Eu estou exatamente dando aula de Estados Totalitários e entrando em II Guerra com os meus alunos. Até comentei a importância do partido comunista japonês, levei Adolf e outros materiais para mostrar (1945, O Complô, Mauss). Agora, abrindo a seção Mundo da olha de São Paulo, a ponte está feita e a matéria foi traduzida do Le Monde. Não deixa de ser cuioso. Aliás, as notícias da crise no Japão são tristes (*Exemplo*). E uma coisa precisa ser dita, falta um mecanismo sócio-religioso, por assim dizer, à cultura japonesa. Entre judeus, cristão e muçulmanos, a caridade é parte integrante da prática religiosa. Seja respeitada ou não, lá no horizonte está a necessidade de cuidar do próximo, às vezes para garantir a sua própria salvação, isso foi fundamental para a construção de redes caritativas que, no caso cristão, são perceptíveis desde o século III, que é o século da crise do Império Romano. Talez isso seja ainda mais forte entre os latinos que com outros povos, por razões culturais e históricas, mas não vou discutir a questão, porque daria outro post.
Já a sociedade japonesa é muito mais firmada na honra e vergonha. O fracasso, muitas vezes abre caminho para o suicídio, que se não é estimulado, também não é reprimido socialmente. É o suicídio autruísta de Durkheim. Muitos desempregados somem de casa por vergonha e isso é mostrado, por exemplo, em Tokyo Godfathers, lançado aqui no Brasil. Já a solidariedade é feita de acordo com os círculos de dever, que é maior quanto mais próximo você é. Daí, o maior deveré com os pais, e a maioria leva tal dever muito a sério, embora mangás como Tokyo Babylon e animes como Himitsu mostrem que os conflitos na acolhida dos idosos podem ser intensos e daninhos. O dever para com o outro vai se diluindo conforme a distância. Quem assistiu O Túmulo dos Vaga-Lumes, pode entender a tensão da tia que acolhe os sobrinhos e o tempo todo lembra que um "favor", pois o seu dever para com eles mínimo. Bem, segue o texto da Folha. Está integral, porque é só para assinantes.
Partido Comunista do Japão renasce com crise e jovens
Com discurso moderado, agremiação mais antiga do país chegou a 400 mil filiados em 2008
Desemprego e disparidade social alimentam interesse dos jovens pelo comunismo; versão em quadrinhos de "O Capital" vira best-seller
PHILIPPE PONS
DO "MONDE"
Diante de dificuldades crescentes, perda de empregos e da disparidade cada vez maior entre os formados e os demais, os jovens assalariados japoneses descobriram um dinossauro da política em seu país: o Partido Comunista do Japão (PCJ).
Depois de sofrer grande perda de membros, as adesões voltaram a subir no ano passado, e o número de filiados superou 400 mil. Um quarto dos 16 mil novos membros do PCJ são trabalhadores de menos de 30 anos e em situação precária.
As intervenções incisivas do secretário-geral da agremiação, Kazuo Shii, nos debates parlamentares valeram dezenas de milhares de visitas ao site dos comunistas e novas assinaturas para seu jornal, o "Akahata".
Não se trata de um indicador que preveja avanço estrondoso do PCJ nas próximas eleições legislativas (hoje o partido detém 9 dos 480 assentos da Câmara Baixa e 7 dos 242 do Senado japonês), mas ainda assim constitui evolução notável para a imagem de um partido que parecia pertencer a outra era.
E não é só entre os jovens que o PCJ ganha atenção. Em um país onde continua a ser comum um trabalhador ocultar sua afiliação comunista, Shii recentemente foi recebido por líderes empresariais e acolheu na sede do partido, em Tóquio, um dirigente da Toyota.
"Não nos opomos aos grandes grupos industriais, desde que eles assumam suas responsabilidades sociais. As empresas e assalariados têm um destino comum", disse Shii à imprensa estrangeira em Tóquio. "O capitalismo japonês não tem regras, e a mais cruel expressão dessa carência é a deterioração dos assalariados para uma situação precária."
Com as reformas neoliberais, 34% da população ativa trabalha hoje com contratos de duração determinada, afirmou Shii. Adotando a linguagem moderada de um social-democrata clássico, ele só citou Karl Marx uma vez, para citar seu "profundo respeito" aos EUA, ainda que ressaltasse a independência estratégica de seu país.
"O Capital" em mangá
O sucesso de "O Capital", de Marx, em forma de mangá basta para revelar que jovens sem experiência de lutas sociais estão em busca de explicações para sua situação. A participação deles em pequenas manifestações organizadas pelo PCJ ilustra os problemas sociais.
A despeito de seu peso em eleições locais, o PCJ jamais se impôs nacionalmente. Após avançar em 1998 com uma plataforma moderada da qual suprimiu a "revolução socialista", nos dois pleitos seguintes o partido se saiu mal, obtendo pouco mais de 3% dos votos.
Fundado em 1922 e banido, o PCJ representava uma força política no início da ocupação americana. Mais tarde, sob instruções de Pequim e Moscou, a agremiação passou a se dedicar a ações violentas e foi aniquilada, retornando nos anos 50 como uma espécie de partido "eurocomunista" prematuro.
Após romper com os soviéticos e chineses nos anos 60, na década seguinte a legenda encontrou seu rumo na linha independente da vanguarda comunista européia . Sem mudar de nome, o PCJ defende hoje as "reformas democráticas" e o "progresso social", a fim, disse Shii, de "superar o capitalismo como superou o socialismo".
Já a sociedade japonesa é muito mais firmada na honra e vergonha. O fracasso, muitas vezes abre caminho para o suicídio, que se não é estimulado, também não é reprimido socialmente. É o suicídio autruísta de Durkheim. Muitos desempregados somem de casa por vergonha e isso é mostrado, por exemplo, em Tokyo Godfathers, lançado aqui no Brasil. Já a solidariedade é feita de acordo com os círculos de dever, que é maior quanto mais próximo você é. Daí, o maior deveré com os pais, e a maioria leva tal dever muito a sério, embora mangás como Tokyo Babylon e animes como Himitsu mostrem que os conflitos na acolhida dos idosos podem ser intensos e daninhos. O dever para com o outro vai se diluindo conforme a distância. Quem assistiu O Túmulo dos Vaga-Lumes, pode entender a tensão da tia que acolhe os sobrinhos e o tempo todo lembra que um "favor", pois o seu dever para com eles mínimo. Bem, segue o texto da Folha. Está integral, porque é só para assinantes.
Partido Comunista do Japão renasce com crise e jovens
Com discurso moderado, agremiação mais antiga do país chegou a 400 mil filiados em 2008
Desemprego e disparidade social alimentam interesse dos jovens pelo comunismo; versão em quadrinhos de "O Capital" vira best-seller
PHILIPPE PONS
DO "MONDE"
Diante de dificuldades crescentes, perda de empregos e da disparidade cada vez maior entre os formados e os demais, os jovens assalariados japoneses descobriram um dinossauro da política em seu país: o Partido Comunista do Japão (PCJ).
Depois de sofrer grande perda de membros, as adesões voltaram a subir no ano passado, e o número de filiados superou 400 mil. Um quarto dos 16 mil novos membros do PCJ são trabalhadores de menos de 30 anos e em situação precária.
As intervenções incisivas do secretário-geral da agremiação, Kazuo Shii, nos debates parlamentares valeram dezenas de milhares de visitas ao site dos comunistas e novas assinaturas para seu jornal, o "Akahata".
Não se trata de um indicador que preveja avanço estrondoso do PCJ nas próximas eleições legislativas (hoje o partido detém 9 dos 480 assentos da Câmara Baixa e 7 dos 242 do Senado japonês), mas ainda assim constitui evolução notável para a imagem de um partido que parecia pertencer a outra era.
E não é só entre os jovens que o PCJ ganha atenção. Em um país onde continua a ser comum um trabalhador ocultar sua afiliação comunista, Shii recentemente foi recebido por líderes empresariais e acolheu na sede do partido, em Tóquio, um dirigente da Toyota.
"Não nos opomos aos grandes grupos industriais, desde que eles assumam suas responsabilidades sociais. As empresas e assalariados têm um destino comum", disse Shii à imprensa estrangeira em Tóquio. "O capitalismo japonês não tem regras, e a mais cruel expressão dessa carência é a deterioração dos assalariados para uma situação precária."
Com as reformas neoliberais, 34% da população ativa trabalha hoje com contratos de duração determinada, afirmou Shii. Adotando a linguagem moderada de um social-democrata clássico, ele só citou Karl Marx uma vez, para citar seu "profundo respeito" aos EUA, ainda que ressaltasse a independência estratégica de seu país.
"O Capital" em mangá
O sucesso de "O Capital", de Marx, em forma de mangá basta para revelar que jovens sem experiência de lutas sociais estão em busca de explicações para sua situação. A participação deles em pequenas manifestações organizadas pelo PCJ ilustra os problemas sociais.
A despeito de seu peso em eleições locais, o PCJ jamais se impôs nacionalmente. Após avançar em 1998 com uma plataforma moderada da qual suprimiu a "revolução socialista", nos dois pleitos seguintes o partido se saiu mal, obtendo pouco mais de 3% dos votos.
Fundado em 1922 e banido, o PCJ representava uma força política no início da ocupação americana. Mais tarde, sob instruções de Pequim e Moscou, a agremiação passou a se dedicar a ações violentas e foi aniquilada, retornando nos anos 50 como uma espécie de partido "eurocomunista" prematuro.
Após romper com os soviéticos e chineses nos anos 60, na década seguinte a legenda encontrou seu rumo na linha independente da vanguarda comunista européia . Sem mudar de nome, o PCJ defende hoje as "reformas democráticas" e o "progresso social", a fim, disse Shii, de "superar o capitalismo como superou o socialismo".
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