sábado, 7 de fevereiro de 2009

Dúvida (Doubt)



Depois de muito tempo, finalmente fui ao cinema e não foi para ver "filme pipoca". Como resto do pacote "aniversário de 33 anos", fomos lá Júlio e eu ao cinema. eu preferiria que fosse ontem, pois era mais barato, mas não deu. Minha intenção era assistir Australia que eu sei que é meia-boca, mas é um épico, tem o Hugh Jackman e emula aqueles filmes dos anos 30 e 40. Basta olhar o cartaz. Só que seria muita cara de pau ver um filme que eu sei que é mediano tendo a chance de assistir algo muito melhor, como Dúvida ou O Leitor, ou ainda o curiosíssimo Verônica. Mas entre Kate Winslet e Meryl Streep, não há o que discutir. Fui de Dúvida.

Quem leu a sinopse sabe que a história se passa em um colégio católico de classe média baixa, freqüentado por descendentes de irlandeses e italianos, que recebe o seu primeiro aluno negro. É 1964, o Concílio Vaticano II está sacudindo as estruturas da Igreja e conservadores e liberais estão em conflito. Temos de um lado a diretora, Madre Aloysius Beauvier (Meryl Streep) e do outro lado o Padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman). A Irmã Aloysius não gosta dos modos gentis e carregados de intimidade do Padre Flynn para com os alunos e alunas. Certa de que o padre é suspeito, ela usa a jovem professora, Irmã James (Amy Adams, de Encantada) para destruí-lo, pois a jovem professora desconfia que o padre está mantendo relações impróprias com o aluno negro. Pouco importa se é verdade, ou não, pois a Irmã Aloysius acredita e não há espaço para uma dúvida sequer.

O filme não se preocupa em mostrar quem tem razão, o que é ótimo, e gira em torno da dúvida, das convicções, da intolerância, de tudo que pode azedar as boas relações humanas. É um filme de detalhes, como o fato da Irmã Aloysius propor que a Irmã James coloque o quadro com a foto do papa por cima do quadro negro e observe os alunos pelo reflexo. O efeito "mágico", ver sem precisar se voltar, e o efeito do quadro (*símbolo de autoridade*) causariam o terror na molecada. Mas e o detalhe? A Irmã James diz "O papa não está certo.", pois não era Paulo VI, sucessor de João XIII, o papa que convocou o concílio, mas, sim, Pio XI, o Papa sob o qual pesam suspeitas de simpatias para com o nazi-facismo. "Não importa", responde a Irmã Aloysius. Mas é claro, que importa. Uma imagem vale mais do que mil palavras.

Outra cena ótima, de tantas cenas, é quando a Irmã Aloysius se sente desconfortável quando o padre Flyn se senta em sua cadeira de diretora, na sua sala, e faz com que ela se sente do lado da Irmã James. Na verdade, trata-se, sim, de um desrespeito, mesmo que não fosse o desejo do padre, mas o que fica claro é que onde existe um padre, um homem, mesmo uma madre com tantos poderes tem que se curvar. Um dos questionamentos da Irmã Aloysius é em relação à essa discriminação. Mesmo prezando as hieraraquias (*e que ninguém pense que se trata de uma feminista*), ela não deixa de externar o seu desprezo pelos homens que se protegem mesmo colocando a instituição em risco. E tudo é muito mais expresso pelo olhar de Meryl Streep, pelas cenas das refeições cortando da mesa das freiras para a dos padres. Enfim, muito bom.

E ninguém é santo, claro. Todos são pecadores e a tour de force é o confronto entre Aloysius e Flynn. Ele é pedófilo? Não é pedófilo? Pouco importa. E a vitória da Irmã Aloysius é amarga. Ou será que ninguém venceu? Mas com certeza, há um perdedor, o aluno negro que tinha no padre um amigo e protetor em um ambiente hostil. Por mais que a Irmã Aloysius se preocupe com os alunos - e ela se preocupa mesmo que de sua forma um tanto doentia - o menino ficou só.

É um filme de atores, de minúcias e que te cutuca, sem dar respostas. Só apra terminar, digo que Amy Adams estava ótima como a jovem freira atormentada, e se o Oscar de atriz coadjuvante - Dúvida foi indicado duas vezes - for dado para Viola Davis, será somente por uma questão de cotas. A seqüência da mãe negra que não se importa que o filho seja abusado, desde que isso lhe abra caminho para um bom colégio, faculdade e tudo mais, é tocante e forte, mas dura mais ou menos 10 minutos. Amy Adams fez mais, muito mais.

De resto, querem saber se eu acho que o padre era culpado ou não? Eu acho que não era, pelo menos, não, deste pecado. Mas, no fim, pouco importa, pois como a Irmã Aloysius aponta, a tradição faz com que os homens da Igreja se protejam e a Igreja Católica nos EUA está pagando a conta por causa dessa complacência. Agora é torcer para conseguir ver pelo menos mais um filme do Oscar. Adoraria poder assistir O Leitor no cinema.

1 pessoas comentaram:

Olá!
Indiquei o blog ao selo Premio Dardos.
O link é: http://marisol-maryline.blogspot.com/2009/02/selos.html

Espero que tenha gostado. ^^
Bom final de semana!

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