras norte-americanos.

De qualquer forma, a questão é como as mulheres ou as supostas minorias são representadas, ou mal representadas. Das exclusões e das formas como são ridicularizadas. A princesa precisava ser um sapo? Mas das princesas ninguém vai se livrar, pois elas vendem. E mais estranho para mim, quem mais vende mais é a Cinderela, a que eu acho mais sem graça. Estranho, também, é que Pocahontas seja quase sempre excluída do material Princesas, apesar dela mesma ser uma princesa por seu próprio direito. E muito bonita, por sinal.