quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Entrevista com Riyoko Ikeda - Parte 2



Cheguei em casa e continuei a tradução da entrevista. São quatro páginas ao todo, então, hoje fiz duas, a primeira parte está aqui. A entrevista saiu na edição italiana da Rosa de Versalhes e não sei quantas partes terá. Agora, nesta parte, Ikeda começa a falar realmente dos obstáculos que encontrou parta conseguir tornar seu mangá realidade. E, claro, fica evidente a questão de gênero: mulheres ganhavam menos, os editores (homens) subestimavam a inteligência das meninas. O primeiro ponto, autoras como Ikeda ajudaram a mudar, já o segundo, não sei. Segue a entrevista:

Entrevistadora: Sabemos que sua inspiração veio da biografia de Maria Antonieta escrita por Stefan Zweig. Quanto tempo você dedicou à preparação da série, sobretudo a recolher as referências iconográficas necessárias para recriar a atmosfera da época? Teve a chance de visitar Paris durante o planejamento do mangá?

Riyoko Ikeda: Li o livro de Zweig ainda no colégio, e desde então pensei no título “Berusaiyu no Bara”. Quando finalmente tive a oportunidade de desenhá-lo tive dois anos para planejá-lo, mas só pude visitar Paris depois de terminada a publicação. Naquele tempo, as viagens ao estrangeiro eram muito caras, sobretudo se comparadas àquilo que nós, desenhistas mulheres, ganhávamos, e durante a publicação não tive tempo de verdade para fazer uma viagem como esta. Quando finalmente tive a oportunidade de visitar Paris, fique estarrecida. Era muito diferente de como eu a imaginava pelas fotografias e, conseqüentemente, de como a havia representado no meu mangá. Me refiro em particular às inacreditáveis dimensões dos palácios, das colunas. Ao contrário, os candelabros de Versalhes eram bem mais baixos do que eu pensava, porque naquele tempo eles eram iluminados com velas que eram acesas uma a uma pelos criados.

Entrevistadora: Um mangá histórico era uma coisa um tanto revolucionária nesta época...

Riyoko Ikeda: Sim, em particular em uma revista para meninas. Recordo-me da fortíssima oposição que encontrei por parte do editor e dos redatores, que freqüentemente se expressavam com termos desagradáveis, como “Para as meninas não importa em nada a História”, ou ainda “Que sentido faz contar coisas do passado?”. Recordo-me que estas críticas me fizeram ainda mais resoluta a tornar o meu mangá um sucesso, para demonstrar que também as “meninas” se interessam pela História, quando ela é contada de modo interessante e envolvente. Comecei de qualquer modo a desenhar sob a ameaça de que, se o mangá não entrasse na lista das séries favoritas que as leitoras enviavam para a revista toda a semana, seria imediatamente interrompido. Por sorte, ao fim do primeiro número, o público demonstrou que o apreciava, ainda assim, episódio após episódio, continuava a temer que o capítulo que eu desenhava pudesse ser o último... Por fim, me foi assim mesmo imposto que terminasse a série em no máximo dez semanas a partir da morte de Oscar, e foi isso que fiz fielmente, abreviando um pouco os últimos momentos de vida de Maria Antonieta.

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